Esses Seus Olhos De Tempestade escrita por jessyweasley


Capítulo 20
Capítulo 19




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__ Droga, droga, droga.

Fui xingando baixinho até me aproximar de Annabeth, que ainda estava em choque.

Ela apontou para a janelinha do quarto e pude ver seus pais conversando animadamente. Atena nem parecia a mesma velha carrancuda do escritório, agora ela estava leve e quando sorria lembrava muito Annabeth.

__ Seus pais – sussurrei
__ E-Eu nunca imaginei viver e ver essa cena – ela me olhou perplexa – É algo que eu sempre quis ver, mas... Não parece... Certo, entende?

Olhei para ela, seus olhos demonstravam surpresa e ao mesmo tempo uma confusão que aparentemente nem ela estava conseguindo resolver.

__ Annabeth, você está com ódio, raiva ou está... Sei lá, apenas surpresa com tudo isso? – perguntei, apreensivo
__ Eu não sei, Deus, olhe só para ela – ela apontou para mãe – Eu nunca a vi assim, tão feliz e meu pai... Acho que me lembro de ver esse sorriso no rosto dele apenas quando meus irmãos nasceram...

Ela ficou admirando a cena, até que bateu a mão na testa com força fazendo um barulho.

__ Merda – ela xingou
__ O que foi? – perguntei espantado
__ Minha madrasta, ela chega daqui a algumas horas, tenho que tirar minha mãe daqui – ela me olhou – Sei que você tem que pegar seu ônibus... Mas será que me ajuda?
__ Claro – assenti – Mas antes preciso te falar uma coisa...
__ Depois Percy.

Ela entrelaçou sua mão na minha e abriu a porta de repente. Atena deu um salto da cadeira e o Sr. Chase olhou espantado para a nós, os dois se entreolharam tensos quando viram Annabeth e eu parados em frente a eles.

__ Então... Alguém pode me explicar o que é isso? – perguntou Annabeth, com a voz calma.
__ Filha – disseram os dois juntos

Balancei a cabeça para Atena não dizer que eu que armei essa coisa toda e ela me olhou com firmeza.

__ Eu resolvi vim ver o seu pai – disse ela colocando-se de pé – Algum problema?
__ Problema? Hã... Nenhum, mas tem anos que vocês não se falam – ela olhou de um para o outro, intrigada – Tem algo ai

Soltei minha mão das dela, ela estava toda molhada de suor, eu sabia que caso ela descobrisse que havia sido eu, acabou Annabeth para sempre e eu seria um cara como o Sr. Chase, que ficaria amando sempre a mesma mulher e levando uma vida mais ou menos com outra.

__ Na verdade – disse o Sr Chase – Eu liguei para Atena e pedi que ela viesse aqui
__ Por quê? – Annabeth perguntou – O que você quer com ela?
__ Annabeth, você sabe... Sua mãe e eu, bem... – ele se moveu na cama constrangido
__ A única coisa que eu sei foi que ela te abandonou quando eu ainda era um bebê – Annabeth disparou contra os dois

Atena olhou para ela com remorso, aparentemente se ela talvez pudesse voltar no tempo faria as coisas diferentes. Eu estava me sentindo um intruso no meio daquele papo de família, queria sair dali ileso e pegar meu ônibus para Long Island. Mas eu havia provocado aquele desconforto, então eu teria que amenizá-lo.

__ Annabeth – coloquei a mão em seu ombro – Seus pais já são adultos, eles sabem o que fazem...
__ Aé Percy? – ela se virou para mim – Imagine se seu pai agora quisesse voltar a falar com sua mãe como se nada tivesse acontecido, como você se sentiria?
__ Bem... Na verdade eu já perguntei a ele o porque dele ter abandonado minha mãe – ela levantou uma sobrancelha – E a resposta dele me vez ver que foi melhor que ele tivesse nos abandonado, pelo menos assim ele fez com que eu e minha mãe seguíssemos em frente sozinhos, eu fui feliz, mesmo sem ele.

Olhei para Atena e ela pela primeira vez me olhou com um pouco de carinho, o Sr. Chase balançou a cabeça me agradecendo. Por fim, olhei para Annabeth, ela pareceu ter abaixado à guarda e o nervosismo diminuído.

__ Ah... – ela suspirou – Só quero que você vá embora, a esposa dele vai chegar daqui algumas horas.
__ Tudo bem – disse Atena – Será que você deixa eu me despedir dele a sós?

Annabeth pareceu relutante, mas eu a puxei para o lado de fora.

Do lado de fora, ela ficou vigiando pela janela.

__ Annabeth – chamei
__ Oi? – ela estava com os braços cruzados olhando a janela
__ Olha para mim, por favor – pedi impaciente.

Ela se virou com a cara ruim.

