Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 16
Capítulo 16 - Vagões sobre uma nova terra


Notas iniciais do capítulo

É isso que dá ficar um zilhão de dias sem Nyah: um capítulo gigantesco. Se vocês quiserem dormir na metade e ler a outra quando acordarem eu deixo. Ok, eu sou meio descontrolado com as palavras, porque não queria um capítulo tão grande e POVs tão desproporcionais. Talvez seja porque eu demoro dias pra escrever um capítulo e meu humor para escrita muda sempre. Peço desculpas pelos POVs muito pequenos (principalmente o da Gabrielle), mas aproveitem a leitura.



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Gabrielle Charbonett – 6

Gabrielle tinha certeza que sua viagem até o Acampamento dos Monstros seria muito, muito longa.

Malcolm era inconveniente, mas com certeza a companhia da Medusa e de George era ainda pior. O mentor e conselheiro do Chalé 6 estava ao seu lado, brincando com o controle-remoto da televisão (desligada) e fazendo perguntas idiotas como “Com qual arma se dá melhor?”, “Pretende fazer aliança com quais tributos?”. Gabrielle teve vontade de responder a última pergunta dizendo “Qualquer um menos o idiota do meu chalé”, mas achou que causaria uma má primeira impressão.

Lendo algumas revistas de jardinagem, a Medusa estava sentada à mesa, bebericando chá de alguma planta esquisita. Gabrielle não entendia como ela conseguia ler apenas com aquela língua roxa asquerosa. Quando menos esperava a górgona fitou-a – ou ao menos faria isso se estivesse sem os óculos.

– Gabrielle querida, precisa de alguma coisa? Sinto que sua viagem está entediante.

– Não há nada que possa fazer, monstro – a garota rebateu, ríspida.

Virou-se, evitando contato visual com a representante. Ainda não confiava na Medusa. Ou melhor, nunca confiaria na arqui-inimiga de sua mãe. Monstros são monstros, independentemente se sugam sangue ou bebem chá.

À sua frente estavam George e Erictônio, seu irmão e mentor, jogando uma partida de xadrez. E para sua surpresa – ou não – o garoto perdera outra vez. Aquilo era interessante.

George Blacksmith – 6

– Xeque-mate – disse Erictônio.

Mais uma vez ele venceu. George analisou suas peças e as dele. Um bispo, uma torre e um peão cercavam seu rei. Um peão!, George pensou.

– Hahaha, ferreiro! Vamos de novo? Talvez você consiga capturar minha rainha desta vez.

– Ferreiro? – perguntou George.

– É seu sobrenome, não?

– Sim, mas...

– Me lembra o meu pai. Você deve saber que não sou filho de Atena de fato, e sim de Hefesto. Mas considero dele apenas meu sangue. Devo minhas formações mentais e espirituais apenas à deusa da sabedoria. Apenas.

O homem começou a arrumar as peças no tabuleiro novamente. Sem discutir, pôs a rainha negra à frente de George, logo colocando os demais elementos do jogo.

– Isso prova, garoto – Erictônio fez uma pausa para mover o peão à frente do rei – Que tudo isso de sangue olimpiano não importa. Não importa se você é filho de Poseidon e gosta de plantar margaridas ou um filho de Afrodite e adora decapitar uns monstros por aí. Você faz você mesmo.

– Xeque – disse George, mais como uma obrigação do jogo do que um desafio. Erictônio moveu seu bispo para capturar o cavalo de George.

Erictônio sorriu. Era um homem de aparentes quarenta anos e um pouco parrudo até. Seus cabelos eram de um ruivo desbotado, não tão chamativos quanto os cabelos ruivos são. O mentor olhou para George, esperando sua jogada. O garoto levantou seu peão, o trem chacoalhou e algumas luzes piscaram. Quando voltou para analisar o jogo, as peças estavam fora do lugar e sua rainha havia caído do tabuleiro.

– Observe este jogo – disse Erictônio, enquanto arrumava as peças – peças fortes, fracas, de grande e pequeno alcance. Dois times rivais. Em breve você se encontrará na mesma situação, Ferreiro. Mas ao invés de um adversário, você terá vinte e três – parou para encontrar seu olhar com o de Gabrielle – E ao invés de dezesseis, você terá apenas uma peça. Parece impossível, não? Mas olhe para este peão, sim, o que você iria mover. Ele está a uma casa do fim do tabuleiro. Você pode transformá-lo em uma rainha se quiser. Mas com uma simples braçada – Erictônio estendeu o braço e arrastou todas as peças para o chão –, você pode acabar com o sistema.

