The Last Chance escrita por theblackqueen, BloodyBunny


Capítulo 3
Blood Line.




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Marie ficou segundos observando os dois homens parados em sua sala e Annie já começava a ficar desconfortável. A mais nova alternava o olhar entre a irmã e os dois caras, confusa. Dean chegou a recuar um pouco para visualizar o lado de fora da porta onde estava o número do apartamento. Não era um erro. Era o endereço certo.

— O que vocês fazem aqui, agentes? — a pergunta veio de Marie.

— Nós... — Sam se deteve sem resposta. — Nós...

— Espera. — Annie se meteu. — Agentes? Eles não são os paranormais?

— Annie... — a voz de Marie soou desconcertada.

— Foi você que nos ligou? — Dean se arriscou a perguntar.

Ele e Marie se encararam fixamente por alguns segundos. O contato visual foi quebrado por Marie que engoliu a seco com nervosismo.

— Vocês não são federais! — concluiu ela, um pouco indignada.

— Não exatamente... — Sam respondeu sem graça.

Marie estreitou o olhar. Annie acabou sentando-se na poltrona com o balde de pipocas. Parecia se divertir com a situação. Já Dean estava seguro de que algo realmente estava acontecendo envolvendo a Abancourt, ele não estava errado no fim das contas.

— Se não são federais, o que são? — questionou Marie. — É um crime se passar por federais! Eu deveria chamar a polícia agora!

— Hey, calminha doutora. — Dean ponderou.

— Espero uma boa explicação! — a mais velha novamente exigiu, desconfiada trocava o olhar entre os caçadores que faziam o mesmo entre si.

— Então... É meio complicado isso... — Dean fazia gestos com as mãos. — Nós estamos investigando os casos. As mortes estranhas dos religiosos. — o mais velho dos Winchester pausou, não sabia até onde deveria ir nas explicações ou até aonde a legista sabia. — Mas sem querer ser um incomodo, você ligou para nós e deve ter uma boa razão.

— Eu liguei para John Winchester.

— John Winchester é o nosso pai. — Sam explicou. — E ele morreu.

— Meus pêsames! — a voz era de Annie, sentada na poltrona se enchendo de pipoca com queijo.

Sam balançou a cabeça. Dean e Marie ainda se encaravam.

— Deixa eu adivinhar, vocês me deram nomes falsos no IML?! — Marie disse.

— Eu sou o Sam, ele é o Dean. — Sam se adiantou em se apresentar.

Marie maneou a cabeça. Em que porcaria ela tinha se metido? Suspirou. Agora ela estava disposta a ver até aonde isso iria. Se parecessem perigosos ela não hesitaria em chamar a polícia. Mas não pareciam.

A droga era essa, não pareciam.

— É melhor se sentarem. — Marie disse. — Temos muito que conversar.

Sam e Dean sentaram-se no sofá, enquanto Marie sentou-se na outra poltrona.

— Vamos por partes. — o Winchester mais velho começou. — Você disse que era uma parente distante do nosso pai?!

— Na verdade é meio enrolado. É novo para mim também. — respondeu. — Eu fui hoje falar com o meu tio e....

— Você foi aonde? — indagou Annie interrompendo a irmã. — Marie eu fiquei todo esse tempo sem saber nada do tio Jack, você vai lá e nem me avisa?

— Foi um impulso, eu não planejei a visita. — Marie explicou-se, mas Annie já havia fechado a cara e cruzou os braços como uma criança mimada, ela então se concentrou nos dois desconhecidos na sala. — E como eu ia dizendo, meu tio Jack Abancourt, ele é padre em uma pequena paroquia daqui e ele me falou de John. Disse que o tio dele e do meu pai, Eric, se casou com a mãe desse John, era padrasto dele. Ele era mecânico.