__ Vamos, me leve lá embaixo, preciso pegar um táxi – pedi
__ Mas...
__ Deixem seus pais – passei o braço ao redor do seu ombro – Você parece uma criança com ciúmes do seu pai
__ Não estou com ciúmes – ela rebateu e fechou a cara

Coloquei a mão em seu queixo e dei um beijo demorado em seu rosto. Ela abriu um sorriso momentâneo que sumiu quando Atena beijou o Sr. Chase na boca. Ok... Isso foi uma surpresa e tanto, até eu estava abismado. Annabeth olhou para mim, como se dissesse: Eu não estou louca né?! E pelo meu olhar ela confirmou isso.

Logo em seguida, Atena saiu do quarto como se nada tivesse acontecido e passou por nós nos ignorando. Annabeth avançou para o quarto, mas eu a segurei pelo braço.

__ Annabeth, vê lá o que você vai falar com seu pai – pedi
__ Ele traiu a mãe dos filhos dele – ela disse com angústia
__ Eu sei – coloquei as duas mãos em seu rosto e olhei nos olhos dela – Deixe seu pai viver a vida dele, eu sei que você tem passado boa parte dos dias cuidando dele, sei o quanto você se importa com ele, mas Annabeth, ele quis isso, se ele vai sofrer com a visita dela, deixe que sofra, quando você sofre por alguém que você ama, a dor se torna mais amena, eu que o diga.
__ Eu que o diga, Percy – ela continuou me encarando nos olhos por alguns segundo e me puxou para um beijo.

Foi um beijo rápido. Nos separamos e eu pigarrei, ainda não tinha me adaptado a rotina de estar com ela novamente.

__ Bem – eu disse olhado o relógio – Eu tenho que ir, senão perderei o ônibus e o emprego
__ Tudo bem – ela disse sem graça – A gente se vê?

Poxa... Isso doeu, ouvir esse apenas “A gente se vê” foi como se fossemos um casalzinho de ginásio que resolvesse se pegar de vez em quando.

__ Ok – eu disse sem expressão
__ Hum – ela me olhou
__ Pensa no que eu disse – pedi – Até mais.
__ Até.

***

Não sei o que houve com Annabeth e o pai o resto da noite. Entrei no ônibus para Long Island e preguei no sono quase que instantaneamente. Fui acordado pelo motorista quando estávamos na rodoviária de lá. Desci sonolento, felizmente tinha apenas uma mochila. A rodoviária estava às moscas, poucos eram os táxis parados ali perto, chamei um e ele me levou até em casa. Eu precisava de um carro, anotei mentalmente para procurar algum a partir do mês seguinte.

Tateei meus bolsos em busca da minha chave, depois meia hora procurando, fui acha-las dentro da mochila, em um bolso que eu nem sabia que existia. Entrei e joguei minha mochila em qualquer tempo. Cai no sofá e tornei a pegar no sono.

PEEEM PEEEM PEEEM

Meu celular vibrava e tocava freneticamente no meu bolso, olhei as horas. Hora de trabalhar.

***

__ Olá Sr. Jackson, achei que tinha desistido – brincou Charles

Nos abraçamos.

__ E ai cara, o que houve que você não veio esses dias? – pergunto ele
__ Digamos que várias coisas, mas sintetizando, o pai de Rachel sofreu um acidente e fiquei acompanhando ela esses dias – dei uma pausa – E eu e Annabeth meio que nos entendemos.
__ Ahhh – ele deu uma gargalhada – Agora entendi a demora, estava tirando o atraso.

Eu ri junto com ele.
__ Ok, vamos parar com essa zoeira – ajeitei meu terno – Me apresente meu emprego.

Charles me mostrou onde eu trabalharia, meu pai me enganou, eu ficaria sim em alguns momentos no escritório, mas boa parte do dia eu passaria no mar pesquisando as espécies que tinham no litoral de Long Island, isso me animou um pouco. Ele me apresentou Quíron, que era o coordenador do parque e disse-me que ele se tornaria o meu melhor amigo, já que iriamos passar boas e longas horas num barco identificando e registrando as espécies.

Quíron era um cara alto, moreno, de barbas e cabelos longos, parecia um pescador que tinha ficado muito tempo naufragado, lembrei-me do filme do Tom Hanks e me perguntei se ele não teria uma bola de vôlei com uma cara desenhada. Balancei minha cabeça espantando o assunto e prestei atenção no que ele dizia.

Ele estava explicando que amanhã sairíamos de madrugada para olhar uma espécie de peixe que tinha hábitos noturnos e que o resto do dia passaríamos enfiados no escritório em reunião com meu pai, essa parte me desagradou bastante.

Voltamos para a empresa e Charles tornou a me chamar para jantar na casa dele.

__ Acho que Silena não vai gostar muito – tirei meu blazer – Não quero estragar outra toalha de mesa cara dela, obrigado amigo.
__ Tem certeza? – ele tirou a chave do carro
__ Tenho – eu sorri – Mas, se você quiser me dar uma carona eu aceito
__ Sem problemas – ele abriu o carro e nós entramos.

