POV Austin

Abri meus olhos com bastante dificuldade, pois um deles não queria abrir. Meu corpo todo doía e eu estava meio zonzo, não fazendo a menor ideia de onde estava. Eu deduzi que era um hospital por que o quarto era todo branco e um aparelho que verifica os batimentos cardíacos bipava ao lado. O gosto de sangue ainda estava impregnado em minha boca, mas o líquido em si havia sumido. Tentei me levantar, mas minhas costelas doíam e uma agulha ardia em meu braço conforme eu me mexia. Quando decidi chamar alguém para me ajudar, a Ally entrou no quarto com uma aparência esgotada.

- Hey, você acordou. – Vi um brilho em seu olhar e um fraco sorriso se formando em seu rosto.

- O que aconteceu?

- Você não lembra? – Ela franziu o cenho.

- Bem, lembro-me de ir atrás dos garotos ajuda-los, mas quando os encontrei, os mesmos estavam caídos no chão e levando socos de outras pessoas.

- E depois?

- Eu me meti na briga e a partir dai tudo fica em preto. – Ela sorriu e sentou-se na beirada da cama em que eu estava.

- Pois é. Você decidiu ajuda-los e acabou apanhando. No meio disso caiu no chão, bateu a cabeça com força e desmaiou em seguida.

- Ah. E como fui parar aqui?

- Você... – A morena ia responder, mas foi detida por uma enfermeira que entrou no quarto.

- Ally? O seu amigo ruivo acordou. Você quer ir falar com ele agora?

- Claro. – Ela sorriu e a médica acenou, saindo em seguida. – Olha, eu vou lá ver o Dez e pedir algumas informações dele e depois eu volto e te trago alguma comida do hospital para você se alimentar, tudo bem?

- Tudo bem. – Assenti e ela saiu do quarto.

Fiquei encarando o teto branco um instante e tentando me lembrar do que mais tinha acontecido. Sai correndo do parque para ajudar o Dallas e o Dez, que disseram que estavam sendo seguidos. Quando cheguei ao restaurante, os mesmos já haviam saído e estavam em um beco próximo, sendo espancados. Eu tentei ajudar mais um garoto me acertou com força no estômago e no rosto. Antes de eu cair no chão, lembro-me de um garoto vir correndo até nós, mas depois... Tudo fica preto.

POV Ally

Quando eu e o Elliot encontramos os garotos, os mesmos já estavam bastante ensanguentados e dois deles – o Dez e o Austin – estavam inconscientes. Ajudamo-los a entrarem no carro e depois seguimos diretamente para o hospital. Quando chegamos, alguns enfermeiros pegaram três macas e os levaram para quartos distintos.

Senti-me mal pelos três, mas principalmente pelo Austin. Quando o vi com todo aquele sangue fiquei horrorizada e quase em estado de choque. Minha cabeça girava e meus joelhos pareciam ser feitos de gelatina, mas me controlei e pedi que nada acontecesse de ruim. O Elliot ficou aquela noite comigo, mas de manhã cedinho disse que precisava ir para casa, senão sua mãe ficaria muito preocupada. Eu assenti e ele me deu um beijo no topo da minha cabeça, dizendo que tudo ficaria bem.

Perto do meio dia resolvi comer algo e fui até a lanchonete do hospital. Pedi um café e uma rosquinha, mesmo meu estômago estando embrulhado (provavelmente da noite sem comer). Quando estava acabando de comer, recebi a informação de que o Austin estava acordando e eu sai em disparada para seu quarto. Entrei devagar, mas o mesmo já tinha acordado e notado minha presença.

Acabei nossa mini conversa por que fui interrompida e fui falar com o ruivo, já que o mesmo também havia acordado. Cheguei em seu quarto – que ficava ao lado – e conversei com ele sobre o que havia ocorrido, descobrindo todos os acontecimentos da noite passada.

“Decidimos fazer um encontro duplo para ver se o Dallas se declarava logo para Cassidy. Quando chegamos, vimos quatro garotos sentados em outra mesa nos encarando. Ficamos um tanto sem graça, mas não demos importância. Uma meia hora depois as garotas disseram que precisavam ir e decidimos leva-las, mas as mesmas já tinham carona com seus respectivos pais. Nos despedimos e eu fui até o banheiro, sendo seguido por um deles. Quando estava lá dentro, levei um soco forte e sai correndo para a mesa pedindo ajuda ao Dallas. O mesmo, decidiu ligar para o Austin e depois sair dali correndo. Quando saímos, dois me seguraram e os outros dois seguraram o Dallas, nos levando para um beco ao lado. Depois não me lembro de muita coisa, mas pelo meu olho roxo e cicatrizes, já dá para notar o que aconteceu.”