Dean e Sam sabiam que essa parte era verídica. Henry sumiu quando John era bem pequeno, John sempre acreditou que o seu pai o havia deixado. O que não era verdade. Sabidamente Henry morreu no “futuro” tentando proteger todo o segredo dos Homens das Letras. A mãe de John casou-se com Eric Foster, um mecânico de Lawrence. John sempre falava de Eric, com ele aprendeu tudo que sabia sobre carros. Eric morreu cedo, um pouco antes do casamento de John e Mary.

— E como seu tio sabia o que o nosso pai fazia? — Sam indagou.

— Ele não entrou em detalhes, mas segundo ele os dois trabalharam juntos em um caso. Possessão. — Marie estreitou o olhar, como era estranho se ouvir ao dizer aquilo. — Vocês também são... Caçadores?

— É. — Dean deu de ombros. — É de família.

Marie balançou a cabeça assimilando tudo aquilo. A essa altura Annie já estava acompanhando a conversa novamente com atenção. Para ela, Dean era o mais desconfiado. A sua postura era de líder da matilha. Teve vontade de rir com tal pensamento, O Encantador De Cães era a coisa mais interessante para assistir naquela clínica. Já Sam era mais tranquilo. Seus ombros estavam relaxados e ele prestava atenção na conversa não de um jeito tão defensivo quanto o irmão mesmo estando inquieto por segundos de vez em quando.

— E para caçar vocês usam identidades falsas e se passam por agentes? Como continuam livres? — a mais velha perguntou. — Como continuam vivos?

— Olha... A gente se pergunta isso todo o santo dia. — Dean disse abrindo um sorriso de canto, como se risse de uma piada interna que as duas estavam bem distantes de entender.

Marie franziu o cenho.

— Você disse ao telefone que tinha um caso... — Sam começou cuidadoso.

— E como vocês disseram que estavam mesmo investigando as mortes, as dos religiosos, eu creio que é o mesmo assunto. — Marie disse depois de abanar a cabeça, confirmando para si mesma que daria aquele passo.

Annie remexeu-se na cadeira. Agora o clima começava a lhe incomodar.

— Como assim? — perguntou Dean.

— Os símbolos que se repetem nos corpos. Eu os reconheci.

Dean encarou o irmão com um ar vitorioso, como se dissesse eu te falei. Mas o mais novo o ignorou, permaneceu concentrado em Marie e na inquieta Annie.

— Onde os viu? — Sam indagou.

Marie encarou Annie, engolindo a seco. Os dois Winchester alternavam o olhar entre as duas, apreensivos.

— A Annie, minha irmã mais nova, ela... — a voz morreu na garganta de Marie, aquilo não podia ser real.

Sua irmã, sua irmãzinha, ela não podia ser condenada a uma vida assim. Annie não era estranha, não tinha dons especiais, Marie temia que sua irmã virasse motivo de gozação ou que fosse analisada como um mutante. Ela era só uma menina. Ainda era uma menina. Pelo menos para ela.

— Os símbolos são enoquiano, linguagem dos anjos. — Annie foi falando assim que percebeu que fosse qual fosse o motivo que tinha levado Marie a chamar os Winchester, ele não importava agora. — Eu sempre sonhei com os anjos e é por isso que eu sei.

Boquiabertos. Essa palavra definiria bem Dean e Sam nesse momento.

— Como assim sempre sonhou? — Dean arqueou a sobrancelha.

— Quando eu tinha sete anos esses sonhos começaram. Eu via anjos neles. E ás vezes era assustador. — pausou enquanto procurava bem as palavras, temia que os caçadores ou paranormais achassem que ela era louca. — Os anjos, eles não são tão bonzinhos como pintam. Muitas vezes são responsáveis por fazer valer as leis divinas, mesmo que para isso tenham que matar e espalhar toda a ira dos céus pela terra.

Os Winchester nem sabiam o que dizer. Dean concordou mentalmente, anjos eram um porre. Nem de longe eram o tipo de criaturinha fofa que dizem para as crianças. Aliás, se elas soubessem como eles realmente são nem rezariam para o anjo da guarda. Sam se pegou questionando quem era a garota e até que parte da história ela poderia saber.

