Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 11
A vovó e a alemã psicopata




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Quando Hilary Homes pegou o carro aquela tarde e rumou em direção à Igreja, não fazia ideia do que estava para lhe acontecer. Era uma senhora já de idade, beirando os setenta anos, mas tinha ainda bastante vigor. Há tempos morava sozinha, após a morte do marido. Os filhos estavam casados e os netos até crescidos. Todos moravam longe.

Talvez por isso Hilary frequentasse a Igreja com tanta assiduidade. Era um local de socialização para ela, conhecia todo mundo por lá. Rezava também, é claro, acreditava em Deus. Mas mais do que tudo gostava de ajudar os necessitados, fazer caridade. Só assim tinha um propósito para continuar a viver.

Hilary entrou e observou o belo altar com a imagem de Jesus. Sentia-se em casa ali. Notou como a Igreja estava vazia, ainda era cedo demais para a missa. Estava quieta, concentrada, quando viu com surpresa um rapaz desconhecido entrando esbaforido. Ele era ainda jovem, moreno de olhos azuis, e vestia um sobretudo peculiar. Mais surpresa ainda ela ficou quando viu que ele caminhava em sua direção.

– Algum problema? – Ela perguntou solícita.

Misha havia surgido na Igreja mais próxima. Precisava encontrar uma vovó para consolar Sam, e parecia estar com sorte.

– Você é avó? – perguntou o anjo.

– Sim... – Hilary respondeu desconfiada.

– Por favor, a senhora precisa me ajudar... Sam está chorando muito, inconsolável... Foi abandonado pelo irmão. A senhora tem experiência... Poderia vir comigo para consolá-lo?

Hilary teve pena porque o rapaz parecia mesmo nervoso. Era uma ótima oportunidade para ela ajudar... Ela nem mesmo perguntou quem era Sam. Provavelmente uma pobre criança, talvez vizinho do moço. Um órfão criado pelo irmão, que pelo jeito agora também o havia abandonado.

– Tudo bem. – A senhora respondeu sem hesitar. - Você está de carro? – perguntou.

Castiel respondeu que não. Já ia lhe contar que era um anjo do Senhor, e que poderia transportá-los em uma questão de segundos, quando Hilary apontou para a sua caminhonete estacionada em frente à Igreja.

– Não tem problema, eu adoro dirigir. Venha comigo.

Castiel não teve coragem de dizer que não. A vovó adorava dirigir afinal, e estavam a poucos minutos de distância. Hilary ainda parou pelo caminho e comprou um sorvete para o garotinho. Um sorvete já era um primeiro passo para o consolo.

Quando finalmente Hilary e Castiel entraram em casa, não havia nenhuma criança. Mas o rapaz gigantesco que ali estava, chorava mais que um bebê. A velha ficou espantada. Aquele rapaz devia ter algum problema mental.

– Pronto, Sam, não precisa chorar. A vovó vai cuidar de você! – disse o anjo entregando o sorvete ao amigo sob o olhar assustado da pobre senhora.

Sam pegou o sorvete das mãos de Castiel e enxugou o rosto envergonhado. Precisava se recompor. Castiel só podia mesmo estar doido para arrastar uma pobre velhinha até lá.

– Olá, senhora. – Ele a cumprimentou ainda fungando.

– Oi, querido. Por que está chorando? Eu estou aqui para ajudar...

Sam lançou um olhar indignado ao amigo anjo. Tudo o que não precisava naquele momento era de uma velha para lhe atrapalhar a vida. Queria que Castiel usasse seus poderes para localizar e buscar seu irmão, só isso. O anjo, entretanto, nem reparou na cara de desprazer do rapaz... Estava encantado demais com a vovozinha, e sorria bobamente para ela.

– Eu estou bem, não foi nada... – Sam respondeu secamente.

Castiel olhou para ele surpreso. Não acreditou no que ouviu.

– Ele está chorando porque Dean, o irmão dele, foi embora. Deixou um bilhete de despedida.

– Entendo... – disse Hilary reflexiva. - E você? É o que dele? – perguntou agora para Castiel.

– Amigo.

– Ele mora com o Dean? Só os dois?

– Sim, moram juntos. Mas agora Dean está com uma criança também. Uma recém-nascida.

– E a mãe? – arregalou-se Hilary.

Cas ficou calado, e foi vez de Sam entrar na conversa.

– A criança foi abandonada aqui na porta de casa. Dean foi embora com ela. Não há nada que você possa fazer para ajudar, senhora, mas muito obrigado por tentar.

– Vocês já chamaram a polícia?

