O Garoto Que Tinha Medo De Amar escrita por Gin


Capítulo 10
Conte Uma História


Notas iniciais do capítulo

Para Davi

Moldou meu pensamento

Hoje eu seria um idiota se você não tivesse me guiado



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421004/chapter/10

Já passava do meio dia quando Clara e Ícaro saíram da sala de música. O tempo parecia ter parado para ambos, era como se magicamente, eles ganhassem algo de novo, mas que já tivesse aquilo. Os dois combinaram de se encontrar as 14 horas novamente na sala do Conselho estudantil, para que pudessem dar início ao trabalho. Ícaro desceu as escadas sorrateiramente, com medo de ser descoberto. Por mais que Clara pudesse dar uma boa desculpa para ele não ter ido estudar, a desculpa ainda não tinha sido dada e se ele fosse apanhado por um dos professores que deram aula na sala hoje, com certeza seria punido. A sorte que teve, foi que boa parte dos alunos já estavam no refeitório, desfrutando de seu almoço, e por isso o pátio se encontrava levemente menos cheio. Ao sair do prédio do colégio, observou o pátio, para saber se havia alguém que conhecia, não havia ninguém. Mas antes que pudesse se dirigir, uma mão tocou em seu ombro, assustado ele se virou e viu Sebastian, o olhando com olhos curiosos.

— Não vi você na aula hoje. – Disse ele, simplesmente, sem nenhuma expressão.

Ícaro olhou com um olhar baixo e depois o encarou, sem saber que tipo de desculpa daria.

— Não precisa ficar assustado, eu não contarei a ninguém, só queria saber se você estava bem. – Sebastian perguntou e soltou a mão do ombro de Ícaro, seus olhos fixos e seu rosto sem expressão nenhuma era estranho.

Isso pegou Ícaro desprevenido, ele não sabia que Sebastian era daquele jeito. Mas mesmo assim, ele tomou como uma nova personalidade daquele garoto.

— Eu estou bem, é só que aconteceram algumas coisas. – Disse Ícaro, se afastando do assunto.

Sebastian assentiu e sem dizer uma palavra virou as costas e foi embora, deixando Ícaro sozinho, olhando para ele sem entender. Por fim, foi até o seu dormitório, onde queria ficar até a hora de ir para a sala do Conselho. Por alguma razão, ele não sentia fome, mas sim, um outro tipo de vazio. Algo que era capaz de deixa-lo confuso e tirar qualquer tipo de outro sentimento que sentia. Ele queria vê-la, o mais rápido possível. Ele queria que Clara estivesse ali, para que ela escutasse-o tocar e cantasse o acompanhando. Por alguma razão, ele estava tendo esse sentimento. Olhou para os lados, procurando aliviar a cabeça e afastou esse pensamento. Logo, dirigiu-se ao dormitório.

O pátio não tinha muitas pessoas, nem era de se esperar que havia, principalmente durante o horário do almoço. Os poucos estudantes que se encontravam naquela área, tocavam violão, outros conversavam sobre a grama, alguns pareciam fazer encenações, e no final, todos eram grupos de três ou mais estudantes. Menos um.

Alexya estava sentada encostada em uma árvore próximo ao clube de tênis lendo um livro sobre aviões. Seu cabelo preto longo estava preso em um rabo de cavalo. Usava calça jeans e vestia uma blusa azul com estampas florais. A semelhança de Alexya com Renata era tão grande, que Ícaro teve dificuldades de perceber que eram de verdade.

— Olá. – Disse Ícaro. – Por que está sozinha aqui?

Alexya parou de ler o livro, colocou ele sobre a grama do chão e sorriu para Ícaro.

— Estou lendo sobre aviação, é uma coisa fascinante.

Ícaro assentiu sorrindo, depois sentou.

— Ontem estava tendo uma espécie de partida de tênis aqui. – Ícaro apontou para a quadra. – Eu vi sua irmã jogando e você na plateia. Você não gosta do esporte?

— Não, não. Eu não me dou muito bem com o tênis, isso é algo que a Renata gosta de fazer, mas francamente, eu admiro muito quem joga.

Ícaro assentiu.

— Esportistas estão em um outro nível. – Ele sorriu.

— Você gosta de tênis também?

Ícaro negou.

— Não gosto de nenhum esporte na realidade, eu não tenho garra para competir, nem realizar essas coisas. Por isso acho muito interessante quem consegue.

Ele pensou em Jocelyn e em como ela se esforçava correndo todos os dias naquela pista. Como se não bastasse isso, era difícil ter que aguentar todos te olhando e imaginando muitas coisas estranhas com você. Ícaro se perguntou como ela esquecia disso, ou se simplesmente não ligava.

