― Ren, acorda! – falei apertando o dedo na bochecha dele. – Anda você vai perder o próximo capítulo. As férias estão acabando!

Escutei um “hãnn?” abafado vindo de seus lábios. Ren estava diferente, desde que entramos de férias, mesmo eu sendo contra tal decisão, ele não acordava tão cedo como antes para se exercitar e esqueceu completamente de ser uma pessoa higiênica.

―Ren! – repeti seu nome soprando no seu ouvido, pelo que sei ele odeia isso.

―Que foi? – respondeu depois de alguns segundos.

― Levanta desse sofá. Faz três dias que você deitou aí. O sofá já deve estar afundado. Por falar nisso, ele é novo! Anda.

Cutuquei sua bochecha e ele abriu o olho direito, porque o outro estava escondido na almofada.

―Kells, estamos de férias. Relaxa.

Eu sabia que férias era para relaxar, mas o que ele fez durante todo esse tempo foi muito exagerado considerando que relaxar é aproveitar os dias sem se preocupar com trabalho ou qualquer coisa que seja mais chato do que isso.

―Relaxada eu vou ficar quando você resolver sair desse coma de preguiça. Sabia que você é uma pessoa privilegiada? – Perguntei e negou com a cabeça da forma mais “rápida” que conseguia. – Tem um físico ótimo, corre que é uma beleza!

―Eu sei – afirmou sonolento.

―Se você sabe, por que não se mexe? Você não me abraça há três dias. Não saímos de casa há mais de uma semana. Deve ter meses que não vemos o mundo.

Esperei alguns minutos sentada ao seu lado. Eu realmente estava preocupada, Ren não era assim. Nunca foi assim! Eu já estava para desistir, mas de repente, com um solavanco, levantou-se. Rapidamente bocejou e jogou o braço para o alto fazendo com que o mesmo estralasse. Por fim, andou até o banheiro. Sem dizer uma palavra e ignorando-me completamente.

―Kells, arrume-se que hoje vamos sair – disse em um tom brincalhão enquanto fechava a porta.

―Ok – respondi e no mesmo instante percebi que havia um sorriso no meu rosto.

Coloquei uma calça jeans preta e uma blusa soltinha, na cor azul, que Nilima me deu de presente no final do ano. Logo, calcei uma sapatilha bege e coloquei algumas pulseiras que comprei na nossa última viagem à Índia. Sai do quarto alegre, pensando na aonde iríamos. Sentei no sofá e esperei mais um pouco. Talvez ele estivesse trocando de roupa agora.

―Ren! – gritei na esperança de ele sair de onde estivesse o mais rápido possível.

―Já estou indo. – disse do banheiro.

Minha vida se resume a palavra "espera". Esperei pelo homem da minha vida. Esperei para podermos ficar juntos. Esperei até que ele parasse de me esperar. Esperei para que pudéssemos ter uma vida normal. Não, não. Na verdade eu esperei, ansiosamente, que fossemos um casal normal. Quando isso aconteceu, esperei até ele decidir um lugar para morarmos. E agora, no final de todas as “esperas” eu estou esperando ele se arrumar. Isso é entediante. Ren, às vezes, é pior do que eu.

―Pronto! – Falou pulando no sofá ao meu lado de forma brusca.

Eu não entendi por que o sofá fez um som de madeira sendo quebrada, mas quando olhei para ele e vi o tigre branco, encarando-me com aquele sentimento confuso que aparecia em seus olhos quando alguma coisa estranha acontecia a "ficha caiu". Eu sabia o que era e a raiva, por pouco, quase tomou conta de mim.

―Ren – pronunciei baixo – Não tem jeito de sairmos com você desse jeito. Sabia?

Claro que ele não iria responder. Tigres, por que sejam metade humano e metade felino, não falam.

―Deixa eu ver se inferi a ideia certa – falei pausadamente. – Você dormiu como tigre outra vez?

Escutei um ronronar tímido.

―Por quê? Agora eu vou ter que esperar até amanhã, para podermos sair juntos. Você me desapontou, muito mesmo. Entendeu?

Levantei do sofá, tentando manter a calma. Não estava acreditando naquilo. Como ele pode fazer isso?!

―Não me incomode, vou deitar.

Depois de fechar a porta do quarto troquei de roupa, voltando a colocar o meu pijama de poucos minutos antes, e deitei na cama. Fechei a janela e deitei na cama. Cochilei um pouco, mas o que Dhiren tinha feito não em agradou. Pior ainda é quando penso que, talvez, fui um pouco dura com ele. Ren não tinha culpa de não ter o dia inteiro como humano. Kelsey, sua idiota! É claro, que ele não tem culpa!

Sai do quarto e fui até a sala. O relógio marcava meia noite e cinco. O tigre branco estava deitado no chão frio ao lado do sofá. Estava dormindo profundamente. Sentei ao seu lado e coloquei as mãos na sua orelha.

―Ren, desculpa. Eu fui um pouco rude. Desculpa. – falei tentando segurar o nó que se formava em minha garganta.

Apoiei a cabeça em seu tórax, sentindo os pelos de seu corpo fazerem cócegas em meu rosto, e ouvi o seu coração. Fechei os olhos.

―Eu te amo Kelsey – escutei a voz de Dhiren. Era como sempre: suave e firme ao mesmo tempo.

―Eu, também, te amo Ren – falei apertando o seu corpo contra o meu.