Uma Nova Chance escrita por Lady Padackles


Capítulo 30
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Bem, passei aqui para deixar mais um capítulo antes do feriado. Boa Páscoa para todos!!!



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Sam tocou a campainha com o coração aos pulos...

O casarão estava em total silêncio... O menino sentiu-se paralisado por um momento. Se não tivesse ninguém em casa, nem saberia o que fazer... Não agora que estava completamente sozinho, sem seus amigos e seu namorado.

Sam já ia tocar a campainha novamente quando ouviu passos. Foi com um misto de alívio e nervosismo que viu uma moça se aproximar da porta.

A mulher olhou para ele e franziu o cenho. Não tinha ideia de quem fosse aquele garoto.

– Sim... O que deseja? – perguntou ela.

– Eu... hmmm... Eu vim visitar o vovô Oliver... – disse o menino, implicando que houvesse intimidade entre eles.

– Veio ver o Sr. Queen? – a moça aproximou-se do portão, curiosa. – É... Desculpa perguntar... Mas é algum parente dele?

– Não... Bem... – Sam já estava tropeçando nas palavras. Com tantos problemas que enfrentara não tinha nem planejado direito o que falar. Mas se dizer parente de Oliver era muito arriscado, afinal ele nem mesmo sabia se o velho tinha filhos ou mesmo sobrinhos.

– Meu bisavô era muito amigo do vovô Oliver... – inventou - Ele brincava comigo quando eu era pequenininho. Como estava de passagem resolvi dar uma chegadinha, fazer uma visita... – soltou uma risadinha um tanto sem graça.

A moça sorriu de volta. Foi simpática e convidou o garoto a entrar. Provavelmente não fora ela a mulher ranzinza que desligara o telefone na cara dele dias atrás. Sam nem pôde acreditar que sua desculpa tinha colado tão facilmente! Iria enfim reencontrar seu grande amigo. Só não sabia exatamente o que falar para ele...

– Sente-se aqui na sala... Vou buscar o Sr. Queen. Tenho certeza que ele ficará muito feliz em te ver... Qual é o seu nome?

Sam engoliu em seco.

– Nem sei se ele lembra de mim, moça... – disse relutante.

– Ahh, sim... E o nome do seu bisavô, qual é?

– John... – respondeu ele. Afinal todo mundo do mundo conhecia um John, não conhecia?

– Só John? John de quê?

– John Smith.

– Certo. – disse ela – O bisneto do John Smith... Fique a vontade, sim? Já volto!

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Quase meia hora havia se passado... Sam já estava subindo pelas paredes de nervoso. Vai ver a empregada tinha chamado a polícia para prendê-lo, depois do velho Oliver jurar nunca ter conhecido ninguém com o nome de John Smith. Ele pensou em fugir de lá... Pular a janela antes que fosse tarde demais... Mas antes que tivesse coragem de colocar sua ideia em prática, viu finalmente a empregada entrar na sala empurrando um velhinho em uma cadeira de rodas.

– Desculpe a demora – disse ela. – O Sr. Queen estava tirando um cochilo, mas ele fez questão de se arrumar e vir te ver. Não foi, Sr. Queen? – Disse ela carinhosamente, colocando as mãos nos ombros curvos do patrão. – Vou deixá-los conversar a vontade...

Sam, trêmulo, se aproximou do velhinho. Oliver estava tão mudado... Como o tempo fora cruel com ele... Seu corpo encurvado e franzino em nada se parecia com o do garoto atlético que Sam um dia conheceu. Os cabelos, antes fartos e louros, estavam agora ralos e brancos. E a pele? Estava toda enrugadinha... Não, definitivamente Sam nunca o teria reconhecido... Bem, a não ser... Os olhos. Quando Oliver olhou para Sam com seus penetrantes olhos castanho escuros, o menino teve vontade de chorar. Estava emocionado em revê-lo.

– O... oi, Oliver... – Ele cumprimentou sem jeito. – Eu... Bem... Eu sou... – Tinha que dizer alguma coisa. Só não sabia o quê.

– Não, não fala... – o velho finalmente disse, com sua voz fraca e trêmula. – Eu sei quem você é... – Ficou pensativo.

Sam comemorou por dentro. Oliver o estava confundindo com alguém! Ele confirmaria ser quem quer que fosse... Esperou ansioso por sua nova identidade. Sua preocupação agora era que o amigo ainda se lembrasse de seu tempo de garoto, o que, infelizmente, não parecia muito provável.

– Já sei! Você é o meu velho amigo Tristan! – disse animado.