O mesmo estava um tanto cansado e eu decidi deixa-lo dormir, indo atrás de uma enfermeira para pegar algo para o Austin comer. Consegui uma canja e eu fui até seu quarto abrindo a porta com um pouco de dificuldade. Ele parecia estar dormindo e eu deixei o caldo em cima da banquinha que tinha, me sentando na poltrona e observando o garoto.

Ele parecia tão machucado e a única coisa que eu queria fazer era ir ali e abraça-lo com força. Não sei por que eu estava tão ligada a ele... No parque, a cada vez que me aproximava dele, eu sentia arrepios por todo corpo, meus batimentos cardíacos aceleravam e minha respiração parecia ficar presa. Borboletas ficavam voando dentro de meu estômago, não dando a sensação de mal estar e sim, uma sensação muito boa.

- Ally? – O loiro encarava o teto neste momento. Quando ele havia aberto os olhos? – Está ai há quanto tempo?

- Um tempinho só.

- Me observando né? Eu sei que eu sou bonito mesmo machucado.

- E muito bobalhão também loiro oxigenado. – Peguei a canja e me sentei na cama levando-a comigo. – Você precisa se alimentar.

- Tranquilo. – Ele levantou a mão, mas pela sua expressão parecia que, qualquer esforço que fizesse iria doer. Peguei a colher e soprei a aproximando de sua boca em seguida. Ele levantou uma sobrancelha em confusão, mas depois abriu a boca.

- É melhor eu te dar na boca.

- Tratamento especial? Tenho que ficar preso em um hospital mais vezes. – Ele sorriu e eu apenas revirei os olhos, com um sorriso no rosto.

- Uma enfermeira conseguiu os dados de seus pais, mas sua mãe não atendeu. – Ele continuou comendo sem se importar. – E seu pai vai vir lhe buscar quando sair. – Desta vez ele pareceu se engasgar com a canja por que começou a tossir.

- Meu pai? Vai vir para cá? Como assim?

- Ele vai vir lhe buscar assim que receber alta deste lugar infame.

- Isso é que é uma pessoa gostar de hospital em Dawson?

- HÁ-HÁ-HÁ! Agora come logo. – Dei outra colherada para ele e o mesmo queimou a língua me fazendo rir bastante.

- Você queimou minha língua sua destruidora de papilas gustativas!

- A culpa foi sua que não queria comer. – Mostrei para ele minha língua e o loiro começou a rir. Deixei o alimento ao lado e sentei-me novamente na cama, mais perto dele agora.

- Em, já que estamos os dois aqui, que tal você me responder algumas coisas? - Ele sorriu para mim com um sorriso malicioso no rosto quando me perguntou isso.

- Depende. Senão for algo constrangedor, eu respondo.

- Tudo bem. Qual a sua cor favorita?

- Vermelho. E a sua?

- Amarelo. Comida favorita?

- Picles.

- A minha é panquecas caso você queira saber. Banda favorita?

- Não posso escolher mais de uma? – Fiz biquinho e o mesmo fingiu estar pensando.

- Mas qual é a que está em primeiro lugar? – Pensei um instante.

- Acho que Muse.

- Olha, muito bem. Achei que você não gostasse de música boa.

- Nossa, valeu loiro tingido. E a sua?

- Provavelmente Green Day ou Imagine Dragons. Uma banda boa também é Black Sabbath.

- Falando nessa banda, lembrei-me do Homem de Ferro. – Seus olhos pareceram brilhar.

- Você gosta?

- Sim, principalmente do principal, o Tony Stark. Ele é tão... Bad boy, bilionário, irônico, gato e... Eu já disse incrível? – Ele sorriu.

- Você basicamente me descreveu Dawson. Será que isto não foi uma indireta? – Sorri e para me divertir com a sua cara, respondi:

- Talvez. – Mordi o lábio e o mesmo ficou sério enquanto me olhava nos olhos.

- Sério?

