Do meu coração. Meu coração. Coração. Eu estava ouvindo tudo corretamente? Toquei o cordão e senti as notas como também o batimento cardíaco acelerado e descompensado. Eu estava com as notas do coração dele. Ele já tinha as minhas a muito tempo. Olhava para ele e ele pacientemente esperava alguma reação que não fosse olhar? Ele me sorriu como se adivinhasse meus pensamentos e então pôs suas mãos sobre as minhas. Seu toque causou em mim uma queimação local. Eu olhei para nossas mãos juntas e tive aquela sensação... Deveria ser assim. Sempre assim.

– Não quero apressar nada. – ele disse – Eu sei que é um tempo difícil. Eu só queria dizer que eu estou aqui.

Apressar? Estávamos atrasados. Muitos anos atrasados. Eu o queria sem saber. O procurei sem imaginar que fazia isso. Edward Cullen sempre teve meu coração em suas mãos. As notas mais profundas eu guardei para ele, a música perfeita viria de nossa união.

– Eu estou aqui. – ele me olhou sorrindo torto.

– Tem certeza? – perguntou um pouco sofrido. – Eu não vou a lugar nenhum. Eu espero. Não quero que se arrependa.

Eu sorri.

– Não vou. Não há nada que me faça.

E então sua mão subiu para meu rosto e passou o dedo me fazendo fechar meus olhos pela aguardada carícia. Edward passava seus dedos por todo meu rosto delicadamente. Senti a aproximação de seu rosto e sua testa colou na minha.

– Se fizermos isso, não a deixei ir. Nunca mais.

– Não quero ir.

E então ele me beijou. Um beijo doce, carinhoso, sem pressa, sem nada a não ser amor. Peguei seu rosto o sentindo mais perto de mim. Ali era meu lugar, minha casa, meu mundo. Eu me encontrei e sabia que onde Edward fosse eu iria também. Continuamos nos beijando e nos afastando por ar, voltando a nos beijar e ficando novamente sem ar. Queríamos estar juntos, aproveitando a aproximação, ouvindo a respiração acelerada, nos olhando nos olhos. Tendo certeza que não era sonho.

– Vou te levar para seu quarto.

– Tudo bem.

Eu ainda não estava pronta para me despedir dele.

– Fica comigo até eu dormir.

Ele pegou a minha mão e me ajudou a me levantar. A foto estava em sua outra mão.

– Com prazer.

E subimos para os quartos, a casa um pouco escura e silenciosa. Edward abriu a porta e me deixou entrar.

– Vou trocar de roupa, já volto.

Troquei de roupa colocando uma camisola rosa e longa, tirei os travesseiros da cama e ouvi as batidas leves na porta. Sorri quando caminhei em direção a porta. Edward estava com roupas leves, ele entrou e eu corei pensando que estava de camisola. Ele já tinha me visto, mas agora era diferente.

– Venha...

Eu posso dizer que nunca dormi tão bem em toda minha vida. Estar deitada nos braços dele me fez relaxar imediatamente e tinha algo tranquilizador em seu perfume masculino. Só que quando acordei, lá estava a cama vazia. Tomei um banho, troquei de roupa, arrumei as coisas que tinha trago porque eu achava que iríamos embora o mais rápido possível, teríamos até o dia 31 ensaios reforçados. Eles queriam estrear o mais rápido possível.

Ao descer as escadas eu ouvi os risos. A sala estava cheia, todos estavam sentados em algum lugar, não vi Edward e isso me desanimou.

– Bella que bom que acordou. Espero que a gritaria não a tenha acordado antes da hora.

Esme olhou feio para Emmett e eu percebi que ele estava brincando com o novo videogame, numa disputa com Rose. Alice estava pulando torcendo por alguém e Jasper rindo com Carlisle.

– Não se preocupe, é ótimo ter esse clima. Eu dormi muito bem.

– Espero que sim querida, venha tomar tranquilamente na cozinha.

Eu fiquei com receio de encontrar Agnes, ela poderia fazer uma de suas milhares perguntas inconvenientes ou falar de Jacob e isso não era algo que eu queria. Andamos pela casa até chegarmos a uma pequena cozinha bem equipada, a mesa estava devidamente montada no centro dela.

– Todos já tomaram café?

– Oh sim querida, Agnes e Jean saíram bem cedo e Carlisle tomou café comigo enquanto esperava os outros acordarem. Alice e Emmett acordaram na mesma hora que Jasper e Rose, tomaram café juntos enquanto eu resolvia o almoço. É tradição termos esse dia juntos então será essa bagunça até a noite. – ela riu. E não mencionou Edward.

