Depois de toda confusão com o vômito, Sr. Gato e Red aparecendo sem ser convidada, eu e Aline estávamos tão exaustas que dormimos o resto da viagem. Eu estava até sonhando. Parecia que alguém chamava meu nome distante. “Aline”, “Aline”... O avião balançou durante a aterrissagem e me fez despertar de um sono profundo. Eu acordei devagar e meio sonolenta e percebi que estávamos sozinhas no avião, todos os passageiros já haviam saído. Então eu me dei conta que não era o avião balançando, mas uma aeromoça me chacoalhando pra me acordar, e me chamando pelo nome! Que vergonha! Eu agradeci a aeromoça meio sem jeito e acordei Aline que também dormia profundamente.

– O que foi? – disse bocejando.

– A gente chegou.

– Mais cinco minutinhos...

– Aline!!! A gente chegou! Estados Unidos, lembra? Faculdade, oportunidades, estátua da liberdade?!

– Estátua da liberdade? Onde? – ela pulou.

A aeromoça olhava feio pra nós, então eu levantei e comecei a juntar as minhas coisas. Aline fez o mesmo e quando foi pegar a mochila do bagageiro – aquela que causou a confusão - viu que ela não estava mais lá! Simplesmente tinha sumido!

– Aliada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – Aline me chama assim às vezes...

– O que foi? Você viu o super-homem lá fora?

– Não!

– Aliens?

– Não! Eu...

– Espera, eu sei essa, eu sei essa! A resposta é... Uma máquina do tempo!

– Cala a boca Batalha! Eu fui roubada! Minha mochila sumiu!

– Talvez o super-homem tenha pegado...

– Por que o super-homem pegaria minha mochila?

– Não sei... Talvez o gel de cabelo dele tenha acabado, e sem gel ele é o Clark Kent sem óculos. Ele precisa do gel senão a Louis vai reconhecer ele. Ou, talvez os aliens tenham abduzido sua mochila! Eles queriam fios de cabelo do seu pente pra fazer um clone no futuro quando você já tiver morrido e deixado uma criança robô sozinha que te ama muito e quer ser uma criança de verdade por você!!! Mas que pena... Eles fazem você de novo, mas só vai durar um dia... Pelo menos o menininho que vê gente morta todo o tempo vai descansar em paz... Deve ser um saco ver gente morta o tempo todo...

– O que??? Em que mundo você está Batalha? Eu fui roubada por uma pessoa muito humana!

– Pode ter sido...

– Não foi uma máquina do tempo também!

– Eu ia dizer que a mulher do filho vomitado deve ter pegado... Como que uma máquina do tempo ia pegar sua mochila? Não faz sentido!

– Ahm? Não basta o filho dela ser um pirralho delinquente, ela ainda é ladra? Que raivaaaaaa!

Aline saiu do avião batendo os pés e eu fui atrás, óbvio. Ela estava tão cega de fúria, e talvez por que estivesse sem os óculos também, que caiu em cima da Dona Simpática. A confusão foi tão grande que uma das mochilas caiu a uns 5 metros de distância. E adivinha que mochila era? Se você pensou na mala da Aline, caro leitor, você está errado.

Era uma mochila versão limitada da Gucci! Daquelas que quando entra em promoção você garante seu lugar na fila as três da matina e que quando finalmente chega sua vez, descobre que a mulherzinha que estava na sua frente da fila pegou a última!

Aquela bolsa me fez rever meus conceitos de honra e princípios. Afinal, uma ladra não merecia ter uma bolsa daquelas. Eu estava hipnotizada pela bolsa e nem me dei conta do barraco.

Aline agarrou sua mochila e se virou para ir embora quando Dona Simpática a puxou pelos cabelos e Aline caiu em cima dela de novo.

– Devolve minha mochila!

– Sua coisíssima nenhuma! Essa mochila é minha sua descarada! Não basta seu filho inutilizar uma das minhas calças favoritas você ainda quer roubar minha mochila? Madame, se você está querendo apanhar era só pedir! Não precisava fazer tanto alarde!

Aline mais irritada que nunca estava com os punhos levantados e Dona Simpática sentiu a ameaça eriçar-lhe os cabelos de todos os lugares possíveis e impossíveis. Aline estava pronta para o fight, mas Dona Simpática não. Ela tentou correr, mas segurava tantas bolsas que acabou se atrapalhando toda e caiu novamente. Ela foi se levantar quando notou que a queda tinha quebrado o salto de seu sapato.

Aline viu a oportunidade e correu na direção de Dona Simpática que só teve tempo de tirar os sapatos. As duas se atracaram, e foi um tal de arranca cabelo e tapas pra tudo quanto é lado, que quem entrava no meio pra tentar apartar a briga levava também.

