Esses Seus Olhos De Tempestade escrita por jessyweasley


Capítulo 26
Capítulo 25




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Uma chuva fraca caía. Ao fundo podia-se ouvir o hino do Boston Celtics, time de basquete predileto de Charlie. Olhei ao redor e todos estavam com os guarda chuvas abertos para evitar a chuva... Mas eu pergunto-me o porquê disso? Se a chuva verdadeira que caía nos molhava por dentro, a chuva de lágrimas da alma.

Um pastor orava pela alma de Charles, em cima de seu caixão havia uma bandeira dos Estados Unidos e outra do time de basquete autografada. O pai de Charlie estava abraçado com Silena que estava mais acabada que nunca. Toda vez que eu a olhava podia ouvir o grito de desespero que ela soltou quando soube.

Senti as mãos de Annabeth escorrerem de encontro as minhas, entrelaçando nossos dedos e apertando-a. Olhei para ela que me lançou um olhar compreensivo. Eu apenas desviei.

Charles e eu nos conhecíamos a pouco mais de dois meses, mas uma amizade verdadeira tinha surgido, eu via nele o que eu queria ser para meu pai, queria ser a força da empresa, o orgulho dele, Charles era uma motivação para mim e não sei como será chegar na empresa e não ter o abraço de urso e o aperto de mão destruidor dele.

Luke estava distante abraçando Thalia pelo ombro, ela chorava copiosamente, ela o conhecia a bem mais tempo que eu. O pastor parou de falar e o caixão começou a descer.

Silena soltou-se dos braços de Hefesto e agarrou o caixão do noivo. Ela chorava dolorosamente, sua mãe saiu na chuva e tirou a filha a força, as duas choravam. Soltei um longo suspiro, não entendo o porquê de aquilo me incomodar tanto.

__ Percy... Tudo bem? – Annabeth perguntou baixo, lançando-me um olhar preocupado.
__ Sim – sorri rapidamente – Sua amiga precisa de você...

Ela olhou para Thalia, afundada nos braços de Luke, notei seu queixo ficar rijo.

__ Não acho que ela precise de mim – respondeu de forma ríspida

O caixão já tinha sido totalmente abaixado. As pessoas iam deixando o local aos poucos, mandei Annabeth seguir em frente. Silena estava ajoelhada em frente ao buraco, chorando. Sua mãe insistiu para ficar com ela, mas ela recusou sua companhia e o guarda chuvas.

Com a ajuda de uma muleta, comecei andar até ela, parei quando senti uma mão em meu ombro.

__ Percy – uma voz grave me chamou

Virei-me e um homem negro de quase dois metros estava me parando. Ele tinha a barba espessa, mas bem feita. Os olhos negros como os de Charlie e usava um terno todo preto com os pulsos bordados com um “H” vermelho. Hefesto.

__ Hefesto
__ Deixe-a – ele apontou a cabeça discretamente para Silena – Perder o amor de sua vida não é algo fácil.

Seus olhos pareceram encher-se de lágrimas, fez um barulho com a garganta e ajeitou o terno, voltou-se para mim, recomposto e colocou a mão em meu ombro.

__ Poderia me acompanhar? – ele perguntou
__ Sim senhor...

Vi meu pai encarando nós dois e entrou em um carro junto com sua esposa. Que por sinal me ignorou toda parte do tempo. Annabeth me esperava em seu carro, olhei para ela e ela balançou a cabeça em confirmação.

Parei com Hefesto em frente a uma limusine preta.

__ Obrigado Percy – falou Hefesto – Sei que você e meu filho ficaram amigos desde que se mudou para cá. Charles comentou de você algumas vezes, disse que você era diferente de todos os outros filhos dos donos da corporação, ele dizia que por mais que fosse amigo de alguns, nenhum deles tinha a simpatia que você tem.

Sorri sem graça e ele continou.