- Eu... – Não sei exatamente o que iria falar, mas de qualquer modo fui interrompida pelo Elliot, que entrou sem bater.

- Oi. – Ele sorriu e se aproximou de mim, dando-me um beijo no topo da cabeça. – Trouxe um moletom para você.

- Obrigada.

- Minha mãe ficou preocupada com você e perguntou senão queria dormir no quarto de hospedes hoje para não ficar sozinha.

- Pode ser. – O loiro pigarreou, ficando meio por fora de nossa conversa. – Ah Elliot, esse é o Austin. O garoto que foi ajudar os seus amigos, o mesmo que é dono do casaco pelo qual estava usando. – O moreno pareceu ficar meio sério e quando sorriu, não foi um daqueles sorrisos radiantes que sempre dava, foi mais parecido com um meio sem graça, quase falso.

- Ah, você é o Austin. Prazer em conhecer alguém que teve a capacidade de ir ajudar seus amigos. São raras essas pessoas atualmente. – O Aus assentiu e também sorriu meio falsamente. O que há com esses garotos?

- De nada. Mas, quem é você?

- Lembra-se do garoto que eu te falei no parque que tinha me dado o ursinho e iniciado minha obsessão por bichinhos de pelúcia? É ele. Além de que, é a mesma pessoa que impediu aqueles brutamontes de continuarem te batendo.

- Ah. - O loiro ficou sem graça e assentiu para mim. Ficamos em silêncio um instante e minha bexiga queria explodir de tanta vontade que eu estava de ir ao banheiro, então resolvi deixá-los ali um minuto sozinhos.

- Bem, eu vou no banheiro. Vou deixá-los a sós. - Sorri para os dois que me olharam demoradamente enquanto eu saia pela porta. Eu sabia que tinha um banheiro ali dentro, mas... Queria deixar que os mesmos conversassem por que o clima não parecia muito instável entre os dois.

POV Autora (sentiram saudades de mim? Amo entrar assim na história, do nada)

O nível de testosterona pareceu aumentar quando a morena colocou os pés para fora daquele quarto. O Austin sabia que sua repugnância a hospitais era até controlável quando estava perto da Ally, mas ali, naquele momento, com aquele garoto, ela estava voltando com força total.

- Então, você é o famoso Austin. - O Elliot tentou sorrir, mas não conseguia. Aquele loiro era ameaça, isso, ele tinha certeza.

- Engraçado como eu nunca ouvi falar antes de você.

- Eu sei que você gosta da Ally também, mas não se esqueça que eu sou a pessoa em que ela tem total confiança e nunca abriria mão. Eu sou o único ser humano em que a entende de verdade, você está entendendo a importância disso?

- Legal saber disso por que, mesmo eu sendo uma pessoa quase desconhecida, ela teve facilidade para se abrir comigo e contar sua história. - O Austin sabia que aquilo iria começar daquele jeito. Ele sentia que o moreno à sua frente gostava da Ally, mas não sabia que os seus próprios sentimentos por ela eram tão fortes.

- Quero ver quanto tempo vai durar essa amizade de vocês.

- Até chegar ao namoro? Acho que não vai demorar muito.

- Duvido, isso é o que eu tenho a lhe dizer. - O Elliot se lembrou de uma coisa, e para não sair perdendo, continuou. - Dizem que as garotas nunca se esquecem do primeiro beijo delas, e acho que ela não vai se esquecer do seu.

- Como assim? - O loiro franziu o cenho e o moreno conseguiu sorrir verdadeiramente, quase sarcástico.

- Eu fui seu primeiro beijo. Sempre serei o garoto inesquecível em sua vida.

- Coitadinha. Ela não vomitou ou lavou sua língua com sabão depois não? - O Austin não queria demonstrar sua raiva e fez aquele comentário irônico, que deixou o garoto a sua frente zangado e lhe deu ainda mais auto confiança.

- Eu vou ser o único na vida da Ally, entendeu?

- Isso é um desafio? Por que eu aceito sem nenhuma dúvida.

- Ótimo. - O Elliot decidiu que seria interessante manter aquilo como um "desafio" mesmo sabendo que, seus sentimentos pela morena eram muito fortes desde tempos atrás.

- Voltei. - A morena entrou no quarto sorrindo para os dois, mesmo sabendo do clima instável que se instalava. - Houve algo de interessante aqui?

- Nada. - Realmente havia acontecido algo.