Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 12
Larry e o papagaio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/408033/chapter/12

Deitado na relva, Dean curvou-se sobre a pequena Samantha para protegê-la, e, em pânico, ouviu o barulho da mulher que se aproximava com a faca. Corajosamente olhou para cima, e lá estava Gunda olhando para ele com uma expressão malvada.

– Me passa a criança! – Esbravejou a alemã.

Dean estremeceu. Preferia morrer a entregar a filha. Foi então que viu aliviado e estupefato um homem chegando por trás de Gunda e tirando a faca de suas mãos. Era um homem maduro, bastante alto, forte e um tanto acima do peso.

– Hei! Quem é você? O que está fazendo? – reclamou a mulher, encarando o grandalhão de frente.

– Eu vim fazer xixi aqui atrás da árvore e então vi vocês brigando. Essa faca pode acabar machucando alguém... – ele disse inocente.

Gunda encarou-o com ódio e Dean aproveitou para levantar-se do chão. Com aquele homem por perto, sentia-se seguro. Aquela mulher louca não iria sequestrar sua princesa...

Foi aí que Gunda colocou em prática seus dons artísticos. Já havia participado de peças de teatro amador... Sabia como agir diante de situações como aquela... Enfiou o rosto entre as mãos e pôs-se a “chorar” inconsolável.

– Esse homem roubou minha filha! – Ela disse apontando para o pobre e trêmulo caçador. – Eu só estava tentando pegá-la de volta.

Sorte de Dean que Gunda de fato era péssima atriz. Ninguém engoliria aquelas lágrimas de crocodilo... Ou engoliria?

– Pobrezinha... – Disse o homem colocando as mãos sobre os ombros da moça. – Que cara malvado! Devolve a filha para ela! – Pediu. O grandalhão pelo jeito acreditava em qualquer história...

– É mentira dela! A filha é minha e a raptora é ela! – o louro retrucou revoltado, confundindo o sujeito grandão. Como saber quem estava falando a verdade? O homem olhou para os dois bobamente. Pelo menos mantinha a faca em segurança.

Dean tentou convencer o sujeito contando toda a verdade. Estava pedindo carona com a filha no colo quando a mulher parou o carro. Ele se aproximou, trocaram meia dúzia de palavras. Dean disse que a criança era sua filha, e foi aí que, inesperadamente, a maluca sacara a faca e correra atrás dele para raptar sua menina.

– Essa doida nem mesmo viu minha filha, está mentindo! É uma sequestradora. Aposto que trabalha com tráfego de crianças... Seu lugar é na cadeia!

Gunda apenas fingia chorar, soluçando de forma tão falsa que Dean chegou a ter vergonha por ela.

– Minha filha... – guinchava ela.

Larry, o grandalhão, jazia parado e boquiaberto. Quem estava com a razão afinal?

– Ela nunca viu a criança? – perguntou.

– Não – confirmou o caçador.

– Já sei então... Se ela conseguir descrever a menina corretamente ela é a mãe, e eu vou ajudá-la a recuperar o neném... Se não conseguir, não é a mãe... E você leva a criança.

Dean sorriu satisfeito. Gunda estava perdida, pois como haveria de saber a aparência de sua filha? Depois sentiu uma onda de desespero invadir seu corpo. Não podia deixar que aqueles dois vissem sua princesinha bicuda, o que fazer? Torceu para que a mulher fosse no mínimo sensata e saísse correndo dali antes do confronto. Afinal, ela não tinha mesmo visto a criança...

Gunda enxugou as lágrimas de crocodilo.

– Eu topo. – respondeu convicta. Que dificuldade haveria em descrever um bebê? Eles eram todos iguais afinal. E Gunda tinha visto a mãe da criança... Era mais loura que Dean, e tinha olhos claros. As chances de errar eram mínimas. Levaria aquela criança e acabaria com a raça dela...

Dean estremeceu. Não podia simplesmente se negar a colaborar com plano de Larry, ou seria considerado culpado.

– Ela é linda, fofinha, loirinha de olhos azuis! Agora me devolve a criança!

