Uma Nova Chance escrita por Lady Padackles


Capítulo 29
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Agora sim... Voltando a história!



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Entre um cochilo e outro, Sam e Dean viram a noite passar vagarosamente. Clark e Garth conseguiram dormir um pouco melhor, mas todos os quatro comemoraram quando o dia finalmente começou a clarear. Agora era tentar achar o caminho até seu destino: a cidade de Shelby, onde Oliver morava.

– Quem sabe não podemos ir andando até lá... – suspirou Clark. A verdade é que os meninos estavam sem um tostão no bolso. Não saberiam exatamente o que fazer se Shelby não fosse de fato vizinha de Castella. Pedir carona era uma possibilidade, caso a distância não fosse assim tão pequena. Mas estavam todos um pouco apreensivos depois do episódio do ônibus com motorista bandido.

Os quatro seguiram até um terminal de ônibus que ficara fechado a noite toda, e que finalmente abria suas portas. Estava claro que Castella era uma cidadezinha que só tinha algum movimento durante o dia. Puderam usar o banheiro, passar uma água no rosto e trocar as roupas sujas pelas que tinham levado na mochila. Sam tinha levado duas camisetas, e emprestou uma delas para o namorado. Sentiam-se mais limpos e mais animados quando aproximaram-se do balcão de atendimento.

– Sabe me dizer como podemos fazer para chegar em Shelby? – Sam perguntou para uma das funcionárias.

A mulher explicou. Infelizmente não era o que os meninos queriam ouvir. Shelby era longe... Longe demais. Tinham que pegar um ônibus, e depois um trem...

Os quatro se entreolharam desesperados. Estavam mortos de fome já.

– O que vamos fazer agora? – Sam perguntou exibindo o seu mais triste olhar de cachorrinho na chuva.

– Não podemos fazer mais nada... Não temos nenhum dinheiro! – lamentou-se Garth - O jeito é nos entregar pra Polícia e pedir que nos levem até o Colégio...

– Não! Isso nunca! – protestou Sam. Ele não tinha passado por tudo aquilo por nada... Provavelmente seria a sua única oportunidade de encontrar Oliver. Ele já estava tão velhinho que podia morrer a qualquer momento... Além disso, o encontro entre Dean e seu pai também não podia esperar mais. Eles já não se viam há tempo suficiente.

– Mas então o que você sugere? – perguntou o magrelo. – Tentar pegar ônibus e trem sem pagar? E você não acha que até chegarmos lá já não teremos morrido de fome? Fugir foi uma aventura e tanto, mas a gente precisa ser realista. Isso não vai dar certo...

Clark concordou com um acenar de cabeça. Sam não pôde esconder sua frustração. Talvez o amigo estivesse com razão.

Dean, entretanto, comoveu-se com a tristeza que via estampada nos olhos do garoto que tanto amava. Sam queria muito encontrar seu bisavô, e ele, Dean, iria até o fim do mundo se fosse preciso para tornar isso possível.

– A gente pode tentar pedir... Ver se alguém ajuda a gente... – sugeriu o louro. – Acho que não custa tentar.

Sam abriu um enorme sorriso com a proposta. Isso significava que Dean estava disposto a lutar por ele. Clark e Garth acabaram por concordar. Resolveram então se dividir: Dean e Sam para um lado e Clark e Garth para outro. Marcaram um encontro horas mais tarde e combinaram levar tudo o que conseguissem, incluindo comida.

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– Garotos, vão pra casa! As mães de vocês devem estar preocupadas!

Sam e Dean se entreolharam e suspiraram decepcionados. A verdade é que não tinham jeito de pobres, por mais cansados e famintos que pudessem estar... O pessoal da cidade não parecia muito disposto a ajudá-los. Tinham pouca paciência com riquinhos mimados, sendo eles mesmos pobres em sua maioria.

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Clark e Garth passavam pelo mesmo problema... Já era quase hora de voltar para o local de encontro e ainda não tinham conseguido a ajuda de ninguém. Suas barrigas doíam de fome. Pela milésima vez, Garth, sem esperança, abordou uma senhora que passava apressada com sacolas de mercado nas mãos.

– Oh, pobrezinho... Está tão magrinho! – lamentou-se ela. Os meninos mal puderam acreditar quando a mulher estendeu-lhes uma sacolinha com um pacote de biscoitos e duas maçãs. Aquela comida era um presente dos céus!

Garth segurou as oferendas como se fossem grades tesouros. Para eles era isso que eram... Caminharam triunfantes por algums poucos metros quando notaram estar sendo seguidos por um sujeito sujo, molambento e de poucos dentes.

– Tô com fome! – Anunciou o homem.

– Desculpa, amigo, mas nós também estamos... – Respondeu Garth, sem cerimônia.

