A Idade Da Minha Alma escrita por Cora


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, finalmente postei.



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Acordei no dia seguinte tão mal que parecia que eu tinha bebido como uma condenada para estancar as dúvidas que sangravam no meu peito.

Eu estava um pouco chateada por ter flagrado minha melhor amiga nos agarros com uma desconhecida, que mais parecia uma versão ruiva da Barbie, no sofá que nós compramos juntas para celebrar nossa mudança. Porra, nós combinamos que só poderíamos trazer alguém para casa se ficássemos nos quartos, e eu odiava quando alguém não cumpria uma promessa, além do mais Mairim, que era a criatura que eu mais confiava na face da terra.

Estou sentada em uma das mesas da biblioteca, sai cedo por causa das novas aulas do semestre e não comi direito. Não vi Mairim sair e nem sequer acordar, faço uma nota mental para lembrar de que preciso conversar com ela.

– Bri, a aula vai começar em 15 minutos, eu vou indo, tá? – Concordo com uma aceno. Lana é uma das poucas garotas legais que eu mantenho algum laço afetivo. Ela faz psicologia e está no mesmo semestre que eu, nós nos conhecemos por causa das pilhas de livros que teimo em levar pra casa. Lana também gosta muito de ler.

Me despeço e volto para o livro que estou lendo, Paulo Leminski é meu poeta preferido e devo estar relendo esse livro pela oitava ou nona vez. Quando chega a hora da aula começar, sigo para a sala, mas continuo lendo. Não vejo meus passos, mas chego intacta na minha carteira. Um a um os alunos vão entrando, mas a turma é pequena, tem 16 alunos, e logo todos já estão sentados esperando o novo professor. Ainda estou lendo quando ele entra. Posso ouvi-lo arrumando os papéis, mas não tenho a menor vontade de olhar para ele.

O professor começa a fazer a chamada e eu ainda estou lendo. Sou a terceira em sequência e quando ouço meu nome e me indigno a olhá-lo, quase caio para trás com a cadeira. Quem me encara de volta, quase tão surpreso quanto eu, tem olhos profundamente azuis.

– Miguel – murmuro. Ele não diz nada, apenas continua a chamada e vez ou outra olha para mim. Quero enfiar a cara no chão e sumir, mas tudo que posso fazer é me esconder ainda mais atrás das páginas alaranjadas do livro de Leminski.

Fico a aula inteira evitando encontrar seus olhos e quase grito um aleluia quando a aula finalmente termina.

– Brianna, por favor, preciso conversar com você.

Todos já saíram da sala, menos eu. Quero dizer não, mas ele segura meu braço com firmeza e eu não tenho pra onde fugir.

– Me solte – minha voz sai firme.

– Não. Escute, eu sei que está surpresa e eu também estou, mas...

– Olha – interrompo-o rispidamente – esqueça o que ouve entre mim e você ontem a noite.

– Não dá.

– Caralho, você precisa fazer isso.

– Mas eu não quero. – o tom baixo da voz dele arrepia minha nuca e por alguns segundos fico morrendo de vontade dele me beijar.

– Nem eu – confesso – Tá, me encontre às 18 horas naquele bar de sábado. Agora não é hora e nem lugar pra resolvermos isso. – Eu saio da sala sem olhar para ele, sigo para a biblioteca com o objetivo de me enfiar nos livros de uma vez. Meu dia segue na mesma merda que sempre foi.

Estou na frente do maldito bar, 15 minutos atrasada, para variar. Ele está lá dentro bebendo uma cerveja. Entro e o cumprimento de longe. Peço uma cerveja e sento ao seu lado, logo depois me viro para encará-lo.

– Temos que conversar – ele disse. É claro que temos, isso é lógico.

– Isso tem que terminar. Escuta Miguel, eu sei que está bom. Aliás, está realmente muito bom, mas não bom para ficar junto, entendeu? Então pronto. Deu.

Ele solta uma gargalha alta e eu fico ainda mais irritada.

– Anna, as coisas não funcionam assim – Anna­. Só uma pessoa tinha me chamado assim em toda a minha vida e eu não sei se gosto dele me chamando assim. – Não faça isso – imploro.

– Isso o quê?

– Não me chama assim.

– Anna, não muda de assunto. Não me diz essas coisas e depois fala que temos que dar um fim, eu não quero. – solto um suspiro longo, tentando manter a calma.

– Você sabe que o relacionamento entra aluno e professor não é permitido e eu não posso perder minha bolsa. Então não piora a PORRA. DA. MINHA. VIDA.

Eu me levanto, nem sequer me importo com o fato de que não toquei na minha cerveja. Simplesmente me levanto e saio do bar. Mas Miguel me segue e consegue me alcançar pouco tempo depois. Ele me segura e quando luto para me afastar mais ele me prende contra uma parede de tijolos.

