Reckless - Divergente escrita por Morgana Le Faye, Andiie


Capítulo 10
Familia


Notas iniciais do capítulo

Heey ^^ mais um cap... pfvr comentem..é importante para mim saber oque vocês acharam de cada cap.



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O dia da visita. O segundo dia mais esperado por mim desde que entrei para a Erudição; pois além de poder rever minha família, é hoje que eles revelarão quem se tornará membros.

O dormitório esta agitado, mas estou deitada observando o movimento. Alguns pais já chegaram e estão no Hall esperando. Não sei se devo ir até lá e confirmar que minha família me acha uma traidora.

 – Hey – chama Drezza em pé olhando para mim deitada. – Tudo bem?

 – Sim. – respondo sem pensar.

Ela para por um instante me analisando. Flashes da madrugada de ontem me voltaram á mente. Myra. Edward. Fecho os olhos para não ter que vê-la.

 – Não te vi noite passada... Acordei de madrugada para ir ao bebedouro e notei que você não estava aqui. – ela queria saber onde eu estava. Pense rápido. Pense rápido.

 – Estava com saudade de casa. Então fiquei um tempo no Millenium.

Eu sei reconhecer uma mentira, às vezes, raramente para ser sincera, se a pessoa não for uma boa mentirosa ela irá empurrar as palavras na esperança que você acredite. Como um Erudito tentando ler uma frase gramaticalmente incorreta. Sou uma boa mentirosa. Razoavelmente. Não espero que ela acredite e minha voz não sai forçada então estou bem.

 – Falando em casa... Quer conhecer minha família? – ela pergunta quase pulando. Vejo a alegria em seus grandes olhos verde. Estou tão entediada que penso em aceitar. Na verdade irei aceitar. Não quero ter em mente que as únicas pessoas importantes para Drezza que eu conheci foram Edward e Myra.

 – Ahn... Claro. – digo sorrindo. Pulo da cama, indo em direção á cômoda e tirando de lá uma camisa azul. Estou usando as roupas pretas quando não saio do dormitório. Elas têm cheiro de casa. Tiro a camisa no dormitório mesmo. Sem me importar com os olhares masculinos. Visto a camisa azul e vou junto á Drezza até o Hall.

Vejo uma mistura bonita e estranha de cores. Amarelo e vermelho de um lado. A família de Josh. Ele esta entre eles. Sua mãe, uma mulher baixinha e gorda chora em seu ombro. Ele tem duas irmãs. Gêmeas de aproximadamente sete ou seis anos. Uma esta em suas costas e outra agarrada á sua perna. Seu pai lhe abraça. Uma família feliz. Uma família com saudade.

Olho ao redor. Na tentativa vã de encontrar alguém de preto. Drezza puxa minha mão e vejo sua família vestida de preto e branco.

Sua mãe é uma mulher baixa e de pele morena. Seus cabelos são lisos e curtos. Seus olhos castanho claros. Ela sorri simpática para sua filha que a abraça. Seu pai esta ao seu lado. Um homem alto e branco de cabelos loiros e olhos verdes. Vejo que Drezza consegue ser a mistura perfeita de seu pai e sua mãe. Tem os traços de sua mãe. Os lábios cheios e os cílios longos. Mas as cores de seu pai.

Eles se abraçam e Drezza chora.

 – Senti tanta falta de vocês. – ela diz e eu apenas observo de longe. Desvio o olhar. Uma pontada de inveja atravessa meu corpo. Queria que meus pais estivessem aqui, mas a Audácia não admite traidores que é oque eu sou agora.

 – Victoria? – chama Drezza. – Pais esses são Victoria. Victoria, esses são meus pais. Anthea e Carlos.

Sorrio simpática para a mulher que aperta minhas mãos e para seu pai que repete o gesto.

 – Fico feliz que tenha encontrado uma amiga aqui na Erudição. Uma nascida aqui presumo. – diz seu pai. Senti – me ofendida. Mas percebo que realmente pareço com um Erudito.

 – Não senhor. Audácia. – respondo e vejo seus olhos se arregalarem por um breve momento.  Ele sorri e concorda com a cabeça.

