Andei durante os próximos dois dias mais do que jamais tinha andado em toda a minha vida. Mason e eu estávamos a procura de algum lugar onde pudéssemos ensinar dança para crianças e, enfim, após muita procura, encontramos uma paróquia em uma comunidade carente que abraçaram nossa ideia. Naquele dia eu voltei feliz da vida pra casa. Felicidade que só durou até eu dar de cara com Lissa me esperando no portão.
- O que aconteceu? - perguntei vendo sua cara.

- Prometa agora que você não vai pirar. - ela disse me olhando apreensiva.

- Não sei. Me diz você.

- OAdriantateesperando. - ela disse rápido.

- Respira e fala de novo que eu não entendi merda nenhuma. - disse-lhe.

- O Adrian tá te esperando. - ela disse.

- O que ele quer? - perguntei e falhei em tentar manter o ódio fora da minha voz.

- Só disse que queria falar com você pediu pra esperar. Eu resolvi te esperar aqui pra você não ser pega de surpresa. - parei pesando minhas opções. Eu podia ir dar umas voltas e enrolar até que ele se cansasse de me esperar, mas eu conhecia Adrian bem o suficiente pra saber que ele não iria desistir. Era melhor enfrentar logo o diabo.

- Vou lá falar com ele... - resmunguei caminhando em sentido a casa. Lá dentro, Adrian se encontrava encostado a janela, sua mão no bolso, provavelmente procurando pelo maço de cigarro. Pela primeira vez em meses eu puder dar uma boa olhada nele. Adrian tinha perdido peso, haviam manchas em seus olhos e pela primeira vez seu cabelo - que antes era estilosamente bagunçado - agora parecia bagunçado de verdade. Em suma, ele parecia verdadeiramente miserável. - Adrian. - eu disse deixando escapar um suspiro. - Olá Rose. - sua voz soou cansada, apesar do sorriso que ele me deu.

- O que você quer de mim, Adrian? - perguntei sem enrolação.
- Somente conversar. Eu... - ele estava encarando seus pés e pela primeira vez parecia envergonhado. - Eu queria me desculpar. - ele me disse baixinho.

- Por que? - perguntei.

- Por que o quê?

- Por que você quer pedir desculpas? Por que agora? - perguntei autoritariamente.

- Por que eu percebi que agi com você de forma injusta. Eu queria que você fosse a Rose de antes, inconsequente, rebelde e feliz. Eu não percebi que essa parte sua morreu naquele dia. E que era minha obrigação como seu namorado te apoiar durante um momento tão difícil.

- Mas por que você percebeu isso agora? - exigi.

- Tia Tatiana está muito doente no hospital. Não sabem se ela vai reagir. - Tatiana era a tia-avó de Adrian, e a responsável por gerir toda a empresa de sua família. E era a pessoa que ele mais amava no mundo.

- Eu sinto muito. - respondi. - Eu sei que sua tia é muito importante pra você. Mas ainda não entendi o que você pretende aqui.

- Apenas que você me perdoe pela forma como te tratei. Isso vem me corroendo e se você não dizer que me perdoa, isso vai acabar me matando. - ele passou a mão no cabelo bagunçando-o ainda mais.

- Tudo bem Adrian. Eu te perdoo. Você não precisa morrer aos pouquinhos por causa disso. - ele soltou a respiração e parecia realmente aliviado. - Mas espero que você não crie falsas esperanças. - adverti.

- Tudo bem. Lissa já me disse que você está vendo outra pessoa. - "maldita fofoqueira!", exclamei mentalmente.

- Ele é só um amigo, você sabe como a Lissa é com essas coisas. - cortei antes que ele pedisse mais informações.

- Ok, você não quer que eu faça mais perguntas, eu entendo. Por mim está tudo bem. - ele abriu um pequeno sorriso. Eu havia me esquecido de como ele era lindo quando sorria. Ele se virou para ir embora, mas parou quando chegou à porta. - Eu ainda espero que possamos ser amigos. - ele disse se virando para mim.

- Claro que sim. - respondi com um pequeno sorriso por enfim ter me acertado com Adrian.

Assim que ele saiu Lissa veio até mim com um sorriso no rosto.

- Vocês se acertaram? - ela perguntou.

- Por que você falou pra ele sobre o Dimitri? Não é como se ele e eu estivéssemos tendo encontros românticos. Só estou fazendo isso por que você me empurrou em primeiro lugar. - respondi com um bufar me jogando no sofá.

- Que mal humor! - exclamou. - Até parece que a grávida é você. - ela disse se jogando ao meu lado.

- É que eu to cansada. Andei o dia todo, minha cabeça ta a mil com toda essa história do Dimitri e agora me aparece o Adrian. - desabafei.

- Tá tranquilo Rose. Você logo vai achar seu caminho com relação a esses dois, e quanto ao local para ensinar? Você achou? - aqui vai uma coisa com relação a Lissa, quando ela te faz perguntas, é por que ela está realmente interessada no que você tem a dizer. Ela é uma dessas pessoas que realmente se importa. E isso sempre foi o que eu mais amava sobre ela.

- Sim! - exclamei toda feliz. - Tem essa pequena paróquia, não muito longe daqui. O padre nos deixou usar uma das salas adjacentes como sala de aula e prometeu falar com os fiéis da igreja. Eu e Mason começaremos segunda.

- Posso pelo menos assistir a aula? Você sabe, tem alguns truques que só eu conheço. - ela respondeu batendo palmas igual aquelas patricinhas.

- Só se você prometer se comportar. Não quero nada de mal acontecendo ao meu sobrinho. - disse colocando minha mão sobre sua barriga ainda plana. - E como você está com tudo isso? - perguntei-lhe.

- Confusa, com medo principalmente. Mas todos estão me dando um super apoio. Exceto André. - ela parecia realmente chateada com isso. O irmão era tudo pra Lissa e vê-lo decepcionado estava tornando-a miserável. - Ele mal tem falado comigo. Em geral, ele nem olha na minha cara.

- Eu vou conversar com ele, fazê-lo ver que ele precisa estar aqui pra te apoiar.

- Obrigada Rose. Você é a melhor amiga que alguém poderia ter.

- Sempre a disposição. - respondi pegando meu celular que estava tocando.

- Quem é? - Liss perguntou ao me ver relutante em atender.

- Dimitri. - respondi-lhe.

- Atenda logo. - ela nem precisou dizer duas vezes.

- Boa tarde Camarada. - cumprimentei-o, ligeiramente intrigada e extremamente receosa pela sua ligação.

- Boa tarde Rose.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei estranhando o fato dele estar me ligando.

- Não. Eu só queria saber se você está livre essa noite. Tem um... Um lugar que eu gostaria que você conhecesse. - disse-me aparentando estar nervoso.

- Ok. Não tinha grandes planos para a minha noite mesmo. Que horas você irá passar aqui? - perguntei-lhe.

- Às sete tá bom pra você? - olhei no meu relógio, faltavam uma hora e meia para as sete.

- Tudo bem . Até daqui a pouco então. - disse desligando e correndo para ficar pronta a tempo.