Cinza É Uma Boa Cor. escrita por Analu


Capítulo 13
Uma Foto Desprezível, Corra Até A Sua Lasanha!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo totalmente sem emoção... acho que nem a revelação do nome da Granada salva esse capítulo do desastre... acho que nem aquela situação constrangedora no ônibus salva...

Leia por conta e risco.



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[POV Armin]

O passeio em si não foi grande coisa. Nem vou dar maiores detalhes, porque você provavelmente dormiria enquanto conto. Basta você saber que quando chegamos às pedras históricas, achei que meus pés estourariam.

Toda a turma, junto com professor Faraize, subiu um morro enorme, com as mochilas pesando nas costas e contando apenas com os pés e o equilíbrio. Foi difícil. Difícil e estressante. A todo momento, alguém reclamava de alguma coisa, fosse a dor nas pernas, fosse os mosquitos. Ambre foi a que mais reclamou. Tudo a desagradava, e sinceramente pensei que ela pediria para alguém carregá-la até lá em cima. Bom, era só o que faltava.

No entanto, chegamos ao nosso destino inteiros. Ninguém morreu ou se perdeu no caminho. Assim que o professor mandou todos pararem, me atirei no chão, deixando meus pés descansarem um pouco, e coloquei a mochila ao meu lado. Praticamente, todos à minha volta fizeram o mesmo. Assim, éramos um bando de zumbis com os pés prestes a explodir, gemendo e pedindo água.

Dois minutos para recuperar o ar e o professor já estava pedindo para todos pegarem seus cadernos e canetas porque ele iria ditar um texto sobre aquelas pedras que, sinceramente, não pareciam especiais para mim. Lieto então parecia que ia derreter de tanto tédio (possivelmente porque, como ela já me disse, sabia tudo sobre aquele lugar). Aliás, não era só ela. Mas todos escrevemos, pois talvez aquilo fosse virar uma prova, futuramente. Vai saber.

E se a ida foi horrível, a volta foi pior ainda.

Todos estavam cansados, e se jogaram na primeira poltrona que viram no ônibus. Admito que fiz o mesmo. Dessa forma, terminei sentado na ponta, do lado esquerdo, com Marcheline no meio e Dakota na janela, em uma das primeiras fileiras.

Ótimo lugar, realmente. A doida varrida e o pegador simpático.

– Aaaaah, quero voltar para casa! - Marcheline mexia os pés, choramingando. - Estou com sono, estou com fome, vou morrer! Preciso da minha cama, agora! - e chorou mais.

Dakota, ou Dake, parecia achar graça da situação dela.

– Calma, ok? Logo, logo estaremos em casa. Apesar de que Amoris para mim não tem cara de casa.

– Eeeeeh? Por quê? - ela parou de falar um pouco para questionar Dake, com os olhinhos liláses brilhando (talvez pelas lágrimas?).

– Não tem praias lá, sacou? - ele explicou. - Para mim, tem que ter praia. Senão, não é um lugar bom.

– Huuuah, mas tem várias sorveterias. É isso que importa, uh? - Lily respondeu, agitando as mãos e estapeando meu rosto no processo algumas vezes. - Se tiver sorvete, quem precisa de água salgada e cheia de tubarões, hein? HEIN?

– He, para mim é o contrário.

– Mas se quer água salgada, é só colocar um pouco de sal em um copo, depois jogar água dentro! É tão mais fácil!

– Você não entendeu. - Dake riu de novo.

E eles continuaram discutindo. Ela defendendo a venda de sorvete, ele, as praias. Para mim tanto faz. Sorvete geralmente me dá dor de garganta, e praia? Puf, odeio também. A areia, principalmente. Ninguém sabe de onde vem, e entra em lugares de onde não dá para tirar, igual vírus de computador. Eu até já gostei de praias. Não gosto mais.

Minha cara já estava ardendo um pouco por causa dos tapas de Lily, e eu estava prestes a reclamar quando alguém cutucou meu ombro. Era Lysandre.

