Sinceramente, não acredito que passou tão rápido. Já é dia 20 de março.

Está confirmado: eu passei nas duas etapas! A essa altura, contei para meu pai e Vaquelena, afinal, precisava de uma autorização por escrito deles. O que ocorreu foi uma série de gritaria, sermão e outras coisas do gênero. Meu pai demorou dois dias pra assinar, tudo graças a chantagem emocional minha e da Vaquelena. Pelo menos para isso ela é útil.

Entreguei minha autorização hoje. Eu e mais três pessoas do colégio conseguimos. Eu optei pela cidade de Santa Clara, uma cidadezinha no litoral de Santa Catarina, a cidade natal de Matheus. Falando no Math, ficamos bem próximos nessas três semanas. Ele até vai me ajudar com o meu PV, embora ache que eu deveria esquecer tudo isso. Infelizmente, ele ainda tem 1 mês e 1 semana aqui, então vou ter que me virar sozinha na cidade dele.

Estou tão ansiosa! Já comecei a arrumar minhas coisas, já que eu escolhi passar o resto do ano lá. Essa parte eu não contei... Ainda. Só vou contar no aeroporto, lá pelo menos não haverá briga, eu espero. Meu pai não está nem falando comigo, acha que eu o estou abandonando. Eu não estou fazendo isso... certo?

Pelo menos ele ainda vai me mandar dinheiro. Vou ter direito a 600 reais por mês, para me manter. Considerando que eu vou dividir o apartamento com mais três pessoas e o aluguel é apenas 70 reais, acho que eu vou me dar bem. A lavanderia é gratuita, é tudo tão bom que eu estou até meio desconfiada. E se eu for traficada? Como diria o Math, as vezes eu pareço ser lunática. É obvio que isso não irá acontecer, Math é um exemplo, ele não é traficado. Tudo vai dar certo, calma, respira, inspira, respira, inspira!

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São 02:26 da manhã de 21 de março e eu ainda estou aqui, acordada, elétrica, apenas pensando em duas coisas: PV e viagem. Meu PV já está pronto, apenas esperando o dia e momento certo para ser efetuado.

Será sexta, 15:30 (horário de saída). Mirando na grande parede branca perto da porta, haverá uma espécie de apresentação, com o tema: apresentando ao colégio a vadia Lolo. O projetor vai estar escondido no buraco entre a parede e o ar-condicionado, ali cabe perfeitamente um e não pode ser visto. Depois do tema anunciado, as várias fotos dela pegando 80% da escola. E, eu havia suposto colocar o vídeo do Lucca e ela se pegando caso rolasse novamente... e rolou! Só que dessa vez, a pegação foi um pouco mais pesada, juro que achei que ia rolar sexo e deve ter rolado mesmo, não presenciei até o final. Eles foram burros o bastante para se pegarem no banheiro feminino, foi super fácil. Depois de se passarem as 20 fotos, aparecerá um aviso: "você pensa que acabou?" e então surge a foto de Lorena e Carter e logo depois o vídeo. Bem, decidi não usar a primeira foto dos dois, já que ficaria claro que fui eu. Então investiguei-a e descobri os dois se pegando no pátio no almoço. E logo depois alguns fatos e pequenos vídeos (vídeos que estão na internet) dela humilhando pessoas, até coloquei um vídeo em que ela me humilha.

Lorena é realmente burra, porque consegui provas concretas de que ela fala mal de todas as garotas com quem anda. Devo essa parte ao Math, que disse que além de mostrar o lado vadia, deveria mostrar como ela é falsa e má também. A apresentação completa tem 5 minutos. Não é muito longo, pois corre risco de ser parado pela diretoria, mas já dá para destrui-la. Aproveitei e coloquei como "creditos finais" pequenos trechos de suas amigas a criticando, o que também não foi dificil de achar, já que elas fazem isso na aula, fila no almoço, educação física.

Não vejo a hora de sexta chegar! Estou tendo coragem de fazer tudo o que todo mundo quer.

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Eu não dormi. Simplesmente não consegui. Ando tão ansiosa. Hoje, é o meu penultimo dia nesta cidade. Acho que é por isso que nem ligo para o fato de eu estar atrasada. Estou vestindo um short de cintura alta jeans claro (se ele fosse um palmo mais curto não poderia usa-lo na escola, agradeço mentalmente a mim mesma por ter comprado ele um pouco maior que de costume) e uma cropped vinho. Acabei de fazer uma trança no meu cabelo, deixando-a de lado. Calço meu tênis branco e pego minha mochila, sei que tenho que correr pra escola.

Já estava atrasada demais para a primeira aula, então fui em direção ao terraço. Tinha recebido uma mensagem de Math para ir pra lá, já que ele cabulou aula e sabia que eu estava atrasada. Quando estava perto da escada, avistei um monitor um pouco longe de mim, inspecionando para ver se tinha alguém por ali. Não tive escolha a não ser entrar no único lugar disponível: o banheiro masculino.

Assim que entrei no banheiro, dei de cara com um menino no miquitório, então corri para uma cabine. Ouvi uma risada rouca, diria até meio... sexy (uma risada pode ser sexy? Oi?). Escutei passos indo em direção a cabine ao lado da minha e, logo depois, a porta do banheiro sendo aberta. Aqui fica mais fácil de cabular aula em banheiro, já que as portas das cabines estão sempre fechadas. O que poderia denunciar-nos são nossos pés e o aviso de pessoa presente na cabine. Segui meu instinto e subi em cima da privada e como não tranquei a porta, não aparecera o aviso.

