Percy e Annabeth saíram da cafeteria, e agora andavam pelas ruas de New York, em silêncio. A chuva finalmente parou, mas mesmo assim as ruas ainda tinham água por todos os cantos imagináveis. Lewis ainda estava preso por entre os carros, como sempre acontecia quando havia uma batida em Nova York.

Percy e Annabeth estavam quietos, até que o celular do moreno começou a tocar. Ele atendeu, e viu a palavra "Pesadelo Ruivo". Era melhor Percy mudar aquilo antes que Rachel visse.

– Rachel? - Percy falou.

– Percy - Rachel suspirou

– Preciso falar com você.

– Hum, pode falar.

A ruiva deu uma pausa.

– Percy, eu não queria ir, mas agora já é tarde.

– O que? - Percy falou confuso.

– Eu sinto muito, mas meu pai que quis isso! Eu não pedi nada, até neguei...

– Rachel, você está começando a me assustar... Onde você tá?

Percy ouviu a ruiva engolir a seco.

– No aeroporto. - ela disse - No avião, na verdade.

– AVIÃO? QUE AVIÃO, RACHEL ELIZABETH DARE? Annabeth deu um pulo com o grito de Percy.

Os dois pararam de andar, e Anna observou o amigo. Os olhos arregalados, a mão quase partindo o celular, e sua testa começou a suar um pouco.

– Percy, eu... - Rachel disse, mas parou. Percy ouviu um "senhores passageiros, desligar celulares". - Eu tenho que desligar. Eu vou viajar pra longe, então... Tenho que dizer que... o nosso namoro acabou. Tchau, Percy. Vou ver você em breve, prometo - e desligou.

Percy estava sem expressões. Nem triste ou feliz. Ele engoliu a seco, e colocou o celular no bolso.

– Percy? - Annabeth chamou, e Percy não respondeu, apenas olhou para a loira - O que aconteceu? Você está bem?

– Converso com você em casa - ele disse, suspirando.

Ele passou as costas das mãos sobre os olhos, fingindo que apenas coçava-os. Só que Annabeth viu uma mísera lágrima caindo, e seu coração doeu um pouco.

– Percy - Annabeth falou - O. Que. Aconteceu?!

– Annabeth, não foi nada demais, eu... - naquele momento, o celular de Percy fez um barulho, que avisava que havia chegado uma mensagem.

Annabeth pegou o celular do bolso de Percy bem rápido, vendo a mensagem que tinha acabado de chegar. Ela não tinha motivo de ela estar agindo assim, certo? Errado. Algo a fazia querer proteger Percy... Mesmo se mal o conhecesse. Era como um instinto protetor.

A mensagem era de Rachel. Dizia "Eu sinto muito por ter que te abandonar, me perdoe". Annabeth sentiu algo doer dentro de si, e agora quem quase partia o celular era ela.

– "Eu sinto muito por ter que te abandonar, me perdoe"? Percy, o que isso quer dizer? - Annabeth falou, olhando com a sobrancelha arqueada para o amigo.

– Por que motivo tenho que te dar satisfação?!

Annabeth encarou Percy com raiva.

– Porque você me derrubou naquele maldito aeroporto, e só por isso me levou junto com Thalia para a sua casa. Olha aqui Percy, eu só estou tentando te agradecer, entendeu? Você nos deu abrigo, comida, e até motorista de graça! Por algum acaso, você acha mesmo que vou deixar você ter milhões e milhões de problemas e eu não vou fazer nada?

– Você está agindo como uma criança, Annabeth.

– Por tentar ajudar você?! - Annabeth deu um empurrão no peito de Percy - Por querer que você fique bem?! - mais um empurrão - Por querer que você não se incomode? - mais um - É por isso que eu estou agindo como uma criança?

Annabeth ia dar um murro no peito de Percy, mas ele foi mais rápido e segurou a mão dela e a puxando devagar, fazendo com que eles estivessem mais próximos do que desejado.