__ Sei também que tentou manter meu filho vivo – dessa vez ele adquiriu uma aparência séria – Nenhum dinheiro que eu tenho poderia te agradecer por tentar mantê-lo conosco.
__ Senhor, eu não quero...
__ Não estou para te oferecer dinheiro – ele me cortou – Estou aqui para dizer que eu iria romper com a empresa de seu pai, com isso ele iria falir, mas graças ao seu ato eu não farei. Não sei se você entende o quanto isso é grande, mas quando estiver pronto no mundo dos negócios irá entender...

Ele olhou no relógio e para minha cara de abestado.

__ Tenho que ir, mais uma vez, obrigado.

Hefesto cumprimentou-me com um aceno de cabeça que eu respondi da mesma forma, entrou em seu carro e saiu.

Voltei para o carro, onde Annabeth estava sentada no lado do motorista. Ela olhou para minha cara de confuso.

__ O que Hefesto queria? – ela perguntou ligando o carro
__ Ele disse que graças a mim não romperia com a companhia...

Annabeth levantou as duas sobrancelhas e fez uma cara de espanto.

__ Uou! Ele realmente ficou grato – disse ela
__ Não entendo a grandeza disso...

Annabeth deu uma risadinha sem graça diante da minha idiotice.

__ Sua família ficaria na miséria em um ou dois meses caso isso acontecesse.
__ E por que? – olhei confuso
__ Hefesto mantém toda maquinaria das empresas Olympus, da bruta a mais sofisticada, seu tio nunca encontrará uma empresa como a dele...
__ E isso aconteceria caso sua mãe o largasse também?
__ Ele sofreria, mas não tanto – ela me olhou de relance
__ Entendo...

Chegamos a minha casa e vi o carro de minha mãe na entrada. Olhei para Annabeth e ela me olhou sorrindo com vergonha. Droga! Ela ligou para minha mãe.

__ Porque você ligou para ela? – perguntei baixo e ríspido
__ Sua mãe precisa saber que você sofreu um acidente!
__ A sua também – esbravejei
__ Ela já sabe – Annabeth abriu um sorriso vencedor – Vem, vamos ver Sally.

Entramos na casa e o cheiro de comida invadiu meus pulmões. Paul estava sentado no sofá vendo tv, minha mãe ao me ver com a muleta fez uma cara feia e veio até mim com os braços cruzados sobre o peito. Olhei para Paul e ele sorriu dando de ombros.

__ Oi mãe – abri um sorriso
__ Percy Jackson – ela disse séria – Como assim você sofre um acidente e não me fala?’ Você é doido garoto!

Ela beliscou meu braço e isso fez que eu me sentisse com 5 anos de idade de novo quando eu fazia alguma traquinagem. Logo em seguida ela me deu um abraço apertado e ouvi Paul e Annabeth rindo, ela me soltou e voltou-se para Annabeth.

__ Isso que é uma boa nora – ela abraçou Annabeth – Cuidando do meu bebê quando não estou por perto...
__ Cuidarei mesmo Sally – Annabeth olhou para mim – Que cheiro bom é esse?
__ Ah! – minha mãe voltou correndo para cozinha – É a lasanha que estou fazendo, mimar vocês dois um pouquinho.
__ Adoro esses mimos – disse Paul

Todos riram. Sentei-me ao lado dele enquanto Annabeth foi auxiliar minha mãe na cozinha.

***

No fim de tarde minha mãe e Paul foram caminhar um pouco na praia, um sol tímido tinha surgido a tarde e agora podia ser visto o por do sol que deixava o céu laranja.

Annabeth estava sentindo dores em seu machucado e eu estava limitado por conta da perna, então ficamos satisfeitos de estarmos deitados juntos na mesma cama.

__ Me imaginei no lugar de Silena hoje – disse Annabeth

Ela analisava cada detalhe de minha mão esquerda como se estivesse pronta a descobrir algo novo. Virei-me para ela, mas ela ainda analisava minha mão.

__ Não sei se teria forças para... – sua respiração ficou mais acelerada – Enterrar você...

A ideia de estar morto nunca me assustou, mas pensando agora estando tão feliz com Annabeth talvez me assustasse bastante. Lembrei-me do desespero que tomou conta de mim quando a vi desmaiada dentro do carro.

