Mais tarde eu contei sobre o ocorrido pra Aline. No começo ela não acreditou, mas quando percebeu que não se lembrava de nada do ocorrido e viu que eu estava séria, acreditou. Decidimos então que eu iria monitorar Aline, pra ela não se meter em situações complicadas. Mas ela realmente ficou satisfeita com a ideia de “apagar” o chefe.

A nossa última semana no Brasil acabou sem mais “aparições” de Red. Aproveitamos nossos últimos dias pra nos despedirmos das pessoas mais importantes pra nós. Nossa família e nossos amigos.

Quando fomos para o aeroporto todos foram conosco, e nós choramos muito. Porém estávamos felizes e ansiosas com nossa aventura. Estávamos indo em busca dos nossos sonhos. Entramos no avião e nos sentamos nas nossas poltronas confortáveis. Eu sentei na janela e Aline no meio. Tinha uma poltrona vaga e Aline estava nervosa com a situação. Ela não tinha muita sorte nesses casos. E, realmente foi um pouco desastroso.

– Aline, coloca a tua mochila no bagageiro! Depois o avião vai decolar e você não vai querer se soltar do cinto mais... – Ela tem um pouco de fobia de avião, mas continuando...

Concordando, ela se levantou e estava tentando arranjar um espaço no bagageiro, quando suas tentativas foram interrompidas por uma mulher, que mais tarde apelidamos de “Dona Simpática”:

– Licença, mas você esta atrapalhando as pessoas que estão tentando passar, e este é o meu lugar queridinha.

Aline olhou pra mim com aquele olhar de “estouficandoroxaderaivamasnãovoufalarnadaporqueessamulhervaiviajardomeuladootempotodo” e deu passagem pra mulher:

– Desculpa se tentar arrumar minhas coisas para que todos possam ficar confortáveis te atrapalha, mas passe. – disse Aline com o sorriso mais irônico/sarcástico que você possa imaginar.

– Obrigada, é bom ter um pouco de educação nesse avião cheio de pessoas idiotas.

Aline não conseguiu conter um momento de frustração naquele fato irônico “do sujo falar do mal lavado” que acabou soltando sua mochila, que caiu bem na cabeça de Dona Simpática, foi quase sem querer.

– Mil desculpas! Escorregou da minha mão.

– Tudo bem. – ela respondeu curta e grossa.

Vou te dizer uma coisa, pela cara dela não parecia que estava tudo bem, em todos os sentidos...

Aline tentou focar na mochila, mas o espaço era pequeno e ela estava tentando não se encostar em Dona Simpática. Quando a aeromoça deu o aviso:

– Senhores passageiros, por favor, sentem-se em suas poltronas e apertem os cintos que o avião está para decolar.

Aquela frase pareceu o começo de um filme de terror, por que Aline paralisou no lugar e começou a surtar.

– Ai minha nossa! Batalha, o que eu faço?

– Calma mulher! Enfia logo essa mochila no lugar e venha sentar antes que você vomite em alguém. – Batalha é meu sobrenome. Aline costuma me chamar assim.

Dona Simpática olhou pra ela com cara de nojo.

– Acontece com qualquer um! – disse Aline olhando na direção de Simpática.

Quando ela finalmente conseguiu encaixar sua mochila no meio das tralhas desnecessárias dos outros passageiros, (por que fala sério, que tipo de pessoa leva uma raquete ou ursinhos de pelúcia no bagageiro? Fala sério, se é pra deixar o Teddy sozinho enfia ele na mala de uma vez!), o avião deu um tranco e Aline caiu pra trás... No colo de um passageiro... Muito gato. Vamos chama-lo de Sr. Gato.

– Des...cul..pa... – Dava até pra ver a babinha escorrendo pelo canto da boca de Aline

– Sem problemas. – disse Sr. Gato ajudando Aline a se levantar com um sorriso sexy.

Aline passou por Dona Simpática pisando nos pés dela sem notar, ou talvez notando, e se sentou na poltrona, quer dizer se jogou na poltrona...

– Você viu aquele cara?

– Aline...

– Sério! Ele é muito gato!

– Aline...

– Se eu tivesse um daqueles em casa, acho que você nunca mais veria minha face na rua! – disse rindo escandalosamente.

– Aline!

– O que foi?

– Ainda estamos no avião...

– Eu sei! E dai?

– Você ta gritando! O avião inteiro ouviu o que você falou! – briguei com ela. A vergonha alheia já estava num nível de querer pular pela janela.

Aline arregalou os olhos e olhou para o lado, Dona Simpática olhava pra ela com um olhar de reprovação, Sr. Gato sorriu sem graça acenando com a mão e todo a classe econômica olhava na nossa direção. Ela só se afundou na cadeira e não fez mais nada a viagem inteira.

