A Idade Da Minha Alma escrita por Cora


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa noite meus lindos leitores ^^
Demorei, mas postei. Como prometido, quinta-feira tem o próximo.
>< Eu escrevi muito, mas como sou má, resolvi cortar e postar só uma parte, pretendo postar a próxima nesse final de semana.
Boa leitura.



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Cheguei a casa me sentindo no cúmulo da fadiga.

Minha cabeça latejava tanto que parecia que um martelo enorme tinha encontrado minha têmpora e decidido que seria um ótimo alvo do dia. Fiquei muito aliviada em perceber que a paixonite de Mairin e a própria criatura não estava em casa. Cai com tudo na casa de casal king size do meu quarto bagunçado. Nem sequer tirei meus sapatos, joguei a bolsa no chão e afundei nos lençóis com cheiro do meu perfume. Fui deitando com tudo, esperava conseguir dormir e com sorte essa maldita dor passasse.

Mas quando fecho os olhos, não consigo dormir.

Eu posso dizer algo romântico, do tipo: Eu estava pensando no cara gosto de olhos azuis que havia encontrado aquela manhã. Mas seria uma grande e fudida mentira. Eu não consigo dormir porque a maldita dor de cabeça não deixa.

Tento respirar, coloco o travesseiro sobre a minha cabeça e até me reviro na cama. Nada, nadinha de nada minimiza essa porcaria.

Me arrasto em direção a cozinha e tomo um remédio, bebo um copo de água e enfio um pedaço de bolo pela garganta, sem a mínima fome ou vontade. Me acomodo no sofá e fico deitada esperando o efeito começar a chegar e minimizar a dor, acabo cochilando feito uma pedra no sofá duro.

Não sonho, não costumo sonhar e isso é irritante. Acordo com um cutucão forte no meu ombro, os olhos negros de Mairin me encaram de perto.

- Vamos criatura - diz ela - Você não tem mais 12 anos pra ser levada pra cama no colo. E mesmo com essa sua altura de anão de jardim e esse peso de pena, eu não consigo de carregar.

Bocejo, com um alivio tremendo eu percebo que a dor passou. Pisco algumas vezes, tentando me acostumar a luz clara da lâmpada. Então me sento, minhas costas doem, mas estou bem, verdadeiramente bem. Abro um enorme sorriso.

- Credo, é a primeira vez que te vejo com um sorriso depois de ser acordada. Assim tu me assusta.

- Mai, o que você fez pra jantar?

- Legal, acorda pensando em comida. E eu, Bri? Assim você fere meus sentimentos - Ela tenta fazer biquinho e uma voz chorosa, mas não consegue abandonar o sorriso. Se eu gostasse de garotas, Mai me fisgaria pelo estômago.

- Você sabe que eu te amo, mas agora eu amo mais a sua comida. Que tal fazer aqueles pães de queijo que me deixam com água na boca?

- Só se você me preparar um banho de banheira. - Topo na hora. Mairin vai para a cozinha e eu ligo a TV. Aproveito e busco minha bolsa no quarto. Reviro meus cadernos, estou cheia de tarefas e essa semana acaba mais um semestre. Na segunda-feira teremos matérias novas, e eu ainda tenho algumas coisas pendentes para resolver.

Começo a responder um questionário. Resolvo parar alguns minutos depois, o cheiro de pão de queijo vindo da cozinha está deixando meu estômago irrequieto e eu não consigo me concentrar.

- Está pronto. - Ouço Mai gritar da minúscula cozinha e corro para o banheiro. Ligo a torneira e a água quente começa a encher a banheiro. Volto para a sala e encontro um delicioso prato cheio de comida me chamando.

- Seu banho estará pronto em 15 minutos. - Agarro um pão de queijo e mordo com vontade. O vapor quente misturado com o cheiro faz-me estremecer.

- Você é a melhor - digo de boca cheia

- Ás vezes eu penso que você só me ama pela comida.

Reflito por alguns instantes em suas palavras.

- Você é sábia. - Mai ri ao meu lado e me dá um tapa no topo da cabeça.

- Pelo menos assim você engorda. Nunca vi criatura mais magra.

- Pelo menos posso comer a vontade.

Mai concorda e mordo um pãozinho.

Ficamos por alguns minutos em silêncio, sentadas no tapete velho com os cheiros deliciosos pairando no ar e o som vindo da televisão. Eram momentos como este que eu mais gostava. Paz, eu sentia uma paz quase eterna dentro do meu peito. É engraçado como são as pequenas coisas que fazem a diferença, é engraçado como as coisas mais simples, tornam-se as mais importantes em nossa vida, ganhando um espaço privilegiando em nossa memória. Minha vida não era formada de grandes feitos, mas de pequenas e especiais realizações. Poderia não ser memorável, ou digno de oscar, mas o laço que mantínhamos era um verdadeiro ato de amor, e isso era raro. Eu sabia.

- Mai?

- Sim - ela me responde.

- Você acha que ele estaria orgulhoso de quem nos tornamos?

Ela maneia a cabeça.

- Não sei.

- Você sente orgulho de quem se tornou? - insisto.

- Acho... acho que sim. Porque está me perguntando isso, Brianna?

- E-eu acho que precisava lembrar, você sabe, dele. Eu preciso lembrar de que ele foi real.

- Ele foi, pequena, mas falar dele dói muito - sim, penso, eu sei. Posso ver nos olhos dela, posso ver em como ficou tensa.

- Eu sei.- Ela não diz nada e eu agradeço em silêncio. Está escuro agora, mas ainda é cedo para ir para a cama.

