Aquele era um dia especial. Dean decorava a casa com belos balões coloridos. Muitos meses haviam se passado. Anos, na verdade... Anos em que Sam e Dean estavam aposentados. Não caçavam mais. Dean passava seus dias dedicando-se aos cuidados com a filha, e tinha a ajuda de seu irmão, Sam, e seu melhor amigo, Castiel, em tudo o que precisava.

Não muito distante dali, em uma pequena casinha branca, morava a vovó Hilary. Não, ela não havia ficado muito tempo internada no hospício... Castiel fizera questão de resgatar a velha e explicar para ela tudo a respeito dos Bicudins e dos monstros em geral. A coitada custou a acreditar, mas teve que se render quando o anjo usou seus poderes diante de seus olhos. Mas, apesar de não morar com eles, como já dito antes, aquele era um dia especial, e Hilary fazia companhia a Samantha no quarto da criança, enquanto Dean se entretinha em arrumar a casa.

Dean correu até a porta quando ouviu o barulho de Sam e Castiel que voltavam da rua.

– Conseguiram os defuntos? – perguntou ansioso.

Sam sorriu para o irmão e Castiel estendeu-lhe um saco com vários pedaços de restos humanos.

– Houve uma explosão aqui perto... – explicou Castiel. Dean sorriu satisfeito. Ele não matava para suprir as vontades de sua filha, então precisava contar com a sorte... Nem sempre era possível conseguir carne humana ainda fresca, e a pobre Samanthinha precisava se contentar com sangue e carne congelados.

O ex-caçador pegou a sacola de carne fresca e correu até a cozinha.

– A decoração está ficando bonita... – comentou Sam. – Samantha ainda está dormindo?

– Acho que sim... De qualquer forma eu pedi para a vovó distraí-la no quarto quando acordasse. Eu quero que seja surpresa... – Explicou o irmão mais velho, enquanto tentava moldar um amontoado de pedaços de defunto em forma de bolo.

–------------------------------------------------------------------------

Quando levaram a pequena Samantha finalmente até a sala, balões de festa e um lindo bolo de carne humana com uma vela em cima esperavam por ela. Estava completando cinco aninhos. Cinco anos desde que Dean vira emocionado seu lindo ovo chocar.

– Parabéns, filhinha! – Comemorou Dean, abraçando a monstrinha com todo carinho. Vovó Hilary, titio Sam e titio Cass abraçaram-na também em seguida. Todos tinham presentes para dar. Bonecas, jogos... Samantha gostava de brinquedos, como toda criança que se preze. Ela sentou-se no chão e avidamente abriu os embrulhos com um sorriso de felicidade estampado no bico.

Abriu um a um, e gostou de todos. Por fim pegou um dos embrulhos que Dean havia lhe dado. Era pesado e compacto. Estava tão ansiosa que usou não apenas as asas, mas também o biquinho para abri-lo.

– Cadernos e livros? – A criança pareceu um pouco decepcionada. Os cadernos estavam cheios de linhas, e Samanthinha preferia desenhar em folhas brancas... E os livros... Não pareciam os livrinhos de história coloridos que Mama Dean lia para ela.

– Samanthinha... Eu matriculei você no colégio, filhinha. Você vai aprender a ler e escrever! – Dean estava emocionado. Sua filhota já estava uma mocinha... Cinco anos... Ele morreria de saudades enquanto a criança estivesse na escola, mas não podia mais protelar.

Sam olhou de Hilary a Castiel e engoliu em seco... Seu irmão parecia não compreender mesmo certas coisas... Samantha era um monstro, querendo ele ou não. Monstro! Sam pronunciava essas palavras com orgulho. Gostava de monstros, era fã assumido já há anos. Apesar disso, era um homem realista. Samanthinha não podia ir à escola... Como ela seria recebida pelas outras crianças? E pela professora? Será que Dean não percebia que seria uma loucura?

