O sol ainda não nascera, mas Yume já acordada observava Derek a dormir. Com uma respiração lenta e ritmada Derek repousava no sofá. Yume sentou-se a sua frente no chão frio. De alguma maneira vazia sentir-se mais viva. Se é que era possível. Abraçou as pernas e mergulhou em pensamentos.

“ O que farei quando ele descobrir a verdade?” – perguntava-se – “ E se ele não me perdoar? Devia contar-lhe.”

Com cuidado esticou a mão e tocou-lhe o rosto. Tão quente, tão delicado, tão precioso… Suspirou e levantou-se. Com a luz do sol a nascer, a sua imagem tornava-se surreal. Ela ainda estava na janela quando sentiu Derek levantar-se. Virou-se olhando-o. Ele não reparara nela. Esfregava os olhos e remexia o cabelo que ficara todo em pé. A sua imagem era tão cómica. Parecia uma criança. Yume não aguentou mais e desatou as gargalhadas. Derek quase caiu de susto o que a fez rir-se ainda mais.

- Estas bem disposta. – disse-lhe meio amuado.

- Pareces uma criança. Principalmente quando fazes isso. – disse-lhe com um sorriso.

- Bem não posso fazer nada em relação a isso. Sou assim e pronto. – reclamou.

- Eu sei. É por isso que continuo a gostar de ti. – aproximando-se dele rodeia-o com os braços e solta um grande suspiro. – Tive tantas saudades. – sussurra.

Derek estava vermelho que nem um tomate. Mas retribuiu o abraço. Afinal, não era todos os dias que tinha a oportunidade de abraçar o amor da sua vida.

Derek preparava o pequeno almoço enquanto Yume tomava banho e escovava os dentes. Enquanto o fazia ia pensando como era sortudo por a poder ver de novo, e como não a queria perder novamente. Comeram e riram até Derek ter que ir trabalhar.

- De certeza que queres ficar aqui o dia todo? - pergunta-lhe.

- Não tem problema. – garante-lhe ela –Vou ter muito com que me distrair.

 Ele vai hesitante. Mas sorri para consigo mesmo. Teria uma surpresa para quando voltasse para casa.

Erika estranhou ele estar tão bem disposto, afinal ainda ontem estava tão “longe”. Passou quase a manhã toda no escritório do patrão e saiu de lá com um sorriso tão reluzente como o sol.

- Vais contar-me o que se passa?

Derek surpreendeu-se. Não notara que ela se tinha aproximado. Ponderou num instante e concluiu que não era nada demais.

- Vou de férias. – declarou com um encolher de ombros.

- Tu? De férias? Porquê?

- Como assim porquê? Toda a gente tem direito a férias e eu já não aproveito as minhas a muito.

- Por isso mesmo. – ela estava irrequieta. Passava-se ali alguma coisa.

- Mas afinal que se passa contigo? – pergunta-lhe. – Estas esquisita Erika.

- Pois claro- reclama baixinho – Mas afinal quem é que te convenceu a tirar férias?

- Uma amiga. – Declara.

- Sempre que te pedia recusavas.

- Vejo-te no trabalho todos os dias. A ela não vejo desde que tinha 16.

- Quando a conheceste?

- A muito. Quando tinha oito. Já esta feliz com o interrogatório? Tenho que adiantar umas coisas.

Erika afasta-se cabisbaixa. Ele nem sequer notou, ela estava com ele a anos. Já tinham jantado juntos. Saído, mas ele nunca levava as coisas a sério. Não passavam de amigos. E agora aparecia aquela pessoa e ele já decidia ir de férias? Estava zangada, sentia-se triste…  Sentou-se a sua secretária e chorou baixinho. Depois de algum tempo sentiu movimento na sua frente.

- Para quê essa cara? – Kevin era sempre áspero, mas conseguia ser um bom ouvinte.

- Não estou para aturar a tua falta de delicadeza Kevin.

Sem que ela tivesse tempo de reagir ele empurra-lhe a cadeira e segura-a pelo braço, obrigando-a  levantar-se.

- Ei para. – berrou ela tentando empurra-lo em vão – Onde é que me estas a levar?

- A almoçar. – respondeu-lhe simplesmente.

Lá no fundo ela até se sentiu feliz, mas não iria deixa-lo saber disso. Afinal é bom fazer um homem apaixonado sofrer.

- Gostas de mim não é?

Kevin quase caiu pelo caminho. Quando se virou para ela estava vermelho, com a expressão mais engraçada que ela já tinha visto.

- O que… Não… Eu…

Erika começou a rir escandalosamente, chamando a atenção de toda a gente que ainda permanecia no escritório.  Kevin continuava a sua frente, com aquela expressão envergonhada sem saber o que fazer. Erika agarrou-lhe o braço e puxou-o para o elevador.

- Obrigada…

- É eu sou um bom homem…

Saíram os dois rindo sem reparar num Derek que sorria enquanto os observava.

 - Finalmente… - sussurrou baixinho.

Com a chegada do final do dia, e com a visão do mais recente casal do escritório Derek foi embora.

 Sorria, como não sorria a já muito tempo.