Flores De Cerejeira escrita por Yue
Enquanto recordava uma Yume sorridente acenar-lhe enquanto o carro se afastava, chegou a porta da empresa.
Era um edifício com vinte andares, quase todo de vidro e pedra. Uma obra de arte de fora e uma prisão por dentro. Empurrou a porta e sentiu o cheiro a limão, familiar, que era característico daquele lugar. Acenou distraidamente para a rececionista e premiu o botão do elevador. O mundo ao seu redor continuava, mas para ele tudo não passava de um borrão de cores e vozes. Fechou os olhos e recordou o som do violino de Yume naquela noite em que se perderam. Ouvia cada nota, como se ela estivesse a tocar mesmo ao seu lado. Sentiu o seu cheiro e a magia desvaneceu-se com a chegada do elevador.
- Olá Derek.
Derek virou-se ao som do seu nome. Era Erika, a sua colega de trabalho.
- Bom dia Erika.
Entraram os dois no elevador e mais uma vez Derek não reparou na forma como ela se vestia, na maneira como ela o olhava ou mesmo na maneira que se movia ao seu redor. Erika suspirou. Era uma rapariga agradável, alta morena de olhos âmbar. Enfim… o sonho de muitos homens. Sempre que passava arrancava suspiros, mas não daquele que queria.
Com um novo suspiro olhou-o discretamente. Estava num dos seus dias. Sempre que tinha aquela expressão perdida era escusado falar com ele.
O dia de trabalho foi normal, Derek manteve a cabeça ocupada para não pensar no seu passado. Comeu. Voltou a trabalhar e saiu do escritório quando já era noite serrada.
Caminhou afundando-se em memorias novamente. Até que algo o começou a incomodar. Derek recusava-se a voltar a realidade ainda que a sua mente continuasse a alerta-lo. Quando achou inútil resistir desprendeu-se das memórias e sentiu o ar húmido da noite no rosto. A briza do vento bailava ao som de uma melodia que suava demasiado familiar. A cada passo que dava afastava-se daquela melodia.
“ De onde conheço esta melodia” – pensou – “Talvez esteja cansado. Os sonhos mantêm-me…..”
Quando este pensamento lhe veio a mente tudo se tornou claro.
- Yume….. – pronunciou virando-se.
Correu em direção ao som que se tornava cada vez menor com o fim da melodia. Correu como um louco. Tropeçou, chocou contra pessoas mas continuou. Quando dobrou uma esquina viu aquele cabelo preto brilhar e quase caiu. O seu corpo já não se movia mais, todo ele ficou paralisado com a sua presença.
“ O que faço agora?” – pensou – “O que faço? O que lhe digo?”
Yume não notara a sua presença, arrumava o seu violino na maleta. Derek começou a caminhar para ela devagar, como se tivesse medo de a alcançar depressa demais. Já Yume continuava a mexer-se à velocidade normal e começou a afastar-se. Derek ficou desesperado.
- Yu… Yume!!! – gritou para a figura que se afastava.
A figura virou-se e as lágrimas chegaram-lhe aos olhos. Era ela. Era mesmo ela. A rapariga que preenchia os seus sonhos e todos os seus pensamentos. A sua face continuava linda com os olhos a lançarem faíscas para todo o lado.
- Derek??... Derek!!!
Yume correu para um Derek imóvel e envolveu-o num abraço apertado. O seu cheiro invadiu-o. Era o cheiro a flores de cerejeira. Era o cheiro do lugar que se encontraram incontáveis vezes. Yume também reconheceu o cheiro em Derek. Era o cheiro de tinta e pinceis antigos. Quantas vezes tinha ficado a observa-lo pintar até esquecer tudo a sua volta. Como se tudo o que existisse fosse ele e a tela. Abraçaram-se durante um longo momento, como se tentassem compensar os anos afastados. Quanto tempo duraria um abraço para compensar 4 anos de distância, sem qualquer contato?
Por fim Yume soltou-o. Custava-lhe larga-lo. Era como se ele se fosse desvanecer. Derek sentia o mesmo. Derek tocou-lhe o rosto, seguindo cada linha familiar.
“Porque será que nunca pintei um quadro dela?” – pensou.
- Tive muitas saudades tuas.
Com os olhos fechados ele saboreou o som da sua voz, uma voz suave e calma.
- Eu também –respondeu-lhe sorrindo um pouco.
- Mas o que fazes aqui?
- Bem essa devia ser a minha pergunta, não? Eu não estou a milhas de distância da minha terra natal.
- Tens razão. Estou a passear. Uma viagem pelo mundo… - o seu olhar perdeu-se naquela dor desconhecida que Derek já havia detetado varias vezes quando ela flava.
- Ai, sim. – o melhor seria mudar o rumo da conversa – E a minha pequena aventureira esta hospedada onde, posso saber?
- Neste momento?
- Em que momento seria afinal?
- A minutos atrás estaria hospedada no primeiro lugar que tivesse quartos. Agora estou hospedada em tua casa. – terminou a frase sorrindo-lhe.
- Em minha casa?
- Sim, a menos que te tenhas cassado, ou tenhas uma namorada ciumenta.
- Não. –apressou-se a responder – Nada que se parece. Vai ser um prazer servi-la, minha senhora.
Caminharam juntos em silêncio. Entre eles, o silêncio era mais forte que palavras.
Pararam na estação para ir buscar as malas que ele tinha deixado guardadas e caminharam com a lua. Naquela noite húmida era impossível encontrar duas pessoas mais felizes. O pouco que conversavam era sobre banalidades, o que tornava tudo mais leve entre os dois.
No seu apartamento a primeira coisa que ela quis fazer foi ver os quadros. Entraram no atelier e Yume inspirou fundo, observando aquele cheiro a tinta. Enquanto examinava todos os seus trabalhos, a sua atenção fui dirigida para a pintura que ainda estava incompleta. Cminhou até ao quadro e ficou a olha-lo. Derek manteve-se na porta do atelier observando todos os seus movimentos. Quando se virou na sua direção Yume chorava.
- Este quadro. É o nosso lugar.
Com passadas rápida Derek alcançou-a e prendeu-a num abraço apertado.
- É. – disse – Nunca cheguei a esquece-lo.
Derek sentou-a chorar e só a largou, quando os soluços passaram.
Conversaram durante mais alguns minutos até que ela acabou por adormecer com a cabeça no seu colo. Com todo o cuidado Derek levou-a para o quarto e deitou-a na cama.
- Parece um anjo. – sussurrou.
Com um beijo na bochecha deixou-a e voltou para o seu quadro. Pintou até sentir o pincel escorregar involuntariamente.
Finalmente estavam juntos outra vez.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que gostem.