Um fogo devora um outro fogo. Uma dor de angústia cura-se com outra. - William Shakespeare

O baile andava vagarosamente para mim e Draco. Não falávamos nada, apenas rodopiávamos pelo salão. Eu estava atordoada, sem saber o que fazer.

“Não chora, Hermione” pensei, confortando a mim mesma.

Draco não estava perturbado, estava calmo como água, me fitando com seus olhos cinzentos, eu nunca reparei no quanto ele parece bonito assim. Senti as mãos do garoto mais firmes na minha cintura, minhas pernas voltaram a tremer, de raiva —Ou nervoso, talvez— E a dança se tornou cada vez mais suave. Rápida e lenta ao mesmo tempo.

—Fico me perguntando o porque de Minerva ter colocado logo você para dançar comigo—Resmungou Draco, em uma breve tentativa de puxar assunto.

—Ela disse que é pelas nossas brigas constantes—falei, grossa.

—Porque você não tinha um par? Fiquei sabendo que o Krum queria ir com você—Perguntou Draco. Imediatamente pensei em Rony, e em quanto eu queria ter ido ao baile com o ruivo.

—Ninguém me chamou—respondi—E você? Por falta de par que não foi, vejo todos os dias as garotas se jogando para cima de você—perguntei, e a frase saiu diferente do que eu queria, dei a entender que estava enciumada quando apenas estava curiosa por ele pedir ajuda para a Minerva.

—Foi exatamente por isso. Eu não queria alguém como elas, todas iguais, tentando provar que são uma melhor que a outra, porém acho o contrário, todas são incrivelmente iguais e desprezíveis—Ele falou, em um tom de voz diferente, um pouco menos rude, porém ainda indiferente. —Você estava apaixonada pelo Weasley, não é? Todos da Grifinória falam isso. —Perguntou ele,fiquei corada na hora, eu não queria ter que falar disso.

—Gostava. Passado—falei e ele apenas assentiu, com medo de falar mais alguma besteira.

Depois de algumas danças a mais, Draco falou:

—Hermione, sinto as pessoas tomando distância de mim, sabe, eu não quero isso. Bom, não posso pedir que sejamos amigos mas... Que tal se parássemos de nos odiar tanto?

—É, pode ser—concordei e contei a Draco como que eu vim para Hogwarts pela primeira vez, contei como invadi a câmara secreta, contei como estive dentro da casa dos gritos no ano passado, contei também sobre a raiva que eu sentia dele, sobre como sofri e percebi que eu estava com água nos olhos quando falei para Draco sobre as humilhações que ele me fez.—Conte-me mais sobre você—falei, antes que eu voltasse a brigar com ele.

—Bem... —Draco contou praticamente toda sua vida para mim, me comovendo, me passou pela cabeça que talvez aquilo fosse apenas uma pegadinha dele com os amiguinhos da Sonserina, para me humilharem. E então ele me contou sobre ser desprezível comigo, com Harry e Rony. —Me desculpe por te chamar de sangue ruim todos esses anos. Sabe, as vezes eu acho que não tenho o poder de decidir as coisas, vivo pelas decisões pelos meus pais, principalmente meu pai. É como se eu não tivesse escolha—Concluiu o garoto, e uma lágrima pesada desceu de seus olhos cinzas. Pensei em seca-la, mas achei que não tinha intimidade o bastante para isso. Os próximos segundos foram muito rápidos. Pansy passou por nós, ela estava chorando. Me encarou e gritou, sendo que metade dos alunos pararam para ouvir:

—Sua sangue ruim de lixo. Você não é nada, é uma bruxa de sangue ruim que não merecia estar em Hogwarts, não merecia estar aqui nesse exato momento. Você deveria estar com os trouxas, deveria estar vivendo sua vidinha trouxa medíocre. —Draco olhou para Pansy, constrangido, e todos os alunos Sonserinos começaram a me vaiar meus olhos se encheram de lágrimas e eu corri para a sala comunal, eu estava certa, era uma pegadinha, de muito mal gosto pelo que notei, Eu mal podia enxergar, meus olhos estavam cheios de água e eu tropeçava constantemente. Draco, em vez de vaiar, subiu a escadas atrás de mim e me ouviu falando a senha para entrar na sala, eu sabia que ele estava vindo logo atrás de mim, mas isso não importa, eu queria apenas sair dos olhares de todas aquelas pessoas. A porta fechou.