Sam estava prestes a mentir e dizer que sim, mas foi Castiel quem se pronunciou.

– Não há necessidade para isso. Eu posso buscar o Dean quando eu quiser... Aliás, vou fazer isso agora. Eu só queria mesmo que o Sam ficasse bem na minha ausência, afinal Dean pediu que eu olhasse por ele.

– Você sabe onde ele está? – Hilary estava muito confusa e surpresa.

Sam arregalou os olhos e pigarreou desesperado quando viu que Cas lhe diria a verdade.

– Não, mas não será difícil encontrá-lo. Eu sou um anjo do Senhor, e eu e Dean temos uma ligação muito forte. É só eu me concentrar um pouco que posso ver onde ele está.

Sam sorriu sem graça, e Hilary estremeceu. Por essa ela não esperava... Aquele rapaz estava mentindo para acalmar o amigo maluco, ou realmente acreditava ser um anjo?

– Um anjo do Senhor? – Ela olhou para o homem, incrédula, tentando observar algum sinal. Talvez ele lhe desse uma piscadela. Castiel, entretanto, confirmou sua afirmação com tanta convicção que ela não teve mais dúvida. Ele era insano, completamente doido, e estava prestes a sair por aquela porta e se aventurar por um mundo cheio de perigos.

– Não... – suplicou Hilary – Não é boa ideia você sair de casa...

– E por quê? – indagou o anjo.

– Porque... Porque... – Ela precisava arranjar uma boa desculpa, e depressa. - Eu estava conversando com Deus ainda agorinha, e Ele me pediu para lhe dar esse recado: Não saia de casa. Não saia de perto do Sam! Dean está bem e vai voltar em breve.

– Você estava falando com o Pai? – os olhos do anjo se encheram de lágrimas.

Hilary acenou afirmativamente, e Sam se irritou. A mulher estava obviamente mentindo. Quem mandou Castiel dizer a verdade? Agora Hilary o achava doido. Teria um enorme trabalho para convencer a vovó a deixa-los em paz, e não queria perder nem mais um segundo. Seu irmão estava em perigo. Então que se danasse a velha.

– Cas, ela está mentindo! Ela acha que você é doido! Vai logo buscar o Dean! – reclamou o caçador.

Castiel olhou indignado.

– Sam, as vovós não mentem! Meu Pai me disse para ficar aqui com você, e eu vou obedecê-lo!

– Que merda, Cas! Aquele bebê do mal vai comer meu irmão! Você não se importa? – o rapaz já tinha lágrimas nos olhos de novo. Dependia da ajuda de Cas para resgatar o irmão, mas o anjo estava inflexível. Se Deus dissera que Dean estava bem, ele acreditava. Creditava também que a vovó nunca mentiria para ele.

Hilary assistiu à conversa horrorizada. Se ainda tinha alguma dúvida sobre a sanidade daqueles dois, agora tinha certeza absoluta: não lhes restava nenhuma. Aquele tal de Dean, com ou sem criança, havia sido muito cruel em largar aqueles pobres doentes sozinhos. Ela mesma iria enviar a polícia atrás dele e tomar conta dos malucos enquanto isso. Não era justo que o rapaz abandonasse o irmão esquizofrênico e fosse viver uma vida feliz e longe de preocupações. Onde teria se enfiado aquele desgraçado?

Enquanto isso, não muito longe dali, o “desgraçado” corria, já sem fôlego, com a filha nos braços. Samantha chorava alto, com o biquinho aberto. As pernas do caçador já não queriam mais obedecê-lo. Ele não aguentaria por muito mais tempo. Ela os estava alcançando, e segurava uma faca na mão.

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Horas antes, Dean havia partido arrastando uma mala de rodinhas e segurando sua filha no colo. Olhou o Impala estacionado e ficou tentado a leva-lo consigo. Seria bem mais fácil chegar ao seu destino de carro: a floresta onde encontrara a sua filha. Talvez na toca da Bicudin Dean pudesse achar pistas de onde encontrar outros da mesma espécie. Iria conversar com eles, mostrar a filha e tentar se enquadrar em sua sociedade.

Suspirou. Não podia levar Baby consigo. O Impala não estaria seguro. Talvez Dean fosse se mudar para a floresta por tempo indeterminado. Além disso, estava largando seu irmão ali. Sam podia precisar do carro.

Decidido, o caçador caminhou até a beira da estrada e colocou o polegar para cima gesticulando para os motoristas. Teria que ter muita sorte, as pessoas não eram mais tão amigáveis como antigamente. Era difícil em tempos de violência conseguir carona. Ou pelo menos assim ele pensava. A primeira motorista do sexo feminino não resistiu àquela visão e parou para ele.

