Cinza É Uma Boa Cor. escrita por Analu


Capítulo 16
Sobre Aparências, O Erro de "Gostar", Sete Segundos Trágicos


Notas iniciais do capítulo

Beeeeeeeem... demorei. É, quase vinte dias. E no fim, o capítulo nem ficou lá essas coisas, porque me pareceu MUITO pequeno. Eu acho. Eu vou deixar todo o necessário de avisos aqui porque lá no fim tem uma "surpresinha". Então, aqui está:

* Momentos fofos de amizade entre Sam e Gabrieller. Mas é só isso mesmo. Porque eu quis. Yeah.

* "Motherlode" é uma manha do jogo The Sims, para ganhar dinheiro. Só para quem não sabe. Acho que o Armin adoraria ter essa manha na vida real. Como ele dirá, "quem não quer?"

* A frase da lesma é de Jogos Vorazes. Frase mais diwa não há.

Enfim... BOA LEITURA, docinho de chuchu.



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[POV Gabrieller]

– Eu não entendo. - admiti, de uma vez por todas. - Talvez eu não possa ou não queira entender... Ah, mentira. Vou parar com essa coisa de tentar ser poética. Eu não entendo porque você é uma idiota, palhaço, imbecil que não me explica nada.

Sam riu baixinho e escondeu a cabeça nos braços cruzados, apoiados na janela do corredor. Eu estava na janela vizinha, comendo bolachas recheadas. Era hora do intervalo, mas as portas para o pátio estavam fechadas. É o que eles fazem sempre que chove. E tipo, estava chovendo MUITO. Só conseguia pensar em como voltaria para casa com uma guarda-chuva, porque COM TODA A CERTEZA seria mais seguro voltar de carro. Bem, tentei explicar isso ao Skyler, meu meio irmão, mas ele me deu um peteleco na testa e de bônus um "Ah, cala essa boca aí, vai".

Que saco.

No corredor, não havia mais ninguém. A maioria dos alunos estava lá em baixo, no refeitório, na biblioteca, talvez até no porão, e alguns outros estavam espalhados pelas salas. A falta de pessoas causava um quase grande silêncio. "Quase" porque Sam cantarolava, de boca fechada, uma musiquinha bem aleatória.

Aquilo estava me deixando meio tensa. Desde o começo das aulas, Sam Kärlek estava estranhamente calmo, e tipo, aquela carranca diária não estava lá. Não que estivesse sorrindo, mas... ah, você entendeu. Ele PRECISA estar com aquela cara todo dia, ou então algo está acontecendo, e ele não me contou, o que é um grande crime. Estava até com medo de perguntar, mas o fiz de qualquer forma. Minha resposta? "Lembra de todas as coisas tristes que aconteceram até agora?". E foi aí que eu disse que não entendia.

Mas bem no fundo, eu entendia. Entendia que esse loiro esquisito estava triste. E bem sabia que ele não precisava de palavras como "Seja forte" ou "Pode desabafar, cara". Então, tudo que fiz foi dar uns tapinhas carinhosos naquela cabeça oca. Ele soltou um risinho abafado pelo casaco.

– Pra quê isso? Caso você não sabia, eu não sou um cachorro, Gabrieller.

– Claro que não, por favor. Você está mais para um jegue aposentado. O sorriso é igual.

– Vai se ferrar, eu sou um gato.

– Vai se ferrar você, e paremos de ofender os animaizinhos te comparando com eles, ok? Nem um protozoário merece isso.

– Que isso, protozoários são super sexys. Mas não chegam aos meus pés.

– Putz... age como um cachorro, pensa ser um gato, tem o sorriso de um jegue e é tão sexy quanto um protozoário. Você é uma aberração, isso sim!

– Uma aberração com o charme de uma lesma morta. Respeito, por favor. Agora, cala a boca e come essa bolacha aí. Aliás, me dá uma.

