Cheguei na escola com todas as atenções voltadas pra mim. Rachel estava do meu lado falando coisas do tipo "Uau, está arrasando", "Aposto que o menino que fez aquilo vai se arrepender." Eu estava apenas desfrutando de tudo aquilo; nunca fui de chamar muita atenção. John, Angel e Chris estavam tão surpresos quanto eu.

Cheguei na sala e fui para o meu lugar como o normal. Comparado com o dia anterior, hoje foi maravilhoso. Ninguém olhava pra mim com ar de deboche ou ficava cochichando pelos cantos. Eu estava em um vestido vermelho, meu cabelo estava com um caimento ótimo, repicado sobre os ombros, um cinto sobre a barriga, e um salto alto plataforma preto. Uma das qualidades dessa escola é poder vir sem uniforme.

Pela primeira vez na minha vida, eu não estou evitando me olhar no espelho; estou me sentindo ótima comigo mesma. A melhor parte foi passar pelo grupinho da Sarah que ficou me encarando como esse eu fosse seu prato de comida. Elas podiam vir com toda fome ao pote, eu não ia ceder.

–Uau, Laura, o que aconteceu com você? - Perguntou espantado o professor de matemática, Sam.

–Ah, nada de mais, apenas me arrumei melhor e um corte de cabelo novo; mas obrigado por reparar, Sam. - Falei sorrindo e olhando pros meus amigos.

–Ah, que nada! Impossível não reparar! - Disse rindo com a turma. - Hoje, vamos falar de um assunto novo, pessoal... - E continuou a aula como sempre.

Como eu já esperava, a professora Rose ficou com mais ódio de mim. No mesmo clima de vitória, combinamos de ir ver outro jogo. Hoje à noite, todos nós com exceção do John que não aceitou dessa vez. Ele estava um pouco diferente depois de ontem. Mais afastado de nós. Eu não queria ir com a mesma roupa no jogo, então falei que ia em casa trocar de roupa antes do jogo. Vestido azul escuro, camisa preta ou... Vestido lilas, perfeito pra ocasião. Andar com a Rachel está deixando meu gostou um pouco mais refinado, isso é bom. Minha mãe entrou no quarto.

–Hum... Está linda com esse vestido, filha. Aonde você vai assim? Vestida para matar? - Perguntou rindo.

–Er... Vou ao jogo com minhas amigas... Está bom mesmo? - Respondi rindo.

Ela assentiu com a cabeça. Me despedir dela e fui ao encontro deles. No caminho, encontrei com o John.

–Hey, o que faz aqui? - Questionei intrigada.

–Ah, Lau. Estava indo pra sua casa, liguei pra Angel e perguntei onde você estava e vim te encontrar. - Respondeu. Ele estava nervoso, suava um pouco, e estávamos no inverno.- Posso te acompanhar até o jogo? - Perguntou tímido.

–Claro que pode, John.

–Er... - Começou. - Eu queria te fazer uma pergunta. - Disse olhando pro chão e disfarçando um olhar meio envergonhado.

–Ora, pode fazer qualquer pergunta, John! - Respondi segurando as mãos geladas dele.

Paramos na calçada, estava um pouco escuro, mas eu conseguia ver nitidamente o olhar sem jeito pra perguntar que ele fez.

– Você gosta de mim, Lau? -Perguntou olhando pra mim.

–Claro que gosto, John. Porque essa pergunta agora? - Questionei, eu gostava muito do John, ele sempre foi o meu melhor amigo, um irmão completamente.

–Não, não como amigo. - Ele fez uma pausa e então continuou olhando pro chão. - Você gosta de mim como namorado, Lau? - No final da pergunta ele levantou o olhar esperando uma resposta.

O meu mundo parou. O John, um menino que sempre tratei como meu irmão estava me pedindo em namoro? O que eu ia responder? Eu não podia mentir pra ele por pena dele; ele queria uma resposta sincera. Demorei um pouco pra responder. Minha cabeça ficou uma bagunça. Estava pensando no jogo dos meninos, nas meninas me esperando, no John na minha frente me encarando e querendo uma responta.

–Sim, gosto. - Falei, e só depois, eu pude sentir a magnitude dessa resposta. O que eu estava pensando? Eu gostava dele como um irmão e não como namorado. O que faria agora?

Ele me abraçou forte, eu podia sentir a felicidade dele ali me abraçando. E por um segundo, eu achei que tinha dado a resposta certa; mas depois ele me beijou, e percebi que estava tudo errado. O beijo, o namoro, a resposta, tudo estava errado. O que eu faria? Eu não podia dizer que tinha mentido, o médico havia dado à ele dois anos de vida. Estava com medo de acabar com a felicidade dele. O sorriso dele parecia tão inocente, o abraço e o beijo pareciam tão sinceros, eu não podia tirar isso dele. Ele disse que tinha que ir pra casa, e eu segui pro jogo com minha cabeça toda bagunçada.

Chegando no jogo, não conto nada a eles, ainda não tinha entendido aquilo direto. Arrumamos um lugar na arquibancada e ficamos conversando enquanto o jogo não começava. O jogo foi incrível, tinha mais meninos lindos que eu esperava.

Estava saindo do jogo, rindo de uma piada que o Chris tinha feito sobre o Quarterback ser lindo. E adivinha quem aparece? O quarterback.

–Laura? Como conseguiu ficar tão linda? - Fez uma pausa, sorriu e continuou.- Ou talvez, você sempre foi linda e eu nunca tinha percebido.

–Obrigado, estávamos falando do quanto você é bonito agora... - Falei rindo, esqueci totalmente o acontecido no caminho do jogo...

– Hum, então eu acho que você vai gostar disso...-Respondeu ele.

O quarterback que só depois fui descobrir que se chamava Peter, me beijou. Um beijo incrível. No meio do beijo eu escutei um grito. Era o John, ele tinha visto tudo, estava do lado de fora me esperando com flores, o que eu tinha feito? Tudo aconteceu muito rápido, ele ficou me olhando chorando, as meninas ficaram sem entender nada e o quarterback disse:

–Nos vemos amanhã na escola, linda! - E saiu com o resto do time de futebol.

Quando fui atrás do John, ele já tinha ido embora.