__ Tudo bem? – perguntou Annabeth

Ela sentou-se ao meu lado, agindo casualmente enquanto Rachel, ainda tensa sentava-se de frente para nós na poltrona.

__ Tudo ótimo – ela sorriu
__ Que bom – Annabeth acenou com a cabeça ligeiramente – E seu pai, como está?

Droga, eu nem havia me ligado de perguntar sobre o pai de Rachel. Ela lançou um olhar de “Como ela sabe disso?” para mim e eu olhei para Annie.

__ Hã... Ele está bem, até voltou ao trabalho.
__ Como soube que tínhamos nos acidentado? – Annabeth cruzou as pernas

Esse movimento lhe deu um ar superior a nós dois. Annabeth às vezes parecia um tanto quanto arrogante, me remexi incomodado ao seu lado e senti sua mão correr por minhas costas e parar no meu ombro. Olhei de relance para ela, mas ela continuava concentrada em Rachel.

__ Grover... Tinha marcado de ir num movimento com ele e Juníper, mas ele não apareceu, daí Juníper com contou o que havia acontecido, não pensei duas vezes e vim ver se Percy estava bem.

Sorri para ela e isso pareceu tirar mil quilos de seus ombros, porque ela até se recostou no sofá.

__ Mas no fim, tudo acabou bem – Annabeth disse – E... Que ótimo que seu pai está bem.

Ficamos em silêncio e nos entreolhando. Rachel se levantou.

__ Então acho que vou indo...
__ Indo onde Rach? – perguntou minha mãe, descendo as escadas
__ Para Nova Iorque Sally, tenho coisas para fazer... Enfim, melhor eu voltar cedo...
__ Mas você acabou de chegar menina!

Minha mãe abraçou Rachel pelo ombro e a arrastou até uma das cadeiras do balcão da cozinha e a sentou ali.

__ Você irá almoçar conosco e voltará junto comigo e Paul, tudo bem?

Rachel me lançou um olhar de “Sinto muito, não queria atrapalhar”.

__ Acho ótimo mãe! – eu disse para acalmá-la
__ Então pronto! – exclamou minha mãe feliz

Soltei-me dos braços de Annie, passei o braço embaixo da muleta e fui para garagem encontrar Paul. Não queria ficar no clima tenso que eu estava causando na sala.

Entro e ele está com as mãos todas sujas de graxa mexendo no motor.

__ Quem diria hein, o professor com a mão na graxa – zombei

Ele levantou a cabeça rápido e bateu a cabeça. Fazendo cara ruim, se virou pra mim e abriu um sorriso. Lembrei do que meu pai havia dito quando disse que não era o cara ideal para minha mãe e ele estava certo, Paul era o que ela precisava.

__ Desculpe – pedi – É que... Você não tem mãos para isso
__ E precisa de mãos para mexer no carro? – ele sujou minha testa de graxa – Gosto de fazer isso, distrai a mente...
__ É sempre bom distrair mesmo...

Soltei um longo suspiro, cansado, triste por Annabeth ter que voltar, Paul deve ter notado e se virou para mim.

__ O que te distrai Percy?
__ Não sei... Surfar talvez, mas estou de molho por algum tempo agora
__ Nada mais?
__ Hum, sempre que eu queria esquecer os problemas eu vinha pra cá, mas... Nunca pensei em outra coisa
__ Pense... Nesse seu tempo “de molho” e com Annabeth indo embora... Talvez você precise de alguma outra distração, agora... Vou voltar pro carro, porque logo depois do almoço estamos partindo.

Voltei para sala e apenas minha mãe estava por lá, passei o mais rápido possível para a área. O sol estava forte, podia ver dali a praia cheia de pessoas, senti um pouco de inveja delas por poder ir ao mar. Arrastei uma cadeira e a coloquei virada para o mar e me sentei.

O calor começou a aumentar e retirei minha camisa, aproveitar para tomar um “bronze”, recostei a cabeça na cadeira e fechei os olhos apenas sentindo o cheiro do almoço ficando pronto e o barulho do mar não muito distante. Esse momento de prazer solitário foi interrompido por um par de mãos suaves deslizando por meus ombros. Abri rapidamente os olhos e um mar de cabelos loiros estava sobre mim e dois olhos cinza me encarando de cima.

__ Olá – ela disse
__ Olá – respondi, sorrindo

Annabeth deu a volta e sentou-se do meu lado, virada para o mar.

