(Isabella)

Tinham passado quatro dias desde que Petrus tinha recebido alta. Estava a trabalhar arduamente lá em casa e tentava treinar sempre que possível. O estado de Petrus estava cada vez melhor, as suas feridas já estavam fechadas e ele já não tinha dores algumas. Ana também já tinha voltado, estava muito bem, sempre com um sorriso estampado no rosto. Eu achava que as coisas estavam calmas demais, mas mais valia estar calada e nem sequer pensar no assunto. No entanto, o negativismo era um defeito que eu tinha enraizado na minha personalidade. Não podia negar, Kiba fazia falta no meu quotidiano, não só devido ao treino, mas também pela sua companhia e pelas nossas brincadeiras. Yuki tinha-me ligado dizendo que o casamento se mantinha de pé e que Kiba mandava cumprimentos. Imaginava o estado dos dois. Era amor não correspondido das duas partes. Ao quinto dia do regresso de Petrus, eram por volta das onze da noite quando Simão nos chamou a todos à sala.

— Isabella, Petrus, tenham muito cuidado. Sinto uma energia negativa muito forte.

Ficamos os dois a olhar um para o outro com cara de quem não estava a perceber a maior parte da história. Para além disso, eu não conseguia sentir nada e pelos vistos, Petrus também não.

— Mas não sabe mais nada em concreto? – perguntou Petrus.

— Não, não sei de mais nada.

Pedi licença e saí. Dei por mim no jardim. Cruzei as pernas e sentei-me na relva. O céu estava estrelado e a lua estava linda, cheia, brilhante. Aquele cenário não era nada adequado à situação. Petrus veio atrás de mim e sentou-se ao meu lado, em silêncio. Passados alguns minutos perguntei:

— Embora eu tenha uma noção, o que achas que o Simão queria dizer com aquilo?

— De certeza que é algo relacionado com a Valéria, mas muito sinceramente não sei qual é o plano dela agora. Já foi derrotada tantas vezes, já falhou tantas vezes, que eu nem sei como é que o Luther ainda tem confiança nela…

— Tens razão… – embora eu demonstrasse aquela confiança toda enquanto lutava, por dentro sentia sempre aquele medo de não conseguir proteger quem mais queria. Esse medo atormentava-me, perseguia-me.

— Isabella o que se passa?

— Hum? Nada…

Encostou-se a mim e rodeou-me com os seus braços. Há muito que não sentia aquela paz, aquela serenidade de estar ao seu lado daquela forma. Ouvimos algo a quebrar no interior de casa. Por momentos ficamos assustados mas logo pensamos que seria algo na cozinha ou alguma coisa parecida. Mas houve um segundo barulho e esse sim, foi maior. Ambos nos levantamos e olhamos para todos os lados. O interior da casa estava completamente escuro, nenhuma luz estava ligada, o que não era normal. Decidimos entrar. Fomos à cozinha, mas ninguém lá estava. Fomos à entrada e estava vazia. Fomos por fim à sala e cada um dos nossos amigos estavam pregados à parede pelas pontas das suas roupas por pequenas facas. Eles pareciam querer falar mas não conseguiam emitir nenhum som.

“Então era disto que o Simão falava…” – pensei, mas nunca julguei que viesse a acontecer tão depressa.

Ouvi um pequeno ruido e Petrus já não estava ao meu lado. Estava no lado oposto da sala na mesma situação que os outros. Embora tivesse a minha Voz, os meus instrumentos e os Elementos, não tinha as minhas armas, no fundo sentia-me um pouco desprotegida. Em pensamento pedi proteção à minha Rainha.

“Mas quando é que isto vai terminar?” – questionei-me.

A Valéria apareceu, como sempre, na sua fumaça vermelha.

— Estás metida numa grande encrenca, Isabella. Como é que te vais safar desta?

Mas afinal qual era o objetivo dela?

— O que é que tu queres Valéria?

— Já sabes, não sabes? Bem, mas agora diz-me, vais escolher salvar os teus amigos ou o homem que amas?