Aline distribuía socos e, Dona Simpática tentava arrancar mais cabelo dela. Então alguns seguranças chegaram e Dona Simpática soltou o cabelo de Aline. Ela fez a pior cara de engano do mundo!

– Essa não é mesmo minha bolsa! Nossa que confusão eu causei! E nem é minha bolsa... Desculpa moça eu confundi... É que eu tenho uma igualzinha em casa e com tantas crianças me deixando louca eu acabo ficando. Mil desculpas!

– Então pare de ter filhos! Quem sabe assim você lembra das coisas.

Aline não mordeu a isca é claro, mas viu que um monte de gente estava encarando, inclusive o Sr. Gato então ela decidiu pegar a mochila e ir embora. Enquanto as duas barraqueiras se enfrentavam ninguém prestou atenção na menina com dois chicletes no cabelo pegando a bolsa Gucci e escondendo dentro da própria mochila. Me senti a criminosa.

Dentro só tinha um batom e um espelho que deixei perto das coisas de Dona Simpática junto com cinquenta reais que eu tinha no meu bolso. Eu posso ser criminosa, mas não ia roubar o conteúdo e meio que paguei por ela... Sou uma criminosa honesta!

Eu fingi que não estava fazendo nada de mais e fui pra perto da Aline que estava conferindo suas coisas, enquanto Dona Simpática pegava todas suas oito, quer dizer, sete bolsas do chão.

Aline ainda estava inconformada e xingando enquanto concluía que a mulher não tinha pegado nada de dentro de sua mochila. Dona Simpática correu dali envergonhada e recebeu a bronca de seu marido que estava com a cara ruge de raiva.

– Aline...

– O QUE?

– Calma amiga, ela já foi embora. Mas saca só o que caiu acidentalmente dentro da minha mochila.

– Aliada! É uma Gucci! Onde..?

– Era da Dona Simpática.

– Ah, então não tem problema! Olho por olho e dente por dente! Mas... Você vai dividir né?

Eu só ri dessa pergunta.

Depois de todas as confusões nós fomos para a lanchonete do aeroporto morrendo de fome.

Só então eu notei os chicletes grudados no meu cabelo.

– Tem chiclete no meu cabelo! Criança maldita!

Aline só ria da minha cara.

– Espera que eu tenho uma coisa que pode te ajudar...

Ela abriu a mochila e tirou um chapéu de lá.

– Que merda!!! E agora? Vou ter que cortar meu cabelo... Ah!!!! Odeio crianças! – esbravejei enquanto colocava o chapéu.

Trinta minutos de xingamentos depois...

– Ficou legal até... - Eu estava com um chapéu da Aline que cobria os chicletes. – Ainda bem.

– Ficou sim!

Nós terminamos de comer e começamos a juntar nossas malas pra pegar um táxi. Estávamos muito animadas apesar de todos os eventos extremamente perturbadores.

Lá estávamos nós no aeroporto andando e conversando animadas quando Aline parou de repente. Assim sem nada acontecer. Eu olhei ao redor e não vi nada perturbador nem estranho. E ela parecia muito petrificada. Quando sem mais nem menos ela começou a correr e gritar pelo aeroporto, e nesse momento eu achei que minha amiga tinha pirado de vez.

Imagina a cena. Uma menina carregando meia dúzia de malas - algumas muito pesadas a propósito -, com um dos braços erguidos tentando capturar o ar, com alguns tufos de cabelo faltando - devido à briga anterior com Dona Simpática - e gritando que nem louca: “OMG!!! OMG!!! AHHHHHHHHHH!”

Ela deu sorte que só tinham umas cinco pessoas naquela parte do aeroporto e todas pareceram fugir dela. Menos uma. Quer dizer... Um.

Aline estava correndo e berrando quando simplesmente parou na frente do único ser que ainda não tinha desviado da louca berrante. Foi então que eu vi. Era o Ian. Ian Somehalder. Um ator mega famoso que nós duas amávamos.

Por um segundo eu fiquei em choque, por mais um segundo eu continuei em choque e no terceiro segundo eu agi! Eu corri também! Eu não gritei por que minha voz parecia ter sido sugada de mim, mas eu corri como nunca tinha corrido na vida e quando eu cheguei perto dele minha voz saiu...

– Ian!!!!

Ela parecia calmo e... Fala sério... Eu não vou mentir pra vocês. Eu não reparei em como ele se portava, mas OMG! Até o jeito de falar dele é sexy e maravilhoso, e aqueles olhos! Pena que ele estava de camisa... Mas bem deu pra notar o peitoral definido debaixo da camiseta apertada... De gola v... Esse homem é pura sedução, vou te contar!

