Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 15
Capítulo 15 - Vagões sob a terra


Notas iniciais do capítulo

Antecipadamente me desculpando por não ter um POV do Damon. Mas espero que você me entenda Dinmor sua linda.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/398290/chapter/15

Philipe Pires – 9

– Como podem ver, o vagão 9 é uma caixinha de surpresas – disse Pandora animada.

Era engraçado ela dizer isso. Um trocadilho infeliz talvez. Philipe tentou imaginar como uma figura de caráter tão doce e bobo conseguiu implantar todo o mal no mundo. Ela apontava para a enorme TV da sala – que já mostrava o choro do garotinho do Chalé 6; o menu digital que fazia com que o prato escolhido planasse levemente do teto à mesa e até mesmo a banheira com sistema de aroma, temperatura e massagem. Mac resolveu testá-la.

– Cada vagão foi projetado por seus respectivos deuses. E posso garantir que o nosso é o melhor... – Pandora andava até uma bandeja que continha uma jarra de suco de cereja.

– Certamente ele planejou tudo isso não pensando em mim – disse Philipe.

– Na verdade ele não pensou em ninguém – interveio sua mentora. Não era Nyssa, muito menos Leo Valdez ou Beckendorf. Georgiana Harris era uma garota sem humor e rechonchuda, que Philipe sempre via no chalé, mas nunca tivera coragem de falar com ela – Talvez este tenha sido o projeto mais difícil que nosso pai já fizera em sua vida – Georgiana deu uma pausa para olhar para Pandora e sussurrar “O segundo mais difícil” – Um apartamento móvel que levasse dois de seus filhos para a morte.

– Continuo achando que ele está feliz por saber que estou aqui dentro – Philipe sorriu, sem graça – Sou a pessoa que menos parece com um filho de Hefesto. Eu não faço a mínima ideia de como implantaram um sistema de massagem em uma banheira ou qualquer coisa assim.

– Você pode até não ser tão parecido com Hefesto como mesmo diz, – Pandora deu uma pausa para beber seu suco – mas garanto que não é o filho mais odiado. Porque eu também vim dele – mais uma pausa – Agora vamos, eu tenho que te mostrar o luxo que é essa poltrona!


Mayline “Mac” Castleglass – 9

Todo o corpo de Mayline estava submerso, exceto o nariz. Esponjas tateavam suas pernas enquanto bolhas eram lançadas em suas costas. Ela estava provavelmente há dez minutos naquilo. Emergiu da banheira. De volta à realidade. Aos Jogos. À morte.

A primeira coisa que encontrou foi uma mulher sentada ao seu lado. Gritando espantada, Mac cobriu os seios.

– Acalme-se querida. Não vou morder você. Sais de banho?

Mac assentiu e a mulher lhe deu duas pequenas barras.

– Você não deve ter aprendido sobre mim nas aulas de Mitologia, mas me chamo Eucleia. Sou a deusa da boa reputação e da glória. E assim como você e o garoto, sou filha de Hefesto.

Mayline admirou-se. Nem ela mesma ou Georgiana chamavam a atenção por causa da beleza. Philipe tinha um rosto angelical, mas ainda não era muito notável por seus cabelos e olhos castanhos como o seu. Mas Eucleia era deslumbrante. A pele tinha a cor de chocolate derretido e seus cabelos eram cacheados quase da mesma cor. Os olhos expressivos e dourados passavam a ideia de confiança e positividade.

– Provavelmente vocês esperavam alguém que manejasse ferro ou peças tecnológicas, para fazer armadilhas. Mas Georgiana se encarregará disso. Eu ensinarei conduta e valores, para que não apenas sobrevivam, mas vençam.

Mayline não abrira a boca nenhuma vez. Nem quisera. Eucleia falava com tamanho entusiasmo que Mac começava a pensar que rever Harley não era algo impossível. Vencer não era impossível.