- Seu banho - lembro.

- Ahn. - Ela se levanta e vai em direção ao banheiro. Ouço-a fechar a torneira e me deito de costas no chão duro.

Ele. Não consigo dizer seu nome, nem mesmo em minha mente. Até pensar faz o meu coração se apertar no peito, até mesmo pensar me dilacera a alma. Ele deveria estar aqui conosco agora. Ele deveria cuidar de nós duas. - NÃO – as palavras saem da minha boca, não queria dizê-las em voz alta, mas não posso evitar de dizê-las - Não pense nisso, esqueça, precisa esquecer. - Fecho os olhos e levo as mãos ao rosto, aos poucos sinto meu controle se estabilizar e já não sinto nada. Nos últimos anos eu aprendi a não sentir nada, mas até mesmo não sentir é doloroso.

Respira, se acalma, digo a mim mesma. Eu queria que houvesse um lugar no mundo que pudesse me fazer esquecer. Não existe alguma cirurgia para isso? Remédio? Tratamento? Não existe cura para a falta?

Me levanto e vou para a cozinha. Lavo a louça tão devagar que até parece que não quero que acabe. Seco tudo e deixo a cozinha, apagando a luz antes de ir para o meu quarto.

Procuro uma camiseta velha para vestir, estou cansada e quero um banho quente também. Meu guarda-roupa é uma bagunça, não está sujo, mas muito desorganizado. Meu quarto é uma bagunça, minha bolsa é uma bagunça, minha cama, meu cabelo, minha vida é uma completa e interminável bagunça.

Não acho minha blusa de dormir preferida, uma com o Piu-Piu e um bocado de furinhos. Escolho uma camiseta verde, no meio está uma linda imagem do Link, do jogo Legend of Zelda, meu preferido.

Pego uma calcinha limpa e corro para o banheiro livre. A ducha de água está tão quente que minha pele fica vermelha, mas não sinto dor. O vapor quente limpa minha mente e eu sinto uma camada de pele me deixando aos poucos. O sabonete desliza pela minha pele clara e eu sinto que estou mais leve.

Saio do chuveiro e visto a camiseta, coloco um shorts velho qualquer e deito na cama. Do meu lado eu vejo um livro aberto me chamando para uma deleitosa fuga.

Abro o livro e começo a ler. Por algumas horas o mundo pareceu um lugar melhor.

- Vamos Bri! - Estou colocando o tênis e acabei de perder o ônibus. Ótimo.

- Tô indo, calma. - Sai correndo em direção ao ponto de ônibus e acabo chegando dois minutos atrasada. Por sorte consigo chegar antes da senhora maracujá.

É sexta-feira, ou seja: não tenho aulas de tarde!

Almoço na escola e aproveito para passar na biblioteca e pego "Orgulho e preconceito" da minha estimada escritora Jane Austen. Passo no mercado e compro frutas e chá, pretendo fazer sucos naturais, pois não sou muito fã de refrigerantes e sucos artificiais.

Existem quatro apartamentos por andar no prédio em que eu moro. Ele deve ter uns 20 anos e já está precisando de uma reforma urgente. Quem olha de fora não consegue imaginar como é confortável viver aqui. O apartamento é mediano, com dois quartos, uma suíte, cozinha americana/lavação e um banheiro social. Têm uma sacada, e eu e Mairin fizemos uma pequena biblioteca particular na parede onde fica a televisão. Levamos uns quatro anos pra deixá-lo ajeitadinho, começando a economizar ainda no ensino médio.

Liberdade. Passei 18 anos sonhando em como seria minha vida agora, e eu não sei se era bem isso que eu esperava, mas mesmo em meio a uma porrada de contas e as trocentas preocupações extras, como lavar roupa, limpar a casa, trabalhar e manter a ordem da minha vida, acho que valeu a espera. Além disso, tenho Mairin, que me ajuda e meio que faz papel de mãe. Acho que ela se sente responsável em ser algo que eu não tive, sei lá.

Se eu gosto? É, acho que sim. Não sou o ser mais responsável do planeta, talvez minha cabeça ainda seja de alguém com 15 anos, e não quase 21. Eu não sei se você me entende, cometo tantos erros que acho que minha vida só não virou uma merda enorme e fedorenta, por causa de alguma ajuda divina e paciência da vida. Eu frequentei consultórios de psicólogos e terapeutas por quase dez anos. Não que eu tenha algum problema grave ou seja louca, quer dizer, completamente louca. Mas eu sempre me mantive afastada da maioria das pessoas, ou elas sempre mantiveram certa distância de mim, não sei. Acho que pensar que a culpa é deles e não minha é egoísmo, eu sempre me mantive sozinha, mesmo com Mai aqui, morando comigo, ainda é difícil para mim me abrir, ela sabe disso, e mesmo assim nunca deixou de perguntar.

Talvez seja por isso que nunca namorei. Quer dizer, eu saí com alguns caras, mas não muitos e no fim nunca dava certo. Ninguém ficou muito tempo, nenhum deles durou tempo suficiente para me lembrar.

Eu lido com os problemas da mesma forma que lido com meus medos, resolvo da forma mais prática possível, ou evito. O problema é que evitar nunca resolve e tudo sempre tende a piorar, como uma enorme bola de neve. E no fim essa é sempre a melhor saída, e é inevitável que eu me ferre no final. Sou um desastre.

Droga, ainda não descobri o que vou fazer nesse sábado.


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Notas finais do capítulo

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