Clark tremeu nas bases. Não era possível que fossem perder a comida! Era azar demais ser assaltado duas vezes seguidas...

– Passa isso pra cá! – Exigiu o mendigo.

– Você quase nem tem dentes na boca, cara... Quer essa comida pra quê? – perguntou Garth irritado.

– Não tenho dente mas tenho mais força que tu, mané! Passa as guloseima! – exigiu ele, rudemente.

Clark viu horrorizado quando o mendigo avançou em direção ao garoto e lutou com ele pela comida. Garth lutou bravamente, mas acabou sendo derrubado no chão após levar um safanão do sujeito. Seria o triste fim das maçãs e dos biscoitos? O mendigo se aproximava de Garth com sua boca desdentada salivando.

– Sai daqui! – Gritou Garth. Mas caído no chão ele estava em total desvantagem... O menino segurou a sacola de alimentos com força, mas o homem acabou por tirar tudo dele.

Clark assistiu a cena sem se mover. Porém, ver a comida, que conseguiram com tanto sacrifício, ser covardemente roubada das mãos de seu amigo, mexeu com alguma coisa dentro dele. De repente o garoto sentiu o sangue subir a cabeça. Estava cansado de tanta injustiça. Cansado de ver pessoas se aproveitando dos mais fracos. Cansado de roubos, sacanagens, trapaças, bullyings... Garth viu assombrado quando o amigo avançou contra o mendigo, derrubou-o no chão com um empurrão e recuperou tudo o que tinham perdido.

– Nunca mais roube de ninguém! – Gritou irritado.

O sujeito arregalado, nem se pronunciou. Clark era grande, e ele aceitou passivamente a derrota... Clark estendeu a mão e ajudou Garth a se levantar. Ambos seguiram calados até seu destino, com a sacola de comida muito bem protegida, agora nas mãos do garoto maior.

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Dean e Sam também conseguiram ajuda apenas a ultima hora. Um homem de meia idade, aparentemente um dos mais ricos da cidade, teve pena deles. Aconselhou-os a voltar para casa, assim como todos os outros passantes. Ao contrário dos demais, entretanto, o homem estendeu-lhes uma nota de 50 dólares.

Os meninos agradeceram imensamente. Estavam salvos, ou quase... Aquele dinheiro seria suficiente para pagar as passagens até Shelby. Precisavam apenas de alguma comida, pois a viagem seria longa. O tempo que gastariam no ônibus e no trem juntos daria aproximadamente 7 horas.

Quando os quatro fugitivos se encontraram, a felicidade foi geral. O que conseguiram haveria de ser suficiente. Correram para comprar as passagens e se enfiaram no primeiro ônibus que saía na direção correta. Famintos, devoraram o pacote de biscoitos em menos de cinco minutos.

– Acho que temos pouca comida... – comentou Dean olhando tristemente para as duas maçãs.

– Não reclama, por pouco ficamos sem nada... – comentou Garth. Apenas nessa hora ele contou sobre o episódio com o mendigo e a valentia de Clark. O garoto foi muito parabenizado por sua coragem. Sam notou como ele agora exibia um ar bem mais confiante, e deixava seus trejeitos afeminados transparecerem.

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O ônibus chacoalhava em um movimento monótono, espalhando o tédio. Apesar de terem combinado aguardar quatro horas para comer as frutas, em menos de uma hora já não aguentavam mais esperar. Partiram as duas maçãs no meio, e para desespero geral constataram que uma delas estava podre por dentro. O jeito foi dividir a outra em quatro pequenos pedaços que não serviram para matar a fome de ninguém.

Os meninos não estavam mesmo com sorte... A poucos quilômetros da estação onde pegariam o trem, ficaram presos em um engarrafamento monstro. Um acidente envolvendo dois caminhões terminou por causar o fechamento da estrada. Mofaram famintos por tantas horas que até perderam a conta.

Quando finalmente chegaram a estação, é claro, já tinham perdido o último trem do dia. Estavam tão cansados e sentindo-se tão miseráveis que nem tinham mais forças para reclamar. Sem dizer nada, os quatro apenas sentaram-se e cochilaram esperando o trem das 6h da manhã.

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Horas mais tarde, sentado no trem rumo à casa de Oliver, Sam começava a sentir-se excitado. Faltava pouco agora. Muito pouco... Duas horas, para ser mais preciso. Dean, Clark e Garth não compartilhavam do mesmo entusiasmo. Tentavam dormir apesar da fome que os maltratava. Tudo o que eles queriam era que o bisavô de Sam tivesse muita comida para lhes oferecer.

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– Próxima estação: Shelby – anunciou a voz que ecoava pelo trem.