— E eles estão matando gente agora. — Annie continuou. — Por vingança. Eles caíram no início do mês. Todos eles. E eu não sei qual o motivo que levou isso a acontecer, mas eles estão em busca de algo importante.

— Você sabe o que é? — Dean indagou.

— Não.

— Eu não queria me deixar levar por isso. — Marie disse fazendo com que eles a encarassem. — Mas quando percebi que o símbolo do cadáver era o mesmo que Annie desenhou, eu... Meu tio disse que John poderia ajudar. Isso de anjos caírem, eu não sei... Deve ter uma explicação razoável para tudo isso.

— Na realidade os anjos caíram sim. — Dean disse com o tom mais natural do mundo.

Marie piscou, pasma.

— Havia um anjo... — o mais novo começou cuidadoso, Annie prestava muita atenção em suas palavras. — Metatron. Ele era o escriba de Deus. Ele meio que manipulou um outro anjo, fazendo com que ele realizasse etapas de um feitiço achando que na verdade isso consertaria o céu. Mas não era isso. Foi por isso que os anjos caíram.

Quando Sam parou de falar ele já não observava as duas, seus olhos estavam fixos em Annie. Por algum motivo ela lhe parecia atípica.

— E por que o céu precisaria de conserto? — indagou a mais velha.

— Acredite, essa é outra história e se a gente for contar vai ficar mais confuso ainda de digerir. — Dean disse.

— Claro, porque agora está mais transparente que água! — Marie ironizou.

Annie encarava Sam estranhando como um simples humano podia saber tanta coisa. Cogitou que ele fosse um dos caídos.

— Você é um anjo?

Ele frangiu a testa.

— Eu não sou um anjo.

— Não nesse momento, pelo menos. — completou Dean abrindo um sorriso.

Sam encarou o irmão reprovando-o.

— Parou, parou, parou. — Marie se pôs de pé encarando os três perplexa, seu olhar parou em Sam e Dean. — Esperam mesmo que eu acredite nisso?

— Não, esperamos que você ganhe na loteria e dívida com a gente. — o irmão mais velho ainda continuava com o ar debochado.

Sam uniu as sobrancelhas, péssima hora para fazer piada.

— Era para ter graça? — Marie perguntou sem emoção.

— Não sou palhaço! — Dean deu de ombros.

Sam apertou os lábios formando uma linha fina, estava preocupado.

Era melhor se meter antes que a coisa piorasse.

— Olha, eu sei que pode parecer loucura... — Sam começou, Marie o cortou.

É loucura!

— Eu sei. Mas você sabe que sua irmã tem algo diferente, especial, senão não teria nos procurado. — ponderou.

— Minha irmã não é uma aberração. — Marie disse indignada.

— Claro que não. — Sam tratou de dizer. — Mas ela pode ser a chave para saber o que os anjos querem.

— Ela não vai ser isca.

— Nunca a colocaríamos em perigo. — replicou Sam. — Só queremos ajudá-la a entender.

— Fora da minha casa, os dois! — rosnou Marie. — Ou eu chamo a polícia.

— Marie... — Dean tentou dizer qualquer coisa.

— Agora!

Eles não protestaram. E Annie sentiu seu estomago se revirar quando a porta se fechou, fazendo com que as duas ficassem sozinhas. Talvez fosse impressão, mas parecia que na sala tinha se instalado um vazio. Aquela foi a primeira vez que alguém a ouviu sem lançar aqueles olhares que a faziam se sentir um ser de outro mundo. Marie estava nervosa, caminhando de um lado para o outro.

— Isso foi grosseiro, Marie. — Annie se levantou encarando a irmã. — Você os chamou.

— São mentirosos! — a mais velha defendeu-se. — Charlatões! Lunáticos!

— Eles só confirmaram o que eu tenho dito a séculos, em outras palavras você está me chamando de mentirosa e lunática. — disse séria. — E não está longe de ser mesmo seu julgamento sobre mim.

