A Idade Da Minha Alma escrita por Cora


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, fiquei sem pc >
Está aí, espero que gostem. Amo vocês ♥
Boa Leitura.



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Estou de férias. Cheguei a contar isso? Não consigo me lembrar.

Mas enfim, estou de férias até esta segunda-feira. Longe da pequena clínica veterinária que trabalho das seis às dez da noite. É um trabalho de meio período que me ajuda a pagar as contas. Mai é mais ocupada, ela trabalha em um restaurante a três quadras do apê. Ela é uma das Chefs de uma equipe grande de um lugar super caro que só faz comidas exóticas. De vez em quando ela me arranja umas reservas e eu posso jantar lá, mas as coisas são tão caras que meu pobre e humilde salário me proíbe de comer lá mais de uma vez por mês.

Eu tenho muito orgulho dela, sabe? Da Mai.

Quando decidimos morar juntas ela me disse que um dia nós seríamos importantes nessa vida. Eu não sei se acreditei muito nela, quero dizer, eu sou bolsista da faculdade, tenho um emprego de merda de meio período dando banho em cães de madame e não tenho nem sequer um carro. Se esse é o caminho para ser importante, acho que peguei uma rua errada e me perdi no meio da estrada. Não que eu não pense em ganhar muito dinheiro e viajar pelo mundo. Porque eu penso, mas é bem difícil sonhar com essa realidade de merda batendo na minha cara todos os dias. Bom, pelo menos eu estou de férias.

Estamos no inverno, ou começo dele. Onde eu moro sempre dá geada nos dias muito frios. Se você acordar bem cedinho, dá pra ver as árvores e os telhados das casas todos branquinhos, como se fosse algodão. Os pinheiros enormes parecem sorvetes e no fim do dia baixa uma neblina gelada e você não consegue enxergar a mais de 2 metros. Adoro o inverno. Adoro passar as noites embaixo da coberta lendo e bebendo café como quer não quer mais nada da vida. Ou somente fechar os olhos e ouvir o barulho das gotas de chuva batendo na janela do meu quarto.

Existe um lugar na cidade que você pode ir sem pagar caro, e ainda comprar livros a preço de sebo. É uma pequena livraria-café no centro que chamada Aparelhar, você pode sentar em um dos muitos puff’s espalhados pela loja, ou se acomodar em uma das poltronas fofinhas e sofás cheios de almofadas. O chão é de carpe macio, cor de creme, e as paredes têm desenhos de passarinhos e nuvens. Eles servem chá, café e sucos. Além de uma porção de biscoitos e pedaços de bolos e tortas coloridíssimas, tão saborosas que sempre me deixam com vontade de mais.

Quando saí de manhã do apê, não sabia o que fazer ou para onde ir. Comecei a andar meio sem rumo pelas calçadas da cidade até que meus pés me levaram a costumeira rua da livraria-café. Passei a manhã toda ali, comprei um livro de Jane Austen e me reclinei em uma das poltronas confortáveis, estava tão bom que não percebi o passar ligeiro das horas.

Eu ouvia o tilintar do sininho na porta, que soava a cada vez que ela abria e fechava. Foi entre um desses tilintares que uma sombra alta se aproximou de mim.

Ergui os olhos por cima do óculos, o livro ainda aberto em meu colo.

- Olha que eu encontro por aqui – O tom de voz dele me deixa um pouco nervosa. Os lindos olhos azuis me encaram e o sorriso sedutor me faz estremecer.

- Olá Miguel – digo.

- Oi Brianna, tudo bem com você?

- Uhn, sim. Tudo ótimo, e com você?

- Estou muito bem, aliás, ver você me deixou feliz. – Olho-o com uma mistura de surpresa e desconfiança. Ele se senta ao meu lado e agarra o livro sobre meu colo.

- Que livro está lendo? – Olha a capa por alguns instantes – Emma? Você lê Jane Austen?

- Claro, porque não leria? É uma excelente escritora.

- Você não parece o tipo de mulher que lê romance água-com-açúcar.

- Ahn é? E como eu pareço então? Algo menos feminino e inteligente? – Ele me encara e apoia o queixo na mão direita. Os olhos claros fixos nos meus.

- Não, na foi isso que quis dizer. Você parece o tipo que lê Clarice Lispector e Sidney Sheldon. Livros de suspense e crônicas, alguns de terror e auto-biografias – Solto uma gargalhada e sorrio. O cara acertou em cheio.

