Quando acordo o fogo virou apenas uma pequena brasa, e alguns poucos sem-facções continuam acordados. Por que acordei? Ouço vozes á alguns metros de mim. Vozes familiares. Neelie e Caleb.

Tento olhar por cima do ombro de Noah para vê-los, mas é um pouco impossível pela diferença de altura entre nós.

- Susan? Não... Susan é uma amiga. Acho que ela gosta de mim, mas eu não sinto nada por ela. – diz Caleb. – Já sei. Que tal se... Hm... Eu dissesse á minha irmã que vou procurar mais Abnegados e ao invés disso eu e você, nós poderíamos voltar para a sede da Amizade ou algo parecido.

Eles pretendem fugir. Neelie pretende me deixar para fugir com Caleb. Senti-me triste com isso, traída e desapontada. Não esperava isso dela. Eu não faria isso com ela. Eu não iria com Noah ou qualquer outra pessoa e deixa-la. Vejo suas sombras na parede. Ele esta a abraçando, pelo o que vejo. Não ouço o resto da conversa deles. O melhor que tem a fazer é acreditar em si mesmo, pois até a sua sombra te abandona no escuro. Volto a dormir.

Quando acordo novamente foi por que ouvi a voz de Quatro e de uma mulher. Não era a Tris, era uma voz mais dura e forte.

- O que você gostaria de saber exatamente? – ela pergunta.

- Fale-me sobre o gráfico. E o mapa.

- Seu amigo acertou quando disse que o mapa e o gráfico listavam nossos abrigos secretos. Mas errou a respeito da contagem de população... Mais ou menos. Os números não incluem todos os sem-facção, apenas alguns deles. E aposto que você consegue adivinhar quais são.

- Não estou com paciência para adivinhações.

Ela suspira:

- Os Divergentes. Estamos contando os Divergentes.

- Como você sabe quem eles são?

- Antes do ataque da simulação, uma das ações da campanha da Abnegação foi um teste de pessoas sem-facções, para detectar certas anomalias genéticas. Ás vezes, os testes incluíam uma segunda aplicação do teste de aptidão. Outras vezes, a questão era mais complicada. Mas resumindo, nossa população de Divergentes é maior que qualquer outro grupo da cidade.

Peças como quebra cabeça começam a se juntar em minha mente. A Abnegação queria saber quantos Divergentes existe, isso é claro, mas para que? Acho pouco provável eles quererem exterminar todos ou controla-los, como Jeanine pretende. Talvez seja essa a informação que Jeanine queria quando escravizou mentes de membros da Audácia para matar os lideres Abnegados. Talvez seja algo mais importante que isso, o que eu suspeito. Então uma coisa vem em minha mente... A cerca. O que tem depois dela?

- Não entendo. Por que...

- Por que os sem-facção têm uma população Divergente tão grande?- Pelo tom de sua voz aposto que ela esta sorrindo. – É claro que aqueles que não conseguem confinar-se a uma única forma de pensar teriam uma chance maior de deixar uma facção ou de ser reprovados nas iniciações, certo?

- Não era isso que eu ia perguntar. Quero saber por que você se importa com a quantidade de Divergentes que existem. – Também quero saber, Quatro, também quero.

- A Erudição está à procura de mão de obra. Eles a encontram temporariamente na Audácia. Agora, vão procurar mais, e nós somos a opção mais óbvia, a não ser que descubram que nós contamos com mais Divergentes do que qualquer outro grupo. Caso eles não descubram, quero saber quantos de nós somos resistentes ás simulações.

- Entendo, mas por que a Abnegação estava tão interessada em descobrir quem é Divergente? Não era para ajudar Jeanine, era?

- É claro que não. Mas, infelizmente, não sei. A abnegação não estava disposta a revelar informações que, segundo eles, só serviam para aliviar a nossa curiosidade. Eles nos contaram apenas o que acreditavam que deveríamos saber.

- Estranho. – murmura ele.

- Talvez você deva questionar seu pai a respeito disso. – sugere ela. – Foi ele quem me alou sobre você.

O pai de Quatro? Ahn sim, Marcus. Eu estava na cerimonia de escolha daquele ano. O choque do ilho de um líder da Abnegação que resolveu mudar de facção. O choque do menino que trocou seu nome. De Tobias á Quatro.

- Sobre mim? O que ele falou sobre mim?

- Que suspeitava que você fosse Divergente. Ele estava sempre de olho em você. Reparando no seu comportamento. Ele prestava muita atenção em você. Por isso... Por isso, pensei que você estava seguro com ele. Mais seguro do que comigo. Hoje, vejo que eu provavelmente estava errada. Eu gostaria...

- Não se atreva a pedir desculpa. – sua voz treme. – Isso não é algo que você pode concertar com uma ou duas palavras, com alguns abraços ou coisa parecida.

- Tudo bem. Tudo bem. Não vou pedir desculpas. – Quem é essa mulher? “Tobias Eaton? Ele é filho da nossa líder”. Ela é sua mãe, tudo esta claro, ela o deixou com seu pai e pelo o que vejo, ele sofreu com seu pai.

- Por que os sem-facções estão se reunindo? O que vocês pretendem fazer?- ele pergunta.

- Queremos derrubar a Erudição. Quando nos livrarmos deles, será difícil nos impedirem de tomar o governo.

Não escuto o que Quatro diz, apenas sua risada de desdém.

- De jeito nenhum.

- Não queremos ser tiranos, queremos estabelecer uma nova sociedade. Uma sociedade sem facções.

Isso me parece atraente. Sem facções, sem limitações de cores e pensamentos, sem forma de conduta a seguir.

- Certo. – ele ri. – E como vocês planejam derrubar a Erudição?

- É melhor começar a nos levar a serio. Meu exercito tem duas vezes o tamanho que o da Audácia. Às vezes, mudanças trágicas exigem medidas trágicas. Imagino que isso envolverá um alto grau de destruição.

Sorrio contra a blusa de Noah. Anseio por destruição. Anseio pela destruição da Erudição. Isso pode soar psicopata, mas o que eu mal posso esperar é pelo governo dos sem-facções. Um novo mundo, sem regras. Espero contribuir para isso... Espero estar viva até isso acontecer.