— Annie, não diga besteiras! — Marie franziu a testa. — Você não é uma louca estranha. Você é normal. Eles não.

— Eles confirmaram o que eu disse!

— Isso não é real! — Marie agora tinha um tom desesperado. — Anjos? A droga dos anjos não são reais!

— Eu sei o que eu sou, Marie! E isso não me faz sentir uma estranha. — Annie respondeu em tom baixo, porém convicto. — Mas você prefere negar o que se vê perfeitamente na frente dos nossos narizes. Quem me sente estranha aqui é você. Por isso nega. Por isso prefere me trancar em uma clínica!

Quando Annie mordeu a língua já havia dito. Era mais do que ela desejava falar a irmã, era mais do que ela pretendia confessar. Se calou, respirando fundo. E sem esperar resposta, girou nos calcanhares. Entrou em seu quarto.

Marie engoliu a seco.

O que diabos estava acontecendo?


[...]





O Chevy Impala 67 ia em direção ao motel apressadamente.







Sam e Dean estavam em total silencio, perdidos em seus pensamentos. O mais novo quebrou-o, fazendo a pergunta que não queria calar:





— O que você acha que a garota é?


— Se for mesmo tudo verdade, cara... A única coisa que me vem à cabeça é que a Annie é um anjo que perdeu a graça, caiu e nasceu como humana. — Dean o respondeu enquanto dirigia. — Como a Anna.

— Como assim se for verdade? — a voz de Sam soou quase indignada. — Para mim pareceu bem convincente.

— Só me convenci que a irmã dela é uma doida, isso sim! — disse o mais velho na direção.

— Ela estava assustada, é a vida da irmã que está em jogo. — o mais novo disse com bom senso.

— Não vai ajudar nada tendo um chilique. — replicou Dean. — E agora?

— Temos que ficar de olho. — afirmou Sam.

— De olho em quê? Não temos certeza de nada! — bufou o mais velho.

Imediatamente o celular de Dean tocou, ele tirou do bolso e entregou ao irmão. Sam encarou a tela. O visor mostrava o número de Castiel. Estranhou pelo fato do “ex” anjo já ter ligado naquele mesmo dia avisando do incidente com a sua perna. Até cogitou que Castiel estivesse em apuros. Se parte dos anjos estavam atrás de vingança, cedo ou tarde chegariam até Cas que era – de forma direta ou indireta – responsável pela queda. Mas não era o caso. Não aparentemente. O “ex” anjo pediu que os Winchester fossem até ele, que havia um assunto bem delicado para tratar. Ao ser questionado, Cas limitou-se a dizer que havia um de seus irmãos – um anjo – que acabou encontrando no hospital. Um grande e velho companheiro que se feriu na queda e que ele tinha informações valiosas a respeito do que estava acontecendo entre os anjos na terra. Bastou isso para a pulguinha da curiosidade – juntamente com a da desconfiança – aparecer no ombro de Dean. Dean Winchester não confiava em bons samaritanos. A maior parte dos anjos estavam brincando de Jogos Mortais na terra e de repente um aparece querendo ajudar?

— Não, não. Tem coisa errada ai. — Dean disse entrando pela porta do quarto do motel e tirando o casado, Sam entrou logo depois dele e fechou a porta. — E eu sei porque quando o Cas acha que está fazendo a coisa certa é porque não enxerga um palmo na frente dos olhos.

Sam jogou o casaco sobre a guarda da cadeira onde sentou-se. Mentalmente o mais velho chegou a comparar a inocência de Castiel com a de Sam, quando os dois acreditavam estar fazendo a coisa certa não costumavam ouvir segundas opiniões. Mas só o fez mentalmente. Dado os últimos acontecimentos seria um comentário infeliz.

— E agora? O que fazemos com o Cas? — Sam perguntou passando as mãos no cabelo, retirando a franja que agora cismava em ficar na frente dos seus olhos.

Dean bufou. Só via uma saída.

— Eu vou ter que ir ao Alabama. — concluiu o Winchester. — Você fica aqui e não tira o olho das garotas.