Isso é o que eu gostaria que fosse verdade, mas a vida é uma caixinha de surpresas.

Os minutos passaram e logo todos se esqueceram de nós. Eu e Aline estávamos distraídas conversando baixinho quando um homem veio até o nosso banco segurando um menino de uns 5 anos.

– Simpática, pega teu filho que ele esta me enchendo o saco. Já basta eu ter que cuidar do João, da Joana, da Janete e do Jeremias. Cuida um pouco do Roberto.

– Que exemplo de pai você é não? Me da ele aqui.

Eu vi Aline se contorcer na poltrona quando Dona Simpática pegou o menino no colo. E o menino tinha uma cara de peste que não ajudava.

– Alguém deseja alguma coisa? – Fomos salvas pela aeromoça.

– Uma água, por favor.

– Pra mim também.

– Mamãe eu to com fome... – O menininho fez uma cara de pidão que criança faz quando quer alguma coisa.

– Você sabe que passa mal se come.

– É, você passa mal se come. Eu não quero viajar com um moleque fazendo birra por que ta passando mal e fedendo a vomito. – Aline repreendeu.

– Um sanduiche bem gostoso para o meu filhinho. – É incrível, mas realmente os pais compram a briga dos filhos, mesmo que a briga em questão seja um sanduiche.

Aline revirou os olhos por que realmente não queria fazer barraco e chamar mais atenção. A aeromoça chegou com as águas e com um sanduiche grande demais para uma criança comer sozinha, sem contar a quantidade de ketchup e mostarda que ela tinha jogado no sanduba. Sinceramente aquilo era praticamente implorar para o estômago do menino causar um baita estrago. Dito e feito. Cinco minutos depois o menino começou a ficar verde e reclamar para a mãe que estava passando mal. Dona Simpática tentou pegar o saco de vomito, mas não deu tempo. Bem nesse momento o menino virou o rosto para o lado e vomitou tudo, boa parte na calça novinha de Aline. Nem preciso dizer que ela não ficou nada feliz.

– Você esta de brincadeira comigo!

– Desculpa moça... Eu... Eu vou pagar pela sua calça! – Deu pra ver que Dona Simpática estava se controlando pra não rir enquanto tentava limpar como podia a calça de Aline.

– Venha Aline, eu te ajudo a limpar isso. – acho que Aline viu que minha cara estava começando a ficar verde também por que disse:

– Não precisa, Batalha. Eu vou ao banheiro me limpar e já volto.

Ela foi ao banheiro e se trancou lá dentro, o cheiro não era muito agradável. Parecia que tinha morrido um corvo ali. Aline se limpou o mais rápido que pode e saiu pela porta. Quase trombou com o Sr. Gato que saia ao mesmo tempo do banheiro ao lado. Foi ai que tudo apagou. Red apareceu para recuperar a honra ferida de Aline com o Sr. Gato. E vou dizer, não precisou ela se esforçar muito por que logo Sr. Gato estava babando por ela. Ele nem parecia se importar com o fato de Red estar fedendo a vomito de criança. E a puxou de volta para o banheiro que ele tinha acabado de sair. Eles estavam no meio de uns amassos quando Aline voltou à consciência e não entendeu porcaria nenhuma. Na verdade achou que estava no meio de uma tentativa de estupro. Eu não entendi muito bem por que, mas ela gritou bem alto lá do banheiro. Tanto que eu dei um salto da minha poltrona e fui até lá.

Ela saiu do banheiro esbaforida e parecia muito confusa. Mais tarde me confessou que deveria ter ficado quieta e ter aproveitado os amassos com Sr. Gato no banheiro do avião.

– Eu estava no banheiro me limpando e de repente ele me atacou! Eu não me lembro de nada...

Sr. Gato saiu logo depois dela:

– Eu não ataquei ninguém, ela entrou comigo por que quis! – Sr. Gato estava muito bravo.

– Eu peço desculpa pela minha amiga, mas é que ela tem perda de memória recente. – eu disse piscando pra Aline ligar os fatos.

– Nunca mais viajo de econômica! – Sr. Gato saiu dali bravo e batendo os pés.

Eu puxei minha amiga pelo braço até ela sentar na poltrona, e dessa vez eu sentei do lado da mãe com o pirralho no colo.

– Eu não sei o que...

– Deve ter sido a Red. – eu a interrompi.

– Estava tudo tão bem! Eu estava tão bem esses últimos dias! Achei que ela estava me dando uma folga.

– Na verdade hoje não estava tudo bem né amiga?!

Ela apenas consentiu.

Depois de muitas situações constrangedoras finalmente Aline se acalmou, e dormiu o resto da viagem. Ela realmente apagou e eu também por que só me lembro de acordar já no aeroporto com dois chicletes grudados no meu cabelo. Mas esse é apenas o começo da nossa história.