Brandon York – 1

Brandon viu uma garota junto com os filhos de Poseidon e outra acompanhando os filhos de Deméter. Mas com ele e Reyna estava apenas Ganímedes, o que não era uma companhia muito agradável. Segundo o representante, ambos os mentores estavam esperando-os dentro do trem.

A ideia de ter mentores o assustava. Ele estava acostumado a ter apenas Lupa advertindo-o, disciplinando-o. De Quíron não podia dizer o mesmo, infelizmente. Ele tinha um acampamento inteiro para ordenar, e o Sr. D não era de grande ajuda.

Ao entrar no vagão, Ganímedes tratou logo de mostrar a ele e a Reyna os cômodos. Após objetos e objetos banhados de ouro e bronze, o copeiro do Olimpo apresentou aos tributos um garoto. Mais parece uma versão masculina de Thalia Grace, Brandon pensou. E a julgar pela cara de nojo que Reyna fizera, esta versão era bem pior.


Reyna Mackenzie – 1

– E este, meus queridos, é Charles Wakefield, o mentor de vocês. É bonito como seu pai, huhuhu– Ganímedes sussurrou para Reyna e retirou-se ao seu quarto.

Reyna achava Charles insuportável. Os dois piercings abaixo de seu lábio inferior acentuavam sua expressão metida. O perfeitinho do Acampamento sempre saía em missões, derrotava monstros, recebia glórias, das quais se vangloriava bastante. Apenas não admitia que na maioria das vezes contasse com a ajuda de outros semideuses e sátiros. Antes Charles contava histórias sobre seus feitos, mas agora iria ensiná-los a matar pessoas.

– Ei garoto – disse ele, chamando a atenção de Brandon – depois você aprecia a paisagem. Vamos falar logo sobre estratégias. Vão se aliar?

– N-não sei – respondeu Brandon, logo em seguida olhando para Reyna – Vamos?

– Sim, vão – respondeu Charles.

– Charles, Brandon falou comigo, não com você. Brandon, não vamos nos aliar. Não quero ver você morto, não por culpa minha.

– Então está se confiando que vai vencer, Mackenzie? – riu Charles.

– Provavelmente sim, por que não? Sou ágil, sou boa com arcos...

– O garoto é um romano, Reyna. Garanto por minhas experiências que eles receberam um treinamento bem melhor que seu joguinho com flechas. Conheci um ciclope que...

– Então vai começar a contar suas histórias de novo, Wakefield? Pensava que estava aqui desfrutando de todo esse luxo para nos ensinar. Ah, esqueci que você não sabe pensar em outras pessoas a não ser você mesmo!


Brandon York – 1

Brandon foi para a cozinha. Ganímedes dissera que havia peras rosadas caso ele sentisse fome. O que encontrou foi um homem jovem e magro de camiseta vermelha cortando algo que parecia uma enguia. Seu cabelo era loiro cacheado e seus olhos verdes casavam com uma imensa tatuagem que se estendia do ombro esquerdo até um lado do pescoço. Impressas em sua pele estavam várias cobras.

– Olá garoto, então foi você que escolheram para morrer. Este serviço de trem é horrível! Os cachorros falantes que nos servem...

– Telquines?

– Isso mesmo que você falou. Os tais telquenos só sabem fazer frango e filé, que, sinceramente, são uma porcaria. O que forçou a eu mesmo preparar minha própria sopa de cascavel. Se quiser um pouco, corto mais um pedaço para você. A propósito, me chamo Perseu.

Brandon ligou o nome à tatuagem, às rodelas de réptil que cozinhavam. Era aquele o homem que matara a Medusa. Ele só não sabia que Perseu havia ficado tão paranoico assim pelos animais que saíam da cabeça do monstro.

– Gostou da tatuagem? Fiz a umas décadas. Ainda me lembro do dia em que a cabeça daquela danada rolou pelo chão – Perseu levantou uma manga da camiseta, o que revelou seu bíceps definido e um rosto verde apático. Ele então passou a flexionar e relaxar o bíceps, mostrando sua massa muscular enquanto o rosto da górgona se retorcia.