Provavelmente era o monitor, e o menino ao meu lado deve ter seguido o mesmo movimento que o meu, já que o monitor saiu do banheiro. Ouvi a porta da cabine ao lado sendo aberta e o menino saindo dali, ele dá uma leve batidinha na porta da minha cabine e diz em um tom baixo:

– Ei cara, o monitor já foi, pode sair.

Eu não queria ser pega no banheiro masculino, principalmente por um garoto, mas não tinha escolha, não podia passar os próximos 40 minutos ali dentro. Resolvo sair da cabine e dou de cara com um menino meio alto (não tanto quanto Math mas mais alto que Lucca), bronzeado e com um cabelo grande e cacheado. Nessa parte ele e Math se pareciam: magros porém com musculos. Ele era bonito, talvez tanto quanto Math. Mas por que raios eu estou comparando os dois? Que feio, eu deveria parar de fazer isso.

Percebo a incrível cara de bocó que ele estava fazendo quando ele diz o óbvio:

– Wow, uau, hm... você é uma garota.

– Não, imagine. Sou um guri mas curto roupa de mulher, não deu pra perceber? - respondo em tom de ironia.

– Garota gentil você hein. Hey, por que está no banheiro masculino?

– Cheguei atrasada, ia matar aula no terraço mas vi o monitor. Entrei no banheiro e vi você, então entrei na cabine. - ao contar a última parte, sinto minhas bochechas ficando vermelhas, merda, estava ficando corada.

– Você corou - ele diz e logo depois ri, me deixando mais envergonhada ainda. - Eu sou o Nicolas, mas me chama de Nico. E você?

– L-Luna. Me chama de Lunis.

– Lunis, mas que apelido da hora. - ele parece legal. Tem uma expressão risonha e parece ter sempre uma piada pronta.

– Hm, você é aluno novo? Nunca te vi por aqui.

– Na verdade não, moro na cidade desde que nasci, mas como moro mais pro interior, estudava no CCM (Centro Comunitário do Mineira). Vim pra cá esse ano para participar do programa aprendendo em novas regiões. Foi bom te conhecer Lunis, mas não acho que vamos nos ver de novo. Vou embora amanhã.

– Se vamos nos ver ou não, depende a região. Também participo desse programa. - digo sorrindo.

– Eu vou para Santa Clara no sul, e você?

– Você escolheu até a mesma cidade que eu? Como assim? Ahahahahaha.

– Escolhi por que a família da minha mãe é de lá, tenho parentes. E você?

– Tem um menino daquela cidade estudando aqui, pelo mesmo programa. Como ele só vai ficar 2 meses aqui, logo vai voltar para lá e vamos ficar juntos.

– Então parece que teria companhia por lá. - o sinal bate. Mas já se passou a primeira aula? Isso não faz sentido! Se eu estivesse em sala de aula o tempo ia se arrastar igual uma lesma, mas nããão, eu to no banheiro masculino conversando com um cara legal, portanto é obrigatório o tempo parecer estar disputando corrida.- acho que temos que ir agora. E a propósito, esse top cai muito bem em você.

E assim que ele se despede, vira e sai do banheiro. Deixando-me corada e parada lá dentro. Eu acabei de ser elogiada? Por um garoto? Que?

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Durante dois tempos de química, tive que aguentar o olhar de Lucca vindo na minha direção. Eu meio que me afastei dele nessas semanas, e acho que ele sabe o por quê: eu não aguento olhar pra ele, sempre vejo ele e Lorena se pegando. E isso me dá ânsia de vômito. Sabia que ele iria pedir para falar comigo, mas eu não queria. Acordo de meus pensamentos quando sinto uma bolhinha de papel bater no meu braço. Abro aquela budega e vejo escrito: " Lunis, preciso falar com vc, pfvr, e importante. No patio, hora do almoço - Lucca". Penso em não ir, mas sei que se ele chegou ao ponto de me tacar bolhinha de papel, então eu realmente preciso ir.

O sinal bate, hora do almoço. Vejo Lucca saindo da sala e me fazendo sinais. Deve ser alguma tentativa de atrair minha atenção. Recolho meus pertences e caminho até o pátio, está na hora de falar com Lucca.

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Chego no pátio e sento na escada que dá acesso a sala de professores. 2 minutos depois Lucca aparece e senta ao meu lado. Sou direta:

– O que você quer?- não foi minha intenção, mas acho que soou de uma forma meio agressiva.

– Você vai mesmo embora?

– Sim. - era isso? Jura? - se era só isso eu já posso ir ou...

– Por que? Por que vai embora? Você vai... - então ele suspira, deixando a frase imcompleta.

– Eu preciso mesmo dizer o porquê? Pois bem, porque é minha chance, uma oportunidade, ótima por sinal, e quem realmente se preocupa comigo aceitou e me apoiou - nessa parte, falei claramente de Mariana e Math - afinal, não tenho nada a perder.

– Mas eu tenho! - ele fala rapido e completa - E se você vai mesmo embora, preciso fazer isso.

E então, ele me beija!

O que acha que eu fiz:

A) O empurrei e comecei a socá-lo, dizendo que não era as nega dele pra ele fazer o que quiser e quando quiser.

B) Chutei suas bolas e fui embora, fula da vida.

C) Fiquei parada que nem uma babaca em choque para, segundos depois, retribuir o beijo.

Se fosse escolheu a alternativa "C", din din din, parabéns, você acertou!