Love Is Thrown In Airless Rooms escrita por Mychelle_Wilmot


Capítulo 2
2.




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A primeira vez que Spock visitara uma montanha terrestre com um propósito recreativo, ele odiara.

Ele nunca confessaria tal sentimento para Jim ou para o Dr. McCoy; caso fosse perguntado, ele diria apenas que não vira propósito em escalar montanhas, e que poderia dedicar seu tempo a atividades mais proveitosas e funcionais.

Não que algum deles parecesse planejar em perguntar-lhe algo – ambos pareciam bem satisfeitos com os dias de licença.

Era o começo do quinto e último ano da missão inicial da Enterprise; após uma longa e exaustiva missão no Universo Negativo, a Frota Estelar ordenara três semanas de licença para todos a bordo da nave.

Spock não tinha planos de visitar Vulcano; assim como no ano passado, seus pais não estavam no planeta, e ele não pensava em fazer outra peregrinação tão cedo.

Por isso, quando Jim o convidara e convidara também o doutor McCoy para passar as três semanas de licença em uma de suas montanhas favoritas na Terra, Spock prontamente aceitou - se Jim pode enfrentar as dunas de Vulcano, Spock achava que poderia aguentar alguns dias no outro planeta de sua hereditariedade.

Tal tarefa estava se provando mais difícil a cada dia.

Durante esses dias, Spock ganhou um ainda maior e mais profundo respeito por sua mãe, por ter se adaptado tão bem em um planeta como Vulcano, sendo nativa de um lugar como a Terra. Vulcanos podiam ser seres extremamente adaptáveis, mas Spock estava descobrindo que não lhe agradava muito o processo dessa adaptação.

Doutor McCoy fora com eles dessa vez, e Spock percebera que tal fato lhe dividia. Ele não o admitiria facilmente, mas ele gostava da companhia do doutor, e tinha algo de gratificante em conhecê-lo fora do ambiente de trabalho.

Mas por algum motivo, que Spock escolhera não analisar profundamente, parte de si desejava que ele pudesse passar aquele tempo sozinho com Jim.

Empurrando tais ilógicos pensamentos para longe de sua mente, ele voltou-se para o presente: eles estavam os três em volta de uma rudimentar fogueira, em um ritual que o doutor descrevera como “assar marshmallows em volta de uma fogueira”, enquanto Jim e o doutor compartilhavam histórias. O doutor comentava que gostaria de ter visto Joanna nessa licença, porém as datas dele e de sua filha não se combinaram, e Jim comentava que tentaria visitar seu sobrinho Peter nos últimos dias de licença.

Notando que Spock estava em silêncio há algum tempo, o doutor perguntou com curiosidade em sua voz ao invés do comum sarcasmo:

“E quanto a você, Spock? Vai visitar Lady Amanda ou algum outro parente?”

Spock respondeu quase de imediato:

“Não tenho nenhuma visita programada: minha Mãe e meu Pai encontram-se na embaixada de Andoria e estarão ocupados pelos próximos dias.”

Jim deu uma mordida em seu marshmallow e perguntou, depois de mastigar:

“Você não tem nenhum outro parente próximo, Spock?”

Por alguns segundos, Sybok veio a sua memória, deixando Spock confuso; há anos ele não pensava em seu exilado meio-irmão. Uma ilógica, metafórica pontada em seu coração lhe fez realizar que, de alguma forma, ele sentia saudades do irmão. Mas tudo o que Spock disse foi:

“Negativo.”

O doutor apenas deu de ombros e Jim voltara a comer; Spock resolvera também experimentar, participando do ritual humano, e encontrando o silêncio que se instalara entre eles extremamente íntimo e amigável, que lhe fazia olhar com mais simpatia e apreciação para o precário e anteriormente desagradável acampamento.

Foi por isso que Spock se surpreendera quando Jim o procurara mais tarde naquela noite, dizendo:

“Você não está gostando muito daqui, não é Spock?”

Spock apenas piscou diante das palavras de Jim, e disse:

“O que lhe deu esta impressão?”

Jim não respondeu por alguns segundos; ele parecia agitado, sentado no chão de pedras e sujeira com suas roupas civis, e havia um olhar em seu rosto que o fazia parecer estranhamente vulnerável.

“Bem, é que apenas você não parece estar gostando ou se encaixando aqui, e você nunca demonstrou ter muito interesse em conhecer certas áreas da Terra, e...”

Jim interrompeu-se, novamente parecendo agitado, tão diferente do homem confidente e decisivo que ele conhecia há mais de cinco anos; Spock não gostava de vê-lo assim, e aproveitando a brecha, disse:

“Jim. Jim.” – Spock esperou até que Jim olhasse para ele – “Eu posso nunca ter demonstrado excessivo interesse em cultura humana, mas isso não significa que esse interesse é inexistente. Vulcanos tem como um princípio fundamental de vida o IDIC – Infinitas Diversidades em Infinitas Combinações – e é um conceito que aceitamos em nossas vidas. Especialmente se você considerar minha natureza hibrida.”

“Eu posso ter adotado o modo de vida Vulcano e me considerar como um, mas eu tenho uma metade humana. Conhecer a Terra e a sua cultura é conhecer a mim mesmo; posso aparentar não estar, como você colocou, “me encaixando” perfeitamente aqui, mas conhecer a cultura humana é algo precioso e que sim, me interessa.”

Jim olhou para Spock e sorriu; não um de seus sorrisos charmosos que ele costumava usar com mulheres, ou um de seus sorrisos irônicos que por vezes usava com seus superiores, mas um sorriso completamente sincero e quase inocente, e Spock teve que lutar cada um de seus impulsos humanos para não unir seus lábios aos de Jim, mesmo que brevemente.

Quando ele percebeu o rumo de seus pensamentos, Spock sentiu que enrijecia seu corpo, e por dentro, uma sensação gelada lhe apoderou; em um instante, todos os gestos, tanto seus como os de Jim, todas as palavras ditas ao longo desses cinco anos, tudo isso fez sentido, e Spock perguntou-se como ele não percebera antes.

“Spock? Você está bem?” – Spock percebera que Jim o olhava com uma expressão preocupada; provavelmente não era a primeira vez que ele lhe chamara.

“Minhas desculpas, Jim... capitão.” – Spock levantou-se da pedra onde estava sentado – “Eu estou bem. Se você não se importa, gostaria de me recolher agora.”

Jim tinha uma expressão confusa, e talvez até um pouco magoada no rosto, mas assentiu e lhe desejou boa noite.

Spock não dormira aquela noite. Ele meditou profundamente, chegando à conclusão de que teria que decidir, nas próximas semanas, o que ele realmente queria da sua relação com Jim, e como ele agiria, uma vez que decidisse isso.

Três meses depois, Spock resignara sua comissão da Frota Estelar. Dois meses depois disso, ele estava engajado no ritual Kolinahr.

Parecia que o IDIC não era um conceito tão simples se ser aplicado, afinal.


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Notas finais do capítulo

Sim, a montanha que eu me referi aqui é a montanha do começo do quinto filme (The Final Frontier).



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