– Será um dia maravilhoso então.

– Claro o que gostaria para o almoço? Eu pensei em algo leve, mas Edward disse que você gostava de...

– O que você fizer ficará perfeito. Eu vou adorar com certeza.

Esme sorriu e então a voz. A minha voz.

– Ela só quer te agradar.

Quando olhei Edward eu tive vontade de correr e ir até ele. Suas mãos tinham bolsas e mais bolsas e eu fui até ele ajudar.

– Onde estava?

– Fui ao mercado. O único aberto. – ele riu para a mãe. – Já tomou seu café?

– Ela acabou de acordar querido.

Esme estava colocando algumas xícaras na mesa, arrumando os bolos e pães.

– Trouxe um chá perfeito para uma manhã dessas. Vamos tomar?

Esme ajudou Edward enquanto eu ficava olhando a dinâmica dos dois, eles riam e se implicavam. Era lindo ver como eles se davam bem, Carlisle entrou e sentou perto de mim.

– Eu gosto da casa assim, agitada e cheia. Me lembra quando eles eram menores. A bagunça sem fim, os gritos e a correria.

– Deveria ser maravilhoso.

– Esme sempre acaba se aborrecendo, eles quebravam as coisas dela, arruinavam as cortinas e acabavam um culpando o outro. Às vezes Edward dizia que era ele, sabíamos que era culpa de Alice e quando Emmett dizia que era ele eu sabia que Edward tinha ameaçado ele de alguma maneira.

Eu precisei rir alto e Edward veio me servir. Carlisle fez Esme sentar e serviu um bolo para ela. O clima continuou nessa tranquilidade, ouvi mais histórias sobre bichos de estimação, brigas em escola, namorados de Alice sendo expulsos sob ameaças e os castigos de Esme. Joguei videogame com Emmett e Rose, e percebi como Alice tinha se desligado do trabalho e ajudava a mãe na cozinha com habilidade e quando entrei no carro para voltar com Edward eu sabia que estava cansada. Muito cansada da agitação fora do comum.

Semisonic estava tocando Closing Time e eu sorri de olhos fechados cantando internamente que era ele que deveria mesmo que eu queria que me levasse para casa e que eu estava pronta para recomeçar, sem mágoas e enfrentando novos desafios das minhas escolhas. Meu coração apertou com a grande expetativa que era estar com ele, abri os olhos e olhei para Edward. Ele sorriu e colocou sua mão na minha dirigindo com uma mão só. E mais uma vez eu sorri.

Os dias que se seguiram foram de ensaios intermináveis, o maestro principal apesar de satisfeito comigo e com Edward tinha uma mania de perfeição grande e exigia de todos muitas horas. Eu chegava em casa quase dormindo e Edward muitas vezes me colocava na cama já desmaiada. O Ano Novo estava chegando e eu não queria voltar para casa, mas não sabia quais seriam os planos de Edward e tinha vergonha de perguntar. Pareceria que estava me convidando, então em todo caso compraria uma passagem para casa. Deixar Paris sem Edward me deixava triste.

– Estou com meus dedos doendo.

Falei esfregando as mãos depois de seis horas de ensaio que começou de manhã e terminou somente a tarde.

– Vamos comer alguma coisa antes de voltar para casa, você sempre acaba dormindo no carro e não comendo mais nada.

Edward pegou minha mão e fomos caminhando para um restaurante no final da rua. Ele fez isso depois do Natal e continuou fazendo com naturalidade. Eu amava esse gesto e ficava pensando quando faríamos mais coisas. Mas gostava do ritmo que as coisas estavam indo, devagar e sem pressa. O restaurante estava vazio e sentamos no fundo, pedimos uma salada e um prato de frango com molho.

– Passa o Ano Novo comigo.

Sorri e ele pareceu entrar no mesmo clima sorrindo comigo.

– Eu não sabia onde passaria.

– Eu vou passar com você.

– Oh Edward... Eu adoraria. E onde nós vamos passar?

O nós dentro de mim causou uma revolução. Eu o amei.

– Surpresa.

– Como?

– Eu demorei para decidir, mas sei onde quero passar com você. Será inesquecível.

Então eu tomei coragem e peguei na mão dele.

– Qualquer lugar com você se torna inesquecível Edward Cullen.

Ele pegou minha mão e beijou olhando nos meus olhos. Havia nos olhos uma satisfação e realização que palavras não descreveriam nunca. Eu sabia também que por trás daqueles olhos, muitas verdades ainda haveriam de ser reveladas, mas hoje eu estava feliz com as minhas verdades ditas sem nenhuma vergonha ou medo.