"Na maioria das vezes quando os anjos caem do céu, eles caem por uma finalidade, intuito, objetivo... Um propósito. Porém... Eu fui diferente. Chamavam-me de Uriel, e eu não caí por um propósito e sim... Por um motivo. Por algo que eu fiz. Algo muito grave, que me fez descer para esse chão, essa terra... Essa cidade chamada Denver, lugar na qual pelo jeito serei condenado a viver sob uma “casca” qualquer...".

Eu estava intrigado com aquela situação. Eu sentia os mesmos sentimentos que Arian sentia, mas não os entendia. Aliás, nunca entendi humanos... Talvez por causa do meu passado, da minha real natureza oculta. Algo que não pretendo contar ao Arian uma palavra sequer. Não é necessário e nem da conta dele. Ele é apenas um humano, uma casca. Não me traria utilidade alguma que ele soubesse desse tipo de coisas.

Gotas de água, quer dizer... Lágrimas caíam do meu rosto.

E então eu cansei de tudo aquilo. Tirei a garota dos meus braços, vesti um par de chinelos que estavam no chão e me levantei daquela cama.

— Para onde vai? — Perguntou a garota.

— Para casa. — Respondi.

— Mas eles ainda não descobriram o que causou toda aquela dor em você e...

— E nem vão descobrir. — Falei de uma vez.

Cassie bufou.

— Está com pressa por que, hein? Por acaso a minha companhia não te agrada? — Perguntou ela já nervosa de braços cruzados.

“Nem pense em falar que sim!”, Advertiu o Menino Sentimental.

— Não, eu só... Quero ir para casa.

“Complemente...!”, mandou.

— E tomar um chazinho. — Ri.

— O quê? — Indagou Cassie.

— Digo... Um leitinho. — Piorei ainda mais.

— Hã? — Cassie piscou sem entender. “Ele disse ‘leitinho’?”, pensou ela. — Pode repetir Arian?

— Bom, eu disse que eu quero ir para casa e... — Arian tomou o corpo de volta. — Relaxar.

Droga. Eu iria dizer “me masturbar”! Há, há! Cara, eu iria rir tanto da reação dela... Mas o Albino Santinho tomou o corpo de volta no mesmo momento... Que chatice.

— Creio que eu só preciso relaxar um pouco em casa. — Ele riu desconsertadamente. — É só... Só... — Ele pensou um pouco.

“Stress”, sugeri de mau-humor.

— Stress! Isso mesmo! Stress! Eu... Eu ando muito estressado esses dias! E... E isso, bem... — Arian riu novamente, agora coçando a bochecha. — Tem me dado muitas... Dores de cabeça, é...! Dores de cabeça... M-muito fortes, há, há...

— Stress e fortes dores de cabeça? — Perguntou Cassie arqueando uma das sobrancelhas. — Você espera que eu acredite nisso, Arian?

— B-bom... É... E-eu espero sim. — Ele sorriu torto.

— Ok.

— Ok?

— Sim, ok! — Ela sorriu pegando suas coisas em cima da escrivaninha. — Eu acredito em você, Arian. Justamente por isso vou passar alguns dias na sua casa para ter certeza que você ficará cem por cento bem para a volta às aulas que será semana que vem! — Ela afirmou entusiasmada.

“Alguns dias?! Semana que vem?! Lá em casa?!”, pensamos eu e o magricela ao mesmo tempo.

“Quanto tempo essa garota pretende atazanar a minha vida, Arian?”, perguntei.

“A sua vida? Ela vai para a minha casa! MEU-DEUS!”, exclamou Arian.

“Droga... Por que eu tenho o pressentimento que isso não vai dar muito certo, hein?”, perguntei.

“Sinto em afirmar, mas também tenho esse mesmo pressentimento... Uriel, o que faremos?”.

“Não ouse perguntar isso a mim... Você que é o humano aqui!”.

“Humph. Tem razão... Gostaria que essa não fosse a verdade...”

“Pois é! Agora se contente com esta realidade e resolva esse problema terreno agora!”, adverti.

“Queria eu poder saber como...”, afirmou por fim Arian.

Estávamos enrascados. Com certeza essa garota seria um problema. Não tanto para Arian, mas para mim. Humanos... Tão imprevisíveis!