Os Pesadelos de Grace Wood escrita por Kremer


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410933/chapter/7

Estava ficando escuro. Meu primeiro dia em casa, depois de tanto tempo, foi bem melancólico e silencioso. Mas ainda assim, aconchegante. Se bem que, para uma pessoa que viveu por tanto tempo sozinha e assustada, até mesmo a companhia de um hamster bastaria.

No entanto, eu não podia me deixar levar pelo sentimento de aconchego do lar. Eu sabia qual era o meu destino. Provavelmente, irei morrer esta noite. Estou deixando o meu diário debaixo do travesseiro. Caso eu realmente morra, o que tem grandes chances de acontecer, alguém lerá isto aqui, e pelo menos uma pessoa saberá o que aconteceu.

Meia noite. Meus pais já dormiam. Eu sabia o que tinha que fazer. Troquei de roupa, peguei um canivete e uma lanterna e saí de casa, rumo à floresta.

Naquele momento, eu era uma hipócrita de merda. Critiquei por tanto tempo as pessoas nos filmes de terror por irem até o perigo, e agora, eu era uma delas. Iria ter um encontro cara – a - cara com a morte. Mas nesse caso, “cara – a – cara “ não serviria para descrever esse encontro em específico.

Se eu estava com medo? Seria uma mentirosa e tanto se dissesse que não. Tive que apertar bem o canivete para não deixá-lo cair, pois tremia muito. Eu adoraria substituir aquela lanterna pela luz do dia. Ou por uma shotgun.

Mas não recuei. Não olhei para trás em nenhum momento, mesmo que sentisse uma presença o tempo inteiro. Na verdade, o motivo de eu não querer olhar para trás era justamente aquela presença. Eu sei que queria vingança, queria ver quem era o causador de tanta dor e sofrimento, mas na verdade, só queria mesmo tirar meu irmão de lá e salvar a minha pele. Calculando a probabilidade, a chance de eu sair totalmente ilesa esta noite era de dois elevado a 75 mil contra um. E ainda assim, estava sendo otimista.

As noites costumam ser tão escuras assim, ou só ficam dessa forma quando uma pessoa está perdida em uma floresta com algum tipo de assassino?

Finalmente, vejo uma cabana. Eu realmente não queria entrar aí. Mas temo não ter escolha. A cabana era de madeira. Do tipo que não precisa de descrições pra dizer que é assustadora pra cacete.

Resolvi ser direta. Reuni forças e chutei a porta. Ela se abriu na mesma hora. Ouvi um grito. A lanterna iluminou o rosto abatido do meu irmão, que se achava encolhido no canto.

– Zack? Zack, tá tudo bem, sou eu, Grace! – Disse, me aproximando. Ele estava apavorado. Não pronunciava uma palavra. – Eu vou tirar você daqui, tá tudo bem.

Não estava nada bem. Alguma coisa agarrou a minha cintura e me arremessou contra uma parede. Zack se desesperou.

– Zack... Corra. O máximo que puder. Grite... Saia... – Minhas costelas doíam. Zack deve ter conseguido correr. Duvido ter a mesma sorte.

Vi uma silhueta, apesar da escuridão. Vinha até mim. Algo agarrou meu tornozelo e me puxou. Tentei chutar, tentei me livrar da pressão no meu tornozelo, mas tudo em vão. Eu estava sendo arrastada para fora da cabana.

De repente, algo me ergueu no ar. Eu ainda tinha a minha lanterna e o canivete. Havia um rosto perto do meu. Mas, depois que usei a lanterna para iluminá-lo, percebi que, como no sonho, não havia um rosto.

Lembrei do canivete. Ora, se eu ia morrer, queria morrer tentando fazer algum estrago em quem acabou com a minha vida.

– Vamos desenhar um rosto. – De forma mais ágil do que pude esperar, fiz um corte curvado onde era a face da criatura, formando um sorriso bizarro. Ele me atirou no chão, e ouvi-o urrando de dor e raiva dentro da minha cabeça. – Então você também sangra?

Eu estava rindo. Devo ter perdido a razão. Ou talvez o simples fato de ter feito ele sentir um pouco de dor me fez sentir mais recompensada.

Grace Wood... Você não se lembra?

Sua voz me fez tremer e minha visão ficou escura. No momento seguinte, tive uma espécie de visão, de algo que já aconteceu. Uma lembrança.

Acontece que eu já estive naquela cabana. Cheguei lá com três pessoas, duas garotas e um menino, que reconheci como amigos de infância. Nós entramos na cabana, não faço ideia do que estávamos querendo fazer. Provavelmente, éramos apenas adolescentes curiosos. Ninguém poderia imaginar que as coisas iriam acabar daquela forma. Eu me lembrava agora. Porém, haviam coisas que eu não tinha visto. De repente, tudo ficou escuro na cabana. Acho que desmaiei. Quando abri os olhos, o que restou dos meus amigos estava espalhado por todo o canto. Eu mesma estava cheia de sangue e vísceras. Ninguém nunca soube o que aconteceu. Deve ser por isso que me mandaram embora de casa. Apesar de nunca terem tido provas suficientes de que fui eu, ainda assim era considerada um perigo. Agora pude entender o isolamento.

E agora, de volta àquela maldita cabana, ele me encarava.

– Foi você! – Sussurrei. Estava sem forças. Ele não me assustava mais, nada me assustava mais.

Não, Grace. Foi você.

Ele estava rindo.

Mas, agora, vamos apagar este rosto.

Ele estava se aproximando. O sorriso que “desenhei” nele havia desaparecido.

Algo me dizia que o meu também iria desaparecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Pesadelos de Grace Wood" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.