– Vejo que está em uma situação bem desagradável, Armin. - ele também parecia achar graça daquilo, mas se conteve. - Estou lá atrás, com Violette, que está dormindo, portanto, acho que você ficaria mais tranquilo. Quer mudar?

– O Faraize não reclamou de você estar em pé?

– Ele me pediu para vir te ajudar.

Olhei mais uma vez para aqueles dois. Ainda a mesma discussão. Sempre pensei que Dakota fosse um cara esperto e tudo o mais, mas agora ele estava discutindo fervorosamente com uma menina com um parafuso a menos. Bom, não posso culpá-lo: Lily tem o poder de fazer todos entrarem nos joguinhos (idiotas) dela. Suspirei, peguei minha mochila e segui Lysandre, comentando:

– Nem sei porque exitei.

Chegando ao meu novo lugar, vejo Vivi com a cabeça apoiada no vidro, usando o casaco dobrado de Lysandre como travesseiro, dormindo bem tranquila (apenas uma palavra para descrever a cena: "awn".). Lysandre senta no meio, e eu, no banco que estava vazio. A conversa no ônibus não estava muito alta, e o sol não estava muito forte, então o ambiente se encontrava bem agradável.

Perfeito para se afundar em memórias ruins.

Busco na mochila, mais precisamente no bolso mais fundo que há, uma foto. Um pedaço de papel ridículo, que deveria ter encontrado seu fim nas chamas que dançavam na lareira, durante o último Natal. Aquela foto só estava ali porque apesar de tudo, não quero me separar dela. Ainda. Lembro bem como foi quando tentei queimá-la... Um desastre. Por várias vezes, aproximei minha mão do fogo, querendo jogar aquele papelzinho infeliz ali, mas não rolou. Ou a mão não ia, ou os dedos não soltavam a foto. Alguém deveria ter gravado, pois foi até que hilário.

Alcanço a foto e trago-a para respirar um pouco de ar. Desdobrou-a, e vejo a menina presa para sempre ali.

Loira, com os cabelos lisos um pouco abaixo dos ombros, olhos verdes meio azulados e com um sorriso inconfundível. Usando um vestido branco até os joelhos, cheio de rendinhas e frescuras, fazia sinal de paz com uma mão, enquanto segurava suas sandálias com a outra, deixando seus pés afundarem na areia; uma convidada especial da família Monochrome para o fim de ano na praia (da época em que eu gostava de praia). Atrás dela, os fogo de artifício explodiam em seus tons de alegria no céu noturno.

Audrey Lattobia adorava ver os fogos na praia.

Nessa foto, ela parece feliz. Nem parece que cinco semanas depois disso ela terminaria nosso namoro de forma tão terrível. Digo, que EU terminaria. Afinal, foi disso que ela me acusou, desde sempre. Segundo Audrey, o culpado pelo que aconteceu foi só e exclusivamente eu.

Sim, como se ELA não tivesse...

– Não quero ser intrometido, mas posso perguntar quem é? - Lysandre, ao meu lado, olhou para a foto com seus olhos heterocromáticos. Olhei para ele também, e percebi que fazia um carinho bem leve nos cabelos de Violette. Quando percebeu que eu estava vendo aquilo, tirou a mão rapidamente.

Tudo bem, Lysandre. Você não precisa mais esconder isso de nós.

– Hum, ela? - pergunto retoricamente, tentando afastar o constrangimento do meu colega de cabelos platinados. - Ela é... ela é... Ah, nem eu sei quem ela é.

– É bastante semelhante à nossa Lieto, não? - ele já havia voltado ao normal.

– Sim... infelizmente. Espero, realmente espero, que elas sejam parecidas apenas na aparência. Se tiverem os mesmo pensamentos... - suspirei pesadamente.

Aquele assunto sempre me deixava cansado. Esgotado, na verdade. As feridas causadas por aquela menina em mim ainda não haviam cicatrizado; quando eu pensava que estavam curadas, fazia um movimento errado e elas abriam de novo. E o sangue? Jorrava. E era impossível estancar, então, o negócio era deixar o sangue parar por si próprio, mesmo que o chão atrás de mim ficasse completamente sujo. Era apenas consequência. Que limpassem o chão, que ignorassem os ferimentos; eles continuariam ali de qualquer forma, incuráveis. E que eu me danasse no fim; é fácil ignorar a dor alheia.