Sam deu um pulo para trás. Tristan? Ele não podia estar falando do Tristan, Tristan... Podia? Estava tão surpreso que não conseguiu sequer responder.

– Tristan, você está tão bem... – exclamou o velhinho.

Sam sorriu extremamente sem graça. Seria o Tristan ao qual Oliver se referia ele mesmo em sua encarnação passada? Não, não podia ser... Provavelmente era apenas uma coincidência esquisita. De qualquer forma, era possível que o velho estivesse gagá. Mas tinha que tentar a sorte...

– Bem... Oliver... Sabe... – Ele se atreveu a dizer – Eu estudo no Colégio interno Saint Peter, e na verdade eu queria muito te perguntar se você se lembra da época de quando você estudou lá também...

Oliver sorriu.

– Sim, claro, meu amigo. Me lembro de tudo, tudinho... Minha memória é muito boa... Bem, pelo menos a memória para fatos antigos. Agora não me pergunte o que eu comi no café-da-manhã... – Ele disse animado.

– É... Bem... – Sam nem sabia como tocar nos assuntos que o interessavam. – Você se lembra dos seus amigos? Os amigos que tinha no colégio?

– Claro que lembro, Tristan! Você não lembra? Éramos eu, você e Misha... Inseparáveis! Bons tempos aqueles...

Sam sentiu-se arrepiar da cabeça aos pés. Seu coração disparou. Como assim? Oliver de fato o havia reconhecido? Não estava entendendo mais nada...

Foi nessa hora que Julia, a empregada, apareceu com uma bandeja com sanduiches e refrigerante. Sam imediatamente lembrou-se do quanto estava faminto. Apesar de um pouco envergonhado, pegou um pãozinho e começou a comer com gosto. Aceitou também um copo de coca-cola bem cheio.

– Julia, não te falei que eu não conhecia nenhum John sei-lá-do-quê? Só você mesma pra inventar essas coisas... Esse é Tristan, meu amigo de infância! Estudamos juntos no Colégio! – Disse o velho, dirigindo-se à moça.

Julia sorriu com docilidade.

– Muito prazer, Tristan! – E deu uma piscadinha para o garoto. – Desculpe o seu vovô Oliver, ele está muito velhinho... Anda muito confuso, esclerosado... – falou em seguida baixinho, para que só Sam pudesse ouvir.

Então era isso. Oliver não estava mais em seu juízo perfeito... Claro, para confundir um garoto com um colega de infância, só podia estar mesmo caducando... Mas o que Sam poderia esperar de alguém com 95 anos de idade? Pelo menos sua percepção andava bastante aguçada. Confundir Sam com Tristan não deixava de ser notável.

Sam viu Julia retirar-se. A bandeja, cheia, ainda olhava para ele convidativa. Pegou mais um sanduiche e perguntou, dessa vez de boca cheia.

– Você se lembra do Ross, não lembra?

– Claro... Vocês estavam tão apaixonados... Sinto muito pelo que aconteceu, Tristan...

– Obrigado... – Respondeu o menino. Finalmente a conversa estava chegando no ponto que queria.

– Oliver, depois que o Ross morreu... Eu não me lembro... Eu saí do colégio?

O velho franziu o cenho.

– Tristan, você não se lembra? Sério? – Ficou pensativo. – Mas claro... Você morreu também...

Como? Onde? Por quê? Sam estava boquiaberto. Sentiu-se gelar por dentro. Então ele também tinha morrido aquele dia na praia? Ou talvez um pouco depois... Mas por quê? E como podia Oliver conversar com ele com tanta tranquilidade, agora que estava claro que se lembrava de sua morte? Achava que ele era um fantasma?

– É... Eu não me lembro... – suspirou o menino - Morri de quê? Por favor, Oliver, me conte tudo o que você souber...

Oliver respirou fundo.

– Tudo bem, vou te contar o que eu sei. Você e Ross foram encontrados mortos na praia... Bem, que o Ross estava perto de morrer todo mundo sabia... Ele estava doente, e você estava desesperado, lembra? O diretor, os professores... Todo mundo fechava os olhos. Porque o pai do Ross tinha dado um bom dinheiro pro colégio manter o garoto doente lá...

Sam ouvia com muita atenção, arregalado. O velho Oliver sorriu. Há tempos não via ninguém tão interessado em suas histórias... Pouco importava se seu amigo Tristan estivesse vivo ou morto agora, o importante é que estava ali. Aí estava a vantagem de ser um velho esclerosado... Oliver não exigia que as coisas fizesse sentido. Havia vivido por tantos anos que agora nada para ele parecia anormal.