— Que? Você nem sabe o que está acontecendo por lá, Dean.

— É, mas não dá para esperar sair no jornal. — disse Dean procurando a velha bolsa esverdeada onde guardava algumas de suas roupas. — Qualquer coisa é só me avisar.

— Tem certeza? — Sam perguntou inseguro.

— Relaxa. — Dean tranquilizou-o. — E além do mais, alguém tem que ir buscar o Castiel antes que ele acabe em um foguete direto para a lua.

Sam assentiu, voltando sua concentração para o laptop. Tinha decidido tentar achar alguma informação sobre as Abancourt. E elas mencionaram um tio, um padre de uma paroquia em Salem. E não foi difícil achá-lo. Padre Jack – como o chamavam – ou Jack Abancourt era o padre da paroquia Lady Of Sorrows. E era aparentemente um homem bom, conhecido por distribuir alimentos e roupas aos pobres depois de campanhas de arrecadação. Tão entretido com sua busca que sobressaltou quando Dean saiu do banheiro – agora com uma roupa mais confortável para quem vai dirigir um bocado de horas – pegando sua mochila e abrindo a porta do quarto.

Depois de se despedir, usou sem tom mais maldoso para provocar o irmão:

— De olho nas duas, Sammy. Mas nada de ménage à trois.

Fechou a porta deixando o olhar incrédulo de Sam.

Dean tinha cada ideia!


[...]





O homem apagou a última vela e virou-se. As portas estavam trancadas, assim como as janelas. Era hora de se recolher. Desceu os degraus do altar sentindo a maldita dor nas pernas voltar. Ele passava muito tempo de pé e já não tinha exatamente o vigor da juventude a seu favor. Deu alguns passos em direção ao corredor – onde ao final chegaria aos seus aposentos – mas não avançou. O seu coração acelerou. Podia jurar ter ouvido passos ao seu redor. E esses malditos passos foram ficando mais e mais distantes. Qualquer pessoa relaxaria nesse momento e concluiria que foi só imaginação. Não ele. Seu olhar focalizou um ponto na parede branca. Encarou a figura do arcanjo matador de demônios, o príncipe dos céus, que com sua espada flamejante jogava a serpente para o abismo profundo. Que ironia era a vida! Uma grande e perversa ironia.







Um sopro de ar dado pelo gigante Golias causaria menos estrago do que aquela dúzia de anjos tentando arrombar uma porta de madeira grossa. Jack sorriu fracamente. Só esperava que ninguém fosse até o salão, não queria que mais ninguém se envolvesse nisso. Dois, três empurrões e a porta se abriu. Os doze homens eram de todos os tipos. Menos dignos que os apóstolos – bem menos, se você quer saber – mesmo sendo anjos. Anjos. Eis a grande piada. Eles foram em direção ao frágil velho como se esperassem que ele fosse correr. Isso não ia acontecer. Nem que quisesse, um homem na idade dele não iria muito longe.





— Finalmente a nossa busca teve fim. — disse o homem de pele escura, forte e alto, olhando para Jack do mesmo jeito que os seres humanos olham para uma barata indefesa antes de esmagá-la.


— Acho que não procuraram direito. Eu estive aqui o tempo todo. — Jack disse com uma coragem que ele mesmo não faz ideia de onde tirou.

Camael não emitiu expressão ou emoção nenhuma. Apenas encarou o homem por alguns segundos antes de sugerir de forma não muito amigável:

— É bom começar a falar.

— Eu não tenho nada a dizer, irmão. — a voz de Jack era o oposto, serena como um coro divino.

Por mais irônico que fosse dizer isso.

— Eu não sou irmão de macacos como você. — disse Camael ríspido. — Ou você começa a falar por bem, ou vai ser por mal.

E Jack não cedeu.

Orar por misericórdia era inútil nesse caso.

