POV Austin

Depois do nosso quase beijo, toda vez que eu via a Dawson, tinha vontade de segurá-la pela cintura e beijá-la para poder sentir seus lábios doces e macios nos meus. Porém, qualquer contato físico ou visual que eu tinha com ela, a mesma me ignorava. Tentei não mostrar minha decepção, e quando fomos para as cachoeiras pela trilha, fiquei todo o tempo calado.

Quando chegamos, a mesma tirou seus shorts e eu fiquei visualmente embasbacado com seu corpo e não consegui tirar meus olhos dela. A morena era tão pequena, mas tão linda, que me fez perguntar como outros garotos ainda não estavam babando por ela (o Elliot cara de idiota não conta).

Ofereci-lhe a mão para a pequena não acabar escorregando nas pedras e ela aceitou. Tentei não sorrir o tempo inteiro, mas se ela visse minha expressão ou meus olhos, eles me trairiam.

Divertimo-nos bastante e quando a Didi apareceu nos abraçou com tanta força que eu achei que iria sufocar, e em seguida, fomos almoçar. Conversamos aleatoriamente e rimos bastante como grandes e divertidos amigos que somos.

No meio da conversa, o Dallas falou que iria jogar na próxima semana e a Ally complementou seu comentário dizendo que ele iria competir contra a escola do Elliot e não sei ao certo como me senti por ela ter lembrado dele, mas sei que uma fúria desconhecida foi instalada em meu corpo.

Eu havia lembrado da conversa que eu e aquele rato magricelo tivemos no hospital e a raiva foi visível em minha face, tanto que eu pedi ao Dallas que o massacrasse no dia do jogo.

Notei após disso o olhar e o sorriso diabólico da Trish e percebi que ela estava aprontando algo. Não sei se para me provocar ou para provar algo a si mesma, mas ela disse uma coisa que me deu vontade de calá-la ali mesmo:

– Ally, o Elliot não é aquele seu vizinho gato? – A morena ia responder, mas eu respondi por ela:

– Gato? Sério? Tá mais para um rato magro. – Senti os olhares brincalhões da Trish e da Cassidy sobre mim, porém não me importei.

– Vocês sabiam que o primeiro beijo da Ally foi com o Elliot? – Esse comentário me deixou mais furioso do que o anterior, principalmente quando percebi MINHA morena ficando envergonhada por causa desta fala de sua amiga. Percebi os quatro me observando (menos a Ally que estava constrangida) e falei:

– Eu já sabia e tinha me esquecido, obrigada por me lembrar Trish. – Falei aquilo secamente e tentei descontar minha fúria na carne, a devorando rapidamente.

– Vocês sentiram esse cheiro? É de ciúmes. – Mesmo o Dez querendo brincar e tentando aliviar a tensão como sempre ele fazia, não foi o suficiente, e só me deixou mais cansado e notando que aquela tinha sido a gota d’água, tanto que em seguida comecei a me levantar.

– Chega né? Por que não vamos dar uma volta? É ótimo para ajudar na digestão. – Escutei a risada de todos quando me levantei e em seguida a voz da Ally.

– Espera ai loiro oxigenado, vou com você.

Eu não sabia ao certo se ela sentiu pena de mim ou percebeu a situação em que estávamos para ter dito aquilo, mas me senti aliviado por ter ela ao meu lado.

Enquanto caminhávamos, percebi que meu ataque de fúrias não era nada além de ciúmes e minha vontade de beijá-la ia se tornando maior. Eu percebi que não queria que ela fosse de mais ninguém, só minha. Contudo, eu não sabia por que ao mesmo tempo em que queria beijá-la, a queria longe de mim...

Paramos em uma pequena praça ali do sítio e eu perguntei se ela queria andar no balanço, sendo surpreendido com seu “sim” entusiasmado. A balancei e em seguida comecei a me balançar também, competindo com ela em uma brincadeirinha de quem ia mais alto.

Quando voltamos a caminhar e paramos de discutir sobre quem tinha ganhado em nossa brincadeira, ela ficou em silêncio como se estivesse se debatendo para ver se falava algo e finalmente, quando disse, a mesma estava nervosa.

– Austin, sobre hoje na caminhonete...

– Sim?

– Desculpa.

– Pelo quê? – Franzi o cenho em confusão.

– Por quase... Você sabe... – Descobri o que ela estava falando e me decepcionei.

– Por você quase ter me beijado?

– É. – Me senti rejeitado com sua resposta, mas perguntei assim mesmo:

– Você não queria me beijar? – Ela ouviu minha voz entristecida e complementou:

– Não, eu não quis dizer isso... – Com apenas seis palavras ela conseguiu me fazer sorrir. Sorri maliciosamente para mesma e continuei.