— Eu vou indo, ainda tenho umas coisas para resolver. – Ele disse, se despedindo.

— Ok, se encontrar Renata, pode dizer que eu estou esperando ela aqui?

Ícaro assentiu e foi embora.

Quando chegou ao seu dormitório, se deitou sobre a cama e ficou esperando o tempo passar. Ele olhava para os lados, e pela primeira vez desde que chegou, sentiu que faltava alguma coisa naquele quarto. Alguma coisa que o fizesse se divertir, que o fizesse rir, ou que simplesmente pudesse matar seu tempo. Mas ele não imaginava o que, sua cabeça estava confusa e distorcida. Ele não estava ficando louco, apenas não conseguia descrever o que sentia. Mas talvez, isso também seja loucura. Naquele momento ele começou a desejar que ninguém viesse para o seu quarto, companhia não ia se tornar muito agradável, mas como Brandon já havia dito, eles iriam mesmo.

—-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O tempo passou, e antes que as 14:00 chegassem, Ícaro já estava a caminho. O pátio agora era como um campo vazio. Talvez houvesse três ou quatro pessoas, porém nada além disso. Provavelmente a maioria estavam em seus respectivos clubes, e os outros dormindo, como ele sentiu vontade de fazer nos dias anteriores. Começou subindo as escadas para chegar até a sala “2-C”. Quando subiu o primeiro andar, ele observou Charles e Alexander conversando. Não era realmente uma conversa, era como se Alexander estivesse dando broncas em Charles. Os dois professores estavam encostados na janela do corredor, um pouco distante da escadaria, Ícaro achou que pudesse subir sem ser visto, mas quando deu o primeiro passo, Charles o olhou e deu um aceno. A expressão de Ícaro deveria ter sido de pânico, pois Charles deu um aceno e sorriu, como se falasse que tudo estava bem. Ícaro fez uma reverência, agradecendo e subiu, talvez Clara já haveria feito o relatório.

Ao subir, ele percebeu que algumas salas que antes estavam vazias, agora haviam diversos tipos de vozes diferentes, ali estavam a maioria dos clubes, e provavelmente, as pessoas de sua sala também. Querendo evitar perguntas desnecessárias, Ícaro correu até a sala do Conselho e a abriu, entrando de uma vez. Clara já estava sentada na mesa anotando vários papeis, ela sorriu quando viu ele.

— Boa tarde. Você chegou mais cedo do que eu achava. Pensei que era daqueles que gostam de chegar atrasado. – Ela sorriu.

— Eu não faria isso no meu primeiro dia do clube, mas não espere isso ao resto do ano. – Ícaro retribuiu seu sorriso.

Então, Ícaro sentou-se e os dois começaram a falar sobre as atividades que o clube teria. Sobre os papeis que ele teria que arquivar e fazer relatórios, sobre os eventos que a escola iria realizar, sobre chegar atrasado nas aulas e ser responsável por colocar as pessoas para dentro da sala, no final de tanta conversa, a cabeça de Ícaro já estava zonza, tendo absorvido muita informação.

— É... É só isso mesmo? – Falou Ícaro, ironicamente.

— Agora você sabe que o que aconteceu mais cedo não foi por qualquer coisa, imagina eu ter que fazer isso tudo sozinha? É difícil! – Falou ela em tom raivoso.

— Bom, agora você não está mais sozinha, pelo menos não até eu enjoar de chegar atrasado na aula.

Clara sorriu e deu um tapa no ombro de Ícaro.

— Se for realmente assim, eu cancelarei o relatório que entreguei ao professor Charles.

— Ah, isso que eu vinha me perguntando. O que você escreveu no relatório? Charles me viu e apenas sorriu e acenou.

Clara sorriu.

— Eu posso estar cansada de fazer tudo sozinha, mas nem por isso meu trabalho vai ser realizado com menos qualidade.

— Ah é, esqueci que é você quem manda nesse pedaço e realiza tudo com perfeição. – Ícaro brincou.

Clara sorriu, e voltou aos papeis, ajudando Ícaro a assinar e explicando como tudo funcionava. Pelo resto da tarde, os dois conversaram, tiraram dúvidas e resolveram o que haviam de resolver. Foi cansativo e demorado, mas naquela hora, para os dois, isso não importava.

Já eram mais de 5 e meia da tarde, quando o último relatório havia sido feito. Ícaro olhou para os lados, cansado. Clara encostou a cabeça na mesa e ficou respirando ofegante. Depois, os dois se olharam e trocaram risadas.