__ Eu sinto muito
__ Pelo que? – perguntei
__ Por ter que voltar pra Manhattan, com você ainda machucado...

Ah... Essa garota sabia como amansar meu coração. Lá estava eu, odiando-a por ir embora quando eu preciso dela, mas quando ela me pede desculpas por isso é como se meu coração fosse amolecido.

__ Tudo bem – afaguei seus cabelos
__ Percy...

Ela fez um bico.

__ Eu sei que você não está feliz por isso – disse, levantando a sobrancelha, típico.
__ Ok, admito, fiquei chateado – revirei os olhos – Estou acostumado com você, sei lá, não é de uma hora para outra que simplesmente digo a mim mesmo que está na hora de nos separarmos de novo, acho que gostei da ideia de morarmos juntos.

Ela abriu um sorriso enorme, colocou cada mão de um lado do meu rosto e me encheu de beijos. Quando ela me soltou, olhei sem entender.

__ Desculpa, é que você falando essa coisa toda de morar juntos, deu vontade de carregar você comigo para Manhattan de novo

Dei uma risada

__ Você vai embora amanhã... Mas no próximo fim de semana irei te visitar – afaguei seu braço

Ela olhou para os lados rapidamente, chegou próximo do meu ouvido.

__ E nada de Rachel aqui enquanto eu não estiver, ok senhor Jackson? – ela sussurrou no meu ouvido – Se não ó

Ela fez como se estivesse pegando uma faca, apontou para o meio das minhas pernas e começou a serrar o ar, fiz uma cara de horror e coloquei a mão entre as pernas.

__ Credo Annie – disse, abismado
__ Experimente – ela cruzou os braços – Duas vezes, nã-não

A abracei apertado e afundei o rosto em seus cabelos. Ela conseguia me passar toda a paz do mundo, podia ser comparado quando eu estava no mar... Sozinho, curtindo a onda... (N/A: Desculpa gente, mas não pude deixar de lembrar do vídeo da menina do Enem que disse que queria vender as artes dela na praia).

__ Hã... Desculpe interromper, mas... Sua mãe... Está chamando para almoçar – disse Rachel
__ Obrigado Rach, já estamos indo – sorri para ela e ela tornou a entrar, olhei para Annabeth – Ela já deixou claro que não quer nada comigo, seja boazinha com ela, ok?
__ Tudo bem, mas só porque eu acho que ela não quer nada com você mesmo.

Demos um selinho rápido e fomos juntos almoçar.

Mais a tarde estava despedindo de meus pais e de Rachel, Annabeth partiria amanhã de manhã, felizmente passaríamos a última noite a sós.

__ Enfim sós – disse me apoiando em Annabeth

Sentamos juntos no sofá e ela deitou-se em meu colo olhando para mim.

__ Enfim sós – ela repetiu mais baixo – E o que faremos com toda essa solidão?

Não vou negar que pensamentos maliciosos passaram por minha cabeça e Annabeth pareceu entende-los, ela se sentou em meu colo e passou as mãos em meus cabelos puxando alguns fios de leve. Olhou em meus olhos e mordeu o lábio inferior.

Coloquei as mãos em sua cintura e aproximei seu tronco do meu, juntando ainda mais nossas cinturas, Annabeth se arrepiou e para piorar avancei contra seu pescoço, beijando-o até chegar em seu ombro esquerdo, soltei seus cabelos e mordi seu queixo de vagar e isso fez com ela rebolasse em minha cintura...

***

Na manhã seguinte, ela acordou antes de mim para de aprontar, me acordou quando faltava pouco para ela ir embora. Tomamos café da manhã juntos, mas em silêncio, uma dorzinha estava presente no meu peito.

Ajudei ela a colocar as malas no porta malas, no fim tudo estava no lugar. Ela parou na porta do carro, vi algumas lágrimas prontas para descerem em seus olhos, fiz um carinho em sua bochecha, demos um beijo demorado seguido de um abraço bem apertado.

Ela entrou no carro e ligou, apertei o botão da garagem. Me apoiei na janela e sorri para ela, o que a fez sorrir também.

__ Até daqui duas semanas, minha sabidinha – bati de leve na ponta de seu nariz – Me ligue assim que chegar
__ Até – ela beijou minha testa – Se cuida, Cabeça de Algas.

Ela deu ré e saiu com o carro, acompanhei e parei na porta de casa, dando tchau até que ela dobrasse a esquina. Assim que notei que ela não teria mais como me ver, o sorriso do meu rosto desapareceu, entrei em casa, me escorei na porta assim que fechei a porta. Olhei ao redor e notei o vazio que estava na casa e dentro de mim.

__ Ótimo... Estou sozinho – murmurei desanimado.