Os Pesadelos de Grace Wood escrita por Kremer


Capítulo 5
Capítulo 4




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Eu nunca compreendi qual é o problema dos jogos de terror. Nunca entendi porque diabos uma pessoa, perdida em uma floresta ou em um casarão estranho, deixa notas e cartas pelo caminho. Tipo, se fosse comigo, eu estaria ocupada demais tentando salvar minha pele do que deixar notas por aí. Como essas pessoas arrumaram tempo para escrever? Totalmente sem sentido.

Mas, agora que estou vivendo um jogo de terror, eu acabei descobrindo o porquê disso.

Você está sendo caçado. Coisas estranhas acontecem o tempo todo. Você tenta achar ajuda, alguma luz, algo que te livre de tudo isso, mas não encontra. Está totalmente encurralado, sem chances e exausto. A única coisa que você pode fazer, quando não há saída nenhuma, é tentar deixar alguma mensagem, um legado, para que alguém saiba o que aconteceu. Por isso estou escrevendo isso. Só estou conseguindo escrever porque é dia, estou trancada no meu quarto e não vejo a luz do sol há uns três dias. Também não durmo há três dias. Da última vez que escrevi, contei que saí de casa de madrugada. Bom, se alguém estiver lendo isto, e quiser saber o que aconteceu, eu explico.

Naquela madrugada, quando comecei a andar pela cidade, surgiu uma mensagem na minha mente, em forma de flashes. Por uns segundos, tudo o que vi na minha frente foi a frente da locadora, mas estava em preto e branco. E uma mensagem no meu subconsciente dizia “vá até lá”.

Entenda que eu não sou estúpida o suficiente para ir lá por vontade própria, então, não sei como fui parar lá. Mas, de repente, me vi em frente à locadora, e sei que poderia ter corrido, mas eu estava sob efeito de uma força maior que me obrigava a entrar, a saber o que estava acontecendo.

Eu não tinha a chave, mas não precisei, já que a porta estava aberta. Empurrei-a, entrei e por um momento achei que não havia nada fora do comum, até que percebi.

O Sr. Charles, dono da locadora, estava pendurado pelo pescoço por uma corda. Abaixo dele, havia uma poça de sangue. Suas pernas foram arrancadas, assim como seus braços. O nariz e as orelhas também foram arrancadas.

Eu estava em estado de choque, quase não pude me mover. Reuni forças, liguei para a polícia e saí de lá. Aguardei a polícia chegar. Eles estavam horrorizados com a cena. Começaram a me interrogar. Nenhuma palavra saiu da minha boca. Me desliguei totalmente. Agora, acho que fui analisada por algum médico ou psicólogo, pois provavelmente me mandaram para casa. “Estado de choque. Impressionada. Assustada demais para falar. Deveria ser internada.”

Na verdade, eu fui internada. Por quase um mês. Fui interrogada quando saí, mas não sabia de nada. O que eles queriam saber é por que eu estava lá, as 4 horas da manhã. Chegaram a conclusão de que eu sou maluca, e saio vagando por aí do nada.

Voltei para a clínica, demonstrei bom comportamento – falava mais, me expressava mais, parecia mais melancólica do que maluca -, decidiram que era hora de eu me reabilitar, ficar em casa, tentar levar uma vida normal, mesmo sob vigilância.

Então, fazem três dias que não saio de casa, não durmo, não faço nada. Mal como. Nenhum médico vem aqui, eles só ligam. Eu estou exausta, o que eu realmente quero é dormir, para sempre. Suicídio foi a única coisa que pensei nesse tempo todo. Mas na verdade, acho que se resolvesse o problema da incapacidade de dormir, resolveria o do suicídio.

Às 19h da noite, resolvi ir numa farmácia e comprar alguma coisa forte o suficiente para me derrubar por uns dias.

– Alprazolam. – disse à farmacêutica. Tentei ignorar o olhar de pena que ela me dirigiu. Só haviam duas outras pessoas na farmácia além de mim.

– Você tem a receita? – Eu imaginei que ela pediria isso, já que o medicamento é tarja preta.

– Não, mas realmente preciso dele. – Disse, tentando ser convincente.

– Não posso vender esse medicamento sem a receita – eu estava ficando sem paciência.

– Me vende esse negócio logo, ninguém vai saber, prometo. – Falei.

– Não posso, moça. Medicamentos desse gênero podem provocar...

– Olha aqui. Se você não me vender esse calmante, o único calmante que vou ter será uma bala no cérebro. Você que decide, estará me fazendo um favor de qualquer jeito – falei, sem levantar muito a voz, mas mantive contato visual com ela. Não imaginei que fosse dar certo.

Quando me olhei no espelho, mais tarde, acho que compreendi o motivo de ela ter me ajudado: eu parecia um panda, com todas aquelas olheiras. E como um panda, corria o risco de extinção.

Pro meu azar, não havia nenhuma ONG de “Salve a Grace”.

Malditos pandas sortudos.


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