Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 20
O bebê galináceo




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– Você acha que Dean gostou do presente? – Castiel perguntou para Sam. Parecia apreensivo. Nem sempre era fácil agradar os humanos... Não conseguia entender a forma como pensavam.

– Claro... Claro que sim, Cass... – Respondeu Sam, pouco convicto. O que importava era a intenção afinal, não era?

Enquanto isso, no quarto, Dean encarava o galinácio com desprezo. Pegara a ave apenas para ser deixado em paz, sem maiores discussões.

– O que você está fazendo? – perguntou um tanto irritado para o bicho que ciscava sem jeito aos pés da cama. – Que ave mais burra... Não vê que não vai encontrar nada por aí?

– Có! – respondeu a galinha.

Dean virou-se para o lado e fechou os olhos. Assim que tivesse uma oportunidade transformaria aquela ave estúpida em uma bela canja... Ele não queria a companhia de nada nem de ninguém... Sentia saudades do seu bebê.

Finalmente o caçador deixou que as lágrimas lhe escapassem. Sua vida não fazia mais nenhum sentido... Tudo era feio, sem graça e sem vida quando estava sem sua linda filhotinha bicuda...

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Seu rosto estava vermelho e inchado de tanto chorar. Sentia-se vazio e solitário... Precisava de um abraço, um conforto... Foi aí que Dean sentiu o roçar de penas passando por suas pernas.

– Gertrudes?

Dean olhou a galinha que passeava pela cama e pulou para o chão em seguida.

– Não... Fica perto de mim... Eu não quero ficar sozinho... – Pediu o caçador, com a voz chorosa. Como a galinha não respondesse, Dean foi até ela e segurou-a como um bebê, amargurando a falta que sentia da filha.

– Será que a Samanthinha está bem? – perguntou o caçador, aos soluços.

– Có... – opinou o galináceo.

Dean agarrou a nova amiga com mais força e enterrou a cabeça em suas penas, molhando-as de lágrimas. Até que aquele tinha sido um bom presente afinal... Gertrudes era confidente e fiel.

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– Dá o pé, louro! – dizia o grandalhão, entusiasmado.

A Bicudin não entendeu nada... Aquele sujeito devia ser retardado mental. Talvez pudesse caçá-lo para o jantar. Grande daquele jeito, daria um belo assado.

Bikelly colocou Samantha no chão e aproximou-se de sua vítima. Esperava que o homem se assustasse, gritasse e saísse correndo. E então a Bicudin daria um bote...

O caminhoneiro olhou para ela sereno e sorriu.

– Ahhh, posso levar o papagaio pequeno de volta pro meu amigo? Aposto que ele deve estar com saudades... – E dizendo isso, o sujeito se abaixou e segurou o bebê monstrinho no colo.

Bikelly não pôde acreditar no que viu. Quem era o maluco que queria carregar aquela criança chata dali? Era sorte demais! Inventaria a história de que Samantha havia sido abduzida, e se livraria para sempre da função de babá. A bicuda sorriu para Larry, acenou com a cabeça, e se mandou bem depressa. E foi assim que abobalhado homem conseguiu se livrar da morte...

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Horas mais tarde.

– Toc Toc Toc

Hilary precipitou-se até a porta.

– Dr. Dudley? – Ela perguntou um tanto incrédula para o enorme sujeito que apresentava-se diante dela com uma criança embrulhada no colo.

– Doutor? Eu? – O sujeito riu com gosto. – Não... Eu quase não tenho estudo, senhora. Sou amigo do Dean e vim devolver o papagaio dele, que achei no meio da floresta.

Hilary arregalou os olhos. Papagaio? Pelo jeito, finalmente estava prestes a ver a tão famosa Samantha... A velha sorriu para Larry e aproximou-se do homem. Em seguida afastou a mantinha que cobria o bebê e espiou...

Uma criaturinha muito estranha, bicuda e feiosa olhou para ela com brilhantes olhos verdes. Não, não era uma criança... Hillary sentiu um frio subir por sua espinha.

– O... o que... que... é isso? – Perguntou titubeante. Sentia seus joelhos baterem de tão trêmulos.

– O papagaio do Dean! – respondeu o caminhoneiro, todo feliz por poder ajudar. – Posso entrar?