Ao fundo, Reyna e Charles ainda discutiam e agora podia-se ouvir Ganímedes cantando (e provavelmente dançando) alguma música de Britney Spears. Olhou novamente para o rosto da Medusa inchando e secando, e sua expressão parecia querer dizer “Salve-me, Brandon, salve-me deles!”.


Annye Todd – 8

As três estavam sentadas à mesa enquanto Calisto ria de algum filme sangrento. Há meia hora Meredith explicava para as garotas alguma técnica de alguma coisa. Annye não sabia sobre o que era e nem tinha vontade de saber. Não estava prestando atenção.

Aquela Rosalya morreria fácil. Pequena e de rostinho puro, não duraria um dia. Diziam que ela era uma das mais antigas do bando, mas para Annye não fazia diferença quantos séculos ela tinha vivido. Sua morte seria um degrau a mais para sua vitória.

– Você entendeu, Annye? – perguntou Meredith (que se assemelhava muito à pirralha) pacientemente.

– Sim, sim, claro. Pode continuar.

– Então, a aliança de vocês...

– Que aliança?

– Acabei de falar sobre isso, Annye – riu Meredith – Você e Rosalya vão se ajudar até que restem pelo menos seis tributos vivos.

– Eu e ela, juntas?

– Sim.

Ao fundo, Calisto gargalhava. Provavelmente porque Freddy Kruger fizera mais uma vítima. Annye teve vontade de gargalhar também por conta daquela proposta, mas se conteve.

– Olha garota – disse olhando para Rosalya – Eu prefiro ficar sozinha. Sem ninguém pra me atrapalhar ou pra sentir peninha.

– Tudo bem – disse Rosalya. Era a primeira vez que ouvia a voz da garota desde quando ela tinha se voluntariado – Meredith, acho que você já falou comigo por muito tempo. Talvez Annye precise de umas dicas também.


Rosalya Bellapis – 8

Rosalya levantou-se, e andou até seu quarto. Seus olhos estavam inchados. Mas ela não iria chorar. Deitou-se na cama listrada de azul e ficou olhando para o teto com aquela coisa estranha que chamavam de lâmpada. E de repente uma maldita lágrima escorreu. Maldição!

Mais uma vez tudo conspirava contra ela. Maldita hora em que afrontou Hécate, mãe!, Rosalya pensou. O motivo da sua falta de sorte não era apenas a deusa da magia, mas também a deusa da vitória, que a havia gerado. Uma das únicas vantagens de ser filha de Nike seria a grande facilidade para vencer obstáculos, quebrar barreiras. Mas com a maldição, os obstáculos sempre pareciam mais altos e as barreiras mais resistentes. Altos e resistentes como... Como o homem que acabara de entrar em seu quarto.

– Ah, perdoe-me, errei o quarto – ele disse e fechou a porta.

– Ei! Espere! Quem é você?

Há anos Rosalya não via um homem, um garoto ou qualquer pessoa do sexo masculino. Suas últimas lembranças eram de seu pai, o conde (seu noivo) e os frades que a perseguiam. Mas não lembrava se eles eram tão grandes quanto o que estava à sua frente. Tinha dois metros talvez, ou mais. Seu moletom verde com certeza havia sido feito sob medida. Tão grandes quanto seu porte eram os olhos azuis. Não de um azul comum, mas um azul que refletia o fundo do mar.

– Órion, prazer em conhecê-la. Soube que serei seu mentor e de mais uma garota.

A última coisa que Rosalya pensara era em ter um mentor. Talvez outra Caçadora, mais famosa ou que já havia morrido. Mas aquele era Órion, o gigante. O único homem que Ártemis amara. Por uma armadilha de seu irmão Apolo, a deusa da lua matara seu próprio amigo enquanto este estava submerso na água. Então desde que Órion virara uma constelação a deusa guardou sua castidade e seu amor de qualquer tipo de homem.

