Na Linha Da Vida escrita por Humphrey
Eu usava o melhor vestido que já vira. Era verde-piscina, sem alças, rodado e ia um pouco acima dos joelhos; perfeito, assim como o meu par para o baile. E ao invés de Brandon, Keenan era um aluno dedicado aos estudos e educado, especificamente o melhor acompanhante que eu poderia ter – mas tudo isso segundo o meu tio, é claro. Apesar de realmente ser um garoto simpático e bonito, eu não o conhecia direito e, bem, encabulado, ele dissera que naquela noite eu serviria como objeto para fazer ciúmes em sua ex-namorada. Mas não me importei com isso e concordei. Seria apenas um baile.
Fomos à escola em uma Mercedes preta alugada, sem ter sobre o que conversar. Eu mexia na minha pequena bolsa, certificando-me de que havia levado algum remédio em caso de emergência. Como um possível cavalheiro, ele abriu a minha porta, o terno preto e os cabelos loiros espetados.
– Como ela é? – perguntei enquanto caminhávamos pelos corredores, desamassando um lado do vestido.
– É a única ruiva que estará no salão. Sabe, ela sempre cobiçou sua aparência, e tal, então... por ter descoberto que ela me traía, te convidei. E, se já não disse, você está linda. – Sorriu, o sorriso torto de dentes demasiadamente brancos.
– Obrigada... – Arqueei as sobrancelhas. Eu não sabia se aquilo era realmente agradecível.
Adentramos o salão a cerca de dois minutos depois. A maioria das pessoas estava com copos nas mãos, e alguns com bebidas alcoólicas, eu supunha. No palco, uma banda desconhecida tocava certa música agitada e todos começavam a dançar de um modo gradativamente rítmico. No sofá, Keenan e eu observávamos a multidão alegre e, inclusive, eu encontrara a tal garota por quem Keenan claramente ainda estava apaixonado.
Ele respirou fundo, tentando preencher o silêncio entre nós.
– Quer dançar?
– Sinto muito, mas não posso – não menti. Eu realmente não poderia dançar sob aquela música caso não quisesse morrer por falta de ar. – Tenho asma – menti. – Vou poder somente quando tocar uma música um pouco mais lenta – não menti.
– Certo.
Ele começou a inflar as bochechas, entediado e enciumado, vendo a ex-namorada dançando com um dos amigos do Trevor. É. E vi que Natalie estava com Trevor, gargalhando e oscilando os passos. Aquela garota o merecia, afinal.
– Anne! – exclamou Cindy, parando em minha frente e pegando minhas mãos, balançando-as. – Cara, vem dançar, isso aqui está demais. – Ela levantou um dos braços, fechando os olhos e começando a cantar. Cindy já estava bêbada, era óbvio. E por ser uma garota boba e frágil, alguém devia tê-la deixado assim.
Olhei para o lado e Keenan riu da situação. Repentinamente, Cindy me puxou e começou a pular, gritando enquanto outras pessoas se divertiam com o que viam. Tentei me soltar, o que foi frustrante, pois a garota me segurava forte demais. Ficamos por um bom tempo deste jeito, até eu sentir meus pulmões quase saltando do meu corpo, ansiando por ar, e começar a tossir, pedindo para que parasse. Ela parecia não ouvir, dançando sem cessar. E quando Cindy finalmente me soltara, parecia andar à minha volta. Todo mundo parecia, aliás. Minha garganta estava seca e meu peito doendo demais. Senti braços ao redor de mim, olhei para cima e vi a imagem de Keenan embaçada.
– A... bol... sa – sussurrei, tentando apontar. A música parecia ter parado e pessoas nos rodeavam. Apenas pude perceber que Keenan havia sentado no chão, me segurando e tentando abrir o remédio desesperadamente.
E então tudo escureceu. Não sabia por que exatamente havia sentido falta de ar, já que apenas meus braços estavam sendo sacudidos. E o medicamento sequer faria efeito naquela hora, se é que estava fazendo neste tempo todo.
Acordei em um cômodo branco, fechado e cheio de aparelhos, cujo já era conhecido por mim. Minha tia estava sentada em uma das poltronas próximas à janela que dava vista para o jardim de entrada, um tanto tensa e preocupada.
– Ai, meu Deus. Anne! – afirmou espantada, vindo em direção à cama e sentando-se ao meu lado. – Vim assim que soube e já avisei o Brandon, querida. – Ela passou as mãos pelos meus cabelos e beijou minha testa, transmitindo-me conforto.
– Tia, não o deixe preocupado. Já estou bem. – Me sentei na cama, tensa. – Tonta, mas... bem.
Ponderei um pouco. O quarto estava claro, porém as luzes não estavam acesas. Tia Joana me encarava, mordendo o lábio inferior, e olhei para a janela, as cortinas balançando com a leve brisa da... manhã.
– Eu dormi até agora? – Franzi o cenho.
– Ah, sim, e... aquele garoto, o Keenan, ficou aqui por um tempo, mas fiz com que fosse para casa. – Sorriu, incerta. – O médico fez alguns exames em você enquanto dormia, então eu espero que daqui a pouco possa sair desse hospital.
Dito isso, desviou o olhar para o chão, cogitando em algo, respirou fundo e se levantou, caminhando até à janela para observar as pessoas ou apenas ter algo bom para o qual admirar em vez de mim. E repentinamente, o médico surgiu pela porta com alguns papéis nas mãos. Ele e minha tia entreolharam-se e iam caminhando para fora do quarto, quando eu ousei dizer:
– É sério, se tem algo para dizer, diga aqui. Eu não quero ser tratada como criança.