Não, definitivamente não era também um papagaio... A velha nem se mexeu, horrorizada. Estaria diante de um E.T.?

Larry adentrou o Bunker, entusiasmado. Sam, que estava sentado na sala, espantou-se com a visita inesperada.

– Quem é você? – O caçador perguntou, levantando-se de supetão e encarando o sujeito.

– Prazer, eu sou o Larry! – Respondeu o ele, sorridente. – E eu vim ver o meu amigo Dean. Eu trouxe o papagaio dele de volta!

Sam não entendeu. Papagaio? Mas assim que aproximou-se do embrulhinho reconheceu a pequena e monstruosa sobrinha.

– Samanthinha!! – Exclamou ele com entusiasmo. – Cara, eu nem sei como agradecer. O Dean vai ficar tão feliz...

Castiel, que ouviu a movimentação da cozinha, foi ao encontro dos rapazes e logo se pôs a par da situação.

– Sam, eu discordo, Dean vai ficar furioso... Ele tinha decidido deixar Samantha com os Bicudins, não tinha? Ele não vai gostar do Larry ter tirado a criança de lá...

– Bicudins? – perguntou o caminhoneiro sem entender.

– É um espécie de papagaio... – respondeu Sam.

Hilary, que finalmente havia conseguido movimentar as pernas, enxia-se de coragem. Iria defender os seus meninos daquele monstro...

– Isso não é um papagaio, Sammy, querido! – repreendeu a vovó com a voz firme. – Por favor, não chegue perto! Moço, largue o E.T. do lado de fora. Eu vou entrar em contato com o FBI.

– E.T.? – Larry estava ficando demasiadamente confuso.

Sam olhou para Castiel sem saber exatamente o que fazer. Talvez o anjo estivesse certo. Dean já estava mais calmo, se acostumando com a ideia de ficar sem Samantha... Talvez encontrar com a filha fosse colocar o dedo na ferida. Possivelmente Dean se forçaria a levar a criança de volta à toca dos Bicudins e sofreria imensamente com isso.

– Se livra do E.T.!!! – insistia Hilary com a voz trêmula, telefone em punho.

Larry olhou para Sam e Castiel a procura de apoio. Aquela velha só podia ser doida... Onde já se viu confundir um papagaio com o E.T.? Ele tinha visto o filme de Spielberg ainda garoto, quando saiu no cinema. Fazia muitos anos, mas Larry lembrava-se muito bem da aparência do extraterreste. Em nada se parecia com o bebê papagaio que carregava no colo...

– Dona, esse é o papagaio do Dean... Eu trouxe para ele... Não é E.T... – explicou o caminhoneiro grandalhão.

Hilary não lhe deu ouvidos. Trancou-se em seu quarto e discou o número da polícia.

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A velha já havia ligado para a polícia, e até para o F.B.I. diversas vezes, mas ninguém parecia querer ajudá-la. Ora achavam tratar-se de um trote, ora pensavam ser uma velha esclerosada. Pobre senhora... Desesperada, deu um jeito de pular pela janela de seu quarto. Já fazia um bom tempo que havia deixado os rapazes sozinhos com o monstro, e se preocupava com eles. Precisava que alguém os ajudasse...

Assim que Hilary se viu do lado de fora, andou em direção ao seu carro. Tentava correr, mas suas pernas não a obedeciam. Talvez não tivesse condições de dirigir... Para seu alívio, viu quando um Ford preto estacionou bem em frente. Um senhor de branco desceu do veículo e dirigiu-se à porta do Bunker.

– Dr. Dudley! Dr. Dudley! – precipitou-se a velha.

O homem virou-se para ela.

– Senhora Hilary? Foi com a senhora que falei ao telefone? – perguntou ele.

– Sim, doutor... Você precisa me ajudar! – pediu aflita. – Um rapaz entrou aqui em casa com um monstro horrível no colo. Parecia um pato do mau, todo desengonçado. Eu estou com muito medo!!! Ele está lá dentro com os meninos, e deve ser perigoso!

O psiquiatra ouvia suas palavras atentamente.

– Vem, vamos lá dentro ver o tal monstro... Temos que encarar nossos medos de frente.

