Lost Scenes escrita por Quaeso


Capítulo 5
A última vez


Notas iniciais do capítulo

Gente eu queria fazer um apelo para vocês lerem minhas outras fics. Especialmente uma One-shot, que fiz ontem para o dia das bruxas. Ela se chama "Sacrificio" .
Se vocês ainda não sabem eu também estou postando uma história ORIGINAL, chamada " Darkness to kill", e gostaria muito de ter tantos leitores nela quanto tenho nessa. Não esqueçam de ir lá conferir.
Boa leitura!



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Ainda estava chorando quando fui puxada novamente para a escuridão. A visão do Gus me pedindo em casamento tinha mexido muito comigo/ 2º Hazel. E confesso até que bateu um ciúmes dela/ de mim. Mas não deu tempo de continuar pensando no que havia acontecido, logo já estaria tendo outra visão. Me sentia mais cansada do que nunca, foi como se tivesse voltado a ter os meus antigos pulmões. Os pulmões que de nada serviam. Não conseguia respirar direito, e o pior, tudo estava tão escuro em volta. O medo que provavelmente nunca havia contado a ninguém e que nunca nem mesmo admiti para mim mesma, era que morria de medo do escuro. A escuridão me fazia lembrar de todas as vezes que ia ao hospital ás pressas, por causa da água que enchia os meus pulmões. Era como se morresse todas ás vezes, e de alguma forma milagrosa voltasse a vida. Mas em todas as vezes tudo ficava tão escuro, e passei a sentir muito medo. Não medo da morte, mas medo de ficar ali, naquela escuridão assustadora. Lágrimas surgiram nos meus olhos antes que as impedisse. De repente a água ficou muito fria, quase congelante. Meu corpo começou a tremer, e coloquei meus braços em volta do meu corpo. Senti que iria perder a consciência, quando imagens começaram a colorir minha mente novamente. Era outra visão do futuro.

O que vi foi meio nostálgico. Estava no grupo de apoio, a velha igreja episcopal continuava lá. Meu corpo espiritual estava lá dentro. No coração de Cristo havia uma roda de pessoas no mesmo lugar onde se fazia as antigas reuniões. Em uma mesa lateral, tinha biscoitos, e vários copos com limonada. No meio de várias pessoas de todas as idades, um idoso que era potencialmente mais velho do que todos os outros que já eram velhos, estava de pé apoiado em uma bengala falando com os outros. Em parte da conversa ele dizia:

– [..] mesmo com todos achando que o câncer me levaria, aqui estou eu. E só perdi os meus testículos. Vocês também podem ter essa sorte.

Não acreditei quando ele falou aquilo. O idoso no meio da sala era o Patrick? Bem..Só ele falaria esse tipo de coisa, como perder os testículos e ainda achar que está tudo uma maravilha.

Algumas pessoas murmuraram quando ele disse aquilo, provavelmente concordando comigo.

A seguir várias pessoas seguiram o mesmo protocolo enquanto se apresentavam: Nome. Idade. Diagnóstico. E como estavam no dia.

Uma garota que não reconheci se apresentou como:

– Cyntia. 15 anos. Câncer do fígado. Estou bem.

Isso me fez lembrar de quando era eu que estava lá. Me apresentava desse jeito, quase nunca falava nada. Depois dessa menina vários outros também falaram. Teve um tal de Pedro, que tinha 24 anos e que já, havia se curado do câncer, mas que estava ali somente para superar a perda da sua perna direita. Isso me fez lembrar vagamente do Gus. Outra pessoa que me chamou atenção foi um idoso, que usava óculos escuros. Ele se apresentou como:

– Eu me chamo Isaac, tenho 62 anos. Já tive um improvável e infeliz câncer ocular, mas já estou curado. Estou bem.

Fiquei tentando digerir aquela realidade, que era um tanto quanto esquisita. O Isaac estava ali sentado, e ele já era um idoso. Inacreditável. O idoso que estava sentado ao lado dele era alto e aparentava ser forte enquanto jovem. Durante todas as apresentações e lamentações ele esteve de cabeça baixa e de olhos fechados. Quando Isaac terminou de falar, ele abriu os olhos. Levei um choque quando olhos azuis foram revelados.

Meu nome é Augustus Waters - disse com uma voz baixa e triste - Tenho 62 anos - já tive osteossarcoma, e perdi uma perna.

– Como está se sentindo? - perguntou Patrick

Ele deu um fraco sorriso.

– Não poderia estar pior.

– Augustus você precisa acreditar que a querida Hazel, assim como todos os outros...- ele fez uma pausa suspirando - que eles tiveram uma vida longa e feliz, mas que Deus achou que era a hora de eles irem.

