Os Pesadelos de Grace Wood escrita por Kremer


Capítulo 4
Capítulo 3




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Eu juro que tentei lidar com a paranoia. Mas a cada dia que passa, me sinto mais encurralada. Eu, que fiquei sozinha quase a minha vida inteira, agora, mesmo na solidão, sinto uma presença. Algo de errado... Aquele instinto humano avisando “perigo”.

As coisas começaram a piorar quando, ao chegar em casa, encontrei todas as fotos que eu tinha (não eram muitas, apenas da minha infância e algumas da minha família) jogadas no chão. Ao analisá-las, vi que alguém riscara de preto todos os rostos. Quase pirei. Fiquei encarando aquelas fotos como se fossem o demônio. Ou como se fossem obra dele.

Alguém estava se divertindo às minhas custas. Alguém decidira perturbar a paz de uma pessoa que não tem nada a perder, nem a quem recorrer. Eu adoraria acreditar que tudo aquilo era obra da minha imaginação, mas quando me convenço disso, algo acontece.

Com calma, analisei o verso das fotos. Não havia nada escrito. Coloquei fogo nelas. Estava exausta, física e mentalmente.

Era durante a noite que tudo piorava. Minha última tentativa de ignorar essas sensações fora totalmente frustrada, e vou dizer exatamente o que aconteceu:

Eu estava pronta para ir dormir. Já tinha apagado a luz do quarto, quando comecei a ouvir passos. Meu coração começou a acelerar, suei frio... Não consegui mover um músculo. Meus sentidos estavam se apurando, atentos a qualquer sinal de perigo. Podia sentir o sangue descendo às pernas, como se elas dissessem “você deveria correr, tipo, AGORA”. Mas não consegui.

Os passos foram ficando cada vez mais próximos, até chegarem na minha porta. Silêncio. Um minuto. Podia ouvir meu coração batendo. Dois minutos. Uma sombra se moveu, no chão, e meus olhos captaram o movimento de um grande... Rato. Vou dar um jeito nele, se sobreviver a isto. Três minutos. Minha audição estava muito apurada. É o que o medo faz com as pessoas.

Apesar do silêncio, eu não ia, de forma alguma, baixar a guarda. Achei que estivesse preparada para o que viria a seguir. Não estava.

Em um instante, a porta do meu quarto se escancarou, assim como as portas do meu armário. O meu grito foi abafado pelo som delas ao colidirem. Eu estava apavorada. Ouvi uma risada. Dessa vez, não na minha cabeça, mas uma risada realmente ecoou pelo apartamento. Eu não sabia o que fazer. Mas, por Deus, o que qualquer pessoa deveria fazer?

O silêncio voltou. Fechei a porta do meu quarto e as do meu armário. Estava tremendo. Mas não queria ficar naquele apartamento de jeito nenhum. Troquei de roupa, peguei a bolsa e, com muito, muito cuidado, abri a porta. Disparei pelo corredor até a saída, tranquei a porta e desci as escadas. Não iria tomar o elevador, por precaução.

Pra onde eu iria? Não sei. Andaria pela cidade, passaria a noite no bar (não por vontade de me embriagar, mas apenas pelo fato de este ficar aberto de madrugada). Eu não sabia o que fazer, não sabia quem procurar. Não tinha grana para uma mudança, mas acho que o meu fantasma estava mais a fim de me perseguir do que perseguir o apartamento, então, o local não fazia diferença.

Eu precisava reconhecer:

Aqueles sonhos foram um aviso. Aquela mensagem no espelho, as fotos, até a TV ligando sozinha... Tudo isso foi um aviso, que eu ignorei com teimosia.

No entanto, aceitando os avisos ou não, eu sabia que o meu destino era o mesmo.

Eu estava participando de uma caçada, e não estava no lado divertido.


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