Dei um riso e ela olhou para mim.

__ Quando eu te vi desmaiada no carro, com sangue... Nunca torci tanto para ver seus olhos de novo, mesmo que raivosos, olhando para mim.

Annabeth encostou sua testa na minha e nossos olhos estavam bem próximos. O verde cor do mar e o cinza cor de tempestade. Podia ver meu reflexo em sua íris. Ela levou sua mão até meus cabelos, acariciando-os com carinho.

__ Eu te amo – sussurrei – Quero você na minha vida para sempre...

Desci os olhos para sua mão livre e acompanhando meus dedos subi por todo seu braço.

__ Morreremos um dia – tornei a olhá-la – Mas isso não será motivo para nos separarmos, eu irei ficar com você nessa, na próxima e em quantas vidas eu tiver.

Lágrimas escorreram do rosto de Annabeth, ela abriu um sorriso enorme que me contagiou. Dei-lhe um selinho demorado.

Ouvi a porta da sala batendo e alguém subindo as escadas e em seguida uma batida na porta do meu quarto.

Eu e Annabeth nos separamos e sentei-me na cama.

__ Pode entrar – falei

Minha mãe colocou a cabeça na abertura, sorriu ao nos ver juntos.

__ Visitas!

Desci antes de Annabeth, com a ajuda de Paul. Avistei da escada um jovem com os cabelos loiros... Terminei de descê-la e vi Thalia sentada junto com Jason na sala de tv.

Thalia voltou o olhar para mim assim como Jason, que abriu um sorriso e veio me abraçar.

__ Que bom que está bem, primo – disse Jason me soltando
__ Obrigado Jason – sorri e apertei seu ombro

Thalia e eu nos encaramos, talvez nos fuzilando, talvez apenas nos encarando mesmo.

__ Oi Thalia – falei
__ Percy – ela estendeu a mão – Que bom que não morreu

Foi inevitável, mas abri um sorriso e isso fez com que ela abrisse um de lado, tímido.

__ O que trouxe vocês aqui?
__ Thalia queria ver você e Annabeth, sabe... Depois do acidente... – disse Jason
__ Hum

__ Percy... – disse Annabeth

Me virei e ela estava parada nos últimos degraus da escada olhando espantada e desconfiada para Thalia, balancei a cabeça e ela se aproximou, abraçando meu braço.

__ Oi Annie – Thalia deu uns dois passos para perto da amiga
__ Veio dizer o quanto foi ruim Charles ter morrido e nós não? – Annabeth despejou acidez

Jason e eu trocamos olhares espantados.

__ Crianças, o que vocês acham de irmos assar alguns sanduiches lá fora hein? – perguntou minha mãe – Venha Jason, Paul, me ajudem a levar isso lá para fora.

Eles saíram da sala, olhei para Annabeth e ela concordou com a cabeça. Saí deixando-as as sós na sala. Dei a ultima espiada pela porta de vidro e ambas pareciam estar gritando.

***

Depois de uma hora sinto Jason me cutucando e apontando para a porta, Annabeth e Thalia estavam se abraçando e chorando. Típico de garotas...

__ Até que enfim, não aguentava mais uma outra amiga da Thalia, Clarisse lá em casa, ela comia tudo que era meu na geladeira...
__ Sério? – eu ri
__ Sério, fora que ela é meio brutamontes assim – Jason tentou imitar a cara dela.

Todos riram. Annabeth e Thalia abriram a porta de vidro e foram se juntar a nós. Annabeth sentou-se do meu lado e abriu um sorriso, enquanto Thalia foi para perto de minha mãe.

__ Quer alguma ajuda, Sally? – disse ela
__ Quero sim querida.

***

__ Então a gente se vê Cabeça de Algas – Thalia deu um murro de leve no meu ombro.

Jason se despediu de mim, Annabeth e meus pais, Thalia despediu de Annabeth com um abraço assim como de meus pais, menos comigo.