Fiquei espantada quando ele disse aquilo, porque diabos eu estava morta?..

– A partir de hoje já faz dois anos - disse o Gus relembrando - eu queria recitar um poema que eu fiz em homenagem a ela, posso?

O Patrick apenas acenou em aprovação.

Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui,
enchendo inúteis quilos de um metro e noventa e dois centímetros, o humano de quebra.
Noite, noite após noite uma outra noite, veio me lembrar da beleza do meu amor.

Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?

E depois ninguém sabe mesmo do espaço que ocupo, desnecessário espaço de pernas

e de braços preenchendo o vazio que eu sou.
E o mundo, triste bronze de um sino rachado,
o mundo restará o mesmo sem minha quota
de angústia e sem minha parcela de nada. Dura sorte ter de deixar para outra noite a morte.

Quando ele terminou de recitar todos da sala já estavam chorando, ou com os olhos lacrimejando. Mas ninguém estava como eu, meu coração estava espatifado. Foi lindo mas ao mesmo tempo foi triste, a cada verso que ele falava um punhado de tristeza e melancolia acompanhava suas palavras. Me locomovi para a frente dele para observá-lo melhor. Rugas tracejavam os seus olhos, fios grisalhos enchiam sua cabeça. Aquele sorriso por qual fiquei apaixonada, não estava mais ali. Ele continuava lindo como sempre. Diferente o usual, mas lindo. Tentei tocar ele com minha mão direita fantasmagórica, felizmente consegui. Sua pele era enrugada, mas seus músculos ainda eram definidos. O toquei mas ele não sentiu.

– Hazel - ele sussurrou baixinho. - eu te amo.

Isso me fez pensar que o Gus estaria me vendo. Porém estava enganada, ele só tinha jogado palavras ao vento.

– Gus.. - respondi - eu também te amo.

Ele não me ouviu. Ele não me sentiu. Mas mesmo assim tentei consolá-lo. O abracei com o meu corpo, as lágrimas saindo em meio a soluços.

– Eu te amo - repeti.

– Eu tenho certeza que onde quer que ela esteja está olhando por nós neste momento. - falou o Patrick.

Ele somente assentiu. O Isaac que estava ao lado, colocou sua mão no ombro dele para consola-lo.

Logo após isso todo deram as mãos e Patrick começou sua prece:

– Senhor Jesus Cristo, estamos aqui reunidos em Seu coração, literalmente em Seu coração, como sobreviventes do câncer. O Senhor e somente o Senhor nos conhece como conhecemos a nós mesmos. Nos guie pela vida e para a Luz em nossos períodos de provação. Oremos pelo fígado da Cyntia e do Jamie, pelo pulmão da Emily. Oremos para que o Senhor consiga nos curar e para que possamos sentir Seu amor e Sua paz, que excedem todo o entendimento. E nos lembremos em nossos corações daqueles que um dia conhecemos, amamos e que foram para a Sua casa: Gabriel, Luiz, Joseph, Sofia, Halley, Lucia, Angelina, Taylor, Leon…

Ele estava tão velho que não se lembrava nem dos primeiros nome, por isso lia tudo no papel. Os últimos nomes foram :

– [...] Maria, Olivia, Jacob, Jack, João, Nico, Hazel, Vitor, Arthur, Sofia.

Fiquei depressiva quando ele falou "Hazel", o meu nome finalmente tinha ocupado aquela lista. Depois do meu nome mais três pessoas morreram, não que se fosse algo para se comemorar. Quando Patrick terminou, todos entoaram junto, o mantra que eu odiava:

– VIVENDO O MELHOR DA NOSSA VIDA HOJE - e foi o fim da reunião.

Ainda estava abraçada no Gus, quando ele levantou. Senti a escuridão me chamando de novo, mas não queria voltar para lá. Agarrei ele com toda a minha força, e nesse momento eu senti que a expressão do Gus havia mudado. Ele olhava desnorteado em volta como se algo de repente tivesse chamado sua atenção.

– Hazel ..

Fiquei um pouco feliz por ele ter me sentido, mesmo que um pouco, mas foi tarde demais. A escuridão me puxou mais forte, e fui obrigada a soltá-lo. Dessa vez senti que não voltaria mais.


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Notas finais do capítulo

A poesia que utilizei foi um mesclado de Nauro machado- Ofício e Mário faustino - A miss Soledades voy. Fiz algumas modificações, mas fiquei impressionada por encontrar uma poesia tão parecida com o Gus.

Por favor comentem! e não esqueçam de ir lá ver minhas outras fics, Ok?!



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