– Mesmo depois de todos esses meses estudando juntos, não posso dizer que somos amigos, Armin, - Lysandre falou de repente - mas... sei quando alguém está tendo pensamentos dolorosos e... sabe, se quiser falar algo agora, sou todo ouvidos.

– ... acho que não, valeu.

– Você que sabe.

Ele ficou em silêncio. Lentamente, voltou a mexer nas curtas mechas violetas de Violette (ah, sério?), parecendo cauteloso sobre seus movimentos. Ou ele não queria acordá-la, ou não queria chamar a atenção, ou então estava em dúvida sobre o que estava fazendo. Acho que um pouco de cada.

Então, do nada, o ônibus deve ter passado por um buraco, porque todo mundo deu um pulo no banco, e a foto caiu da minha mão, indo para ao lado dos bancos da frente (aaaaaargh!). Eu me apressei para pegá-la, mas já era tarde demais: Ambre havia visto a foto e tirado conclusões erradas:

– Uma foto da Lieto? Por que você tem isso, Armin?

– O quê? O Armin tem uma foto da Lieto?! - Rosalya.

– Você tem uma foto minha? - Lieto (anormalmente calma).

– Que romântico, cara! Não esquece do meu convite pro casamento! - Lars.

– Ah, cala a boca, você não sabe nada sobre amor! - Maria Antonieta.

– Quê?! Tem gente namorando e eu não estou sabendo disso?! - Peggy.

– Quem está namorando? - Melody.

– A Lieto e o Armin! - Kentin.

– Não estamos namorando. - Lieto (ainda calma).

– Meu irmão tá namorando?! Milagre divino! - Alexy.

– Não estamos namorando. - Lieto (calma...).

– Você tem até uma foto dela! - Ambre.

– Não é dela! - eu.

– Alguém viu meu batom? - Li.

– O que está acontecendo? - professor Faraize.

– PRAIA! - Dake.

– SORVETE! - Marcheline.

Ah... apresento a você apenas mais um dia absolutamente comum estrelado pelos alunos bizarros da escola Sweet Amoris. Não fique achando que essa situação pra lá de constrangedora é incomum, ok? Dá para ver algo assim todo dia. É um dos motivos de eu não ter me arrependido completamente da mudança. Meus dias não eram tão divertidos na escola anterior, pode crer.

[POV Gabrieller]

Parada em frente à escola, ao lado de um Sam prontinho para ir embora, observei os ônibus chegando. Já estava quase na hora da saída, e boa parte dos alunos estava de bobeira no pátio. Eu não sabia parar que ônibus olhar, pois a turma 1-C podia estar em qualquer um dos três. Além disso, não sabia QUEM, exatamente, eu estava procurando. Quando a porta do ônibus à esquerda abriu, Sam cutucou meu ombro:

– Ali, olha. Lieto está naquele lá.

– Ah, certo. - respondi. - E como vou saber como ela é?

– Hum, ela tem cabelos... e tem olhos.

– Ótimo. Agora eu vou achá-la com facilidade. - ironizei, rolando os olhos.

Sam deu uma risadinha, e cruzou os braços. Poucos segundos depois, ele deu a informação certa:

– Certo, os cabelos são compridos e loiros, parece que tem leite nas veias no lugar de sangue e... ah, ela tem uma bolsa que você provavelmente queria ter.

– Ok... Ah, seria aquela lá? - apontei para uma menina que descia naquele momento. Estava ao lado de uma outra menina de cabelos brancos e longos, e tinha todas as características que Sam apresentara.

– Ela mesma. Agora, é com você, certo?

– Certíssimo.

Sam riu e se virou para ir embora. Enquanto caminhava, ele falou alto, para que eu ouvisse:

– Estou confiando em você, o que desde já é um grande erro. Não me decepcione, Gabi.