__ Quer que eu te coloque na cama filho? – minha mãe fez a mesma cara que ela fazia quando queria me contar histórias
__ Mãe...
__ Óoooh que lindo – Annabeth apertou minhas bochechas – Gracinha da mamãe!

Fechei a cara, cruzei os braços sobre o peito e fiz bico.

Minha mãe e Annabeth me atazanaram mais um pouco, até que Paul colocou um fim e chamou minha mãe para dormir. Felizmente a casa era grande e conseguiu abrigar a todos com conforto.

Eu e Annabeth subimos para meu quarto.

Ela fitava o teto e se remexia desconfortável na cama.

__ Algum problema? – vire-me para ela.

Seus olhos cinza no escuro eram um pontinho claro, notei isso quando ela me encarou.

__ Thalia... – ela tornou a vislumbrar o teto
__ O que tem ela?
__ Minha mãe pediu que ela me dissesse que tenho que voltar ao trabalho...

Digamos que uma dorzinha incomoda tomou conta do meu peito, Annabeth estava a quase três semanas comigo, tinha me acostumado a tê-la todos os dias zanzando pela casa, tomando café da manhã comigo nos fins de semana. Na verdade, desde que eu comecei a morar aqui nunca tinha realmente morado sozinho.

__ Entendo...
__ Mas eu estava pensando... – senti sua mão correndo por meu braço – Poderíamos alternar os fins de semana no qual nos veremos

Continuei em silêncio, não pude negar, eu estava chateado. Ela parou de acariciar meu braço, virei para o lado e a vi de costas para mim, enrolada na coberta.

Esperei até que ela retomasse o assunto, mas... Nada. Virei-me para o lado e fiquei encarando a janela até pegar no sono.

***

O dia amanhecera ensolarado, acordei com um feixe de luz batendo diretamente meu rosto, virei para o lado e não encontrei Annabeth ali, devia estar chateada por minha reação de ontem. Fiz minha higiene matinal e desci para tomar café, era quarta feira.

Na cozinha estava apenas minha mãe, que recolhia algumas coisas do café e separara o meu.

__ Bom dia filho – ela me deu um beijo no rosto quando aproximei
__ Bom dia mãe – olhei para os lados em busca de Annabeth – Onde Annie está?
__ Ah, está lá fora – ela apontou

A campainha tocou assim que levantei. Fui para atender e identifiquei a massa de cabelos ruivos atrás da porta.

Abri já com um sorriso no rosto, Rachel pulou em meu pescoço quase me jogando no chão.

__ Meu tornozelo Rachel – bati levemente em suas costas

Ela me soltou, seu rosto estava vermelho, deixando suas sardas mais evidentes.

__ Me desculpa – ela olhou meu tornozelo – Por que não me disse que tinha sofrido um acidente?!
__ Rachel, querida!

Minha mãe a abraçou.

__ Seu filho é impossível Sally! – Rachel colocou os braços na cintura
__ Concordo, ai esse menino.

Minha mãe bagunçou meu cabelo e subiu para os quartos. Rachel voltou sorrindo para mim.

__ Que bom que não foi nada grave e foi só seu tornozelo – ela me ajudou a sentar no sofá.
__ Não foi só isso – abaixei o tom de voz e meu rosto ficou sério
__ Como assim? – ela se sentou ao meu lado, com a expressão preocupada
__ Charles... Ele morreu.

Rachel abriu bem os olhos, espantada, passou a mão em seus cabelos e afundou no sofá.

__ Não acredito nisso – ela disse, em choque – Silena, como...
__ Péssima
__ Imagino, Deus do céu Percy.

Rachel levantou para me abraçar, soltou-me quando viu Annabeth parada na porta de vidro.

__ Hã... – disse Rachel
__ Óh – exclamei – Annabeth, Rachel ficou sabendo do acidente e veio me ver...

Ela continuou nos fitando e andou até ficar de frente para nós, eu e Rachel ficamos a encarando.

__ Oi Rachel
__ Oi Annabeth – Rachel parecia querer se enfiar em um buraco


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