Aquilo não era nada didático. George parou e olhou para a irmã. Como de costume, ela o fitava com frieza e ameaça. Olhou novamente para o chão, onde a rainha branca e o peão negro se tocavam, e não achou a didática necessária naquelas circunstâncias.

David Hudson – 12

“Não deixe que nada de ruim aconteça a ela”. A frase ainda ecoava na mente de David. Não se referia a Alamanda, muito menos à sua própria vida. Na verdade o Sr. D, grande diretor do Acampamento e pai do garoto, mandara proteger Ariadne.

Era engraçado, porque Ariadne não corria o risco de morrer em poucos dias. Muito pelo contrário: ela era imortal. David não. Assim que se desse o sinal, com um dia, dois dias, restando apenas um. Ele não sabia ao certo, mas iria morrer. Suas chances de vencer eram poucas, então não gostava de considerá-las.

– Não vai querer biscoitos? – perguntou Póllux, seu mentor e Conselheiro de chalé. Ele tinha cabelos encaracolados loiros e olhos violetas. Olhos herdados do pai. David não herdara nada, a não ser o forte apetite.

– Agora não – disse David surpreendendo-se.

– Pensar no quanto as coisas estão ruins não vão fazê-las melhores.

– É mesmo, não é? – David deu um sorriso fraco – Estou pensando na minha mãe. Sozinha em casa, ouvindo disco e contando os dias para o período das aulas, para que eu volte. E nem me pergunte por avós ou tios. Todos devem estar muito ocupados confessando seus pecados ou rezando pela alma pecaminosa dela... Eu era a única pessoa que mamãe tinha.

– Você é a única pessoa que ela tem – corrigiu Póllux – Você está vivo.

– Desculpe, eu não deveria entrar nesse assunto. Você ainda sente muito a falta de Castor, não?

– Se for levar isso em conta, nunca se poderá falar sobre isso. Eu sempre vou sentir falta dele.

David olhou para baixo, constrangido. Levantou a cabeça ao ver Ariadne correndo e gritando seu nome. Ela parou bem à sua frente e pediu:

– Canta pra mim.

– Qual música você quer?

– Uma mais velha que você.

O garoto escolheu a música Dancing Queen do grupo ABBA. Ele achava um pouco brega, mas não ligava. Porque não estava cantando para satisfazer a si mesmo ou a Ariadne, como Dioniso pedira. Cantava para lembrar-se da mãe.

Alamanda Greenfield – 12

Alamanda sentia-se tensa. Estava no quarto de seu mentor, conversando com ele. Ela gostaria muito de ficar sentada e comer biscoitos enquanto se lamentava da situação em que se encontrava – como David estava naquele momento –, mas não, ela não tinha tempo. Tinha de bolar estratégias, determinar metas. E cantar uma música não resolveria nada daquilo.

– Quer vinho querida? – perguntou o mentor.

– Não, obrigada – recusou Alamanda pela terceira vez. Na verdade estava sedenta de vinho. Não tomara nenhuma gota durante o dia inteiro. Mas o homem a assustava. Ele tinha o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo, destacando uma mecha mais acinzentada que as outras. Sua pele era bronzeada, provavelmente de modo artificial, e tinha uma barba bem desenhada. Da blusa branca saiam alguns pelos, dando a ele um ar de cigano. Mas o que mais assustava a garota eram suas calças e o volume que se encontrava nelas. Alamanda já vira alguns garotos colocarem meias para chamar a atenção, mas seu mentor parecia ter posto um casaco de inverno. Era nojento.

– Se eu fosse você, procurava não olhar – disse ele – Algumas mulheres gostam, outras agem como você. Aconselho às últimas que foquem em outro ponto como meu cordão de ouro ou minha mecha cinza. Ajuda bastante. Tem certeza de que não quer vinho ou está com medo?

Alamanda ficou quieta.

– Qual é garota, somos irmãos! Não é porque sou o deus da fertilidade e virilidade que vou atacar você.

– Dê-me uma taça.

– Mahahaha, gosto assim! O que você estava dizendo mesmo, Verde-e-azul?

Príapo – como se chamava o homem - gostava de chamá-la assim devido à sua heterocromia. Ela não se importava, já recebera apelidos piores.

– Eu quero trabalhar sozinha. Sem meu irmão ou qualquer outra pessoa. Eu posso fazer crescer morangos; sou boa em escalada e lanças; controlo emoções de outras pessoas e até consigo voar um pouco.

– Uau, um bom currículo hm? Você tem graduação em Havard?

– Haha, não – ela fingiu uma risada.

