O Garoto Que Tinha Medo De Amar escrita por Gin


Capítulo 16
Um Começo? Ou Um Meio?


Notas iniciais do capítulo

Para Fagner

Por me ajudar em tudo, tudo mesmo

Não sei onde você está, mas espero de coração que esteja bem



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Era madrugada de sábado quando Ícaro acordou. Ele não conseguia dormir, devia ser por volta de três da manhã, pois estava bastante escuro, e a única iluminação, vinha dos postes que ainda emitiam luz pelos terrenos do colégio. Era uma noite fria e ventava muito, o típico estado climático que as pessoas gostam.

Ícaro se levantou da cama e dobrou seu lençol, convencido de que não iria mais dormir, arrumou sua colcha de cama e respirou fundo, tentando imaginar os motivos para ele não ter mais sono. Pensou, mas sem sucesso, se dirigiu até a janela, abriu-a e percebeu o clima nublado no céu, não dava para ver a lua, muito menos alguma estrela. Pensou em Clara e lembrou que não havia sido muito legal com ela, e no momento ele sentia uma vontade de se afastar dela, pelo menos um pouco, mas também não entendia o porquê de se sentir assim, será que ela o magoou de uma forma que nem ele entendeu? Ele não sabia. Ao afastar o pensamento da cabeça, ele olhou para a pista de atletismo, passou o olhar por volta dos outros prédios, apoiou sua cabeça em sua mão e ficou ali, parado observando, esperando o sono vir, mas não veio.

Como era sábado, era normal a maioria dos estudantes ir de volta para casa, alguns podiam ficar, mas com a devida autorização do diretor, o que para Ícaro não deveria ser um problema, já que seus pais não estavam em casa, e ele tinha todo o direito de estar ali. Subiu as escadarias, e encontrou Richard que estava tendo um bate-papo aparentemente interessante com Brandon, ele olhou para Ícaro como se dissesse “Me salve”. Ícaro entendeu como uma brincadeira e continuou até a sala de Henry, o diretor. Havia uma pequena de fila de uns cinco ou seis estudantes, provavelmente ambos queriam pegar a autorização para ficar ali. Ele reconheceu Jocelyn como a primeira da fila. A mesma olhou de volta e logo fez um gesto de mão, pedindo que ele fosse até lá, Ícaro não questionou.

– Veio pedir autorização também? Francamente garoto, você não tem vida? – Disse ela, enquanto empurrava Ícaro para seu lado.

Ícaro olhou para os estudantes atrás, eles não pareciam contentes, mas nenhum parecia ter coragem de questionar, então acabou ficando por isso mesmo.

– Claro que não tenho, minha vida se resume a fazer parte do Conselho estudantil, resolver problemas das pessoas e estudar. – Falou Ícaro em um tom irônico.

Jocelyn esboçou um leve sorriso.

– Então, você já tem algum plano para fazer hoje? Eu me refiro a planos de verdade, como fazer alguma coisa útil, não me refiro a passar o dia todo deitado no seu quarto não fazendo nada, que eu sei que é o que você faz sempre.

– Realmente eu planejava ficar o dia todo deitado no meu quarto não fazendo nada. Mas, se por acaso quiser me tirar desse meu plano perfeito, estou aberto a sugestões.

Jocelyn era uma garota extremamente irônica, mas também guardava um senso de humor genial e o usava para brincar com as pessoas, mas ela parecia inteligente e sabia dos limites de alguém, jamais brincaria com alguma coisa, se essa coisa magoasse. Então, Ícaro se sentia à vontade para brincar com ela, e claro, tomava cuidado para não extrapolar também.

Jocelyn o olhou por um segundo, e pôs a mão no bolso, retirando uma pequena toalha de bolso, provavelmente usada para limpar o suor.

– Bom, é isso que eu tenho para hoje, suor e mais suor, aceita?

– Ah, eu passo, não precisa se preocupar.

Jocelyn riu um pouco e colocou a toalha de volta no bolso, porém, Ícaro percebeu que seu rosto deu uma leve sensação de tristeza quase imperceptível.

– Então, tudo bem, mas se precisar de mim hoje, já sabe onde me encontrar.

