- Bem vinda de volta. - Luke disse enquanto Lissa me ajudava a deitar na cama. 

         - Graças a Deus sai daquele lugar! Já disse isso? - perguntei com um sorriso bobo. Nas últimas 36 horas eu tinha sido mimada por todos e de todas as formas. Até Dimitri tinha ido me visitar novamente.

Flash Back

         Eu tinha acordado ainda a pouco quando ouvi uma batida de leve na porta do quarto.

         - Pode entrar. - disse tendo certeza que estava adequada pra receber visitas. - Hey Camarada. - falei quando vi Dimitri colocar a cabeça pra dentro do quarto.

         - Vim ver como você está. - ele disse com um pequeno e tímido sorriso de canto de boca.

         - Louca pra sair daqui, mas tirando isso to bem.

         - Fico feliz de saber que você está se recuperando então. Eric e Rhea tomaram um belo susto. - ele deu uma risadinha sem graça enquanto eu torcia a ponta do lençol, morrendo de vergonha de mim mesma.

         - Bem, logo vou poder sair daqui pra chutar a bunda de todo mundo de novo! - esta era eu, expert em sair de situações desconfortáveis.

         - Espero que a minha não seja uma dessas. - ele deu uma risada rouca que me deixou arrepiada. - De qualquer forma eu só passei mesmo pra ver como você está e te trazer essas flores. - ele disse tirando um buquê de rosas das costas. Nunca fui muito fã de rosas, mas aquele era o buquê mais lindo que eu já tinha visto. 

         - Obrigada, elas são lindas. - respondi sinceramente.

         - Eu vou indo então. - ele parecia sem graça, sem saber o que fazer direito com as mãos. Então ele simplesmente acenou um tchau e foi embora.

Flash Back Off

         Me peguei sorrindo quando me lembrei de sua visita hoje pela manhã. Eu não sabia o que estava acontecendo, só sabia que essa era a segunda vez que ele ia me visitar e eu ficava sorrindo toda boba. 

         - Tá sorrindo por que Rose? - Lissa perguntou com um brilho inteligente no olhar.

         - Nada não. Boas recordações. - ela me olhou e naquele instante eu soube que Lissa sabia que eu estava escondendo alguma coisa. E ela também sabia que eu não ia falar nada na frente do meu irmão. Exceto que ele se sentou na minha cama e parecia não querer levantar. Eu olhei para ele e tentei - e falhei - em levantar a sobrancelha.

         - O que foi? - ele perguntou.

         - Nós queríamos conversar. - Lissa começou bem educada. Ela nunca ia superar a quedinha que tinha por ele desde que éramos crianças.

         - Pois podem conversar, não vou atrapalhar.

         - É conversa de garotas. - respondi bufando.

         - Ah. - Luke ficou vermelho e eu comecei a rir.

         - Cai fora Luke! - disse enquanto me segurava pra não rir mais.

         - Agora conta tudo! - Lissa exclamou assim que meu irmão saiu pela porta.

         - Dimitri veio me visitar hoje de manhã. Com um buquê.

         - E?

         - E nada Liss. Ele disse que só estava passando pra saber como eu estava. Foi apenas gentil. - disse com um dar de ombros e um tom de decepção na voz.

         - Por que raios ele iria te visitar não uma, mas duas vezes se não estivesse interessado? Ele ta afim de você, Rose! - exclamou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. O que na cabeça dela, de fato era.

         - Duvido. Ele é o sócio do seu pai. Não deve querer nada com uma pirralha que ainda tá no ensino médio.

         - Exatamente. Se ele não estivesse interessado não iria te visitar no hospital. Com flores. - ela deu um sorriso vencedor.

         - Affe. Não vou discutir por que sei que é inútil. Quando você mete uma coisa na cabeça nem Jesus tira. - ela começou a rir e então mudamos de assunto pra falar dela e de Christian. Eu me entreguei a conversa familiar com minha melhor amiga enquanto minha mente vagava com imagens de um certo russo.

         O resto do dia se arrastou enquanto eu ficava amarrada na cama mexendo no meu computador. E assim foram nos dois dias seguintes. No terceiro dia eu estava me aprontando pra ir para a escola quando meu irmão bateu na porta do quarto.

         - Posso falar com você?

         - Pode sim, entra ai vai. - disse dando um espaço pra ele se sentar na cama e me sentando ao lado dele.

         - Rose eu... Eu não sei bem como te falar isso, mas... Bem, eu estive conversando com Eric e Rhea e nós decidimos que seria bom você começar a ver um especialista. - eu pude perceber que ele estava ansioso.

         - E se eu não quiser? - tentei parecer menos petulante, mas não adiantou de nada.

         - Entenda maninha... Eu só estou preocupado com você. Sei que você não quer se abrir com ninguém, eu te conheço. Mas nesse momento acho que é disso que você precisa. Se abrir, extravasar um pouco de tudo isso que tem ai dentro de você.

         - Eu não preciso de especialista Luke. Não preciso de mais ninguém me dizendo que tudo isso um dia vai passar. Tenho todo mundo ao meu redor pra me dizer isso. - eu levantei revoltada, jogando a toalha molhada em qualquer canto e fingindo secar o cabelo enquanto na verdade só estava fugindo dele.

         - Você ta certa. Você não precisa ouvir, você só precisa falar. Só isso. - eu lancei pra ele um olhar incrédulo e ele sacudiu as mãos. - Você acha que as coisas só tem sido ruins pra você? Eles eram meus pais também Rose! Eu também os perdi! Mas tenho tentado ser forte e superar tudo isso por que sei que você precisa de mim e talvez, se você fosse um pouquinho menos egoísta, veria que as coisas não estão fáceis pra mim e que eu também preciso da minha irmã pra me apoiar! - ele não gritou, mas suas palavras foram tão ríspidas que era como se eu tivesse levado um tapa na cara. Um tapa bem doloroso que tinha me trago de volta pra realidade. Pela primeira vez em meses eu realmente olhei para meu irmão. Ele havia perdido peso, seus olhos possuíam profundas olheiras, seu cabelo estava desgrenhado e a barba por fazer.

         - Oh meu Deus! - exclamei levando a mão na boca. - Luke... Eu... Eu sinto tanto. - senti meus olhos arderem com lágrimas que eu tentava segurar quando ele me apertou nos seus braços.

         - Está tudo bem Rose. Nós vamos ficar bem. - ele disse fazendo carinho na minha cabeça.

         - Ok. - respondi.

         - Ok?

         - Sim. Mas com uma condição. Eu só vou frequentar uma psicóloga se você for também. Eu não sou a única precisando desabafar.

         - Tudo bem. Acho que eu poderia mesmo usar uma boa conversa.

         - Sim, você precisa. Mas você precisa também fazer a barba. Vá lá enquanto eu termino de me arrumar. De jeito nenhum que você vai pra faculdade assim! - eu tapei um tapinha na sua bunda, exatamente como quando éramos crianças, e em troca ele me deu um beijo na testa.

         - Te amo maninha.

         - Também te amo seu mala.