– Que pena. Mas ainda aposto em você como campeã. Alguma ideia para conseguir patrocinadores?

– Ser animada, irônica, de língua afiada. Acho que os deuses podem gostar e me presentar com alguma coisa.

– Com certeza. Estamos quase chegando ao Acampamento dos Monstros. Mas antes um brinde? À vitória!

– À vitória – Alamanda ergueu sua taça.

– Tin-tin – riu Príapo.

Jason Styles – 7

Sangue. Olhos azuis. Um tiro. Um grito.

Jason levantou-se arfando. Era um sonho. A cama em que estava deitado não era laranja como a do Acampamento e nenhum sinal de música ou poesia. As paredes do trem que o levaria para os Jogos Meio-Sangrentos balançavam. Era um pesadelo.

– Ouvi um som estranho e vim ver se você está bem – Dafne entrou no quarto. Jason ainda não se acostumara com a ruiva de pele descascada e seu jeito incrivelmente doce. Mas ainda assim gostava dela. Tinha certeza que seu pai gostava ainda mais.

– Sonhei com os Jogos. Com a morte de Reyna, mais precisamente. Mas nada passava de vultos. Às vezes eu odeio minhas previsões. Os outros semideuses sonham com situações presentes de lugares distantes. Eu sonho com o futuro, certo e doloroso. Eu não quero ver Reyna morrer.

– Ela é especial, não é?

– Ela é minha melhor amiga. Eu sei que eu deveria fazer amizades com meus irmãos ou com outros garotos. Mas acho que me dou melhor com mulheres. Além do mais, Reyna é quase um cara: ela tem socos fortes e eu já a vi cuspindo no chão. É engraçado porque ela faz isso franzindo as sobrancelhas sobre os olhos azuis.

– Você gosta dela não é?

– Eu sou amigo dela, Dafne, como não gostaria?

– Você a ama não é?

– Amigos se amam, acho que é normal isso.

– Você quer beijá-la, não é?

– Quero.

Jason olhou para baixo. Não sabia se suas bochechas coravam, mas não queria saber da resposta. Admitiu o que queria admitir a muito tempo. Ele amava Reyna. Não apenas como um amigo.

– Eu não vou fazer isso. Eu sei que ela vai morrer, eu sonhei isso. Eu quero que a imagem que ela leve de mim seja a de um amigo, o melhor que ela já teve. E ponto.

–Jason, Jason, Jason... – disse Dafne afagando a mão do garoto – Você conhece a minha história, não? Eu precisei ser transformada em um arbusto para perceber o que eu sentia e talvez eu não consiga demonstrar isso. Aproveite o que tem enquanto tem.

Elizabeth “Liza” Lopes – 7

Liza cantava baixinho algumas músicas que vinham à mente com sua voz soprano. Estava sentada com os joelhos perto do queixo e assistia às Colheitas pela quarta vez, já que não tinha outra coisa para fazer. Já decorara as ofensas que Gabrielle fizera à Medusa e parou um trechinho de Skyfall para sussurrar “Não toque em mim!”.

– Sua música ficaria mais bonita com uma lira ao fundo do que com xingamentos e choros – disse uma voz adentrando a sala. Provavelmente era Orfeu, já que Will e Jason estavam dormindo.

– Você conseguiu me ouvir? Faço isso para vencer o tédio.

– Creio que também esteja pensando nas suas estratégias para a Arena.

– Prefiro não pensar nisso por enquanto – Liza olhou para a TV que agora mostrava seu rosto ao ser sorteada. Viu de perto seu risinho fraco em meio aos olhos entristecidos de seus irmãos. Estava ridícula. Aquele riso passava mais medo do que confiança, uma atitude mal planejada da garota. Elizabeth esperava que seus adversários não tivessem notado o quanto ela parecia frágil e amedrontada.

– Então você sorriu quando foi sorteada. Talvez esteja com medo por dentro, mas soube disfarçar muito bem. Os outros devem ter pensado na mesma hora em suas testas cravadas por uma flecha sua.

– Eu sei disfarçar muito bem – Liza mentiu, sorrindo de novo.

– Não, não sabe – sorriu Orfeu de volta – Voltando ao assunto “estratégias”. Pretende aliar-se a Jason?

– Ele com certeza vai se juntar com a garota do Um, Reyna. E se sobrarmos só nós três não acredito que ele vá prezar o sangue que dividimos. Caras apaixonados fazem qualquer coisa.

– Sim, sim. Eles fazem.

– Provavelmente irei trabalhar sozinha. Conseguirei um arco e aí é só sair matando e me escondendo até que sobre apenas eu.