Ícaro iria falar algo, mas foi interrompido pela saída de um estudante da sala do diretor, marcando eles como próximos da fila. Os dois entraram juntos, e viram Henry no telefone, conversando muito irritado com alguém, reclamando de materiais ou algo do tipo, depois colocou o telefone no guincho e respirou fundo.

– Ah, Jocelyn e Ícaro, os dois juntos, que agradável. Suponho que novamente vieram pedir autorização para passar o sábado aqui, certo?

Jocelyn assentiu com a cabeça e Ícaro concordou também. O diretor pegou alguns papeis e os assinou, depois entregou aos dois.

– Ícaro, como andam as coisas no Conselho, está tudo fluindo bem? – Perguntou Henry.

Jocelyn olhou para Ícaro como se quisesse saber a resposta, ou esperasse uma brecha para ela dizer que ele não devia estar ali, e sim no clube de atletismo.

– Bom, está tudo indo bem sim, senhor, estamos conseguindo fazer os relatórios no prazo correto.

Henry assentiu, mas tinha um olhar de preocupação.

– O campeonato de clubes está chegando, e eu soube que vocês estão com poucas pessoas, será que vocês conseguirão a tempo?

– Bom, estamos fazendo o nosso melhor, e Clara... – Ícaro deu uma breve pausa ao pensar em Clara, mas logo continuou. – A gente está conseguindo fazer todas as atividades, e se continuarmos assim, tenho a certeza de que conseguiremos.

Henry olhou diretamente nos olhos de Ícaro, talvez tentando identificar alguma mentira, se ele estaria dizendo aquilo apenas para fazer com que não levasse nenhuma bronca, ou ficasse sob vigilância, porém, mesmo que tenha descoberto, ou achado que não era verdade, ele não disse nada.

– Bom, tudo que eu posso desejar a vocês, é boa sorte, e se precisarem de alguma coisa, vocês podem sempre contar comigo. – Respondeu Henry em tom cortês.

Ícaro deu um sorriso para ele. Henry fez um gesto com a mão, e os dois logo entenderam que estava ocupando o tempo e era a hora dos outros estudantes entrarem, então, se dirigiram a saída.

– Só mais uma coisa, Ícaro. – Disse Henry. – Clara está no Conselho hoje, talvez você devesse ir vê-la

– Você vai até lá agora? – Perguntou Jocelyn, após descerem as escadas.

Ícaro balançou a cabeça negativamente, ele estava com fome, e precisava ver se havia uma pessoa na cafeteria que precisava da sua ajuda, uma garota pequena e fofa. Porém, ele não disse isso a Jocelyn.

– Ok, e o que você vai fazer?

– Eu vou comer alguma coisa, e depois, irei até lá, acho que não há muita coisa para se fazer hoje, pois é sábado, nem sei o motivo de ela estar aqui, nós já deixamos praticamente tudo resolvido ontem. – Disse Ícaro.

Jocelyn olhou para Ícaro por um momento, dificilmente ela ficava sem expressão, geralmente era fácil saber quando ela estava irritada, brincalhona, ou fingindo estar uma dessas coisas, mas dessa vez, Ícaro não conseguiu ler seu rosto.

– Tudo bem. – Disse ela, sem questionar e saiu.

Ícaro ficou perguntando se ele havia dito algo errado para ela estar desse jeito, mas ignorou e foi até a cafeteria.

O local, até estava com uma quantidade de pessoas elevada se comparada ao sábado passado, talvez por ainda estar cedo, e alguns estudantes só iam embora depois do café da manhã.

Ele olhou para as mesas ao redor, viu Ryan e Britney conversando em uma delas, mas eles pareciam tão feliz e alegres juntos, que Ícaro decidiu não atrapalhar. Viu Lara, mas também viu Louise na mesa ao fundo do local, o que significava que a família de Louise não havia levado ela dessa vez, como havia ocorrido na semana passada, Ícaro ficou feliz ao saber disso, pelo menos Lara tinha uma companhia melhor que ele, sorriu ao lembrar dos momentos que eles tiveram, e ficou um pouco triste, lembrando o que ela sentia. Era uma garota solitária, mas pelo menos naquele momento, não estava tão triste.

Ícaro pegou um copo de café e um pedaço de bolo, sentou-se em uma mesa isolada no canto direito do refeitório, e começou a comer devagar. Pouco a pouco, o salão ia ficando mais vazio, Ryan e Britney saíram e se despediram dele, algumas pessoas que passavam olhavam para ele ali sozinho e faziam alguns cochichos, mas Ícaro não ligava.