– Bem, aí não sei por que vocês dois inventaram de ir à praia àquela noite. Era uma noite fria, e o Ross estava mal... Bom, ninguém sabe...

– Ross queria ver as estrelas... E eu acabei cedendo e descendo com ele até a praia... – Desabafou o menino. Era maravilhoso ter alguém com quem conversar e que pudesse entendê-lo. -Mas foi tarde demais... Antes do sol se pôr ele morreu nos meus braços – a voz de Sam embargou.

– Sinto muito, Tristan. Sinto muito mesmo... Você sempre foi tão bom para o Ross, cuidando dele... E ele te idolatrava. Te chamava de Tris, lembra?

Sam precisou se conter para não chorar. Não conseguiu dizer mais nada. Sorte que Oliver estava disposto a continuar falando.

– Bem, voltando à história... Eu me lembro de ter notado a sua falta na sala de aula, no dia seguinte. Eu e o Misha ficamos preocupados, achando que tivesse acontecido alguma coisa com o Ross. Fomos procurar vocês no intervalo, mas não encontramos... Pouco tempo depois anunciaram a suspensão das aulas e todos os alunos foram forçados e permanecer em seus quartos. Eles nem explicaram por quê... Só à noite soubemos que encontraram seu corpo e o do Ross. Estavam os dois mortos na praia...

– Mas e eu morri de quê? – Sam insistiu. Estava bastante aflito.

– Não sei, Sam... Nunca ficamos sabendo. Naquela época abafavam tudo... Nós imaginamos que Ross tivesse morrido por causa da doença, e você, nervoso, tivesse sofrido um acidente escalando o despenhadeiro, no caminho de volta ao colégio. Logo em seguida mandaram aumentar aquele murinho que vocês pulavam... Nenhum aluno conseguiu mais escapar pra a praia depois do incidente.

O velho suspirou.

– Foi um dia muito triste mesmo... Me lembro de quanto o Misha chorava. Ele ficou arrasado... – Os olhos do velho Oliver marejaram também. - Nós, os meninos, éramos muito unidos... – continuou ele - Até o desgraçado do Ronny ficou chateado... Acho que se arrependeu um pouco de todas as maldades que fazia com vocês dois.

Sam lembrou-se que Ronny era o nome de Clark na encarnação anterior. Balançou a cabeça como a que concordar. Clark agora era um grande amigo, graças a Deus...

– E o Frederick... Lembra dele? – continuou o velho a recordar. – Você morria de ciúmes dele...

Sam riu. Estava se sentindo totalmente descontraído agora, como se de fato conversasse com um velho amigo. Enfiou mais dois sanduíches na boca, sem cerimônia.

– Cara, eu morria de ciúmes mesmo... Eu detestava o Fred! Acho que eu sou muito ciumento... – admitiu.

– Pois, é... O Frederick, assim que ficou sabendo, correu para o quarto do Dean e resgatou aquele ratinho que ele tinha. A gente sabia que se a direção encontrasse o bicho iria dar cabo dele...

– O Ben... – Sam suspirou. Então estava explicado. Ben tinha de fato passado de Frederick para seu irmão caçula e inspirado um livro, e depois um filme... Era uma história fantástica.

– Isso mesmo! Nunca mais tinha me lembrado do nome do bicho! – Oliver pareceu entusiasmado. – Lembra que fui eu que arranjei aquele rato pra assustar o Ross? A gente achava ele tão metido... – o velho riu com gosto.

– Lembro... Tadinho do meu lourinho! Ainda bem que ele não ficou com medo! – divertiu-se o garoto. Em seguida ficou pensativo - Oliver... Hmmm... E depois que tudo isso passou... Você e o Misha... Vocês ficaram bem? Foram amigos por muito tempo ainda?

O velho sorriu ainda mais. Apontou para um porta-retratos, no meio de tantos outros. Sam levantou para examiná-lo.

– Olha, Tristan! Somos eu e Misha pescando...

No retrato, dois homens, já bastante maduros, sorriam exibindo alguns peixinhos mixurucas. Pareciam de fato estar se divertindo muito. De alguma forma, olhar aquela foto deixou Sam triste. Não que ele não quisesse a felicidade dos amigos, muito pelo contrário... É que no fundo ele desejou ter podido estar ao lado dos dois no retrato, exibindo um peixinho também. Mesmo que fosse o menor de todos... Sentiu como se a vida de Tristan tivesse lhe sido roubada. Não chegou à maturidade, não chegou e velhice... Não teve filhos, nem netos... Isso, em si, era triste... Muito triste...

Sam colocou o retrato no lugar e respirou fundo. Era a maldita vontade de chorar que insistia em surgir de novo...


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