Aline estava muito animada e excitada, parecia que tinha levedo uma injeção de adrenalina. E ela não parava de falar com ele, perguntar coisas indiscretas como: a Nina fica com ciúme quando você tem que fazer cenas calientes com outras atrizes? - Ela falou calientes mesmo! - Outras como: Você realmente gosta dela? Eu fiquei chocada com as perguntas, mas ele não parecia ter problemas em responder...

Ele respondeu que a Nina realmente tem muitos ciúmes, mas nada que possa ser resolvido mais tarde, em casa. Que ele gosta muito dela, e eu nem vou comentar sobre as outras perguntas...

Uma hora eu interrompi Aline, que não parava de falar, e pedi pro Ian tirar fotos conosco e dar autógrafos.

Tiramos fotos e tudo mais e ele disse que estava esperando a Nina por que eles iriam viajar juntos, uma viagem romântica. Então eu olhei pra Aline e vi que tudo tinha ido pro beleléu. Aline estava estranha, como se não conseguisse pensar, então aconteceu. E você me pergunta “o que?”. O pior. Red aconteceu.

Nós estávamos com um dos caras mais gatos do mundo, então a Red aparece. Ela piscou e disse: Ian né? E foi ai que ela beijou ele. Tipo beijão mesmo! Mas o problema não foi isso. Foi o que aconteceu depois. Digamos que lá estava eu abismada com a cena Aline/Red se atracando loucamente com o Ian. E o Ian totalmente na dela. Então uma garota apareceu. Lembra da Nina, a namorada ciumenta? Red não fazia questão de saber, mas lá vinha ela bufando pelas ventas e pisando firme.

– Red.

Ela nem me deu ouvidos.

– Red!!!

Acho que ela notou a urgência da minha voz e largou o Ian, que viu a namorada.

– Nina! Não é nada disso que você está pensando! Ela é uma fã... Sabe como as fãs são né?! – ele disse com um sorrisinho de lado.

Ela apenas olhou pra ele com um olhar mais que agressivo, não sei como ela conseguiu interpretar uma personagem tão calma que nem a Elena, por que naquele momento baixou o Hulk nela. Sério. Ela não conseguia nem falar mais que duas palavras...

– Vadia! Meu! Namorado!

– Querida, não tenho culpa se sou gostosa. Brigue com seu namorado que não consegue manter a língua dentro da própria boca. – Red estava provocando. E estava conseguindo porque Nina passou de Hulk pra King Kong. Apenas rugidos saíam da boca dela, então ela partiu pra cima da Red. Eu não sei como, mas Red parecia saber se defender. Nina tentava dar socos, mas Red se desviava de todos rindo, o que a deixava ainda mais raivosa. Red então deu um soco no estômago de Nina que a derrubou no chão. Ela levantou depressa e Ian segurou a namorada pela cintura, percebendo que ela iria apanhar se continuasse a briga.

– Me solta! – Nina se agitava toda tentando se soltar do forte abraço do namorado.

– Desculpa por... Isso. – eu tentei me desculpar por mim e pela Aline, que quando descobrisse o que Red fez iria morrer de vergonha, enquanto puxava Red pelo braço. Ela se deixou ser levada enquanto mandava beijinhos pro Ian e ria da cara de Nina, que tentava se desvencilhar desesperadamente do namorado.

Eu peguei as malas do chão e continuei puxando Red pelo braço. De repente Aline estava de volta, sã e sem lembranças.

– O que aconteceu?

– Qual é a última coisa que você lembra?

– A gente tirou foto com o Ian e...

– E você beijou ele.

– EU O QUE???

– Beijou ele.

– COMO ASSIM? COMO EU NÃO LEMBRO? – ela pensou um pouco e chegou a uma conclusão: - Red! Maldita Red!!!

– Exatamente.

– Eu não acredito que ela fez isso! Eu queria fazer isso! Que mocréia!!! Vaca!

– Tem mais... A Nina viu vocês dois, e você brigou com ela. Quer dizer, Red brigou com ela.

– Não acredito!

Eu narrei todo o incidente enquanto a gente se dirigia pra saída do aeroporto. Nossa carona ia demorar mais vinte minutos pra chegar ainda.

Aline estava muito inconformada com o fato de ter beijado o Ian e não se lembrar de nada. E com o fato de bater na Nina.

– Você podia ter matado ela, - eu a repreendi – sabe que ela tirou umas costelas, e você chutou na barriga! Sorte ela sair intacta.

– Nossa! Eu nem lembrava disso! Red sua menina má! Muito má! Disse ela enquanto apontava pra própria cabeça.

Eu não pude deixar de rir daquela cena.