A voz do médico soou tão firme e decidida que Hilary concordou. O Dr. Dudley era um homem corajoso.

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Meia hora mais cedo...

Dean tinha finalmente adormecido abraçado a Gertrudes. O barulho que vinha da sala, entretanto, estava demasiado. O caçador abriu os olhos e percebeu que a movimentação não era normal. Deixou o galináceo descansando e, de revolver em punho, seguiu em direção à confusão.

Sam e Castiel conversavam um tanto exaltados. Dean reparou com surpresa, que Larry, seu amigo caminhoneiro, estava na sala com eles, e exibia no rosto o habitual olhar obtuso. E em seus braços...

Os olhos de Dean encheram-se de lágrimas. Não, não podia ser... De repente fez-se silêncio. Sam, Castiel e Larry pararam a discussão e apenas olharam para o rapaz que se aproximava. Dean, entretanto, não enxergava nenhum dos quatro. Era apenas ele e o embrulhinho que Larry carregava nos braços. Estavam apenas os dois no aposento.

Dean caminhou lentamente em direção à criança com lágrimas saltando de seus olhos. Ele estendeu os braços e pegou a filha no colo. Quando olhou seu rostinho, a pequena abriu um sorriso bicudo e falou pela primeira vez: - Mama!

Sam e Castiel estavam às lágrimas com aquela cena tão emocionante. Larry também achou bonito. Nunca vira amizade maior entre um papagaio e seu dono...

Dean chorava como um bebê, abraçado à filhinha.

– Samanthinha, desculpa, a mamãe nunca mais vai te deixar... Eu senti tanto a sua falta... Meu bebê! Eu te amo tanto...

A criança balançava as asinhas com alegria e bicava Mama Dean de leve, alvoroçada.

– Mama! Mama! – repetia ela.

Foi um reencontro e tanto. Larry então contou ao amigo como encontrara a pequena bicuda, e Dean agradeceu-lhe imensamente por tê-la trazido de volta para casa. Não importava que ele não fosse um Bicudin. Samantha era sua filha, e era ele quem tinha de criá-la. Conseguiria sangue, carne humana, o que fosse preciso...

Quando o caminhoneiro já estava pronto para seguir viagem, viu Gertrudes que havia saído do quarto e agora andava a esmo pela sala.

– Que linda! – exclamou o homem. – É irmã da Samantha?

Castiel sorriu com a comparação. Existia alguma semelhança afinal...

– Não, é uma galinha... – respondeu Dean com certa revolta.

– Poxa, um dia eu quero ter um bichinho de estimação também... – suspirou Larry.

Dean pegou a amiga penosa, acariciou-lhe a cabeça, e estendeu-a em direção ao amigo.

– Toma, pode ficar com ela... Gertrudes é ótima companheira, e vai alegrá-lo durante a viagem.

Larry abraçou o caçador com emoção. Nunca havia recebido presente tão maravilhoso... Iria amar aquela ave da mesma forma que Dean amava o papagaio. Embrulhou a galinha como um bebê, assim como Dean fazia com Samantha.

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Antes que pudessem entrar em casa, Hilary fez questão de pegar um pedaço de pau bem grande.

– É para dar na cabeça do monstro! – explicou ela.

Dr. Dudley estava prestes a protestar quando Larry saiu, fechando a porta atrás de si. Em seu colo, exibia um pequeno embrulho.

– Aí está o monstro! – gritou a vovó, apontando para a “criança”.

Dr. Dudley aproximou-se de Larry.

– Posso vê-lo? – pediu o médico.

– É uma menina! – explicou o caminhoneiro, sorridente. Afastou a mantinha de seu rosto. Dr. Dudley arregalou-se ao ver a galinha... Então aquele era o tal monstro, tão perigoso? O psiquiatra chamou Hilary e pediu que olhasse a ave.

A velha, que não sabia da existência da galinha Gertrudes, soltou um gritinho. Não, não era possível... Ela tinha certeza de ter visto um monstro antes... E era apenas um galináceo!

A vovó ria e chorava ao mesmo tempo. Ela estava louca, completamente louca... Dr. Dudley segurou a velha pelo braço e sugeriu que ela seguisse com ele até o hospício mais próximo para um tratamento. Afinal, esquizofrenia é coisa séria...


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