Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 22
O bico vermelho de Seu Sebastião




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– Que linda menina! – exclamou o porteiro do colégio. Dean sorriu embevecido. Ele sabia que Samantha e sua beleza exótica não seriam ignorados... – Qual é o nome dela?

– Saman...

Antes que o ex-caçador pudesse completar, foi cortado pela voz aguda de uma mulher.

– Rosemary... – Disse orgulhosa. Dean olhou aturdido para Astolfo, o porteiro, que sorria.

– Que linda... Que belos olhos azuis ela tem...

Dean então reparou na garotinha loira, que devia ter mais ou menos a mesma idade de sua filha, entrando com a mãe. O porteiro olhava para ela com admiração... Mas que graça tinha Rosemary afinal? Lábios, nariz, braços... Era tão absolutamente comum... Dean não via motivo para que o homem se admirasse tanto.

– É o primeiro dia dela... – explicou a mãe.

Astolfo sorriu para mãe e filha.

– Que legal, Rose... É seu primeiro dia na escola?

A menininha sorriu e balançou a cabeça afirmativamente.

– Mamãe, pode entrar com ela. Espere aqui na primeira salinha à direita, depois do corredor – ele disse apontando.

Rosemary olhou arregalada um lindo parquinho infantil, com balanço, escorrega, caixinha de areia, trepa-trepa...

– Posso ir brincar ali, tio?

– Pode sim, querida. – respondeu o homem – Se quiser brincar enquanto a sua mamãe espera, não tem problema nenhum.

Dean sorriu. Quem sabe Rosemary não se tornaria a primeira amiguinha de sua filha. Talvez Samanthinha quisesse ir brincar no parquinho do colégio também...

– Bom dia! – Exclamou o ex-caçador, assim que Rosemary e sua mãe entraram. – Essa é a minha filhinha, a Samantha...

Astolfo exibia um sorriso largo, que dissipou-se por completo assim que pôs seus os olhos na Bicudin. O homem arregalou-se. Seu queixo caiu. Dean viu assustado o homem cair duro no chão.

– Mama! Mama! – Samantha pareceu se alvoroçar – Ele morreu? Posso comer!?

– Não, minha filha... Acho que só desmaiou... – Dean respondeu, já se abaixando para tentar ajudar o rapaz. Depois voltou-se para Samantha com seriedade - E o que eu te falar sobre comer cadáveres humanos no colégio, hein? Lembra, querida?

– Lembro, mama... Ninguém pode saber... – a Bicudin falou desolada. Astolfo parecia tão apetitoso...

– Por que você não vai brincar com as outras crianças? – Dean então apontou para o parquinho. Samantha abriu um enorme sorriso bicudo. Já ia correr para o parquinho quando os primeiros pingos de chuva começaram a cair do céu.

Dean estava prevenido. Colocou uma capinha de chuva em Samantha, com capuz e tudo. Talvez São Pedro tivesse dado uma ajudinha, com medo do alvoroço que seria Samantha solta pela escola sem nada para tapar-lhe o bico, as asas, e tudo mais...

Depois que a filha saiu para brincar, o ex-caçador chamou por ajuda. A diretora do colégio apareceu e levaram Astolfo para a secretaria para que ele pudesse se recompor. Provavelmente tivera uma crise de pressão baixa, ou algo do tipo.

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Samantha viu maravilhada várias crianças soltas brincando por ali, cada uma com uma capa de chuva de cor diferente. Eram todas mais ou menos da sua idade. Os pequenos que estavam entrando para o pré-escolar junto com ela... Viu também crianças mais velhas, mas estes já se dirigiam às salas de aula, e pareciam felizes, reencontrando os colegas depois das férias. Finalmente ela teria amiguinhos também!

– Nossa, como você é feia!

Samantha olhou para a menina lourinha de olhos azuis que olhava para ela desafiadora. Pelo jeito a tal da Rosemary era uma chata.

– Feia é você! – respondeu a Bicudin resoluta.

– Eu não! Eu sou linda! Eu até já ganhei concurso de beleza... Mamãe me disse que eu ia conhecer crianças feias, mas não imaginei que fosse tanto... Você tem até bico!

Samantha mostrou a língua.

– Eu acho que você que é feia. Feia, chata e boba! E bico é bonito... – Disse a pequena monstrinha. Não tinha baixa auto estima. Seu biquinho vermelho era mesmo bonito... Bonito não: lindo! Mama Dean lhe dizia todos os dias...

Talvez não valesse a pena mesmo ficar perto de uma menininha tão chata. Samanthinha olhou em volta, procurando outra criança com quem pudesse brincar. Viu espantada alguns correndo, chorando e indo ao encontro dos adultos. Os bobocas, pelo jeito, tinham medo de ficar a mais de cinco metros de distância dos pais...

– Vocês estão brigando? – Rosemary e Samantha então olharam para o fofo garotinho ruivo que se aproximou das duas.

– É que ela é muito feia! – Explicou Rosemary. – Olha, ela tem até bico... – Caçoou a menina.

O garotinho olhou para Samantha e estremeceu. Ficou com medo, mas respirou fundo. Não tinha motivo algum para se assustar. Lembrou-se dos ensinamentos da mãe. Todo mundo era diferente...

– O que interessa é a beleza interior! – exclamou, tentando convencer a si mesmo.

Rosemary e Samantha olharam para o menininho perplexas. O que era beleza “anterior”? Nenhuma das duas sabiam...

