__ Droga, droga... - reclamei para mim mesma quando olhei no relógio.

Eram 13h e eu ainda estava me arrumando, a reunião com Zeus e minha mãe havia sido marcada para as 14:30. Corria pela casa feito uma louca, calçando um salto e ao mesmo tempo ajeitando o cabelo, escovando os dentes e me maquiando, o bom é que no final o resultado deu certo. Eu estava apresentável como minha mãe pedira. Me fitei no espelho em busca de um pouco de confiança para apresentar o meu projeto de reforma de todos os escritórios da empresa.
         Meu estômago dava voltas e mais voltas, senti saudades de Percy agora, para me dar algumas palavras de consolo, pensei em ligar para ele ontem depois de ler a mensagem que ele havia deixado junto com um café da manhã maravilhoso, mas tinha uma reunião que durou o dia inteiro e sugou toda minha capacidade de raciocínio, tanto é que cheguei e desabei na cama. Olhei para o relógio, faltava 1h, corri e peguei a pasta com os desenhos do projeto e algumas anotações, minha bolsa e sai do apto para pegar um táxi.
           Corri até a avenida e chamei um táxi, dois me ignoraram. Quando o terceiro parou entrei apressada e pedi para ele tocar em direção ao centro de Manhattan. Remexi minha bolsa em busca do meu celular e não o encontrei.

__ Mais que droga - dei um leve murro no banco do carro

O motorista de táxi me olhou pelo retrovisor.

__ Algum problema senhora? 
          __ Não, só esqueci uma coisa em casa - dei um suspiro longo para me acalmar
          __ Quer voltar? - ele sugeriu
          __ Não, não, vamos continuar.

______________________________________________________________________

A apresentação acabou 3 horas depois, todos saíram da sala contentes e a reforma foi aprovada, eu estava radiante por dentro, mas o cansaço era mais do que aparente em meu rosto. 

___ Vá descansar garota, você merece - disse Zeus ao passar por mim me dando um tapinha no ombro
         ___ Você foi brilhante Annabeth! - disse minha mãe com os olhos brilhando de orgulho - Adorei suas planilhas em 3D, foi o seu ápice, acho que foi ai que você conseguiu conquistar a bancada.

Surpreendentemente minha mãe me abraçou. Ela não era muito de demonstrar suas emoções e eu retribui o abraço.

__ Agora siga o conselho de Zeus e vá arejar essa cabeça, você merece. Mês que vem, após sua formatura, as obras começam e seu trabalho triplica. 
          __ Obrigada mãe.

Trocamos um olhar alegre, olhei ela sair da sala. Exalava orgulho. Dei um suspiro de alívio e me sentei na cadeira, peguei minha bolsa para buscar o celular e ligar para Percy me encontrar, mas lembrei que havia esquecido o celular em casa, tornei a fechá-la e me arrependi de não ter decorado o número do meu namorado ainda. Decidi que iria vê-lo em casa mesmo. 
          Os escritórios já estavam mais vazio quando passei por eles, só alguns funcionários estavam por ali fazendo horas extras. Olhei no relógio e já havia dado 18h, rumei a recepção. Quando cheguei o porteiro noturno me cumprimentou educadamente e me desejou uma boa noite, como eu esperava que fosse. O período de pico ainda estava em seu ápice e por mais que Percy morasse relativamente perto daqui demoraria para que eu chegasse, mas não havia problema. Passei na lojinha de doces e procurei alguns azuis, felizmente achei, os comprei e fui chamar um táxi que logo parou e pedi para que ele fosse até lá; 

___ Obrigada - agradeci ao taxista e o paguei

Olhei o relógio novamente e já eram 19:20, a exaustão estava evidente no meu corpo, ele já pedia um bom banho e uma cama com direito a um filminho para acalmar. Entrei no prédio antigo que Percy morava, o elevador chegou rapidamente no andar onde ele morava. Passei vagarosamente pelos dois apartamentos no inicio do corredor e cheguei ao dele no fim, toquei a campainha uma vez, mas ninguém veio atender.

__ Vai Percy, atende... - sussurrei baixinho

Toquei novamente, dessa vez mais longamente na esperança de que ele estivesse apenas dormindo e acordasse. Ouvi barulhos da chave se mexendo do outro lado, ajeitei meu cabelo rapidamente e abri um sorriso discreto que se esvaiu quando a porta abriu.

"Mais que p*rra é essa?" 

Pensei exatamente isso quando vi a pessoa que abriu a porta. Era uma garota na casa dos seus 20 e poucos anos, estava com uma trança parecendo um ninho de ratos, típico de quem acabara de acordar, esfregava os olhos e me olhou com uma cara de: Quem é você?