– Então você quis me beijar?

– Também não é isso que eu quis dizer...

– Então, se por acaso eu te beijasse, você não iria se importar? – Ela mordeu o lábio pensativa e me surpreendeu totalmente com sua resposta:

– Se você beijasse bem, não. – Não sabia se ela estava falando aquilo de brincadeira ou verdadeiramente, mas senti meu coração acelerando, minhas mãos ficarem suadas, meu estômago se embrulhando e minha respiração entrecortada e aproveitei a oportunidade, a beijando.

POV Ally

Perdi a linha de raciocínio assim que seus lábios tocaram os meus. Ele havia agarrado meu rosto com ambas suas grandes mãos e eu pude me sentir totalmente quente e protegida com apenas aquele seu gesto. Eu só hesitei por meio segundo, antes de responder o beijo com a mesma força que ele e ficar na ponta dos pés para envolver meus braços firmemente ao redor de seu pescoço, puxando-o para mais perto e sentindo em meus dedos a macieza de seus cabelos loiros. Seus lábios quentes e macios eram ferozes e urgentes e quando ele passou sua língua em meu lábio inferior pedindo espaço, eu permiti e foi como se tudo em minha volta explodisse em uma chuva de fogos de artifícios deixando o beijo mais intenso e doce. Ele curvou seu corpo ligeiramente para ficar ainda mais colado a mim e segurou minha cintura com suas mãos possessivamente. Ele era dominante e sua experiente habilidade me fazia ficar mais hipnotizada e com as pernas bambas como gelatina. Não sabia se aquilo era um mero sonho, mas aproveitei cada segundo de sua boca na minha. Nossas roupas ainda estavam um pouco molhadas, mas estávamos tão próximos, que parecíamos estar pegando o calor um do outro.

Quando nos separamos, depois de longos segundos (ou minutos, eu não sabia ao certo, por que perdi totalmente a noção da hora) estávamos ofegantes e sem fôlego. Eu sorri e o observei já que o mesmo ainda estava de olhos fechados. Seus lábios estavam entreabertos e um tanto inchados e vermelhos e sorri sabendo que eu tinha sido a causa daquilo. Quando ele abriu os olhos, percebi que estavam mais escuros do que nunca, porém quando ele se afastou rapidamente de mim, me senti estranha. O observei sair correndo e entrar na trilha e senti um frio se instalando rapidamente em mim. Ele me beija tão apaixonadamente e ferozmente daquele jeito e depois sai correndo? Eu sei que ele é “bipolar”, mas achei que ele se importasse comigo...

Senti algumas lágrimas querendo escapar de meus olhos, mas as segurei e fui atrás do loiro oxigenado com muitas perguntas pairando em minha mente.

POV Austin

Quando eu e a Ally nos separamos, sai correndo. Não sabia por que tinha feito aquilo, mas correr foi minha melhor opção.

Adentrei a mata e fui em direção à cachoeira, me sentando nas pedras e sentindo o sol em minha pele. Fiquei pensando na Ally e não sabia ao certo o que estava sentindo.

– O que foi aquilo? – Levantei rapidamente em um pulo por causa do susto que eu levei e notei de quem era a voz, me surpreendendo.

– Didi? O que faz aqui? – Ela sorriu e sentou-se ao meu lado, fazendo-me sentar novamente.

– Eu vi o beijo que você deu naquela garota e, nossa! Fiquei com um calor! – Ela começou a rir. – Pareceram iguais aqueles beijos de cinema sabe?

– Hum...

– Mas o mocinho do filme saiu correndo e eu não entendi o por quê. – Seus olhos brincalhões e idênticos aos de seu irmão me questionavam.

– E se eu não fosse o mocinho dessa história? – Ela levantou a sobrancelha em questionamento.

– Não? Então você é o vilão? Acho que se fosse, eu estaria em grandes apuros faz tempo. – Revirei os olhos com seu comentário, mas mantive um sorriso em meu rosto. – Mas sério, por que você saiu correndo? Eu achei que na realidade, quem sempre saia correndo, eram as garotas.

– Espera ai, um garoto confuso não pode beijar uma menina e depois sair correndo? – Fiz cara de surpresa. – Então eu inverti os papéis, preciso voltar lá e fazê-la sair correndo primeiramente.

– Austin! É sério, por que você saiu correndo? – Respirei fundo e falei:

– Olha, eu só contaria essas coisas ao Dez, mas você é irmã dele, quase minha irmã também, então acho que posso dividir isto com você. – Ela sorriu e pediu para eu prosseguir. – Lembra-se daquela garota que eu namorava?