– Eu sou mais bonita de beleza “anterior” também! – Apressou-se a dizer Rosemary.

– Mentira! – retorquiu a pequena bicuda.

– Qual é o seu nome? – perguntou então o garotinho para a Bicudin.

– Samantha, e o seu?

– Eu me chamo Peter. Quer um biscoito?

Samantha não aceitou. Não gostava de biscoitos... A vovó Hilary já tinha dado alguns para ela provar e era horrível...

– Você quer ser minha amiguinha? Eu não ligo se você tem bico... Ou se não tem braços... – O ruivinho olhava arregalado para o corpinho da Bicudin. Ela definitivamente não parecia ter braços...

– Quero! – respondeu ela feliz.

Rosemary olhou emburrada. Queria ser amiguinha de Peter também, mas não de Samantha. Não gostava de feiura, e aquela garotinha era a mais feia que já tinha visto em toda a sua vida.

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Quando Dean chegou à sala de aula, sentiu-se um tanto deslocado. Era o único homem no meio de tantas mulheres. Acabou sentando-se perto da porta, afastado de todas as outras mães.

Kailey, mãe de Rosemary, também parecia sofrer do mesmo dilema: não sabia onde se sentar. Ela se achava estupidamente bela. Era um ser superior que não gostava de se misturar com os “feios”... A mulher olhou em volta. Viu que uma mãe era muito gorda, a outra magra demais. Uma era nariguda, e a que sentava ao seu lado, conversando animadamente, tinha o rosto achatado... Kailey percorreu os olhos por toda a sala, já sem esperanças, quando finalmente enxergou um “igual”. Dean era lindo e louro. Parecia o boneco Ken. A mulher foi correndo sentar-se ao seu lado.

Não tardou para que a professora e a diretora da escola chegassem para conversar. Estavam na semana de adaptação, não apenas para os filhos, mas também para eles, os pais. As mães, ansiosas, Estavam aproveitando o primeiro dia para perguntar tudo o que lhes preocupava.

Volta e meia aparecia uma criança voltando do parquinho, correndo esbaforida e chorando.

– Mamãe! Eu quero ir pra casa! Tem um monstro ali! – berrou um garotinho.

A mãe ralhou com o pequeno. Mal tinha entrado para a escola e já estava inventando desculpas?

Mas, estranhamente, todos pareciam ter visto o mesmo monstro...

Será que estavam falando do Seu Sebastião? A professora teve pena do funcionário. Que ele era feio, todo mundo sabia... Corcunda, dentuço, verruguento, careca... Já tinha visto crianças com medo dele antes. Aquele ano, após alguns quilos a mais e uns dentes a menos, pelo jeito estava assustando geral.

– Crianças... – Explicou a professora. – Seu Sebastião é um bom homem... Ele pode parecer um monstro, mas é um sujeito muito bonzinho. Não tenham medo...

Kailey olhou pela janela e viu sua filha conversando com outras duas crianças no parquinho. Os únicos corajosos, que não correram do Seu Sebastião... Ainda bem que tinha conversado com a filha. Explicou-lhe que as pessoas, em geral, eram feias. Todas feias, com muito poucas exceções. Rosemary não precisava gostar delas. Kailey mesmo não gostava... Mas também não precisava ter medo de narizes mal feitos e orelhas de abano.

– Aquela ali é minha filha: Rosemary. A de capinha cor de rosa... – Disse Kailey, sorridente, para Dean.

Dean correspondeu o sorriso. Se Rosemary era corajosa, a sua Samanthinha também era. Também não correu do tal Sebastião...

– A minha é a de capinha vermelha. – respondeu o homem, orgulhoso.

– Com certeza as duas mais lindas da escola... Pelo jeito estão fazendo amizade! – a moça então disse, parecendo satisfeita.

Dean concordou feliz. Sua princesinha estava se adaptando muito bem. Tinha certeza de que gostaria da escola.

– Vamos lá, crianças... – Disse então a professora. - Vocês não querem que o titio Sebastião fique triste, querem? Que tal vocês irem lá falar com ele? Tadinho... Ele gosta tanto de vocês...

Os pequenos olharam para a professora perplexos. Eles nunca tinham visto homem mais estranho em toda a sua curta existência.

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Após uma reunião de mais ou menos uma hora, pais e filhos foram liberados. O primeiro dia, ao contrário do que a maioria dos pais pensara, era apenas para uma breve conversa com os responsáveis. O jeito foi carregar as mochilas e merendas de volta para casa. As crianças brincavam felizes do lado de fora quando os pais chamaram-nas para ir embora.

Dean foi o primeiro a sair da sala. Estava ansioso para saber se Samanthinha tinha se divertido. Deu a mão para sua filhinha e acenou de longe para professora. Sorte que a monstrinha usava a capa vermelha, que cobria seu rosto. De longe era impossível distingui-la de uma criança normal.

– Até amanhã! – Disse ele de longe.

O ex-caçador então voltou-se para sua filha. Ela parecia feliz.

– Foi tudo bem, meu amor? Conheceu muitos amiguinhos legais?

A Bicudin balançou a cabecinha afirmativamente.

– Conheci um monte de amiguinhos! O mais legal é o Peter! – disse a pequena animada. Em seguida fez uma pausa, parecendo pensativa.

– Mama... Por que as outras crianças me chamam de tio Sebastião?


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