— É, por hoje acabou, só que amanhã vai chegar mais desses, está preparado? – Falou ela.

— Pode vir dezenas a mais que esses, seu trabalho é muito fácil. – Ele sorriu, ironicamente.

Clara deu uma risada alta e se deitou sobre o chão, contemplando o teto.

— Ei, Ícaro. – Sua voz saiu baixa, tanto que Ícaro quase não escutaria.

Ícaro olhou para ela, com o olhar de dúvida.

— Obrigada. – Ela disse em fim.

Era só um obrigado. Apenas um, mas foi o suficiente para deixar o coração dele acelerado. Ele respirou fundo e olhou para os lados envergonhado.

— Não há de que. – Disse, sorrindo para Clara.

Ícaro estava em seu quarto aguardando o momento em que o “Clube de Histórias” chegaria. Seu quarto estava bagunçado, do mesmo jeito que de manhã. A luz de seu quarto estava acessa, como algo que impedisse dele cair no sono, mas não estava funcionando muito bem. Ele estava prestes a adormecer, quando escutou batidas na porta. Se dirigiu até lá e abriu a porta, vendo Brandon e outros garotos, aqueles que o acompanhavam correndo. Ícaro se assustou com aquilo e olhou para os lados a procura de alguém, mas não achou nada que pudesse dar um susto. Depois observou Brandon olhando para ele meio assustado e vindo na sua direção.

— Que susto que você me deu. Nossa! – Ele disse dando um salto tentando tocar o teto.

Atrás dele, era possível ver Sebastian, Richard e Ryan. Todos com pijamas e descalços, ao lado havia um garoto de pijama preto, seu cabelo era curto. Sua pele era meio morena e seus olhos eram da cor castanho escuro, ele parecia entediado, mas observador.

Ícaro olhou para todos, com exceção de Sebastian, cada um dava um sorriso estipulador, como se soubessem de algo estranho que Ícaro teria feito.

— Eu soube. Você passou a manhã dando em cima da Clara. – Richard falou, com um tom insistente.

— Mal chegou e já está fazendo essas coisas, que feio, Ícaro. – Brincou Ryan, sorrindo.

— Esqueçam isso. – Falou Ícaro, desviando do assunto. – Por que vocês correram quando me viram?

Brandon deu um enorme salto e depois olhou para Ícaro com um olhar de um predador caçando a presa.

— Porque você não respondeu ao chamado do clube das histórias.

— Que chamado? – Perguntou Ícaro.

— Quando nós batemos na porta, você não deve responder abrindo ela. Vai que batemos na porta errada e surge um cara estranho querendo matar a gente por tentar acorda-lo agora de noite?

O garoto que Ícaro não conhecia, foi até Brandon e encostou a mão no ombro dele.

— Vamos com calma Brandon, é a primeira vez dele no clube, com certeza ele não conhecia as regras. – Olhou para Ícaro. – A propósito, meu nome é Ronald, é um prazer conhece-lo.

— Igualmente. – Respondeu Ícaro.

Os dois trocaram aperto de mãos e sorriram. Richard respirou fundo e Ryan coçou a cabeça.

— Então, vamos lá! Vamos entrar! – Falou Brandon como se fosse um pirata e comandasse sua tripulação para uma nova ilha.

Todos entraram, até mesmo Sebastian que continuava sem dizer ou fazer nada. Richard se sentou encostado na cama, para apoiar as costas. Ryan sentou-se perto de alguns cadernos que estavam jogados pelo chão. Sebastian sentou-se próximo ao armário e encostou a cabeça nele. Ronald sentou perto de Brandon, que por sua vez, pegou um celular e levantou.

— Eu, com meu respeito ao clube de histórias, nomeio esse mais um encontro de nossas almas! – Ele disse enquanto apontava a luz do celular para todos os rostos presentes.

Todos levantaram as mãos, enquanto seus rostos iam sendo iluminados, Ícaro sem saber direito, fez a mesma coisa.

— Ícaro, nosso clube possui algumas regras. Brandon expliquei quais são. – Disse Ryan.

— Boa ideia, membro Ryan! – Brandon fez um sinal positivo e depois olhou para Ícaro. – Todos nós decidimos quais histórias são as melhores e aquele que conta a melhor, não precisa contar na próxima reunião. Por exemplo, Sebastian está livre hoje.

Ícaro olhou para Sebastian, que fez um sinal de mão em comemoração.

— Você também está livre hoje, já que é sua primeira vez contando histórias. Então apenas eu, Brandon, Ryan e Richard contaremos, só que você também participará para decidir aquele que contou a melhor, entendeu? – Disse Ronald.

Ícaro assentiu.