 – Audácia... – ele diz. Depois se vira para Drezza – Lembra- se da Melissa? Ela se tornou uma Abnegada.

Drezza se mostra surpresa. Sinto-me de fora. Olho em volta do Hall. Nunca o vi tão cheio. Apesar das famílias dos transferidos, as famílias dos nascidos aqui estão à espera do resultado que irá aparecer na tela da televisão central – uma enorme tv presa na parede –  Vejo James. Ele esta sentado no chão, com a cabeça e a coluna encostadas na estante de livros.

Aproximo-me dele. Seu olhar baixo indica tristeza.

 – Hey. –o chamo. Ele me olha e compreendo. Sento-me ao seu lado. – Eles não virão né?

 – Eu sabia que não. Mas, tinha a esperança que pelo menos minha irmã viesse. – ele não olha para mim enquanto fala. – A sua família veio?

 – Não. Nem sei se virá. – ficamos em silencio. Um silencio mutuo, de entendimento. Eu entendo a dor dele. Ele entende a minha.  Somos traidores da Audácia.  Somos Eruditos agora.

James mantem seu olhar no chão, mas eu varro o Hall a procura de um rosto conhecido. Vejo Caleb. Ele segura uma pilha de livros e caminha de volta ao dormitório. Ele também é um traidor.

Sinto um braço envolvendo meus ombros. James. Não o empurro ou recuso. Apenas deito a cabeça em seu ombro.

Pode parecer estranho, aposto que parece, mas eu sentia falta de afeto. Carinho por menor que ele seja. Meus olhos começam a arder, mas não me permito chorar. Sei que James pensa o mesmo.

Nenhum dos dois diz nada. Apenas ficamos lá. Ele tem cheiro de terra molhada e paginas. Cheiro de casa. Das duas casas. Da Audácia e da Erudição.

A situação fica desconfortável quando vejo Drezza olhar em nossa direção e segurar um riso. Sei oque parece. Levanto-me. Espero ele dizer ou fazer algo, mas ele não diz nada. Apenas abraça seus próprios joelhos esperando a hora da revelação de quem será membro e quem não.

Estou voltando ao dormitório quando escuto meu nome sendo chamado. Viro-me apressadamente. Reconheço a voz.

 – Vicky? – ninguém da Erudição me chamaria assim. – Filha?

Meu pai esta aqui. Ele veste sua melhor roupa. Mas ela não deixa de ser preta. Corro e o abraço. Seus braços me envolvem e me apertam. As lagrimas ameaçam cair, mas não quero que ele se preocupe comigo. Ele tem cheiro de terra molhada, sabonete de rosas – o preferido da minha mãe –  e de pasta de dente. Sorrio contra sua camisa preta que cobre o símbolo da Erudição.

 – Você... Veio. – digo ainda sem acreditar.

 – Realmente achou que eu não viria? – ele pergunta descrente me soltando.  Ele caminha até o Hall novamente comigo ao seu lado.

Procuro minha mãe. Na vã tentativa de encontra-la. Sei que ela não veio. Nem ela nem minha irmã. Não sei oque me dói mais.

Todos estão encarando a tela. Jeanine esta nela dando os parabéns á todos os iniciados. Será em ordem alfabética. Primeiro a nota das habilidades e raciocínio rápido. Depois o de QI. Depois do da ultima... Da parte psicológica. Começa com uma foto de um nascido na Erudição.

Suas notas foram 07, 105 e 13. A tela ficou preta e depois apareceu a palavra “membro” brilhando e girando em azul. Todos batem palmas até meu pai.

Assim continua. Josh, Caleb, James, Drezza... Todos com notas aceitáveis. Até agora só apareceu uma sem nada escrito, de um transferido da Franqueza. Um sem facção. Ele começou a chorar na mesma hora.

Aparece meu nome na tela. A primeira nota gira. Habilidades e raciocínio rápido: 10. QI: 154. Minhas mãos tremem. A ultima nota aparece na tela. 11. Ninguém bate palma.