Louise se levantou e ajudou Lara a se levantar, as duas foram até ele. Os cabelos ruivos de Lara estavam presos em uma tiara, ela vestia um casaco marrom e uma blusa amarela por debaixo, usava calça jeans e tênis social, usava um óculos preto, como de costume. O cabelo negro e curto de Louise estava penteado como uma franja, o que a fazia parecer ainda mais jovem, como se sua altura já não falasse, ela vestia uma jaqueta azul jeans e usava uma camiseta preta por baixo, estava de short e calçava sandálias. Louise acenou para ele e ele fez de volta.

– Pronto, Lara, estamos aqui. – Disse Louise.

– Ícaro, você está aí? – Perguntou Clara estendendo a mão, procurando onde tocar.

Ícaro encostou sua mão na dela.

– Estou aqui, valente princesa, está tudo bem com você? – Disse Ícaro, bancando o cavalheiro.

Lara adorava quando ele agia assim e logo deu um grande sorriso, e abraçou ele com força.

– Meu herói, você derrotou algum monstro hoje? – Lara colocou as mãos na cintura, em posição de bravura.

Ícaro sorriu.

– Ainda não, mas até o fim do dia, quem sabe? – Respondeu ele.

Louise parecia meio inquieta, olhando para os lados, até que resolveu falar.

– Olha, eu soube que cuidou da Lara enquanto eu estava lá fora, e... – Ela virou o rosto, envergonhada- Eu não queria que fosse assim, mas.... Obrigada, eu acho.

Ícaro sabia que Louise era uma garota muito orgulhosa, que estava sempre irritada, então, para ela dizer aquilo, devia estar realmente agradecida.

– Não se preocupe, não fui tão boa companhia como você é, mas tentei. – Sorriu.

Louise acariciou a cabeça de Lara, que a balançou um pouco, feliz.

– Nós vamos dar uma volta por aí, quer ir junto? – Perguntou Lara.

Louise fez uma expressão de quem não gostou de ouvir aquilo, mas logo escondeu, porém, Ícaro percebeu.

– Não, não, eu agradeço a oferta mais eu passo, tenho assuntos a resolver hoje no clube.

– Até hoje? O quanto de trabalhar vocês têm? – Perguntou Louise.

– Nem eu sei, mas preciso ir.

– Tudo bem, a gente se vê depois, Ícaro! – Lara abraçou ele, com tanta felicidade que Ícaro sorriu junto.

Louise também se despediu, e assim, as duas foram caminhando, eram ótimas amigas. Uma era feliz com a outra e elas viviam assim.

Ícaro terminou seu café da manhã, se espreguiçou, e se dirigiu até a sala do Conselho, viu Jocelyn correndo, enquanto alguns garotos observavam. “É sempre assim”, pensou ele consigo mesmo, por mais que não gostasse daquilo por alguma razão. Subiu as escadarias e parou de frente para a sala, a porta estava aberta e lá dentro estava ela, Clara. Seus longos cabelos loiros estavam soltos e balançavam um pouco devido ao vento forte, seus belos olhos verdes da cor do mar, estavam altamente concentrados em um pedaço de papel, ela usava um vestido azulado, e de longe dava para sentir seu cheiro, um belo perfume de lavanda.

Ícaro deu um passo para entrar, mas assim que ele fez isso, ela o encarou, e seus olhos se encontraram, e por um momento, o coração de Ícaro bateu um pouco mais rápido. Clara desviou um pouco o olhar, mas sorriu para ele.

– Oi. – Ela disse, um pouco tímida.

Ícaro olhou um pouco confuso e parecia meio perdido de si, por alguma razão, mas recobrou a consciência, e sorriu de volta para ela.

– Bom... Bom dia, Clara, por que você está aqui? Nós não tínhamos resolvido tudo? – Ícaro entrou, fechou a porta e se sentou.

Clara parecia um pouco perdida também, mas respirou rápido, e respondeu.

– Sim, sim, mas esses são diferentes, são formulários de cada clube, listando membros, orçamento, atividades, etc.

Ícaro a olhou tentando entender.