- Bem na mosca. Mas eu leio alguns romances, até gosto. Acho que o que me falta de romântica e doce na vida real, eu encontro e busco nos livros.

- Você é doce. – diz-me ele. Nego com a cabeça. Não sou doce, posso ser gentil e amável, mas não sou doce. Odeio doce. Odeio tudo que seja doce demais, sinto nojo, náuseas.

- Eu sou educada, não confunda as coisas.

- Tudo bem, pequena.

- Não me chame assim – corto.

- Porque não? Você é pequena.

- Não importa, não me chame assim. Você não tem tanta intimidade comigo.

- Uhn, agora eu entendi a parte do doce. – Ele se curva na minha direção. – Olha, porque não almoça comigo? – penso por alguns intantes na proposta e respondo:

- É um pedido tentador, mas acho que vou recusar.

- Por quê? Está ocupada?

- Não. Só acho melhor assim. Você é problema. Um grande problema.

Miguel sorri de canto para mim. Meu coração dispara como louco e eu não consigo desviar o olhar e corar. Droga, porque, diabos, tive que dizer isso?

- E-eu n-não qui-quis dizer isso e....

- Vamos pequena, eu estou com fome. E já decidi que vou almoçar com você. Torne as coisas mais fáceis para nós dois.

- Tá – digo por fim, me rendendo. Mas tudo bem, afinal, quem não se renderia?

Levanto-me e guardo o livro novo na bolsa. Saímos em direção a um restaurante pequeno e simples, mas confortável. Sentamos em uma mesa encostada na parede e de frente para a cozinha. O cheiro que sinto é delicioso e meu estômago ronca em desespero. Estou com fome, muita fome, e nem tinha me dando conta disso até agora. Ele pede um macarrão a parmegiana e duas latas de coca. Eu peço o mesmo e uma porção grande de frango a passarinho.

- Grande? Tem certeza que isso é só para você?

- Tenho. – Respondo.

- Não é muito para alguém tão pequena?

- Pare de me chamar assim! – Reclamo. Acabo falando um pouco mais alto do que gostaria e minhas bochechas ficam vermelhas na hora.

- Se acalme, você é muito explosiva, sabia? – Encosto as costas na parede, solto um longo suspiro e me acalmo.

- Sim, eu sei. Mairin é a única pessoa que consegue conviver tanto tempo comigo. Mesmo assim ela sempre me diz que ainda vai acabar me estrangulando. Não duvido dela, nunca duvide de Mairin.

Ele abre um sorriso e eu me sinto mais confortável. Miguel está sentado de frente para mim e suas mãos estão sobre a mesa. Ele tem mãos bonitas, noto. Os dedos são longos e finos, como dedos de pianista. As unhas são bonitas também, não estranhas como a maioria das unhas masculinas. Percebo também que ele não possui nenhuma marca de anel de compromisso, então acho que ele não namora sério há algum tempo. Fico feliz em pensar assim.

- Me conte alguma coisa sobre você – peço.

- Sobre mim? O que quer saber?

- Qualquer coisa que queira me contar.

- Eu sou formado em antropologia, gosto de surfar nos finais de semana e meu gênero de filmes preferido é ficção científica. Eu costumo correr todas as manhãs, já que acho academias muito barulhentas e fedorentas. Tenho um gato chamado Miojo e dois peixinhos que não tem nome. E é isso. – ele faz uma pausa e volta a colocar o queixo sobre a mão direita. – Agora é sua vez.

Cruzo os dedos, penso por alguns segundos no que falar.

- Eu não sou formada em nada, ainda. Falta dois anos para eu terminar a faculdade. Sou bolsista e preciso sempre tirar boas notas e fazer as coisas certas. Mas mesmo assim, estou a um fio de perder a bolsa de estudos. Eu gosto de poesia e livros de suspense e terror. Os filmes seguem essa linha, mas sou bem aberta aos outros gêneros. Não pratico exercícios físicos, a menos que comer possa ser considerado como um. Sou magra assim graças à genética, não sei nem o que significa fazer dieta. Não tenho animais de estimação, só a Mai. É isso.

Ficamos longos minutos em siêncio. Ele me olha séria e fixamente. Percebo que gosto do formato do seu rosto e dos olhos brilhantes, mas sinto-me um pouco desconfortável com o silêncio.

