Lissa demorou quase duas horas para conseguir dormir e acho que no fim só conseguiu por que foi dominada pela exaustão. Olhei para minha amiga dormindo e me recordei de quando éramos crianças, o quão simples as coisas pareciam ser, tudo preto no branco. Nada mais era assim, nem pra mim e muito menos para ela. Durante o resto da noite me peguei acordada, preocupada com minha amiga e pensando em como as coisas mudariam por agora. Quando uma batida soou na porta me acordando tive a sensação de que havia acabado de dormir.

– Só um minuto. – respondi meio grogue.

– Maninha. – era Luke do outro lado da porta. – Se troque e venha até meu quarto que eu quero falar com você. – me arrumei e logo estava batendo em sua porta. Luke estava sentado na cama com um monte de papel espalhado.

– O que é tudo isso? – perguntei-lhe olhando para aquele monte de papéis.

– São documentos da empresa do papai. – respondeu analisando um deles.

– E o que você está fazendo com isso?

– Andei conversando com o tio Eric e decidi que vou assumir a empresa. Era isso que eu queria falar com você na verdade...

– Ok. Mas você acha que vai dar conta? – perguntei-lhe.

– Honestamente, não faço ideia, só sei que não posso deixar o legado de nossos pais nas mãos de qualquer um. Além do mais – disse após uma pausa – tio Eric esta me ajudando. E ele saca muito dessas coisas.

– Bem, é claro que sim. Ele assumiu os negócios da família dele com o que? Vinte, vinte e poucos? Quase a mesma coisa que você. – respondi surpresa.

– Fico feliz que você me apoie. É muito importante pra mim. – ele disse me dando um abraço.

– Sempre que precisar mala! – eu ia saindo quando ele me chamou.

– Hey, você sabe o que tá pegando com a Lissa? – ele perguntou-me.

– Por quê?

– Ela apareceu no café da manhã com os olhos vermelhos e disse que precisava falar com os pais. Logo em seguida eles se trancaram no escritório com ela e com aquele namorado emo dela. – meu coração deu um salto. Lissa já tinha ido contar?

– Digamos que não é algo da nossa conta. – respondi. – Acho que deveríamos... – nesse momento uma gritaria começou no andar debaixo fazendo com que eu e Luke descêssemos correndo. No meio da sala estavam André e Christian, André parecia agarrá-lo pelo colarinho enquanto Lissa implorava para que o irmão soltasse o namorado.

– Seu bastardo. Você achou que iria fazer isso com minha irmã e sairia impune? – Andre gritou.

– Impune? Eu tô aqui pra assumir responsabilidade, o que não é o mesmo que se pode dizer de você, não é mesmo? – Christian cuspiu as palavras na cara de Andre.

– Do que você tá falando? Não sou nem um pouco igual a você!

– É, você é bem pior. Aposto que seus pais não fazem ideia do filho que tem. Será que eles sabem que você se enfiou no meio das pernas da Mia e depois largou ela? Eu pelo menos amo Lissa e estou aqui para apoia-la, não fujo das minhas responsabilidades igual você! – Andre parece ter perdido a paciência naquele momento e acabou socando a cara do coitado do Christian. Eric enfim resolveu se meter no meio dos dois antes que ambos se matassem.

– Chega, vocês dois! É óbvio que estamos todos muito nervosos, mas isso não é motivo para deixarmos de ser civilizados. Andre, esse assunto não é da sua conta, vá para o seu quarto. – Eric disse firmemente.

– Uma ova que não é. Então esse bastardo acha que pode engravidar minha irmã e depois entrar aqui em casa falando um monte de besteiras?

– André! – Eric exclamou. Andre saiu batendo a porta da casa. Lissa começou a chorar desesperadoramente e eu não consegui me conter. Desci correndo e a abracei apertado, murmurando palavras de conforto.

– Rose, querida... – Rhea começou, mas eu a cortei.

– Não. Ela não esta bem. Deem-na um tempo, por favor. – Rhea ia começar a falar quando Eric a cortou.