Como consegui 11 em uma coisa que se consegue apenas 10, no máximo? Jeanine esta tentando algo. Mostrar para toda facção que sou diferente. Isso é um sinal. Ela não esqueceu o que aconteceu no teste. A palavra membro gira e todos começam a bater palmas. Sinto - me mais aliviada.

 – Vamos? – meu pai pergunta já saindo pela porta. Tenho que correr para segui - lo. Ele atravessa a rua e estamos no Millenium. Agachamos - nos até entrarmos no feijão. Vejo meu reflexo por todos os lados. Pareço realmente uma Erudita. Com meus cabelos presos em coque para não mostrar a parte roxa.

Olho para os olhos frios de meu pai.

 – Tudo bem? – pergunto. – Cadê a mãe?

Ele suspira e abaixa a cabeça.

 – Ela e sua irmã... Veja bem, Vicky. Elas levam tudo isso de facção antes do sangue muito a serio. – parece que foi colocado um gato dentro de minha garganta, pois ela começa a arranhar. Tenho que limpa – la antes de continuar.

 – Tudo bem na Audácia?

 – As coisas andam estranhas. Amanhã será a revelação dos membros. Mas... Lembra-se de Quatro?

 – Como esquecer? – digo sorrindo. Longa historia.

 – Pois bem. Quatro esta andando muito com uma transferida da Abnegação. Tris Prior. Um menino da franqueza foi esfaqueado no olho. – sinto vontade de chorar quando escuto o referencia á Edward. – Um menino da franqueza também, se suicidou. Eric anda mais maníaco do que o de sempre. Inventaram uma nova regra. Todos nós devemos ter localizadores. – franzo a testa.

 – Localizadores?

 – Sim. Um soro com localizadores para o caso de nos perdemos. – ele diz naturalmente, mas sei que ele também esta em duvida, como eu. A Audácia nunca se preocupou com isso. Porque agora?

 – O senhor já o tem?  – Ele aponta para seu pescoço. Sim. Ele tem.  – O senhor sabe que isso não é seguro né?

Ele acena que sim com a cabeça. Se não é seguro por que o fez?

- Filha, quero que pesquise sobre psicologia. Principalmente sobre controle psicológico. – ele esta serio e fala como se isso fosse muito importante.

- Pra que?

- Será importante um dia. Escute-me. Prometa para mim que nunca. Nunca. Vai acreditar em Jeanine?

Por que ele esta pedindo isso? Ver ele me fez ficar com saudade de casa. Vou pesquisar, mesmo sem saber o motivo. Jeanine... Mas ela é a líder da minha facção. Como não acreditar?

- Prometo.

Ele me abraça novamente. É um pouco incomodo pelo fato de estarmos em um feijão. Ele sai e eu o acompanho.

Vamos caminhando lado a lado ao longo da rua, em direção ao sul, pelo pântano. A terra vazia se estende até muito longe, uma planície marrom colidindo com o horizonte. Nós vamos falando sobre trivialidades até que ele para no meio do caminho.

- Como anda a sua vida, filha?

Ninguém me perguntou isso até agora. Nem eu mesma me perguntei isso. Minha resposta usual seria “bem”, mas sei que ele não acreditara. Tomo folego.

- A vida anda pesada, pai, e eu nunca tive ombros muito fortes. – viramos a esquerda e vejo o trem se aproximando. As luzes do carro chefe cega meus olhos por poucos minutos.

Nuvens pesadas se formam a cima de nós. Hoje terá chuva. Meu pai me abraça uma ultima vez e o escuto sussurrar

- Tempestades não duram para sempre.

Observo ele correr até ao lado do trem. Mesmo tendo trinta e poucos ele ainda esta em forma. Ele ainda consegue... Quando deixar de conseguir a Audácia o chutará para fora. Para a vida de sem – facção. Meu estomago se contrai com isso.

Vejo-o pular para dentro do trem e sumir pela esquerda. Ele acena para mim. Sinto vontade de correr junto ao trem e pular, como ele. Ir para a Audácia. Mas não posso. Lá não é mais o meu lugar.

Viro de costas e recomeço a andar até a sede da Erudição.


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