Sem esperar mais os anjos de Camael levaram Jack até o altar. Usando táticas humanas, como tortura com vela, até táticas que o próprio Alastair teria medo de usar. Enquanto isso os outros anjos iam se divertindo com os que também moravam na igrejinha – duas famílias que Jack acolheu – e por elas ele chegou a cogitar desistir. Mas falar era assinar o fim de tudo. Do mundo. Nem que isso fosse a última coisa que iria fazer na vida, mas não iria ceder.


[...]





Annie acordou assustada. Ofegante. Lívida. Encarou o quarto a sua frente, não tão escuro quanto antes, o sol timidamente começava a raiar. Aquele foi o pior dos pesadelos que já teve. Nele viu uma lamina perfurar a pele de seu tio Jack várias e várias vezes, deixando um rastro de sangue e de dor. Era terrível ter as imagens gravadas em seu cérebro. Ela precisa ir ver se tudo estava bem.







Tinha que estar.





Decidiu não chamar Marie. Ela não ia deixá-la ir de qualquer jeito e Annie não era mais um bebê, não tinha que pedir permissão a irmã. Andou devagar até a porta e finalmente saiu. Annie não lembrava como eram as ruas e as direções na cidade. Fazia muito, muito tempo em que não se locomovia por ali. Sozinha tinha infinitas chances de se perder. Um taxi. Eis a grande solução. Mas o carro não parou exatamente em frente a paroquia como era sua ideia inicial. Annie estava muito nervosa, com medo do que podia encontrar. E agradeceu a Deus quando ao passar justo em frente a uma cafeteria, reconhecer uma figura que estava sentada em uma das mesas bem ao lado de uma parede de vidro com o laptop aberto sobre a mesa e um copo de café nas mãos.


— Para o carro!

O taxista o fez imediatamente. Foi só o tempo de descer do carro e pagar o que devia pelo caminho percorrido. Annie apertou o passo e entrou no lugar, indo direto ao rapaz sentado. Sua cabeça latejava.

— Sam, eu preciso da sua ajuda.

Ele se levantou encarando a morena de olhos azuis que parecia a ponto de ter um ataque de nervos.

— Hey, calma. — disse sereno. — O que houve?

— Eu sonhei de novo! — se apressou em dizer.

— Sonhou com o que? — agora Sam baixou mais a voz. — Outra morte?

— Meu tio Jack. — ela disse incerta. — Eu preciso que vá comigo a paroquia.

Sam tentou raciocinar por um segundo, a voz da garota começava a lhe causar desespero também.

— E sua irmã?

— Dormindo em casa.

— Você fugiu? — ele frangiu a testa.

— Eu tenho 28 anos. — Annie respondeu um pouco pasma. — Por favor, tenho medo que algo tenha acontecido.

Sam assentiu.

— No caminho você liga para sua irmã e avisa que está bem. — ele impôs como condição.

Ela não protestou.


[...]





Dean dirigiu a noite inteira ao som de Led Zeppelin. O Impala estacionou bem no começo da manhã em frente ao hospital geral de Selma, no Alabama. Castiel já tinha alta e só esperava que os Winchester fossem até lá. Mas só um entrou pela porta. E ele surpreendeu-se ao encontrar o outro homem que era forte e loiro, olhos azuis. Deveria ser o anjo.







— Dean! — Castiel se pôs de pé, estava sentado na cama do hospital enquanto o outro permanecia escorado na parede. — Esse é Elohiel.





— Winchester. — disse o tal Elohiel em cumprimento.


— E o Sam? — Castiel perguntou.

— Ficou em Salem resolvendo algumas coisas. — se limitou em dizer, encarou então o pé engessado do “ex” anjo. — E você, como está se sentindo?

— Sinto... — pausou estreitando o olhar para a parede branca do quarto, como se se esforçasse muito para encontrar as palavras certas. — Não sei como vou explicar direito. É uma sensação estranha no ventre, uma dor fina como se eu fosse explodir.

— Isso são gases! — Dean resmungou impaciente. — Me referia a perna!