- Você me fascina. – Ele diz. Arregalo os olhos diante dessas palavras. A saliva seca e eu não sei o que dizer.  Quase que por sorte o garçom aparece com nossos pedidos. Começo a comer de imediato porque não faço ideia do que falar a seguir.

- E seus pais? – ele pergunta depois de algum tempo. Fico quieta, muito quieta. Milhares de lembranças e sensações me assombram nessa hora. Não sei se gostaria de falar sobre isso, não pelo fato de eu o conhecer a pouco tempo, mas simplesmente não gosto de falar sobre isso. Por um segundo eu sinto o choro prender a garganta. Mas não sai, não choro. Eu nunca choro.

Ele deve ter notado meu silêncio súbito, ou talvez minha expressão tenha mudado. Não sei, não importa.

- Não precisa falar sobre isso se não quiser. Perguntei por educação. – Respiro fundo e olho-o fixamente. Ele está sério e eu percebo que ele disse a verdade, talvez até estivesse um pouco preocupado. Não, não acho que esteja preocupado comigo, é tolice pensar isso.

- É difícil para eu falar disso. – Minha voz sai pouco firme.

- Então esqueça a pergunta – Nego com a cabeça.

- Tudo bem. Por algum motivo eu quero falar. Que diabos, como você faz isso? Me deixar confortável e acreditando em você, um completo estanho – Miguel não diz nada, apenas sorri para mim. Vejo com um insetivo e decido que tudo bem se falar um pouco. Respiro fundo.

- Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai era alcoólatra. Eu fui criada pela minha avó materna, ela me resgatou das garras do meu pai quando tinha 10 anos, depois de apanhar até perder a consciência. Tenho um irmão por parte do meu pai, mas raramente o vejo. Às vezes meu pai vem atrás de mim para pedir dinheiro e eu dou e ele vai embora, Mai não sabe disso, nem minha avó, mas eu estou contando isso a você por motivos que eu ainda não sei. Um estranho.

- Brianna... – Sinto as mãos dele envolvendo as minhas. Elas são quentes como um dia de sol, e a pele dele é muito mais escura em contraste com a minha. O gesto é simples, mas meu coração se aperta junto com meu estômago. Sinto-me desprotegida, mas não recuo. O toque dele me acalma.

- Obrigada. – murmuro.

Ficamos assim por um longo tempo, até que terminamos e vamos embora.

Passamos a tarde andando e conversando. Tomamos sorvete e sentamo-nos em um velho banco de praça. Dou-me conta de que eu nunca tinha feito algo assim antes. Nenhum cara havia me levado para tomar sorvete ou caminhando ao meu lado de mãos dadas. Não que eu tenha muitos caras na minha lista, mas sinto que deveria ter feito isso antes.

Por fim escurece e caminhamos até meu apartamento. Despedimos-nos com um abraço e por algum motivo eu me sinto frustrada. Não que eu sonhe que esse cara me beije ou algo assim, mas juro que não me importaria se ele o fizesse. Vejo Miguel ir embora, observando as costas largas se afastando de mim com um sentimento estranho no peito. Por algum motivo eu queria mais, mesmo nem ao menos tendo pensado nisso antes.

Apoio às costas em uma das paredes do muro do prédio e olho para o céu. Fecho os olhos e fico assim até que ouço passos. Abro os olhos e vejo que ele vem correndo em minha direção, me afasto do muro e caminho de encontro a ele.

- O que foi? – pergunto. Mas ele não responde.

Olhando fixamente para mim, mas não diz nada.

- Porque você não me responde? – pergunto – Tem alguma coisa errada? – Minha voz soa um pouco triste e eu me repudio por ser tão transparente. Ele começa a andar. Acho-o muito bonito, talvez mais do que ele realmente é, mas não admito.

- Porque não me responde? – Silêncio. Nenhuma palavra sai da boca dele, nem sequer um suspiro de indignação. Permito-me analisá-lo por alguns segundos, durante o dia todo eu estive ao lado dele, mas não tinha observado o que vestia. Parece-me muito elegante com a calça jeans preta e o casaco de couro.  A barba que começa a crescer deixa-o com um ar mais maduro e por algum motivo sinto vontade de tocá-lo.

Mas não digo nada, nem sequer me movo, ele está me olhando de uma forma que me deixa desconfortável. Sinto que ele desnuda minha alma, seus olhos parecem querer me dizer alguma coisa, mas eu não consigo decifrá-lo. E ele continua se aproximando devagar e eu fico muda. Vejo-o a poucos passos de mim agora.