– Eu não quero piorar nada, Anna. Mas não diga para não fazer isso, porque você também quer isso. Você mexe comigo, merda. E eu não quero perder você. E eu sei sobre o que posso e não posso fazer com meus alunos, e não quero te ferrar por causa disso. Mas eu não quero me afastar.

Ai ele me beija e eu retribuo o beijo em seguida. Sei que está tudo virando um inferno, mas tudo parece sumir enquanto a gente se beija. Não sei o que vou fazer, não sei nem se eu deveria fazer algo, tudo que sei é que quero continuar beijando Miguel até o dia acabar.

Novamente chego em casa mais tarde do que pretendia. Mairim está me esperando na sala, os braços cruzados e aquela expressão que uma mãe faz quando o filho faz algo de errado.

– Precisamos conversar- ela começa dizendo.

– É – meu murmuro é seguindo por um suspiro dela e tudo o que faço é jogar os livros na mesa e minha mochila cai no chão. Sento ao lado dela no sofá e por instantes que pareceram eternos não dissemos nada.

– Desculpe – Mairim diz por fim.

– Não peça desculpas, Mai. Acho que eu só estava com ciúmes. Mas porra, tinha que ser justo no nosso sofá?

– Aconteceu, Bri. Eu sei que tu não gosta quando eu quebro uma promessa, mas eu sou humana, merda. Então me perdoa.

– Tá. – mas minha resposta não a convence. Ela sabe que tem algo errado comigo.

– Me conta. – nego com a cabeça. Não quero contar para ela, não quero contar para ninguém.

– Brianna, conte logo ou eu vou descobrir sozinha.

Suspiro – Eu...eu... é um cara que eu conheci.

– Um cara que você conheceu? – a voz de Mairim estava alterada – Desde quando você conhece caras, Brianna?

Suspiro, realmente constrangida – Foi na faculdade, eu esbarrei nele e depois nós nos encontramos em um bar e conversamos...

– Eu não estou gostando disso.

– Eu me abri com ele, Mai. Ele é tão bonito que me deixa tonta. E é inteligente, o que um cara desses estava fazendo ali, conversando comigo?

– Ai meu Deus! Brianna, desde quando você conversa com caras? Agora só o que me falta é vocês se beijarem da próxima vez que se virem.

– Nós já nos beijamos.

– QUÊ? Eu juro que você está muito encrencada, mocinha!

– Ai eu descobri, hoje de manhã, que ele é meu professor.

Mairim fechou a boca e ficou me olhando. Juro que não fez mais nada além de me olhar e me olhar enquanto eu ficava mais vermelha.

– Você não pode sair com um professor.

– AVÁ! Sério? Juro que nem fazia ideia – minha ironia transborda e eu sinto vontade de rir – Eu sei disso. Tentei resolver mas...

– Mas?

– Mas ai terminamos dando uns amassos atrás de um barzinho.

– Jesus Cristo, agora ela dá uns amassos. – solto um som que mais parece um rosnado e olho friamente para ela.

– Você não está ajudando. – Mai solta uma gargalhada amarga e cruza os braços.

– Quem bom, Brianna. Porque eu realmente não quero ajudar.

– Ahn Mairim, vá para o inferno.

Me levanto do sofá e caminho a passos largos e pesados até meu quarto. Deito na cama e abro o primeiro livro que acho. Mai entra alguns minutos depois.

– Tá, desculpas. Mas eu não gosto de saber que você andou dando uns amassos em um estranho que pode foder com a sua bolsa na faculdade, Bri. – Ela se senta na ponta da minha cama – E eu também não gosto do fato de você não ter me contado.

– Eu não achava que precisava contar. Eu sou adulta, pago minhas contas e sou solteira. Não existe nada que impeça de dar uns amassos em um cara gostoso.

– É, mas eu sou sua irmã mais velha. Nunca vai entrar na minha cabeça que você está se agarrando com alguém.

Ela me abraça e eu aproveito alguns instantes para não pensar em nada. Temos a mesma idade, mas desde que nos conhecemos eu sempre fui à irmã mais nova. Mai sempre quis me proteger.

– E agora, o que eu faço? – sou eu quem quebra o silêncio. Afastamos-nos do abraço, mas Mai segura minhas mãos.

– Você não quer terminar com ele?

– Não – respondo.

– Mantenha essa... essa relação escondida.

– Tá.

– Mas não faça besteira. Entendeu?

Começo a rir da cara dela. Mai sempre agiu como a mãe que não tive e isso me deixava feliz. Mesmo que vez ou outra eu ainda quisesse arrancar-lhe o pescoço.

– Entendi. Não se preocupe.

– Amo você, maninha.

– Amo você, Mai.

E ela me deixou sozinha no quarto.


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