– Não, não é por isso - o moreno disse - É por querer saber mais do que pode - ele suspirou, e deitou o rosto na cabeça de Annabeth, que encostou a testa no lugar que Percy quase havia levado um soco.

A rua estava incrivelmente vazia e silenciosa, o tipo de cenário de filmes românticos, onde o casal ficam abraçados em silêncio, vivendo um amor impossível. Igual a situação de Percy e Annabeth.

[...]

Em casa, Tyson e Thalia estavam preocupados. Percy e Anna ainda não haviam chegado, e Thalia quase ligava para a polícia. Porém Tyson a impediu.

– Thalia, eles estão bem - TV disse, colocando a mão no ombro da punk - Os dois irão chegar logo, o.k? Não se desespere.

– Tyson, acorda pra vida! Já são três da tarde, eles já deveriam ter chegado há milênios! E é tudo culpa daquele filho de uma pu... Do Luke, aquele merda do fundo do tártaro!

– Calma, vai tomar alguma coisa - Tyson respondeu, sorrindo de lado - Eu vou ligar pro Percy. Ah, faz um sanduíches também, acho que eles vão estar com fome quando chegarem.

– Argh - Thalia levantou - Tudo bem - e saíu.

[...]

Percy e Annabeth por fim pegaram um táxi. Porém, eles não foram pra casa, e sim para uma sorveteria. Quando chegaram, Perseus viu Nico e Bianca Di Ângelo sentados no fundo da sorveteria, conversando. Percy e Anna foram até a mesa em que os Di Ângelo estavam.

– Oi Nico - Percy sorriu, dando tapas nas costas do rapaz.

– Oi Percy - o garoto sorriu de lado para Perseus, e para Annabeth também. - Ah, oi Annabeth.

– Oi Nico, oi Bianca - a loira disse.

– Oi - Bianca disse, lambendo a casca de seu sorvete de baunilha. - Querem sentar conosco?

– Não, nós só vamos pegar dois sorvetes e vamos embora - Percy falou. Ele pegou o braço de Annabeth e a arrastou até o balcão da sorveteria, e pediu dois sorvetes de baunilha. Alguns segundos depois, ele chegou - Obrigado, senhor.

Os dois foram embora, com o mesmo taxi. Chegaram em casa uns quatro minutos depois, e quando Percy e Anna abriram a porta, Thalia pulou em cima de Annabeth, abraçando-a, assim como Tyson abraçou Percy - que parecia estar morrendo sem ar.

– Calma aí cara - o Jackson um disse.

Annabeth passava a mão pela a extensão das costas de Thalia, fazendo-a se acalmar. A punk se separou de Anna, e se virou para Percy.

– Eu juro que se você não tivesse cuidado de Annabeth, eu mataria você agora mesmo.

– Mas acontece que eu cuidei - Percy disse, e abraçou os ombros de Annabeth - Até dei sorvete pra baixinha aqui.

Anna revirou os olhos, indo para o sofá e jogando sua bolça ao seu lado.

Percy subiu as escadas, indo para seu quarto. Ele só queria deitar na cama, e pensar. Pensar no que tinha acontecido na sala, o que tinha acontecido com Rachel, o que tinha acontecido com ele e Annabeth mais cedo... Só pensar, ficar na dele. Por fim, quando ele abriu a porta de seu quarto, alguém o empurrou para dentro. Quando ele olhou para trás... Annabeth estava lá, fechando a porta.

Ele não sabia o que Anna queria com ele. Mas quando os olhos cinzas da garota encontraram os seus verdes, seu sangue ferveu, e o coração deu uma batida mais rápida. Aquela garota estava mexendo com os sentimentos de Percy de um jeito diferente, um jeito... Maravilhoso de Annabeth Chase de ser. Cada movimento dela o apaixonava cada vez mais. O modo como ela não conseguia controlar as palavras e falava tudo de uma vez, era algo típico dela. Annabeth era completamente original.

– O que quer, Annabeth? - Percy disse, se deitando na cama.