O brilho dos olhos dele me tira o fôlego. Então Miguel dá um passo em minha direção, e instintivamente eu recuo. Meu coração parece estourar no peito, o sangue corre depressa em minhas veias e me falta o ar.

Arregalo os olhos, respiro pela boca e vejo-o dar mais dois passos na minha direção. Eu recuo outra vez. Sinto a parede fria do muro contra as minhas costas e vejo o cerco se fechar sobre mim. Não sei por que estou fazendo isso, sentir-me tão assustada é idiota, mas não consigo evitar recuar. Olho para os lados tentando encontrar outra saída, mas antes que pudesse dar um passo, eu sinto seus braços fecharem as saídas ao meu redor, prendendo-me contra a parede.

Estou perdida. Não posso fugir e sei que o que virá a seguir vai mudar tudo. Sinto-me como uma presa encurralada, o gato torna-se o rato. Como a vida é irônica.

Decido encará-lo, em um último ato de desespero eu torço para que meu olhar o afaste, mas logo percebo meu erro. Ele me encara com uma seriedade assustadora. Sinto sua respiração lenta arrepiar-me, seus olhos estão enevoados e seu olhar é intenso e escuro. Tento falar, mas não saem sons da minha boca. Poderia afastá-lo com um empurrão, mas minhas mãos pendem imóveis ao lado do meu corpo. A única coisa que consigo sentir é minha respiração ofegante, e meu peito que sobe e desce com uma velocidade incomum, denunciando meu desconforto.

Seu olhar então desce, sinto que ele se prende em minha boca e não consigo deixar de engolir em seco. Involuntariamente umedeço meus lábios com a ponta da língua. Não percebo minha atitude clara de desejo, até que já o tinha feito. Sei o que isso significa e sinto minhas bochechas corarem. Ele volta a fitar meus olhos, e o chão parece sumir sob meus pés. Vejo uma mistura de sensações e aquelas palavras gritantes que eu ainda não consigo traduzir.

Noto o traço firme do seu queixo e também os fios negros de barda amanhecida. Ele cheira a loção e perfume caro e isso só me deixa ainda mais trêmula. Estou tremendo? Oh sim. Não me dei conta de que minhas mãos tremiam e que estou suando bicas.

- Eu adoro o formato da sua boca – a voz dele é rouca e lenta. Por longos segundos eu esqueço meu nome e também onde estou. Tudo que não é a voz, o cheiro ou o corpo dele, somem – É pequena como a de uma boneca, mas é carnuda e delineada, e tem uma cor rosada que me faz querer morder e lamber até que fique vermelha. – Ele aproxima o corpo do meu. Sinto o calor que emana de sua pele mesmo com os quilos de roupa que nos separam. Estou fria se comparada a ele, tão fria que chego a me questionar o porquê de ainda não ter morrido de frio. Desde quando eu estive longe do calor? Desde quando estou tão fria? Sinto o calor dele me enchendo de uma sensação calma e confortável, tal qual eu nunca senti antes.

Então ele desde o rosto devagar, aproximando-se do meu com uma lentidão que me deixa com calafrios na espinha. Os lábios dele estão entreabertos e tão perto que consigo sentir o cheiro de menta do seu hálito quente. Mas ele para. Com apenas alguns centímetros longe de mim, ele para.

- Brianna – Meu nome ganha uma entonação diferente e a voz rouca parece acariciar-me. Solto um suspiro que mais parece um gemido de satisfação quando sinto sua boca tocar a pele nua do meu pescoço. Ele morde o lóbulo da minha orelha e desce devagar, beijando e chupando minha pele com lentidão. A língua dele me tortura aos poucos, e eu solto mais um suspiro. Meu corpo se contrai involuntariamente contra o dele.

Seus lábios descem devagar pela linha lateral do meu pescoço, até que o sinto lamber a parte interna do meu queixo e estremeço com violência. Preciso urgentemente da sua boca, e eu a encontro, ávida como a minha. Ele morde meu lábio inferior com força, e eu seguro a lapela do seu casaco de couro, puxando com força contra o meu corpo.

Ele é mais alto do que eu, talvez 15 ou 20 centímetros a mais. Por isso fico na ponta dos pés, encaixando o corpo dele no meu, enquanto sinto suas mãos envolver minhas costas e descer devagar até minhas nádegas.