– Oba! – comemorou a criança. Dean falava muito bem da escola para ela. Um lugar muito divertido... O que Samanthinha mais almejava era a companhia de outras crianças para brincar. Poucas vezes tivera a oportunidade de se aproximar de meninos e meninas de sua idade.

Sam suspirou vendo a reação da sobrinha. Era sempre assim... Sua sina era viver preocupado. “Sammy, vou levar Samantha para brincar no parquinho!”. E lá ia o Winchester mais novo correndo atrás do irmão maluco com medo de que a sobrinha fosse linchada em praça pública. É claro que todo mundo olhava para ela, corria e gritava. Dean parecia não perceber... Para ele Samantha era a criança mais bela de todo universo. Imaginava a pequena na escola, cheia de amiguinhos e tirando boas notas.

–---------------------------------------------------------------------------

– Cass, por favor... Me ajuda aqui! – Sam estava vermelho e parecia impaciente.

Castiel foi até a sala com cara de poucos amigos. Será que Sam não via que ele estava ajudando a vovó com os biscoitos na cozinha?

– O que foi dessa vez, Sam?

Dean estava sentado no sofá, emburrado.

– Cass, me ajuda a convencer o cabeça-dura do meu irmão? Ele precisa desistir dessa ideia maluca de levar Samantha pra escola!

– Maluca só na sua cabeça! – protestou o irmão mais velho – Ele quer que a minha filha seja analfabeta, Cass...

Castiel olhou de um irmão a outro, um tanto confuso.

– Mas será que você não percebe que ela é diferente? Como que a Samantha vai segurar o lápis? Dean... Seja razoável...

– Ora, ela já não desenha com o biquinho? Então pode escrever também... Samantha é inteligente... Ela tem o direito de aprender como qualquer outra criança!

– Mas a gente pode ensinar ela em casa... Não é Cass?

O anjo balançou a cabeça afirmativamente.

– Nada disso... Ela precisa se socializar... – Dean olhou para o amontoado de livros de desenvolvimento infantil que o ajudavam constantemente na educação de sua filha. De forma alguma que a menina pularia uma etapa tão importante de sua vida... A fase escolar.

Sam estava cada vez mais irritado.

– Posso voltar pra cozinha... A vovó está me ensinando a confeitar... – Pediu Castiel.

– Você não está vendo que eu preciso de ajuda aqui!? – vociferou o Winchester caçula.

– Mas o que você quer que eu faça...? – O anjo não sabia de fato porque queriam metê-lo em tal discussão.

– Convence o meu irmão que a filha dele é um monstro, e que se for pra escola vai espantar Deus e o mundo!

Ao ouvir tais palavras, Dean pulou em cima do irmão aos socos e pontapés. Como ele se atrevia a falar assim de sua princesinha. Antes que pudesse machucá-lo, entretanto, Castiel apartou a briga. Então era para isso que Sam queria ele ali...

–-------------------------------------------------------------------------

Alguns dias depois...

– Toma aqui, meu amor, a sua lancheirinha...

Lancheirinha... Lancheirinha... No mínimo tinha picadinho de gente e um saquinho de sangue ali dentro. Dean devia era tentar disfarçar a filha de alguma forma, isso sim... Sam olhou a sobrinha de cima a baixo. Infelizmente era mesmo uma tarefa impossível dar-lhe um aspecto mais humano, ou ele teria tentado. Mas como esconder o bico, as asas...?

– Tchau Samanthinha, boa aula! – Desejou Sam a contragosto. Estava com pena da sobrinha agora. Com certeza voltaria para casa chorando, depois de ser rejeitada... Quem mandou ter uma mãe maluca?

Dean, ao contrário do irmão, assobiava animado. Segurou a asinha da filha e levou para ela a pequena mochila com os cadernos. Entraram no Impala e seguiram em direção ao Colégio. Assim que chegaram, Dean saltou do carro e seguiu com a criança até a entrada principal. Via outros alunos também se aproximando. Como eram feios... Dean sorriu por dentro. Sam se preocupava a toa... Todos iriam achar Samanthinha a coisa mais linda do mundo, pois era isso que ela era...