—Focinho de porco—ouvi Draco falando e a porta se abriu novamente. Ele correu atrás de mim até meu quarto, mas eu bati a porta antes que ele entrasse, quase como em uma brincadeira de pega-pega.

—SAIA DAQUI SEU PORCO NOJENTO. VÁ LÁ COM SEUS AMIGUINHOS AJUDAR A VAIAR A NERD HERMIONE GRANGER. —Gritei. Chorando.

—Hermione, eu não tenho nada a ver com aquilo—Ele disse, alto o suficiente para que eu pudesse escutar.

—Então porque sua namoradinha foi lá me tratar mal, Malfoy? —perguntei.

—Ela não é nada minha, é uma idiota, ela pensa que é minha namorada—ele falou e andei até a porta.

—Isso é verdade? —perguntei, soluçando, minhas mãos tremiam e eu estava vermelha.

—Sim—Ele disse e abri a porta para que ele entrasse.

Eu havia deixado Draco entrar no quarto. Isso não era uma decisão inteligente, mas eu precisava desabafar, não importa com quem fosse.

—Porque ela me tratou daquele jeito? —Perguntei, me sentando na cama, enquanto Draco andava pelo quarto, ele parecia envergonhado com a situação.

—Ela teve ciúmes de você—Ele esclareceu.

—Mas você já teve algo com ela? —Perguntei.

—Nada muito sério. Hermione, como eu falei, as garotas caem aos meus pés, Pansy é só mais uma delas. Costumo ficar com ela as vezes, nada sério, já deixei isso bem claro mas parece que ela não quer entender—Ele explicou e se sentou no chão, na minha frente.

—E eu aqui, nunca beijei nenhum garoto—Falei rindo.

—Nossa, isso é sério? —Ele perguntou, acompanhando meu riso. Draco era uma pessoa agradável quando queria, notei que nós dois poderíamos até ser amigos.

—Sim—Falei e sorri. O garoto se aproximou de mim e sentou na cama, e então aproximou sua mão da minha face, acariciando meu queixo, depois parando com a mão na minha nuca. E então ele fez a menção de que iria me beijar. Me puxando cada vez mais perto, eu estava soando muito, meu primeiro beijo seria mesmo com o garoto que eu odiei desde o primeiro ano em Hogwarts? Provavelmente seria. Senti o cheiro de menta do garoto, sua boca cada vez mais perto e seu hálito de menta cada vez mais delicioso e convidativo, arrepios se irradiaram por todo meu corpo. E então o garoto foi para trás, rindo como ninguém. Olhei para ele, desentendida.

—Quer dizer então que se eu quisesse poderia ter te beijado a qualquer momento—Ele disse, meio a gargalhada.

—Bobão— Falei, rindo. Peguei meu travesseiro e joguei contra ele. Ele jogou de volta. E então percebi que estava tarde, logo a festa acabaria.

—Você tem que ir, logo as meninas vão estar aqui e vão estranhar um Draco Malfoy em uma guerra de travesseiros no meu quarto.

—Falei e ele se levantou do chão. Andou até a porta, acompanhei ele, ele se escorou na porta e falou:

—Hoje foi um dia interessante, Hermione. Precisamos ter mais dias assim. —Apenas assenti, sem entender muito bem — Amanha na sala de astronomia, uma hora da madrugada—Ele disse e saiu.

“Ótimo, agora tenho um encontro com o Malfoy” Pensei, ironicamente.