Tirei uma bolacha do pacote e coloquei-a na mão estendida dele. Sam levantou a cabeça e colocou aquela porcariazinha inteira na boca, mastigando lentamente. Seu olhar estava distante, bem mais longe daquela escola do que qualquer um poderia imaginar. Óbvio que ele não estava observando a cidade, coberta de névoa nesse momento. Aparentemente, Sam estava processando algo muito maior que Amoris.

Mas então, Sam se endireitou e olhou para mim, bem sério.

– Acha que sou uma pessoa ruim?

– Claro que não. - fui sincera. - Você é incrível. Eu te adoro. Me dá um abraço. - certo, eu estava brincando, mas... ELE FEZ MESMO. Quando dei por mim, estava sendo esmagada num abraço muito esquisito.

– Awn, eu também te adoro, minha vaca! - ele ficou balançando de um lado para o outro, enquanto eu tentava respirar com meus cabelos cobrindo o nariz e não esfarelar as bolachas. Bem, tudo em vão.

– MINHAS BOLACHAS! IDIOTA, PALHAÇO, IMBECIL!! O QUE É ISSO, UMA DEMONSTRAÇÃO DE AMOR?!

– Isso! Vamos mostrar um pouco de amor, Gabi! Eu te amo como uma irmã! - e balançou mais.

– Eu te amo mais! - falei, largando aquela pacote inútil no chão e "retribuindo" o abraço. E com isso quero dizer "agarrando aquela madeixas loiras e puxando para todo lado, depois dando tapas, e soltando palavrões, e ele fazendo a mesma coisa, e nós dois rindo, e xingando a mãe alheia". E aí...

E aí chegou o Maihca, de Algum Lugar.

– Hey, caras!

Maihca Eden Ausfall é um cara do 2º ano, que de tempos em tempos (ou seja, quando dá na telha dele) invade o treino do clube de futebol da escola e joga junto. É daí que conheço ele. Alto (mais que o Sam), cabelos castanhos escuros e curtos, meio onduladinho, olhos verdes que derretem todas as meninas e um sorriso... oh, droga!, aquele sorriso é... tá, não que eu goste dele, mas vamos admitir que o cara é maravilhoso. Além disso, ele é super simpático, educadinho e divertido. Só que, como você viu, tem a tendência de aparecer quando não deve.

Se bem que não estava acontecendo nada aqui.

– Gabrieeeeeeeelle! - Ah, esse maldito sempre esquece o maldito "R". - O pessoal do time quer falar com você.

Estava meio difícil de olhar para ele, já que eu - ainda - estava presa nos braços do loiro idiota. Fiz o melhor que pude, mas pareceu que, quanto mais eu me mexia, mais apertado ficava. Poxa, Sam: não custa nada me largar, hum?

– É-é para o-ontem? - indaguei com dificuldade.

– Nope, eu acho. Eles só me falaram issoooooo...

– E-então diz que eu falo c-com eles depois... ai.

– Yes, my Lady! - e dito isso, ele deu meia volta, seguindo pelo corredor cantarolando como se estivesse em casa. E Sam? Ah, ainda não havia me soltado. Impressão minha ou ele está estranhamente CARENTE hoje?

– Sam. - chamei-o. - Está tudo bem com você?

Ele me olhou: - Acordei com a impressão de que precisava abraçar alguém, e tal. Tentei com a Agatha e não deu certo. Então estou tentando com você.

– E...?

– Não sei. - ele parecia triste novamente.

Vou resumir o que aconteceu depois disso: nós voltamos para a aula, trememos nas bases com o NOSSO professor de História/Teatro, Dimitry (ou o "Vampiro", como chamam por aí), trocamos mais algumas palavras (achei estranho que nenhuma delas era sobre a paixonite dele. O que está acontecendo?), fomos liberados das aulas e fui falar com meus colegas de futebol, na esquina da escola. Não estava mais chovendo, o que era bom. Nublado, mas não chovendo. Sobre a conversa: nada importante, na verdade. Apenas um problema com bolas gastas e campeonato chegando. Quando a conversa terminou e me virei para a direção do portão da escola, vi Sam na calçada.