Charles me contou que havia recebido uma promoção para morar no Texas, mas não queria contar para Silena. Ela era muito apegada a Long Island e ele não sabia como seria a reação dela, além do casamento deles está quase chegando e ele não querer abalá-la com isso.

Despedimo-nos e ele arrancou o carro. O sol já tinha sumido e eu ouvia os grilos de longe. Entrei em casa e tudo que eu precisava era de um banho, subi, despi-me rapidamente e entrei na ducha, ah como era bom sentir a água quente tocando minha pele. A campainha começou a tocar.

__ O Deus, quem será? – murmurei

Enrolei a toalha na cintura e desci praguejando, não se podia nem tomar mais um banho sem ser incomodado. A campainha tornou a tocar, então abri a porta com violência.

__ Você sempre costuma atender suas visitas de toalha? – perguntou Annabeth

Olhei espantado para ela. O que diabos ela fazia em Long Island?

__ Hã... – me apoiei na porta e fiquei a encarando.

Ela estava vestida com um terninho cinza, os cabelos devidamente presos em um coque, exceto por alguns fios de sua franja que caiam delicadamente pelo rosto, estava bem maquiada e seu carro estava parado virado de frente para minha garagem.

__ Abra a garagem para mim – ela disse como se fosse algo óbvio – Está tarde para ficar com o carro na rua.
__ Ok – assenti

Entrei na cozinha e procurei dentro de um pote o controle, achei e fui até a porta entregar para ela. Ela pegou e foi até o carro, colocando-o para dentro. Fechei a porta da sala e a vi entrando pela porta dos fundos.

__ O que você está fazendo aqui? – perguntei confuso
__ Digamos que resolvi tirar uns dias de folga – ela jogou a pasta em cima do meu sofá – E como você mora a poucos metros da praia, não pensei em lugar melhor
__ Annabeth, você está bem?

Fui até ela e coloquei a mão em sua testa, como se verificasse sua temperatura.

__ Estou ótima – disse ela afastando minha mão com um tapa – Aliás, vá se trocar, ou melhor, terminar de se lavar, você está com sabão nas costas.

Passei a mão nas minhas costas e era verdade. Corei e subi para terminar meu banho.

Quando voltei, Annabeth já tinha subido com as malas e se acomodado no quarto de visitas.

__ Você é rápida – falei
__ Achei isso – disse ela de costas para mim e me jogando uma calcinha – Rápido é você

Examinei a peça e só então fui me dar conta que era de Rachel, meu rosto se avermelhou rapidamente. Joguei a peça de volta para Annabeth.

__ Droga, não é nada disso que você está pensando, isso é de Rachel.

Ela virou-se para mim com uma cara de espanto.

__ Rachel? – perguntou incrédula – Como fui ingênua pensando que vocês eram apenas amigos
__ E somos – bufei – É que ela ficou aqui uns dias, deve ter se esquecido, só isso
__ Hum

Entrei no quarto e me sentei na ponta da cama, observando ela colocar as roupas na gaveta, tinha roupas para dias ali.

__ Quando você diz passar alguns dias... Quantos dias exatamente são? – olhei com os olhos semicerrados para ela
__ Alguns – ela abriu a segunda mala

Espiei lá dentro e vi uma calcinha vermelha, levantei-me e tirei-a da mala antes que Annabeth pudesse pegar.

__ Humm, bela peça – analisei levantando-a para que ela pudesse ver
__ ME DEVOLVE ISSO – Annabeth gritou
__ Sabia que você tinha outras intenções com isso – esquivei de uma tentativa frustrada dela de tomar a calcinha de mim – Você quer me seduzir...

Ela estava vermelha de ódio e vergonha. Como era mais baixa que eu, não tinha sucesso em alcança-la quando eu esticava o braço.

__ Percy Jackson, me devolva isso – ela esperneou
__ Depende – fiz uma cara de safado
__ Do que?
__ Vista para mim, que eu a devolvo – dei de ombros
__ Nunca – ela cruzou os braços
__ Ok, guardarei de recordação então – enfiei a calcinha no bolso
__ Percy... – ela me ameaçou com um olhar

Se isso não estivesse sendo tão cômico, talvez eu tivesse tido medo desse olhar, mas vê-la brava daquele jeito e por tal motivo, me dava vontade de continuar a perturbá-la.

__ Some daqui, idiota – ela jogou um sapato em mim
__ Ei, você está na minha casa – zombei
__ Dane-se – ela jogou o outro par – Me devolva!

Dessa vez eu desviei do sapato. Olhei para ela rindo, retirei a calcinha do bolso e comecei a rodá-la no dedo.

__ Será ótimo ter você aqui esses dias comigo, senhorita Chase – disse saindo do quarto.


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