– Rose está certa. Isso não está sendo fácil pra ninguém, mas é tudo pior pra Lissa e ela agora não pode se estressar. Leve-a pra cima pra mim, por favor, querida. – Eric disse se dirigindo a mim.

– Venha Liss. – eu disse puxando-a para cima. Lissa se deixou ser levada até seu quarto, onde se jogou na cama.

– O que eu vou fazer agora Rose? Minha vida acabou!

– Nunca mais diga isso. – eu disse séria. – Não tô dizendo que vai ser fácil, mas você poderia passar por coisas muito piores. Você tá viva, as pessoas que você ama estão bem e ao seu lado, prontas pra te apoiar. Você não tem por que passar por tudo isso sozinha.

– Mas eu não tô preparada pra isso Rose! Como eu posso cuidar de uma criança se nem de mim eu cuido direito? – perguntou-me.

– Isso é óbvio. Caso contrário você não estaria grávida. – ela me lançou um olhar mortal que eu nunca esperaria vir dela. – Desculpa. – murmurei rapidamente. – O que eu quero dizer é que você não precisa passar por tudo isso sozinha. Você tem seus pais, tem a mim e tem a Christian. Eu vou cuidar de você, prometo.

– Obrigada Rose! – ela disse jogando seus braços em volta do meu pescoço. – Eu não sei o que eu faria sem você.

– É pra isso que servem os amigos, certo? – respondi deitando sua cabeça no meu colo.

– Com todo esse meu drama nem perguntei como foi seu encontro ontem. – ela disse soando um pouco mais calma. Comecei a contar como tinha sido meu dia ao lado de Dimitri, contando tudo nos mínimos detalhes pra ver se ela se acalmava. Quando cheguei no final ela tava surtando, parecendo a velha Lissa de repente.

– OMG! Como assim vocês se beijaram?! – exclamou para os quatro cantos do mundo.

– Grita mesmo! Tenho certeza que algum cidadão do interior da China ainda não ouviu! – ela colocou a mão na boca e começou a gargalhar. – Mal foi um roçar de lábios pra você querer chamar de beijo.

– Ok. Isso quer dizer que vocês vão sair de novo? E rolar outro beijo?

– Se vai ter outro beijo eu não sei, mas que nós vamos sair de novo... Ele prometeu me levar pra conhecer a ideia de diversão dele. – respondi rolando os olhos. – Provavelmente vai me levar pra algum museu chato.

– E quem se importa aonde ele vai te levar?! Você tem que aproveitar a presença, não o lugar. – comentou batendo palmas parecendo uma criança de dez anos.

– Para de graça Liss. Nem todo mundo é destinado a ser um casal, como você e Christian. – ao mencionar o nome dele vi toda a alegria desaparecer de seus olhos fazendo com que eu me arrependesse imediatamente.

– É, veja onde o destino nos arrastou. Você deveria ficar feliz com isso. – ela resmungou.

– Lissa, o Chris te ama, você sabe disso. Não importa o quanto eu o despreze, também sou capaz de reconhecer isso. Ele vai te apoiar, não importa o que. Você deveria ficar feliz, nem todas tem sorte de ter um namorado que te apoia nos piores momentos. – disse amargamente.

– Pode ir parando por ai. Achei que tivéssemos concordado há muito tempo que o Adrian é um babaca e que você não merece sofrer por ele. Principalmente após a morte dos seus pais e o que ele fez!

– É, você tá certa. O Adrian é passado e eu não vou ficar lamentando por ele, o que não quer dizer que eu vou me jogar pra cima do Dimitri! – adverti antes que ela enfiasse a ideia na cabeça.

– Tudo bem, não tá mais aqui quem falou. – respondeu sorrindo.

– Sei... Enfim, eu fiquei de ver umas paradas com o Mase, te vejo mais tarde? – perguntei.

– Sim. E Rose? Obrigada. Por ser a melhor amiga que alguém poderia ter. – ela disse me dando outro abraço apertado.

– Obrigada a você também. Cuide-se e cuide do meu sobrinho. – respondi. – Avise Rhea que estarei de volta para o jantar.