– Espera, você não me chamou? Queria resolver isso sozinha? Por que?

– Porque você tem feito muita coisa, Ícaro, tem pegado todos os formulários e resolvido sozinho, sem me consultar, porque eu também não posso fazer isso? – Respondeu ela.

Ícaro respirou fundo, era verdade, ele havia feito isso mesmo.

Houve então um silêncio difícil de se aturar, nenhum dos dois queria puxar esse assunto, mas ambos sabiam como isso iria acabar. Então, ela tomou a iniciativa e falou.

– Sabe, Ícaro, ultimamente eu tenho te achado muito distante... Como se tivesse me evitando, ou não quisesse conversar comigo. – Disse Clara.

Ícaro desviou o olhar.

– É impressão su...

– Não é impressão minha, é verdade, é claro que você está triste com alguma coisa, e está descontando isso em mim, não é justo sabia?

Ícaro abaixou a cabeça, ele sabia disso, sim, ele sabia, e agir dessa maneira acabava o magoando ainda mais, então por que? Por que ele continuava a agir assim?

– Desculpa, Clara, é que todos têm seus dias ruins, não é?

Clara respirou e pegou na mão de Ícaro involuntariamente, Ícaro se assustou um pouco com aquilo repentino e seu coração acelerou um pouco. Clara por sua vez, parecia não ter se dado conta do que havia feito, mas então para a situação não ficar pesada, continuou.

– Olha, Ícaro, está tudo bem, mas não faça mais isso, somos amigos não somos? Não precisa esconder as coisas de mim, você pode me contar, assim como eu lhe contei, seria até mais justo dessa forma não acha? – Disse ela.

Ícaro assentiu, mas sem concordar de verdade, os problemas dele, eram dele, e ele tinha que resolvê-los sozinho, mas por ora, deveria concordar com ela.

– Todos temos coisas ruins, segredos e dores, mas compartilhar elas com alguém, vai te fazer sentir melhor. Isso é algo que você sabe, mas não entende.

As palavras de Clara ecoaram na mente de Ícaro, e por um momento ele pegou pensando se o que ele estava fazendo era realmente certo.

O silêncio continuou e voltou, os dois se olhavam, desviavam o olhar, e olhavam ao redor, quando começou a neblinar. Ícaro se levantou e fechou a janela para os respingos de chuva não pegarem nos arquivos, e aproveitou isso para quebrar o silêncio.

– É, eu vou te ajudar, mesmo assim. Me desculpa por fazer as coisas sozinho, vou tentar mudar isso, é um erro que venho carregando, mas eu estou em um colégio para isso, não é? Aprender.

Clara deu um sorriso sincero e feliz, deixando seus olhos brilhantes ainda mais lindos, Ícaro amava ver aquele sorriso, e isso ele não podia negar.

– Então, fique confortável aqui, porque o trabalho não para, e não vamos ser recompensados por isso, então espero que sua motivação esteja boa.

– Só de trabalhar com você, eu me sinto bem. – Disse Ícaro sem pensar.

Aquelas palavras pegaram Ícaro de surpresa, e Clara também, devido a sua reação, que logo passou a ser de envergonhada, será que ela ficou com raiva, ou não gostou? Ícaro não sabia.

E novamente o silêncio estava presente, mas felizmente, esse foi um pouco mais rápido.

– Eu também... – Disse Clara.

Ícaro olhou para ela, que desviava o olhar dele.

– Eu também me sinto bem fazendo isso com você.... Então, vamos terminar isso logo, certo?

Ícaro sentiu um solavanco em seu coração, que batia disparadamente, seria porque ele disse aquilo sem pensar? Ou por causa da resposta dela? Não, não podia ser por causa da resposta, Ícaro não era esse tipo de cara que ficaria alegre por isso, ou era?

E no meio da confusão, Ícaro exibiu um sorriso forte e aparentemente sem motivo para ele, mas estava feliz.

E mesmo com a vergonha, os dois continuaram ali, a ajustar os relatórios, não precisavam falar mais nada e qualquer coisa que falassem iria estragar o momento. Ícaro não sabia, mas estava desenvolvendo naquela hora algo que ele já não sentia há um tempo e achava que nunca mais iria sentir. Algo que mudaria a vida dele, mas bom... Chegaremos lá.


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