"Eu que pergunto quem é você, vadia" - respondi o olhar no mesmo tom

__ Pois não? - disse ela

A encarei de baixo pra cima, a pirigueti vestia um minúsculo short de dormir e uma camiseta que eu já tinha visto com outra pessoa e essa pessoa era Percy, uma pessoa que daqui a pouco estaria morta. 

__ Da licença - eu disse

Empurrei a porta com pouca delicadeza e entrei no apartamento, inspecionei rapidamente para ver se não havia acontecido uma orgia louca ali e nenhum sinal disso estava aparente, o que me aliviou um pouco. Ás vezes era uma prima de Percy e ele nem estava em casa. Mas eu estava enganada, logo depois surge ele espiando para ver se não tinha ninguém na sala, olhei para ele com muito, muito ódio.

__ Annabeth! - disse ele espantado

Como ele podia ser tão cínico?

__ Isso não é nada do que você está pensando Annie - disse ele vindo em minha direção.

Foi ai que eu vi que ele estava apenas de toalha, meu olhos começaram a querer se encher de lágrimas, mas não deixei que isso ficasse transparente, meu ódio era infinitamente maior. Como Percy tinha feito isso comigo? Como?

__ Explica pra ela Cali, explica que não é nada disso que ela está pensando... – ele disse com uma voz suplicante

CALI? Isso era demais para mim, encontro a vadia desse jeito e ele ainda a chama de apelidinhos carinhosos na MINHA frente? Percy... Você está indo longe demais. 

__ Cali? – repeti – Quer dizer que o nome da sua amiguinha é Cali?
         __ Calipso - ouvi a voz dela me respondendo 
        __ Cala a sua boca que eu não estou falando com você, garota - me segurei para não voar no pescoço dela. 
       __ Annabeth, essa é uma amiga de Long Island, ela veio me visitar, dai ela estava dormindo e eu fui tomar um banho, nada passa de um mal entendido. - disse ele com uma cara de pau imensa.
       __ Hum... Então porque ela está com suas roupas? – cruzei os braços e rebati ironicamente – Essa é a desculpa mais ridícula Percy
            __ Mais é verdade – ele estava perto de mim agora
        __ Venho para a casa do meu namorado toda feliz depois de um dia de cão fazendo projetos para a empresa do seu tio, trago umas porcarias de uns doces azuis idiotas que sua mãe disse que você gostava e acho uma vadia com a roupa do meu namorado, ela abre a porta para mim, eu entro, vejo que ela é uma vadia bonita e gostosa e ainda por cima, em seguida meu namorado sai do banho com o cabelo molhado e com uma toalha na cintura, não Percy, isso não é nada demais.
           __ Primeiro, Calipso não é uma vadia - rebateu ele

COMO É QUE É SENHOR PERCY JACKSON?? Para mim tinha sido a gota d'água

__ E ainda protege a garota – joguei as coisas que eu carregava no chão– Que saber Percy, vai se danar, não me liga!

Fui em direção a porta pisando duro, a vadiazinha retardada demorou para sair da minha frente, minha vontade era de enchê-la de socos, mas logo ela se ligou e saiu da minha frente. Olhei para trás na esperança de que ele viesse atrás de mim, entrei no elevador e nada de Percy, realmente... Ele havia me botado um lindo par de chifres.

A ideia me fez chorar de raiva, sai do elevador correndo e me enfiei no primeiro táxi que vi. Pedi para ir pra casa. Chorei dentro do táxi como não chorava a muito tempo, odeio me apegar as pessoas por isso, elas sempre me decepcionam. Notei o taxista me olhando diversas vezes pelo retrovisor, foquei meu olhar para a janela, eu via tudo embaçado por conta das lágrimas, a cidade estava luminosa como sempre, ao contrário da minha felicidade momentânea que eu queria que fosse que nem essas luzes, nunca se apagassem. 

Entrei no meu apartamento, praguejei por deixar minhas coisas no apartamento dele, felizmente meu celular estava aqui, vi três chamadas que não foram atendidas, todas elas de Percy. O simples ato de ler o nome dele me fazia chorar ainda mais. Logo o celular começou a vibrar na minha mão, era ele, pensei em atender para xinga-lo ainda mais, mas deixei cair na caixa postal. Logo após que a mensagem foi deixada, disquei para a mesma e ouvi:

"Annabeth, eu te amo"

__ IDIOOOOOOTA! - gritei e joguei o celular no chão com força (amanhã me arrependeria disso)

Abracei meu travesseiro e continuei a chorar, infelizmente o travesseiro ainda tinha o cheiro dele, o cheiro do xampu que ele usara na noite em que dormira aqui, tinha marcas de sangue do nariz quebrado dele. Enchi o travesseiro de socos imaginando a cara dele e por fim continuei abraçada com ele, chorando... Chorando até pegar no sono.