– Você estava chorando? – Órion estendeu sua grande mão em direção ao queixo de Rosalya – Se você quiser, deixo-a sozinha e volto para conversar dep...

Rosalya ignorou o que o gigante dizia e o abraçou. Era contra seus votos manter qualquer relação com um homem, mas ela não considerava aquilo um relacionamento. Ela apenas sentia nele algo novo, como se ele fosse capaz de quebrar sua maldição.


Callista “Cal” Hastings – 13

O último vagão do trem tinha como som apenas a conversa dos filhos de Hades. Caronte estava sentado em uma poltrona cinza escuro enquanto Callista e Damon ouviam os conselhos de suas mentoras sentados em um sofá de mesma cor. A garota do Chalé 13, Dália, mais parecia uma filha de Ares de tão impetuosa.

– Não tenham pena deles, porque eles não terão pena de vocês! Quando tiverem alguma arma, não hesitem em matar seus oponentes. Têm algum dom especial?

– Manejo adagas e lanças. Pode-se dizer que sou boa nisso – Cal afirmou, com uma dosagem não muito grande de modéstia.

– E você garoto? Sabe fazer alguma coisa além de não falar nada? – o rosto de feições indígenas de Dália voltou-se para Damon com um olhar assustador.

– Eu? Eu, eu...

– Damon cura e mata pessoas com um toque – respondeu Callista – Ele não gosta de admitir isso, mas é provavelmente o mais poderoso de todos os tributos. As pessoas dizem que é uma maldição, mas neste caso eu prefiro considerar um dom.

Callista pela primeira vez sentia-se insegura. De vez em quando seus amigos a advertiam sobre o garoto, e em outras aconselhavam a aliar-se a ele. Espíritos eram realmente confusos. Cal era mestra em desvendar as emoções das pessoas, como era o caso do nervosismo de Damon e a frustração mal mascarada de Dália. Mas era difícil decifrar emoções apenas ouvindo vozes, principalmente as vozes mórbidas e arrastadas características dos fantasmas. Olhou para o irmão novamente para que ele respondesse à sua “acusação”.

– Seria um dom se eu ao menos soubesse controlá-lo – Damon ajeitou a franja sobre o olho e olhou para baixo.

– Hahaha, controlar? Garoto você ainda não percebeu que sua vitória depende da morte de outros campistas? Sabe, talvez eu deva aconselhar que você mate Callista também quando for necessário.

– Acho que você está indo longe demais, Dália – disse a outra mentora. Era uma das poucas filhas de Hades com Perséfone. A deusa da boa morte apresentava aspectos tanto do pai quanto da mãe. A pele branca e pálida e os cabelos negros contrastavam fortemente com os olhos verdes vívidos e os lábios rosados. Macária voltou-se a sentar ao lado da outra mentora para dizer.

– Vocês não podem esquecer-se que além de serem adversários, são irmãos. Os outros, além de adversários são seus amigos, conhecidos. Não digo para agirem totalmente de forma pacífica e não fazer mal a nem uma mosca. Peço para que sejam racionais. E se sobrarem apenas os dois, conversem, combinem quem deve vencer. O objetivo desses jogos é fazer com que vocês se tornem monstros assim como ciclopes, empusas, ou qualquer outro ser asqueroso. Não deem esse gostinho a eles – Macária levantou-se mais uma vez e foi para o banheiro, retocar a coroa violeta ao redor dos olhos.

Callista analisou as palavras de ambas as mentoras e pensou se era realmente necessário ser um monstro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não, este capítulo não terá um desenho. O próximo terá a imagem dos mentores divinos e não vou desenhar os do Acampamento por preguiça mesmo. Se eu sou sincero? Pode-se dizer que sim. Vejo você nos reviews!