Dean deu dois passos para trás, e seus olhos, em pânico, revelaram a Gunda que ela estava certa. A mulher riu maquiavélica. Ninguém era tão esperta quanto ela.

– Olhe somente você! Não quero que essa sequestradora veja minha filha – o rapaz pediu.

Larry assentiu e aproximou-se de Dean. Descobriu a mantinha com cuidado, mantendo a criança protegida das vistas de Gunda. O caçador quase pôde ouvir um grito de pavor que se seguiu. Não sabia de fato que reação teria o grandalhão, mas já estava recomposto e disposto a defender Samantha com unhas, dentes e facas.

Larry, ao contrário do esperado, manteve-se calmo. Olhou a criança atentamente e em seguida fitou Gunda nos olhos.

– Essa não é sua filha... Tem olhos verdes... É melhor você ir embora ou chamo a polícia.

A alemã tratou de fugir e nenhum dos dois rapazes foi atrás dela. Dean ainda tremia nas bases e sorriu sem jeito.

– Obrigado por me ajudar...

– Louro quer café! – o grandalhão falou abobalhado olhando Samantha. – Ele fala alguma coisa?

Dean olhou para ele confuso.

– É ela... E ainda não fala nada... É um bebê.

– Adoro papagaios! – Disse o grandalhão sorrindo. – Currupaco! Paco! Paco! – Gritou.

O caçador teria morrido de raiva se não estivesse tão aliviado. Larry era bobo, e achara que sua filha era um louro.

– Qual é o nome dela?

– Samatha Cassidy.

– E isso lá é nome de papagaio, moço? – Larry riu. – Eu tive um papagaio assim que me casei, o nome dele era Currupaco.

Os dois foram caminhado e conversando pelo caminho. Larry contou que era caminhoneiro. Seu caminhão estava estacionado próximo ao local, e ele ofereceu carona ao caçador, que, é claro, aceitou prontamente.

–----------------------------------------------------------------------

Enquanto isso, no esconderijo...

– Quem quer comer os biscoitinhos da vovó!? – Hilary surgiu da cozinha carregando um tabuleiro cheio de cookies quentinhos.

Sam e Castiel discutiam como sempre, e pelo mesmo motivo. Sam queria Dean de volta e Castiel não estava disposto a ir buscá-lo.

– Não quero biscoitos! – respondeu Sam mau humorado. - Quero o meu irmão...

Hilary se aproximou do rapaz.

– Querido, seu irmãozinho está bem, e ele já vai voltar... – Sim, era verdade, Dean não custaria a ser localizado. A velha havia posto a polícia e uns dois detetives atrás dele. Não poderia fugir para sempre... Hilary esticou o tabuleiro em direção à Castiel. Com certeza aquele rapaz adorável não se recusaria a comê-los.

– Obrigado, vovó. Mas eu não como... Anjos não comem. – explicou o anjo.

– Poxa, os biscoitinhos estão tão gostosos... Nenhum dos dois vai comer? – insistiu ela, pegando um dos cookies com um guardanapo. – Prove querido!

Sam estava com fome, e os biscoitos cheiravam bem. Acabou cedendo.

– Hmmm... – disse com a boca cheia. Tinha que admitir, os cookies estavam mesmo uma delícia.

– Vem, Sammy, a vovó vai te contar uma história enquanto você come. Depois você pode tirar uma soneca, que tal?

Hilary mexia nos cabelos de Sam enquanto fazia a proposta tentadora. O rapaz gostava que mexessem em seus cabelos. Dava sono... Bem, já que não tinha jeito mesmo... Até que ouvir uma historinha poderia ser legal... Com certeza seria melhor que as histórias mal acabadas que ouvira em sua infância. As histórias que Dean inventava para fazê-lo dormir...

Sammy deu a mão para a vovó e seguiu para a sala onde deitou no sofá com a cabeça em seu colo.

– E eu? – protestou Castiel. Estava se sentindo rejeitado pela própria avó.

– Ora, você não é um anjo? Não precisa de biscoitos nem de história... Isso é coisa para humanos, Castiel...