– Aquela que você estava namorando e sempre dizia que ia trazer aqui, mas nunca trouxe?

– Ela mesma. – Inspirei o ar profundamente, e depois expirei. - Enfim, a mesma me enganou e me deu um belo pé na bunda, mas eu ainda sou ligado a ela de alguma forma que eu não sei explicar.

– Continue.

– Eu nunca acreditei no amor, desde que eu era pequeno. Quando eu tive esperanças de voltar a acreditar nele, tudo foi por água baixo e foi ai que ela entrou. Eu não sei explicar, mas sempre que eu a via, tudo parecia estar em cores e não mais preto em branco como sempre estavam. Ela era a minha prova de amor. Ela me fez questionar aquele conceito do amor não existente. Mas quando eu descobri sua mentira, fiquei mais decepcionado do que já tinha ficado em toda minha vida. Todo aquele conhecimento de amor que estava ganhando foi perdido e meu coração, roubado por ela, foi despedaçado.

– Mas por que você saiu correndo após dar um beijo naquela garota? Ally, certo?

– Ela mesma. Eu não sei... Com a Ally, todos aqueles sentimentos malditos que eu sentia, voltam, só que com mais força. Ela me faz querer conhecer seus medos, seus sonhos, seus principais motivos de sorrir para sempre mantê-los em seu rosto, ou seus principais motivos de chorar para destruí-los e nunca mais vê-la com uma sequer lágrima nos olhos. Eu só sei que para mim, ela parece tão vulnerável e eu me sinto como se quisesse protege-la deste mundo perigoso e idiota. Ela me faz querer ser eu mesmo.

– Mas enfim, por que você saiu correndo?

– Por que eu percebi que com a outra garota, eu só sentia afeto, carinho e com a Ally não. Eu acho que sinto amor. – A Didi sorriu.

– E por que não fala isto para ela?

– Eu não me sinto preparado, eu acho, para começar um relacionamento novamente. Além do mais eu não quero machuca-la. Não quero vê-la sofrer. E eu ainda acredito que ela mereça pessoa melhor.

– Melhor que você loiro? Eu te conheço a um bom tempo e te achava uma má companhia para o Dez, mas você mudou totalmente meu conceito. Acho que você pode se transformar na melhor pessoa para ela. – Sorri com seu comentário.

– Obrigada.

– Mas se você não estiver preparado, fale isto para ela. Se ela realmente gostar de você, ela lhe dará o tempo necessário. Mas não demore demais, um dia as pessoas se cansam. – Acenei em concordância e a abracei.

– Obrigada Didi. Você é a melhor irmã do meu melhor amigo do mundo!

– E sua irmã temporária se precisar. – Ela piscou para mim e saiu de lá, me deixando absorto em pensamentos.

POV Ally

Sem querer ser intrometida, mas eu escutei toda a conversa que o Austin teve com a Didi e não pude deixar de ficar com um enorme sorriso no rosto. Eu não sabia que ele realmente gostava de mim e se importava, mas agora... Sentia que meu coração ia explodir!

Quando a Didi saiu, eu esperei um pouquinho e depois me aproximei dele.

– Austin? – Ele virou-se e encontrou meu olhar, levantando-se em seguida.

– Ally. – Eu adorava escutar meu nome sendo pronunciado por ele, pois o mesmo parecia estica-lo, como se estivesse experimentando cada letra, e sua voz rouca era completamente sexy.

– Tudo bem?

– Acho que sim. – Ele coçou a nuca nervosamente. – Sobre o beijo...

– Por que saiu correndo? – Eu já sabia a resposta, mas sabia que ele iria inventar alguma desculpa, e qualquer coisa que saísse dele eu iria concordar, por que a verdade eu iria mantê-la guardada em mim.

– Eu... Eu... Eu não sei bem. Eu fiquei confuso em relação a algumas coisas e... E realmente não sei. – Eu olhei fixamente para seus olhos. – Acho que eu precisava de um tempo para pensar.

Aproximei-me dele e o abracei fortemente, pensando em algo para dizer.

– Está tudo bem. – Ele colocou sua testa na minha, como se aquela ação o relaxasse por completo. – Se você precisa de tempo, eu posso lhe dar. – Ele arregalou os olhos com minha fala e separou-se de mim bruscamente.

– Você escutou a conversa que eu tive com a Didi?

– Você estava conversando com a Didi? – Fiz uma cara de confusão.

– Sim... Ela estava aqui agora pouco.