Se eu pudesse ver o futuro... ou se pudesse mudá-lo...

[POV Lieto]

E lá estava eu, de novo, sendo incomodada pelo Monochrome. Ele não me poupou nem na saída da escola. Passou a aula toda me olhando de forma estranha, e assim que teve chance começou a me seguir pelos corredores da escola. Eu fazia todo o possível para não estrangulá-lo ali mesmo, apertando meu cachecol azul escuro com força. Mas estava difícil.

– O que eu preciso fazer para conseguir uma resposta decente de você, Lieto? Mais um beijo? Um cartaz bem grande escrito "Eu te amo"? Outro tipo de prova? Só me diz que eu faço, mas por favor, não me deixe sem resposta.

Suspirei, parando de andar. Falei então, bem baixinho: - Você não precisa provar. Eu sei. Só não quero cometer o mesmo erro que você.

– Por que gostar de você seria um erro?

– Não é gostar de mim. - expliquei. - É gostar. Simplesmente gostar ASSIM de alguém. O que você está ganhando agora, estando apaixonado por mim?

– ...

– Exatamente. Nada. Só está perdendo tempo e energia.

Eu não ouvia nem sequer a respiração do garoto atrás de mim. De certa forma, eu me sentia mal por cortar a situação com uma faca tão afiada, mas era necessário dar um fim àquela situação. Mas achei que ele merecia no mínimo uma resposta.

– Se quer saber, Armin, eu também gosto de você. Só que as coisas são funcionam, entende?

– Não. - ele respondeu. - "Você e eu". Não rima, mas combina. Nós podemos tentar.

– Não podemos. Quando isso terminar, nós dois estaremos machucados, e eu não quero isso. Nunca mais.

E saí andando. Desculpe, sinceramente, se sou uma criatura assexuada. Mas eu não suportaria mais um namoro desastroso. Meu último e único namorado até hoje me faz querer saltar do 8º andar de um prédio, só de pensar nele; meu pai deixou bem claro que amor não é para todos; Rosalya, com aquele namorado dele, me prova de que mesmo o amor tem muitas falhas. Então, por que eu perderia meu tempo com isso? Amor não me manterá viva. Ninguém vive de amor.

– Sempre malvada. - ouvi Armin comentar no momento em que saímos do prédio.

– Sempre. - respondi, atravessando o portão da Sweet Amoris. - Se não se importa, eu tenho que ir trabalhar. Tra-ba-lhar, entendeu? Ganhar dinheiro, ser independente. Sabe o que é isso?

– Dinheiro? Só ouço falar, nunca tive, não tenho e talvez nunca terei. - ele brincou, me fazendo suspirar. - Bem, eu vou trabalhar também. Trabalhar no The Sims, claro. Embora eu não precise, porque o Motherlode resolve todos os meus problemas. - ele colocou os braços atrás da cabeça e riu. - Eu queria uma manha como o Motherlode. Aliás, quem não quer?

– É. - respondi, meio sem entender do que diabos ele falava. Balancei meu guarda-chuva transparente, meio triste por não precisar usá-lo. - Vou indo. Até.

– Bye, bye, Miss Coffee. - ele acenou dramaticamente.

Foram apenas dois passos antes de ouvir uma voz conhecida gritando. A voz de Gabrieller. Ela vinha correndo da esquina a toda velocidade, gritando "Sam! Sam, espera aí!". Olha, falando em trabalhar... busquei com os olhos o filho da minha chefe, apenas para encontrá-lo prestes a atravessar a rua. "Prestes" não. Atravessando a rua.

Aquilo deve ter durado uns sete segundos: primeiro, os gritos da Gabrieller. Depois, um apito bem alto, talvez do guarda que está sempre ali. Tão logo, barulhos de freada muito fortes. Outro barulho, de algo caindo.

E então, quando dei por mim, lá estava Sam Kärlek, atirado no asfalto com um carro preto quase totalmente em cima dele.


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Notas finais do capítulo

R.I.P Sam.