— Sem mais delongas, vamos começar! – Brandon bateu palmas e todos acompanharam.

Durante os próximos minutos, Brandon começou contando uma história. Era sobre um velho que não sabia mais o que fazer da vida e por isso ficava vagando, procurando um sentido. Era uma bela história e com uma filosofia por de trás, até meio complexa. O conto de Richard era diferente. Se tratava de uma jovem que era apaixonada pelo vento, mas não sabia como convence-lo de que ela o amava, e por isso, se jogou de cima de uma montanha, para poder ser abraçada e levada por ele. Era uma trágica história de “amor”, o tipo de história que Ícaro não gostava muito. Ronald contou uma história de um alce que ficou preso em uma armadilha de urso e viu a sua vida passar por ele, enquanto sua perna era machucada. Por mais que a sinopse parecesse fraca, era uma história com sua beleza. Ryan não contou uma história de verdade, foi mais um relato de psicose que um homem teve e por isso haveria falado com pessoas estranhas no cemitério. Todas as histórias eram belas e tinham seu próprio conto, Ícaro sentiu vontade de contar uma também, por mais que não pudesse.

— Então, o que achou da minha história? Você gosta de coisas assim não é? – Falou Richard em tom questionador, dando um sorriso irônico.

— Sinceramente, acho histórias de amor uma droga. A sua é diferente, mas no final, o ponto é o mesmo. – Ícaro respondeu.

Sebastian o olhou curioso.

— Por que diz isso? – Perguntou Ronald.

— Bom, porque todas as histórias de amor falam sobre a mesma coisa e terminam do mesmo jeito. Não trazem nada de inovador. O amor é uma coisa só nelas e por isso ou acabam de maneira trágica, ou os dois ficam juntos, é assim, sempre.

— Ora, ora, temos um questionamento interessante aqui. – Falou Brandon. – Então, você não acha o amor interessante?

Ícaro negou.

— Não acho que seja desinteressante, só acho que seja perda de tempo contar histórias assim, pois todo mundo já sabe o final. Da mesma maneira que julgo apaixonar-se, é uma perda de tempo.

Todos ficaram calados por um momento. Richard olhou para o lado, como se soubesse que esse era o pensamento de Ícaro desde cedo. Brandon, ao ver o silêncio, colocou a mão sobre o ombro de Ícaro e olhou nos olhos.

— Ícaro. – Disse ele. – Por que você mente para si mesmo?

Aquilo o pegou desprevenido. Mentir para si mesmo? Do que ele estava falando?

— Ei, isso está se afastando do que devia ser. Digam logo seus votos. O meu voto vai para Ryan, eu gosto de histórias assim.

Ícaro afastou o pensamento que Brandon fez transbordar nele e voltou.

— É... Meu voto vai para Brandon, gostei muita da história que ele trouxe.

— Como não posso votar em mim! Voto em Ryan! Seus relatos foram muito bem contados! – Disse Brandon, levantando as mãos.

— Meu voto vai para a história de Richard, por mais que isso não exista, eu ainda gosto de escutar histórias assim. – Falou Ryan.

— Bom, acho que dessa vez, ficarei com Ronald. Sua história era simples, mas bem contada. – Falou Richard.

— E meu voto, para finalizar, também irá para Ryan. Francamente, como você consegue contar fatos tão bons? Já pensou em ser contador de histórias? – Ronald sorriu.

Então, Brandon levantou mais uma vez seu celular e passou a luz no rosto de todos ali.

— Então, eu declaro que Ryan foi definido como a melhor história! Por isso, ele está livre de contar outra, na próxima reunião. Aguardo ansiosamente vocês. – Brandon sorriu. – Obrigado por virem hoje.

Nisso, todos ali presentes começaram a se despedir e ir embora, cumprimentando um a um, depois bagunçando ainda mais o quarto de Ícaro. Quando chegou a vez de Brandon ir, ele olhou diretamente nos olhos de Ícaro e disse.

— Ícaro, pense no que eu disse. – E com um olhar sério, ele saiu.

Então, a ficha caiu do horário, já passava das onze horas da noite, e no dia seguinte ele teria que acordar cedo novamente. Porém, o que Brandon disse ficou impregnado em sua mente. Ele mentia pra si mesmo. E claro, isso estava se referindo ao amor. O amor é uma perca de tempo? Sim, para Ícaro isso era. Ou não. Naquele momento, Ícaro percebeu que sua mente tentava enganar sua mente, e parecia estar conseguindo. E em meio a pensamentos ilusórios, adormeceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

As coisas vão se complicar...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Garoto Que Tinha Medo De Amar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.