As bocas se abrem, desejosas. A língua dele percorre e explora minha boca, e eu respondo com a mesma explosão descontrolada. Esqueço-me de respirar, esqueço-me de onde estou e que alguém poderia nos ver assim. Esqueço-me de tudo e só consigo sentir a parede em minhas costas e o corpo que me puxa para uma proximidade que vai além do possível. Ele me aperta contra a parede, as mãos empurrando-me contra ele, enquanto as minhas procuram o calor por baixo do casaco. Seguro os seus ombros e absorvo o calor dele, como se procurasse abrigo no casaco quente.

Então ele se afasta e o beijo termina. Mas eu ainda não estou satisfeita, solto o ar que nem sabia que tinha trancado e dou-lhe um selinho, que logo ele transforma em um beijo profundo que começa e termina com a mesma rapidez e violência.

Ele morde meu lábio que força, e sinto uma dor deliciosa. Mordo o lábio inferior inchado, e fecho os olhos por alguns instantes. Sinto-o se afastar de mim e tudo começa a ficar frio outra vez. Estou tremendo.

- Isso foi perigoso – diz-me ele. Eu não sei o que falar em resposta, por isso fico quieta. Ele me olha como se não soubesse o que fazer ou o que dizer, eu prefiro que não fale nada. Ele me abraça e eu encosto a cabeça em seu ombro, como não fazia há muito tempo. O mundo me pareceu frio demais agora, e estou com medo da sensação que virá pela manhã, mas não me afasto, afundo meu rosto em seu pescoço e fecho os olhos.

Não percebo, mas meu corpo já não treme mais.

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 Enquanto subo as escadas do prédio até o quarto andar onde fica meu apartamento, sinto minhas pernas ainda fracas e meu coração palpitante. Não sei o que pensar e nem quero saber. Por agora quero minha cama e no depois eu pensarei amanhã. Levo a ponta dos dedos até meus lábios inchados, ainda sinto o gosto de menta do hálito dele.

Vou até o apartamento 404 e procuro a chave em meu bolso. Abro-a devagar e depois vou andando em direção à cozinha. Jogo meu casaco em uma cadeira e me viro em direção ao meu quarto quando travo na metade do caminho.

Estou olhando para a sala, mais precisamente para o sofá da minha sala. Nele está Mairin, só de shorts e sutiã. E enrolada a ela está uma garota de pele tão branca quanto a minha, se não mais. Longos e cacheados cabelos cor de fogo se espalham pelo estofado bege. Percebo que ela está com menos roupa do que minha companheira de apartamento.

Fico vermelha na hora. Não sei para onde olhar.

- E-eu a-acho-o q-que vou do-ormir – murmuro gaguejante. Mairin me olha em um misto de confusão e espanto, mas não está envergonhada, ela nunca se envergonha facilmente. Eu me viro e ando rápida e silenciosamente até meu quarto. Decido que um banho é a melhor escolha.

Uma hora depois eu saio e vou até a cozinha. Não estou com fome, mas preciso de um copo de água. Encontro Mai e a garota sentadas no balcão. Quando Mai me vê, ela se levanta.

- Bri, essa é Sarah. Sarah, essa é Brianna. E desculpe por antes. – Não digo nada, apenas olho para a garota ruiva que se levanta pouco depois de Mairin. Ela é alta, muito mais alta do que eu e é bonita, a garota mais bonita que já vi na vida. Seus olhos são azul-acinzentados, e inúmeras sardas cobrem a pele marfim. Os cabelos são vermelhos e muito longos, o corpo é esguio e curvilíneo, como o de uma modelo. Fico admirada com ela.

- Olá – digo.

- Oi – A voz dele é rouca, baixa e melodiosa. Não sei o que fazer agora. Estou travada e acho que é muita informação para um dia só. Tento sorrir e vou para a cozinha, encho um copo com água e me viro rapidamente.

- Vou dormir. – Anuncio. E com pressa, fujo para o quarto.

Minha cabeça está tão cheia que acho que vou explodir, me jogo na cama e torço para acordar somente na segunda-feira. Faço uma nota mental para me lembrar de que Mairin precisa levar uma grande bronca. Cogito a possibilidade de contar para ela o que aconteceu entre mim e Miguel, mas prefiro o silêncio. Sei como ela reagiria e eu tenho direito a privacidade. Pelo menos eu não estava me agarrando com alguém no sofá da sala que divido com outra pessoa.

Fecho os olhos e ainda consigo sentir o calor do corpo dele. Durmo de imediato. 


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