— Ah, eu tenho que ficar com essa coisa que vocês chamam de gesso por alguns dias. — respondeu com muita sinceridade. — Mas é ruim. Essa coisa coça. E me atrapalha na hora de dormir.

— Todos passamos pelo gesso um dia. — disse Dean. — É legal que na escola, os amigos assinavam e.... — se deteve ao perceber o olhar de peixe morto do “ex” anjo como se estivesse falando de ETs.

— Porque as pessoas fariam isso? — perguntou realmente intrigado.

— Esquece o gesso. — disse Dean e agora observou o outro anjo. — Quem é o seu amigo e o que de tão importante queria me contar?

— Castiel e eu estivemos juntos na guarnição de Annael. — explicou o tal anjo dando passos em direção aos dois. — E na queda acabei me ferindo e encontrei Castiel aqui.

— E você não quer esfolar o Cas vivo porquê...?

Castiel por um segundo pareceu indignado pela pergunta de Dean.

— Simples. Se há um anjo que eu ainda confio em tudo isso, esse é o Castiel. — disse sério. — E na atual situação, acho que somente ele pode nos ajudar.

— Os anjos estão matando as pessoas, não é? — perguntou o Winchester.

— Dúzias delas. É preciso que entendam que os anjos se dividiram em vários grupos. Existem anjos que estão tentando viver bem, se encaixar. Outros estão surtando. Alguns anjos estão trabalhando com os demônios na tentativa meio que frustrada... — Elohiel pausou. — Pelo menos por enquanto, de libertar os arcanjos. Mas a maioria deles quer vingança. Querem o pescoço de Castiel e o de vocês em uma bandeja de prata, porém também querem mais que isso. Eles querem a Deus.

Dean encarou o anjo por alguns momentos tentando assimilar o que ele havia dito.

— Como assim querem a Deus?

— Vingança. — respondeu Castiel. — Eles acham que Deus não se importa mais com os anjos, que prefere vocês. Nós caímos e ele nem sequer moveu um dedo para impedir. Eles querem chegar até ele e querem castigar o planeta.

— Mas você procurou ele, não procurou? — Dean estreitou o olhar. — Foi tudo inútil.

— Naquela época eu não sabia o que eu sei agora. — respondeu ao Winchester com convicção. — E mesmo se soubesse, não me arriscaria a tanto.

— Desembuchem logo! — bufou Dean. — O que é tão importante e que vocês descobriram?

— Deus criou quatro arcanjos antes de criar o resto de nós. — Elohiel disse.

— Muda o disco. — resmungou o caçador. — Já enjoei de ouvir essa música.

— Dean, é importante que entenda. — Castiel continuou. — Os arcanjos foram criados da mais pura luz divina. Não é a mesma luz da nossa criação. Mas Deus lançou parte dessa luz na Terra criando seres especiais. Vocês os chamam de índigos. Nós os chamamos de humanos tocados por Deus. Eles tem a alma pura, da mais pura essência divina e mesmo assim, são humanos.

— Depois da guerra os demônios criados por Lucífer começaram a manipular essa essência. Eles começaram a drenar, mesclar. — acrescentou Elohiel. — O que fez com que a maioria dos índigos que atualmente caminham sobre esse planeta sejam menos puros, sem poderes completos. Alguns podem ver nossas áureas, nossas asas, mas não podem dominar todo o poder. A alma tocada por Deus seria uma bomba relógio no inferno, foi conveniente para os demônios a mudança.

— Ok... — Dean coçou a cabeça assimilando o que já tinha ouvido até ai, o Sam bem que fazia falta agora, normalmente é ele que presta atenção nas histórias longas e chatas. — E tudo isso, o que tem a ver com os anjos?

— Dean, a primeira alma tocada por Deus pertence a uma linhagem de sangue especial que inclusive em certo momento se cruzou com a sua. — mal Cas havia acabado de falar e Dean já havia arregalado os olhos.

De novo não!

— Não sou eu?! — perguntou apressadamente. — Eu juro que dessa vez...