Sam levantou-se de um pulo. Quando a porta do veículo finalmente se abriu, os quatro garotos saíram aos tropeços. Sam pegou o mapa. Tinham mais meia hora de caminhada. Seria pouco se não estivessem se sentindo tão fracos, famintos e cansados.

Durante o percurso, Sam matutava em como haveria de contar para seus amigos sobre a verdadeira identidade de Oliver. Sentia-se nervoso com isso. Depois de todo o perrengue que haviam passado a mentira não haveria de ser bem recebida. Mas não havia saída para ele... Era contar a verdade, ou contar a verdade... E tinha de fazê-lo antes de tocar a campainha do velho Oliver, que, é claro, nunca o reconheceria como bisneto.

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– É essa casa aqui! – Dean apontou para o casarão localizado no endereço dado por Sam. Ele nem sabia como haviam tido forças para chegar até lá... O moreno olhou para o namorado, aflito.

– Não precisa ficar nervoso, Sammy... Nós estamos aqui com você! – incentivou o louro.

Sam engoliu em seco. Tentou encarar os amigos, mas não conseguiu.

– Eu preciso contar um coisa... – falou finalmente, titubeando.

Dean, Clark e Garth olharam para ele interrogativos.

– Oliver não é meu bisavô... – Desabafou.

Os três garotos se entreolharam. Como assim? Se Oliver não era bisavô de Sam, quem ele era final?

– Ele é o que seu, então? – atreveu-se Garth a perguntar.

– Bem... Ele é... Eu... Ele estudou com Tristan e Ross e eu queria conversar com ele... Porque eu preciso saber o que aconteceu com eles dois...

Assim que ouviu os nomes Tristan e Ross, Dean esqueceu-se do cansaço. Não era possível... Tristan e Ross de novo? Sam era doido, doente, obcecado! Ele nem pôde acreditar que tinha fugido do colégio, revelado sua homossexualidade para Brian, e comido o pão-que-o-diabo-amassou para satisfazer um capricho surtado do moreno.

– Sam? Você é louco! Eu não acredito que arrastou a gente até aqui pra isso! – esbravejou ele.

– Quem são Tristan e Ross? – perguntou Clark aflito. Nem ele nem Garth estavam entendendo o que se passava.

Sam sentia-se péssimo. Não queria ter enganado seus amigos daquela forma. Talvez devesse ter falado algo antes, mas não tivera coragem.

– São dois garotos que estudaram no colégio há séculos atrás! O Sam é obcecado por eles, sabe-se lá por quê. Já devem ter morrido há mais de cem anos... Eu não acredito nisso! – Dean colocou as mãos na cabeça, nervosamente.

Garth e Clark acabaram por revoltar-se também. Estavam todos desgraçados por causa de uma mentira. Sam pediu desculpas, mas nenhum dos três parecia disposto a seguir com ele e bater na porta do velho. A ideia anterior de Garth de se entregar para a polícia parecia-lhes ser a melhor opção.

– Eu vou procurar as autoridades e pedir socorro antes que eu caia duro no chão de fome... – suspirou Garth.

– Pois é, sem chances do velho Oliver nos dar comida. Acho que ele vai é expulsar o Sam a vassourados... Eu também estou fora! – completou Clark.

– Isso mesmo, vamos embora! – Dean concordou, segurando Sam pelo braço. Por mais zangado que estivesse não pretendia largar seu namorado maluco ali sozinho.

Sam irritou-se. Já que estavam ali, não custava nada irem falar com Oliver. Seus amigos estavam fazendo tempestade em copo d´água...

– Então eu vou sozinho... Eu vim aqui pra isso! – retrucou, se desvencilhando das mãos de Dean.

– Mas eu não vou deixar você atormentar um velho caquético que tem mais de noventa anos! – protestou o louro. – Ele nem deve se lembrar desses dois, Tristan e Ross... Provavelmente nem eram amigos dele!

– Dean, desculpe, mas eu vou falar com Oliver sim! Quer você queira, quer não. E ele era grande amigo do Tristan. – o moreno falou decidido.

– Como você sabe que eram amigos? – O louro estava irritado. Sam estava inventando coisas, pois não havia jeito de saber sobre isso.

O menino deu de ombros.

– Eu sei que sim, eu sinto...

Dean teve vontade de estapeá-lo.

Garth e Clark já começavam a se afastar lentamente. Dean olhou para Sam uma última vez e seguiu atrás deles. Sam suspirou, respirou fundo e aproximou-se da porta da casa de Oliver. Não iria dar pra trás de maneira alguma, mesmo sendo abandonado pelos amigos e pelo namorado. Pelo jeito teria que ir procurar Roger Campbell também sozinho, uma pena... Tocou a campainha com o coração aos pulos.


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