A vendedora de guarda-chuvas e o filho do coveiro escrita por tamirsalem


Capítulo 11
Prólogo reescrito: Anjo da Neve


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, consegui recomeçar esta história ativamente. Agradeço o apoio de todos vocês que tem me acompanhado, e peço mais paciência, já que tudo que postarei a partir de agora será a versão 2.0 da história, e tá sendo produzida um pouco lentamente (estágio/trabalho/provas). Espero que gostem das alterações que fiz. Um agradecimento especial para minha beta, Esthellar!



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Ela dançava e rodopiava, majestosamente, em meio à interminável neve, com a enferrujada carcaça de seu guarda-chuva. Seu cabelo voava numa hipnótica dança, castanho, longo, numa bela combinação com seus profundos olhos verdes, que haviam tanto intrigado a todos.

‘Voe, voe, oh anjo da neve. Tuas penas sãos os flocos de neve,a cair e a flutuar. Tu não tens cara, nem corpo, mas eu sei que estás aí. Os ventos de inverno são tuas palavras, serenamente a vaguear. Voe, voe, anjo da neve, fuja do verão. Voe para perto de mim e me cubra com tuas penas. Voe anjo da neve, voe.’, ela cantava enquanto deitava na neve e fazia ali um anjo.

Um turbilhão de imagens e recordações enchia sua cabeça, e ela viu, em fragmentos, tudo que havia passado naqueles últimos tempos. Ela lembrou-se dele, da curiosa relação que tinham; de tudo que haviam feito ‘em prol da felicidade de todos’. Pelo que pareceu uma eternidade, sua mente se esvaziou de qualquer pensamento, e se encheu com um pequeno filme de sua vida, e depois com imagens disformes. Sangue, neve, terra, cadáveres, pás, sorrisos, beijos, ele, ela.

Uma solitária lágrima rolou por seu rosto, e ela lambeu-a, apreciando seu gosto salino por um certo tempo, gradualmente saindo daquele estranho transe. Levantando-se, parou e admirou a inóspita paisagem que conhecia tão bem. O solitário pinheiro, açoitado pelos frios ventos de inverno daquela cidade, que lá estava desde que ela fora àquele lugar pela primeira vez, as colinas, cobertas de neve e um ou outro arbusto, mais ao longe. Ela era uma criança quando conheceu aquele lugar, e o apelidara de ‘Deserto do Pinheiro’.

Foi num dia de inverno, um dia com poucas vendas. Ao observar a branca paisagem que envolvia a sua pequena cidade natal, sua mente fervilhou e ela correu rumo às colinas cobertas de neve, com um largo sorriso em sua face. Lembrando-se das várias histórias sobre pessoas que se perderam em situações como aquela, ela parou e recolheu pequenas pedras. Andou pelo deserto branco que se estendia a sua frente, maravilhada com o aberto, com o vazio, com a serenidade daquela paisagem devido à inexistência de humanos.

Ela caminhou, errante, até achar aquele pinheiro, deixando uma trilha de pedras no caminho. Subiu no velho pinheiro, que rangeu com tanto peso e apoiou-se precariamente nele, de modo que pudesse serenamente admirar o mundo a sua volta.

"É só um deserto de neve e um pinheiro, mamãe. Por que é tão bonito?" sussurrou, seus olhos voltados para o céu. Naquela época, ela ainda era inocente o suficiente para acreditar que, mesmo nunca tendo-a conhecido, sua mãe estava sempre por perto. Sua mente produzia uma resposta, imaginária, mas convincente o suficiente, dita com voz terna e doce, por um rosto que Hannah nunca viu, nem em fotografias, e por isto era meio enevoado, irreal. Um belo dia, porém, sua inocência fugiu porta afora, e ela compreendeu que, por todo aquele tempo, havia conversado consigo mesma, e sua mãe estava morta, e nunca ia voltar. Neste momento, sua mente clicou, e ela passou a não acreditar mais em Deus, ou na vida após a morte; talvez, neste momento, ela tenha percebido que ela simplesmente não tinha fé em tudo aquilo, e só procurava se iludir para se dar conforto.

Esta menina, de ações decididas, se punha, porém, como uma grande representante de um Deus no qual não cria. Talvez nem para ela esta hipocrisia tivesse algum sentido real, mas ela tinha certeza de que o que fazia, apesar de tudo, era o certo. A justiça na terra era o que procurava espalhar, então de que importava Deus? Se seus objetivos eram nobres, mentir para os outros não deveria ser um empecilho. O que eles chamariam de Deus, ela chamava de justiça, e prender-se a uma questão de nomenclatura era tolice, raciocinava.

Achava que escrevia certo por letras tortas; era insanamente sã. Era essa a garota que vendia guarda-chuvas, a artista de rua, que agora havia fugido para o ‘Deserto do Pinheiro’ de sua infância, fechando todo um ciclo que lá havia começado. Era esta a garota dos serenos silêncios, das delicadas lágrimas e dos, hora macabros, hora doces, sorrisos. A menina que sabia amar,conhecia a compaixão, mas também sabia mentir e manipular, a eterna falsa Messias. Aquela era Hannah, a vendedora de guarda-chuvas.


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