— Não, Dean! — cortou Castiel estreitando o olhar, Dean era perito em formar conceitos precipitados. — É só detalhe. O que eu quis dizer é que ainda existe um único índigo puro e isso que os anjos buscam. O ritual certo e as palavras se forem ditas com precisam pode mostrar o caminho das pedras até o criador, mas é um feitiço muito delicado que pode gerar um efeito borboleta se for feito de forma errada. Mortes e mais mortes. Talvez o fim dos seres humanos. É um tipo de bomba bem mais danosa que dez bombas atômicas.

— Tudo isso em uma alma? — ele franziu a testa.

— Os anjos não podem chegar a essa alma. — Elohiel disse sério, chegava a ser sombrio. — Se isso acontecer não há dúvidas de que eles vão usá-la para o bem e para o mal. Não só para chegar a Deus, mas também para afetarem a humanidade. Depois de extraírem todo o sangue e arrancaram a alma...

— Espera ai. — cortou Dean. — Os anjinhos querem esvaziar o corpo desse ser humano especial? Sangue e alma?

— O sangue é necessário para o ritual. — explicou Elohiel.

— Cara, que saudades do tempo em que eu achava que os anjos não existiam e que nada era pior do que demônios! — a voz de Dean soou cansada.

— Dean, precisamos encontrar essa pessoa e protegê-la. — disse Castiel.

Dean franziu a testa e encarou os dois.

— Espera ai, e quem me garante que você... — disse encarando Elohiel. — Não quer que a gente chegue até essa pessoa para você, para depois você levá-la até o matadouro angelical?

— Primeiro, eu não me juntarei a vocês agora. — respondeu Elohiel. — Depois, se esse fosse o caso eu já teria feito isso. Eu sei a localização da índigo. É uma garota.

— Então você é um anjo importante? — perguntou Dean. — Ou foi? Sei lá.

— Digamos que eu e Joshua conversávamos muito. — Elohiel se limitou a dizer ao Winchester. — E ele, mais do que ninguém, sabia disso.

— E onde é?

— Exatamente onde seu irmão está. — disse ele. — Salem, Oregon.

Que conveniente.

As peças facilmente se encaixavam.


[...]





Quando o carro cinza que Sam havia “conseguido” depois que Dean foi para o Alabama com o Impala entrou na rua onde ficava a paroquia, encontraram vários carros de polícia e resgate. Annie soltou um grito agudo e sentiu as suas mãos congelarem. Era óbvio. Seu sonho havia sido real. Jack Abancourt estava morto, ela nem precisava perguntar. Seus olhos se encheram de lágrimas. Sam encarava a cena sem saber o que fazer. Os dois saíram do carro e foram até a barreira formada por policiais para impedirem a passagem da multidão.







— Hey, não podem ficar aqui. — alertou o policial.





— Tudo bem, ela é Annie Abancourt, sobrinha do padre paroquia e só quer saber o que aconteceu, se ele está bem. — disse Sam enquanto Annie segurava seu braço, andando junto a ele, a ela podia sentir a pele dela como uma pedra de gelo.


O policial os encarou e deu passagem. Ambos foram até o delegado.

— O que aconteceu?

— Pessoas más, meu filho. — disse o homem de cabelos grisalhos balançando a cabeça, tentava realmente entender o que passava na cabeça de alguém para cometer algo assim. — Duas famílias moravam aqui. Famílias pobres. Pai, mãe, crianças. Eles foram todos fatiados.

— E o padre Jack?

O delegado baixou o olhar para a morena que segurava firme no rapaz, tremia e estava pálida.

— Seu parente? — ela balançou a cabeça positivamente. — Sinto muito.

As lágrimas escorreram pelo rosto de Annie e Sam a segurou entre seus braços enquanto a garota soluçava baixo. Não tardou para uma voz assustada surgir no meio da multidão.

— O que aconteceu? — perguntou Marie, embora previsse a resposta.

Annie virou um pouco o rosto na direção da irmã.

— Tio Jack está morto.


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