Como aprovação, ele balançou a cabeça positivamente, sentando-se em uma cadeira próxima à sua pequena mesa cheia de gavetas.
– Os remédios estão... decrescendo as suas chances de melhora, Anne. – Suspirou. – Temos de tentar outras formas de tratamento. No entanto, você tem de ficar por tempo indeterminado aqui, pois deixará de consumir os medicamentos, é claro.
Eu não esboçava qualquer forma de expressão facial. De fato, eu sequer olhava para qualquer uma das duas pessoas à minha frente; um fio ligado a algum aparelho ao meu lado aparentava ser muito mais interessante e divertido.
– Anne, está ouvindo? – indagou minha tia.
Os olhei pelo canto dos olhos, ainda com a aparência fechada.
– Perfeitamente.
– E... é isso. Com licença, vou ter de informar à enfermeira para que providencie alguns comprimidos para você dormir. – O mesmo ergueu-se, passando pela porta e a deixando um tanto aberta.
Como previsto, permaneci no hospital durante mais alguns dias, e foi tudo muito rápido. Os remédios para dormir me fizeram enxergar o tempo passar velozmente, o que foi a melhor coisa que poderia acontecer. Brandon e eu conversávamos por mensagens no celular, nas poucas vezes em que eu ficara acordada, no lugar do avezado Skype. E, por conta disso, o tão aguardado fim de semana finalmente havia chegado. Entretanto, nossos planos tinham sido rasgados por conta do imprevisto.
Eu fitava a porta, em pé, ao lado da janela com vista para jardim, ansiosa para ver Brandon passando por ela. E quando o fez, sorriu de lado, como sempre fazia.
– Você não vai conseguir escapar de mim facilmente – gracejou, me abraçando em seguida.
– Ótimo. – Sorri, enquanto ele segurava uma das minhas mãos.
– Queria ter vindo antes, mas sabe, né? Escola, e tudo mais. E, sim, eu estou preocupado com a escola!
– Promessa é dívida. – Ri.
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Era incrível o fato de estar linda mesmo com um traje semelhante a um pijama velho. Não, não era porque eu estava apaixonado; ela realmente estava esplêndida, o fulgor do sol refletido em seu rosto, iluminando ainda mais os olhos azuis – ou verdes. Todavia, a beijei, mas fomos interrompidos quando alguém resolveu entrar no quarto.
– Sinto por atrapalhar este casal, mas preciso tomar a Anne de você por um instante, rapaz – brincou o médico, organizando alguns materiais na mesa.
– Ah, esperei uma semana, então alguns minutos não farão tanta diferença, não é? – Revirei os olhos, sinalizando o momento desagradável, e deixei um beijo em seu rosto. – Volto depois – sussurrei.
Me sentei em um sofá na sala de espera, que ficava em frente ao quarto e tinha, inclusive, uma janela com persiana dando uma vista listrada à cama da Anne. Peguei uma revista velha que estava ao lado, em uma mesinha, e comecei a folhear, procurando algo pelo menos um pouco legível ou até visível, mesmo que fosse apenas para matar o tempo. O tio da Anne, então, se sentou ao lado, fingindo não me notar até eu decidir fazer o mesmo, quando, pela primeira vez, dirigiu uma palavra sem o seu tom superior a mim:
– Você a ama mesmo, não é?
Finalmente tirei os olhos da revista e o encarei por cima da mesma.
– É, eu também a amo. Mas é um amor que eu não sei demonstrar, sabe? A privo demais das coisas e muitas vezes das que a fazem feliz. Eu sou um filho da mãe que não sabe deixar de ser um filho da mãe – continuou, pigarreando em seguida.
Soltei uma risada abafada, pondo o objeto de lado e cruzando os braços.
– Anne é uma filha que nunca pude ter. Joana não podia engravidar, então, quando minha irmã decidiu ir atrás do desgraçado que a deixou sozinha com um bebê nos braços, decidimos cuidar dela. – Pausou. – Por isso, enquanto a mãe da Anne não voltava, a registramos como filha e a eduquei assim, “certa”, para que ela não se apaixonasse pelo pior aluno da escola e até decidisse dirigir um carro em uma tempestade e só voltar no outro dia de manhã.
Ri, mudando de conceito sobre o cara à minha frente. Mesmo que por um momento, ele havia deixado de ser o homem rude e insensato de sempre e talvez explicado os porquês. Apesar de tudo, eu estava gostando daquele pedacinho de personalidade.
– Philip Mitchell? – O médico saíra do quarto, uma prancheta nas mãos ao qual depositava quase toda a sua atenção.
Ele se levantou, angustiado, indo até o doutor, que o conduziu novamente ao cômodo. Pela janela, pude ver Anne sentada na cama, com a aparência um tanto decepcionada, ou algo do tipo. Rapidamente, a tia também apareceu assustada, mas a interrompi quando foi entrar no quarto.
– O que está acontecendo? – indaguei, nervoso.
– Eu... Eu não sei, Brandon. L-Licença. – E entrou.
Respirando fundo e mesmo sem permissão, também adentrei o quarto. Todos me encararam, surpresos. Contudo, fiquei ainda mais abismado quando percebi que Anne estava com lágrimas nos olhos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Cara, eu ia postar ontem, mas não tinha terminado de escrever tudo, e também faltava reler. O que vocês acham que aconteceu? asldaksjd Tomara que tenham gostado, hê. Preciso saber se estão gostando e também sobre as suas ideias para o futuro da fic, né. Vamos ver se acertam, haha.
Logo, logo posto o trailer da nova fic!
Beijos :3 *u*