– Está indo para onde? – perguntou Carly, gulosa.

Em direção norte – o rapaz respondeu, cheio de esperança.

– Pode vir comigo – ela disse sorrindo. Se desviaria de seu caminho se fosse preciso, mas nunca largaria aquele homem lindo, desamparado com um bebê no colo, na beira da estrada.

A moça saltou e se ofereceu para segurar a criança para que Dean pudesse colocar a bagagem na mala. O rapaz titubeou. Não podia deixar que vissem sua filha. Quando a moça se aproximou, ele girou o embrulhinho, não deixando que ela chagasse mais perto.

– Ela tem medo de estranhos... – o louro justificou-se sem graça.

Gunda, a alemã, passava pela estrada quando viu a cena. O carro, parado no meio da estrada. A mala aberta, bagagem no chão. O rapaz com o bebê no colo, a mãe tentando recuperá-lo. Aquele casal, sem dúvida, estava brigando... Será que aquele homem lindo precisava de ajuda? Gunda imaginou a moça tirando a criança dos braços do homem e largando-o sozinho e desolado. Ele sem dúvida precisaria de alguém para consolá-lo depois de tudo.

Parou o carro e andou em direção a eles. Para onde levaria aquele homem? Para casa? Talvez não fosse uma boa ideia... A casa estava uma bagunça e Andrea, que morava com ela, era uma biscate. Daria em cima dele com certeza... Quem sabe um chalé? Sim, Gunda conhecia pitorescos chalés para se hospedar não muito longe dali... Poderia pagar por algumas noites e dividir em 10 vezes no cartão. Ela diria que tinha planejado sair de férias com uma amiga, e reservara um chalé. Depois a desgraçada desistira, e ela estava indo para lá sozinha. Hmmm, melhor ainda, planejara ir com o namorado, mas ele a largara por outra. Desgraçado! A alemã teve raiva de um homem que jamais existiu.

Carly achou estranha a reação de Dean.

– Eu tenho jeito com crianças... – insistiu. Dean afastou-se dela, protegendo Samantha.

Gunda aproximou-se mais. Não via a hora de ter aquele homem todo chorando em seu colo. Talvez nem transassem na primeira noite, mas não tinha problema. Ela enxugaria as suas lágrimas e acariciaria seus cabelos até ele dormir. Depois ele esqueceria aquela mulher que o fizera sofrer e se mudaria com Gunda para a Alemanha, onde seriam felizes para sempre.

Gunda acenou para Dean. Parecia que já havia vivido uma vida toda ao seu lado. O rapaz não fazia ideia de quem era ela, mas acenou de volta.

– Muito obrigado por tudo, mas vou com a minha amiga ali. – Dean disse esbaforido para Carly. – Uma enorme coincidência encontra-la por aqui... – Ele falou sorrindo, enquanto já arrastava a mala em direção ao carro da alemã. Talvez a outra mulher não exigisse olhar seu bebê.

Carly xingou baixinho e foi embora maldizendo a sua sorte.

– Ela não levou o bebê? – Gunda perguntou estupefata. Por essa ela não esperava.

– Não, ela é minha filha... – Explicou o caçador.

– E ela não é a mãe?

– Não...

Dean olhou para ela inocente e sereno. Não estava chorando, nem desesperado. Não precisava de consolo, e ainda tinha uma praga de um bebê para tomar conta. O mundo imaginário de Gunda desabara em poucos segundos.

– Me dá aqui esse bebê! – vociferou zangada.

– Não! – Dean respondeu alarmado, protegendo a filha. O que aquela louca pretendia fazer?

O que Gunda pretendia fazer era se livrar da criança para ver Dean sofrendo. Ninguém tinha o direito de esmagar suas fantasias daquela maneira...

O rapaz, vendo o olhar macabro da psicopata, saiu correndo dali com a filha no colo. Largou a mala para trás. A alemã o seguia de perto, vermelha, com os cabelos ruivos e desgrenhados assustando ao vento. Em sua mão, segurava uma faca que arrancara da cintura. Era uma mulher grande e tinha disposição para correr.

O bebê abriu o biquinho e começou a berrar. Dean correu o quanto podia, mas já estava cansado demais. Suas pernas já não o obedeciam. O caçador sentiu seu corpo tombar e seus joelhos baterem no chão com força. Segurou a pequena Bicudin como pôde. Deitado na relva, Dean curvou-se sobre a pequena Samantha para protegê-la, e, em pânico, ouviu o barulho da mulher que se aproximava com a faca.


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