Ou até alguém me achar primeiro, pensou Elizabeth, mas não queria soar pessimista. Não na frente de seu mentor.

– É, parece bem fácil – Orfeu deu um meio sorriso – Tão fácil quanto resgatar uma garota no Submundo... Garota, quero que olhe bem nos meus olhos.

Liza aproximou-se de Orfeu. O homem era bonito, tinha porte atlético e jovem, era alto, bronzeado e seus cabelos castanhos chegavam aos ombros. Mas ela prestou atenção nos seus olhos cor de âmbar e as olheiras que sugavam parte de sua beleza.

– Consegui isso passando tempo demais no Hades. Convencendo Caronte, lutando contra Cérbero. Por uma garota. Eurídice fora morta, mas eu não queria aceitar sua condição. Fui atrás dela contando apenas com minha coragem e com meu amor, já que o amor vence todas as coisas. Mas fui burro. Não prestei atenção nos detalhes e acabei deixando-a escapar de minhas mãos como areia por entre os dedos.

– Sinto muito. Mas o que quer me ensinar com essa história?

– Trace metas, seja inteligente. Não deixe que apenas sua bravura e seus músculos tomem a direção. Vamos, dê-me um caderno. Não vou deixar que você olhe para trás também.

Liza não entendeu a última frase dita por Orfeu, mas mesmo assim pegou um bloquinho e uma caneta vermelha sobre a estante.

– Vamos lá – disse o mentor, destampando a caneta e afastando uma mecha castanha para trás – Como pretende arranjar comida?

Elena Price – 4

– Perséfone, o que a faz qualificada para ser mentora? – perguntou Despina, rudemente.

As irmãs estavam discutindo a bons minutos enquanto os outros três assistiam sentados à mesa bebendo chá de jasmim já frio. Elena detestava chá frio. Discretamente passou sua xícara para Josh, que se deliciava. O garoto aceitou de bom grado e bebeu contendo uma risada.

– Você sabe o que é ser raptada e passar a cuidar de um mundo completamente escuro e sem vida?

– Você sabe o que é ser abandonada com um cavalo que caga dourado enquanto sua mãezinha vai fazer o chá de panelas da filhinha raptada?

– Pare de zombar da minha condição! Eu não tenho culpa se você não tem nenhum atrativo!

– Com certeza eu tenho mais atrativos do que um monde de mato e bos...

– PAREM! PAREM COM ISSO! – gritou Elena – Estamos em um trem que vai levar um de nós dois ou os dois para a morte! A morte! Vocês têm toda a maldita vida imortal de vocês para discutir quem tem mais atrativos, mas eu e Josh não temos! Então tratem de pensar em alguma coisa antes que eu faça esse vagão virar um pé de alface!

– Com licença, não sou obrigada a pensar num modo de vocês não morrerem – Despina retirou-se.

Perséfone ajeitou a flor sobre os longos cabelos castanhos. E cruzou os dedos sobre a mesa.

– Desculpe-me querida. Minha irmã me faz perder as estribeiras. Chá?

– Não.

– Certo. Primeiramente, vocês desejam aliar-se?

– Acho que sim – respondeu Josh – Juntos nos revezaríamos na hora de dormir e temos mais chances de sairmos juntos em uma batalha.

– E quando sobrarem apenas vocês dois?

– Eu não pretendo matar Josh, nem ele pretende me matar. Nós ficaremos até que eles decidam por nós. Uma vitória limpa.

Elena não queria ficar sozinha com Josh. Mas também não queria vê-lo morrer. Eles não haviam se falado muito até serem postos juntos dentro de um trem. Mas ela sabia que a amizade dos dois duraria até depois da morte de um deles.

– Ótimo. Vamos agora para o tópico “alimentação”.

– Vocês poderiam gerar vegetais, é bem fácil – sugeriu Kate, que até agora não tinha falado nada.

– Kate, você sabe mais do que ninguém que eu e Josh nos viramos bem nesse assunto. Quero pular logo para a parte de “matar”. Armas, golpes, armadilhas, qualquer coisa. Não é porque somos filhos de Deméter que vamos passar os Jogos inteiros criando plantinhas e nos defendendo cavando buracos na terra. Nós não somos fracos.

– Como quiser, Elena- Perséfone esboçou um sorriso – Tenho contato com vários mortos, fuzileiros, assassinos de aluguel... Sei de táticas que talvez nenhum filho de Ares saiba. Vocês com treino e dedicação poderão mostrar que...

A deusa da primavera parou para olhar para as luzes que piscavam e o vagão que tremia.