– Mas eu cheguei agora e não vi ela pela trilha. – Inventei uma desculpa e ele pareceu me examinar para ver se encontrava algo em meu rosto que pudesse me dedurar. – Além do mais, se você saiu correndo daquele jeito era por que obviamente precisava de tempo.

– É verdade... – Ele ainda parecia desconfiado, mas relaxou em seguida e um enorme sorriso malicioso foi colocado em seu rosto. – Além do mais eu precisava lhe dar tempo para você recuperar o fôlego de meu incrível beijo.

– Incrível? Tem certeza? – Ele colocou a mão em cima do coração como se parecesse ofendido.

– Eu sei de minhas incríveis habilidades, e sei que beijar é uma delas. – Mostrei a língua para ele, e lhe dei um soco fraco no braço.

– Finalmente encontramos vocês! – A Cassidy estava nas costas do Dallas e a Trish e o Dez estavam ao lado deles de mãos dadas. – Estávamos procurando vocês loucamente sabiam? Até a Didi dizer que o Austin estava aqui.

– Oi gente. – Eu sorri para eles. – A gente já vai?

– Ainda não, temos tempo. Vamos antes de escurecer. – O Dez falou contente. – Vamos dar um mergulho?

– Claro! – Dissemos em uníssono e tiramos nossas saídas de banho, mergulhando na água geladinha.

...oOo...

– Para quem não queria ir à cachoeira por que dizia não querer passar pela trilha, você foi a que mais se divertiu Cassy. – Eu ainda estava no banheiro feminino com as garotas, mas já tinha colocado minha roupa (uma blusa xadrez preta e roxa e um shorts preto), só estava as esperando.

– Eu sei, o Dallas me convenceu. – A loira acabará de passar sua maquiagem e agora arrumava seu cabelo. – Além do mais, foi divertido mesmo.

– Você deveria ter ido antes. – A Trish abriu a porta do banheiro para nós sairmos e fomos nos encontrar com os garotos.

Acabamos passando um pouco do tempo e ficamos mais do que deveríamos, mas o tempo extra foi o mais divertido.

– Vamos? – O Dez já estava com as chaves da sua caminhonete na mão e nós acenamos.

– Eu e a Ally vamos aonde?

– Se vocês quiserem podem vir comigo. – O Dallas falou dando de ombros.

– Mas eu ainda tenho que passar na casa da Trish e buscar algumas coisas lá. – Olhei para o Austin e ele pensou um instante.

– Então vamos com o Dez e quando ele for deixar a Trish, você pega suas coisas e depois a deixamos em casa. – Concordei com ele. Despedimo-nos da Didi e a agradecemos por tudo. Ela sorriu e disse que esperava nos ver mais vezes.

Eu e o loiro subimos na parte traseira da caminhonete e ficamos deitados com nossas mochilas servindo de travesseiros. A noite estava linda e as estrelas já eram visíveis no céu. O vento estava um pouco forte, até por que estávamos em um automóvel em movimento e eu fiquei com um pouco de frio. O Aus percebeu que eu estava arrepiada e me aninhou em seus braços.

Ele ligou seu celular e botou “Imagine” do John Lennon baixinho para escutarmos.

Eu estava muito cansada e antes de adormecer, escutei o Austin me chamando.

– Ally?

– Sim?

– Você já viu uma estrela cadente?

– Não.

– E como você faz seus pedidos?

– Eu apenas acredito bem forte neles e corro atrás dos mesmos. Você sabe, não importa o desejo ou a circunstância na qual você a faz, só importa a força com a qual você quer aquilo.

– Então, se eu olhar para uma estrela e desejar algo com bastante força, isso pode acontecer? – Pensei um instante no que eu e ele dissemos, e encarei uma estrela no céu.

– Isso depende de você. – Ele pareceu encarar a imensidão azul ao alto e eu fiquei me questionando qual desejo ele havia feito. – Você fez um pedido?

– Fiz.

– E eu posso saber? – Ele virou seu rosto para me encarar e aproximou seus lábios do meu ouvido, sussurrando:

– Se eu contar ele não vai poder ser realizado. – Depois, sorriu para mim e me deu um beijo na testa. – Agora descanse pequena, a viagem é longa e você deve estar cansada.

– Tudo bem. – Naquele momento, em seus braços, observando o céu e pensando em milhões de coisas, sem me importar – ainda – em voltar a minha realidade e ter que me preocupar com meus problemas, eu senti que as coisas estavam certas. Eu estar ali, em seus braços, junto a ele, estava certo. E com este pensamento, eu adormeci.