Não respondi. Apenas esperei o loiro se afastar e caminhei lenta e cuidadosamente até aquela menina, que tinha se afastado um tanto de sua turma e mexia no celular. Digitava furiosamente.

Como eu faço?, pensei. O que eu digo? Não sou tão cara dura quanto o Sam!

Mesmo assim, fui chegando cada vez mais perto até estar do lado dela. Olhando agora, de perto, pude ver que ela tinha olhos verdes, e era poucos centímetros menor que eu. Ela nem notou minha aproximação; estava ocupada demais falando sozinha e digitando.

– Hã. - eu disse, sabiamente. - Você é a Lieto?

– Sim. Eu sou a Lieto. - ela não olhou para mim. - E você, quem é?

– Gabrieller.

– Quem? - agora, ela levantara os olhos do aparelho e me encarava como se eu tivesse falado algo em outra língua. - Gabri... elleR? Com R?

– Isso! - ah, eu fiquei radiante. - Finalmente alguém que entendeu de primeira! Bem, enfim, eu sou colega do Sam. Sabe quem é, né?

Ela bufou. O gesto fez uma mecha de seu cabelo, que estava caindo no rosto, voar para cima depois retornar ao lugar. Ela guardou o celular na bolsa e respondeu:

– Sei. Infelizmente, sei.

– "Infelizmente"? Por quê? - bem, já estávamos no ponto: falar sobre meu amigo loiro.

– O nível de esquisitice dele me perturba. Mas afinal, o que uma COLEGA daquela criatura quer comigo?

– Nada demais. É que ele falou tipo, TÃO BEM de você que fiquei curiosa para saber se era verdade.

– Ele deve ter aumentado a coisa. Não sou tão legal assim.

– Pois para mim, parece.

– O mundo está cheio de atores, Gabrieller.

Uh... acho que, com essa, a conversa termina. Tipo, não tem como responder algo assim. Será que... ela fez de propósito, para se livrar de mim de uma vez? Não, ela não parece ser assim. Sem saber o que responder, apenas fiz sinal de positivo e balancei a cabeça como "sim" desanimadamente. Lieto, por sua vez, deu um tapa na própria testa e resmungou um "Ah, cara, eu fiz de novo".

– Eu não quis falar isso, ok? É que eu tenha a estranha mania de falar coisas que acabam com uma conversa. - ela explicou.

– Tudo bem. - garanti. - No fim, você é legal, sim. Ainda pretendo conversar mais com você, mas agora não dá. Tenho que ir.

– Ok...

Acenei para ela, que acenou de volta. Saí correndo na direção oposta à que Sam fora. Eu não podia chegar tarde em casa, afinal, eram, além de mim, quatro bocas famintas por lasanha, e se eu me atrasasse... nada de lasanha para a Gabi. Principalmente quando sua meia-irmã mais velha não vê problema em te dar um golpe de kung fu para comer a sua fatia, ou quando a seu meio-irmão mais velho simplesmente te ergue pela blusa e chega antes de você no prato.

Minha vida é dura. Sejamos sinceros.


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Notas finais do capítulo

Eu ODEIO lasanha. Para mim, é difícil de engolir. Mal consigo mastigar. Me julguem.

Ah, pessoas! Deixem-me contar uma pequena história sobre a família da Gabrieller: inicialmente, eu pretendia fazer o pai da Gabi um bêbado idiota e ignorante, até agressivo de vez em quando, mas aí bati um papo com uma antiga professora minha, que me incentivou a praticar minha escrita, e ela me deu essa ideia muito louca. Portanto, se a coisa parecer sem pé nem cabeça, não me culpem! É que a ideia era boa demais para se jogar fora! XD

Hum... alguém reconheceu a frase do Armin sobre a areia? Veio do Drew, de Todo Mundo Odeia o Chris. Existe frase mais sábia?

E aí? O que acharam de não precisar mais chamar a Audrey (eca.) de Granada? A curiosidade ficou mais forte?