Josh Nick – 4

– Parece que estamos chegando. Teremos tempo de sobra para falar sobre esse assunto. Agora se preocupem em ir até a janela e receber as boas-vindas – Perséfone levantou-se e foi até seu quarto.

Os dois foram até a janela que emergia da terra e esperaram apreensivos os acenos. Josh soube então porque o nome era Acampamento dos Monstros: havia vários deles, de todos os tipos. Ciclopes, nascidos da terra, telquines. Milhares deles. Todos pareciam felizes em vê-los, o que era estranho para monstros que odiavam semideuses.

– Se eu pudesse enfiaria uma faca no pescoço de cada um deles... – disse Elena enquanto acenava e sorria.

Josh às vezes tinha medo da irmã. As sardas e o olhar doce não conseguiam esconder seu ar temperamental. Ele às vezes duvidava se ela seria tão leal assim e não iria apunhalá-lo pelas costas nos Jogos.

Quando as portas foram abertas por dois telquines, Josh sentiu o cheiro de carne podre. Tentou sorrir ao máximo para disfarçar a repulsa que sentia por todos aqueles monstros. Os mesmos dois telquines convidaram-nos a entrar em uma liteira sustentada por dois ciclopes. Logo depois de Despina entrar, os ciclopes levantaram-se e marcharam rumo a um grande estádio, com os três sobre as costas.

– Onde estão Perséfone e Kate? – perguntou Josh.

– Elas não serão necessárias agora. Irão para o hotel assistir ao Desfile.

– Desfile? – perguntou Elena.

– Não sabem crianças? Vocês serão apresentados ao público em um desfile. Vocês usarão roupas extravagantes que refletem a personalidade da mãe olimpiana de vocês. Mal vejo a hora de vê-los vestidos de fazendeiros ou montes de mato!

Josh respirou fundo. Além de matá-los, eles iriam ridicularizá-los primeiro.

Chegando aos fundos do estádio, os três desceram e foram encaminhados para camarins diferentes enquanto Despina esperava do lado de fora.

– Não se preocupem crianças, eles não vão machucá-los! Não agora!

Josh logo foi deitado em uma maca, e logo vieram duas empousai, trazendo consigo tesouras, sabonetes e outros aparatos.

– Olá querido – disse uma delas, a mais alta e de cabelo crespo – Eu sou Denna e esta é Mary-Ann. Iremos tirar todo esse fedorzinho da viagem e o deixaremos brilhando para o Corn, seu estilista.

– Ok, agora tira a roupa benzinho – disse Mary-Ann, mais baixinha e de cabelo laranja. Ela tinha a voz fanha, o que somado ao seu porte e peso era engraçado. Josh relutante obedeceu.

A sensação de ter as mãos de duas vampiras passeando por seu corpo era horrível, como se a qualquer momento elas pudessem deixar a educação de lado e cravar seus dentes em seu pescoço ou qualquer outra parte. Ao terminar o trabalho, Josh foi vestido em uma bata verde e foi mandado para uma sala onde encontrou Elena.

– Pfffffff HAHAHAHA Seu cabelo está engraçado! – Elena não conseguiu conter a risada ao vê-lo.

Josh tocou as pontas do cabelo loiro, que agora estavam arrepiadas e formavam um topete esquisito.

– Seu cabelo também está uma maravilha, Elena!

A garota tocou o rabo de cavalo sobre a cabeça, viu que suas pontas estavam desfiadas e esvoaçantes.

– Mas que mer...

– NÃO TOQUE! – uma voz masculina fina advertiu a filha de Deméter – Não acabe com o trabalho que suas preparadoras tiveram com esse cabelo. Ele faz parte do conjunto final! A propósito, sou Corn, seu estilista.

Josh nunca pensou que um karpoi poderia ser um estilista. O monstrinho de menos de um metro vestia um terno amarelo brilhante e tinha os poucos cabelos lambidos para trás. Seus dentes inferiores saiam da boca e seus olhos furiosos eram negros como contas.

– Quem será o primeiro a se vestir?

– Eu – disse Josh, já entrando em um biombo. Corn tirou sua bata e estendeu uma cueca para que ele vestisse. Josh pensou em se vestir rápido, como o estilista bem quisesse, sem olhar para a roupa ou opinar. Seria mais rápido e menos vergonhoso.

Em pouco tempo ele já estava pronto para a exposição. Pronto para agradar monstros.


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo: Glitter, tecidos, carruagens, tudo isso e muito mais com essa turminha do barulho que vai aprontar todas no Desfile!

Ok, agora chega.