– O que eu quero? Bem, quero saber o por que que você estava chorando - Annabeth disse, e se sentou na cama.

– Chorando? Onde? Quando? - Percy tentou despistar Anna, mas ela sabia que tinha visto os olhos de Percy marejarem.

– Ah, então tudo bem - Annabeth falou, agora deitando na cama - E a mensagem de Rachel? O que ela queria dizer?

Percy suspirou, passando a mão no rosto.

– Não quero contar - admitiu.

Annabeth estava em tempo de estrangular Percy. Ela estava tentando ser amigável, mas não! O Jackson não queria contar.

– Pare de ser infantil - Anna riu.

– Eu não estou sendo nem um pouco infantil - Percy disse.

– Ah, está sim - Anna disse, levantando, já nervosa.

Ela estava a caminho da porta, já que não conseguiria respostas mesmo. Só que, em um movimento rápido, ela sentiu seu corpo virar para trás. O Jackson havia puxado seu braço, impedindo-a de sair. Annabeth esperou Percy dizer alguma coisa, porém, ele apenas ficou encarando a loira.

– Não vai... - Percy falou, baixando o rosto, olhando o chão.

Mais uma vez, o coração de Annabeth doeu. Percy parecia um cachorro abandonado toda vez que fazia expressão triste, e aquilo magoava Annabeth por dentro. Não por ele parecer um cão, mas por ele ter que fazer uma expressão triste. Ela não iria mais deixar que qualquer expressão de tristeza aparecesse no rosto dele, não mesmo!

– Conta logo o que aconteceu, Cabeça de Alga.

Annabeth abraçou a Percy, fazendo com que ele se baixasse demais, e ela ficasse em ponta de pés.

– Seu cabelo cheira a sabonete de limão - Percy sussurrou.

– O que?

– Seu cabelo - Percy respondeu - Ele tem cheiro de sabonete de limão.

– Ah - Annabeth riu. - Obrigada, Cabeça de Alga.

Eles se separaram, e foram sentar na cama novamente. Ela era até confortável, na verdade. Percy e Anna ficaram em silêncio, que chegava até a ser constrangedor para os dois. Só um pouco, mas mesmo assim constrangedor. Percy começou a fazer, involuntariamente, a fazer uma trança no cabelo de Annabeth, que até ali estava solto. Ela sorriu com aquilo, era fofo ver Percy assim.

Percy fazia carinhos na cabeça de Annabeth, fazendo com que essa ficasse com sono. Ela acabou por deitar ao peito do moreno, que era macio. Anna se aconchegou mais e mais ali, até o momento em que ela estava abraçada à Percy, e ele estava deitado, observando-a.

Ah, aquilo era demais pra Percy. Estar tão perto dela, tão perto de seu rosto... Era literalmente uma tortura. O seu cheiro invadia sem pedir permissão por entre as narinas do garoto, e ele sentia-se dependente daquilo, como se estivesse bêbado. Algo prendia-o nela, algo fazia com que os dois não quisessem se separar.

Por fim, Percy caiu na armadilha. Ele não conseguiu, resistir à　 Annabeth, por mais que tentasse!

Ele aproximou o rosto para perto do da garota. Ela devia estar dormindo, pela expressão relaxada. Seus lábios rosados e brilhantes levemente abertos, inspirando o ar. Seus olhos fechados mostravam que Anna não usava alguma maquiagem... Aliás, anjos não precisam de maquiagem, não é?!

O nariz de Percy encostou levemente no de Annabeth. Ele se aproximou mais e mais, até que os lábios do garoto estavam encaixados no da loira, que acabou acordando - porém, não demonstrou nenhuma reação.

Se ela queria aquilo? Ninguém sabia, nem ela própria. Seu corpo estava encaixado em alguém quase desconhecido, por ela... Ah, ela não sabia de seus sentimentos por Percy Jackson e nem se ele tinha sentimentos por ela. Não ainda! Mas, de um jeito ou de outro, ela saberia - mais cedo ou mais tarde, com ajuda de alguém ou não.