Hilary queria com isso que Cass desistisse de vez de sua fantasia sem sentido. Logicamente não sabia que estava ferindo os sentimentos de um anjinho de verdade. Cass, injuriado, sentou-se em um canto sozinho enquanto Sammy adormecia confortável ouvindo “Chapeuzinho Vermelho”.

–----------------------------------------------------------------------

As coisas iam bem entre Dean e Larry. O caminhoneiro estava indo na direção certa e poderia deixar o caçador bem perto de seu destino. Além disso, era uma pessoa bastante tranquila. Não se assustou nem mesmo quando Samantha acordou e começou a berrar.

– Nossa, esse seu papagaio grita! – comentou ele.

Dean sabia que Samantha estava faminta. Quando o grandalhão estava distraído abriu o machucado no pulso e serviu sua filhinha de sangue.

– Cara... Não deixa ele te bicar assim não... – Comentou o homem um pouco assustado quando de relance viu a Bicudin sugando o sangue da “mãe”.

Dean apenas sorriu e não disse nada.

– Não se deve mimar os papagaios dessa maneira, que eles ficam abusados... – completou.

– É que ela não está acostumada com viagens longas... – suspirou o caçador. Sua pobre bebezinha bicudinha estava irriquieta. Pelo menos conseguiu mamar direitinho. Difícil mesmo foi ele conseguir suturar o pulso com o carro em movimento.

– Moço, você está se esvaindo em sangue. O que está tentando fazer? – Larry disse quando percebeu o caçador coberto em sangue e tentando manusear linha e agulha. Parou o carro.

– Não se preocupe, eu mesmo posso suturar isso. Com o carro parado é mais fácil...

– Moço, esse seu papagaio não é muito bonzinho... Quando chegar em casa, bota em uma gaiola... Não deixa esse ficar de crueldade com você assim não...

Dean assentiu. Conseguiu finalmente limpar o machucado e costurar. Quando terminou sentia-se exausto. Recostou a cabeça no carro e não custou a cochilar.

–----------------------------------------------------------------------

– Mas por que você não gosta da filhinha do seu irmão, meu querido?

– Ela é um monstro, vovó!

– Muito feia?

– Muito!

– Descreve ela para mim...

Sam fez cara de nojo.

– Eu nem cheguei a ver direito, porque assim que eu olhei me assustei com o bico vermelho que ela tem.

Hilary sorriu. Ele era tão maluquinho...

– E você, Cass, viu a criança? Ela é um monstrinho mesmo?

Castiel, que estava ainda ofendido em um canto, ficou feliz ao ouvir a vovó chamando por ele.

– Eu vi sim! – Respondeu contente. Poderia descrever a “coisa” para vovó e quem sabe assim ela faria dele o seu predileto.

– Ela é bem feia, toda redonda e gosmenta.

Hilary tentou disfarçar o rizo.

– Gosmenta, Cass... Jura, querido?

– Juro, vovó! – Ele respondeu entusiasmado.

– E o que mais? Tem bico mesmo, como o Sammy falou?

– Tem sim, um bico feio e vermelho. E tem os olhos redondos e verdes. Pelos na bunda e asas de morcego.

O estômago de Sam revirou com a descrição, e Hilary teve que morder a língua para não gargalhar. Os maluquinhos tinham uma imaginação e tanto... Eram tão fofos...

– Nossa, e por que será que o Dean aceita cuidar de um bebê tão horrível?

Castiel e Sam se entreolharam. Não sabiam exatamente a resposta.

– Acho que já cheguei a uma conclusão vovó... – disse Castiel muito sério. – Que o Dean não bate muito bem da cabeça...

Dessa vez Hilary precisou sair correndo do aposento. No banheiro, não conseguia conter as lágrimas. Chorava copiosamente de tanto rir. Imagina se esse Dean soubesse que era isso que achavam dele... Bem feito, quem mandou abandonar os doentes mentais à sua própria sorte... Quando se acalmou a velha voltou para sala. Tinha um objetivo com aquele conversa toda. Queria que Sam e Castiel entendessem que as pessoas eram diferentes e que não deveriam discriminar ninguém por cause de sua aparência física... Vai ver até tinha sido por causa de toda aquela implicância que Dean resolvera ir embora...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mama Dean" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.