The Last Chance escrita por theblackqueen, BloodyBunny


Capítulo 4
Above Us Only Sky?


Notas iniciais do capítulo

eu sei que nós demoramos x) mas espero que gostem do capítulo bjs ♥



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Marie observou o rosto de Annie, as lágrimas que lhe escapavam dos olhos em silencio. Levantou o olhar para Sam que confortava a irmã. Ele juntou os lábios em uma linha fina balançando a cabeça levemente. Nada que ele dissesse seria bom o bastante naquele momento. A mais velha encarou o movimento naquela rua, os policiais, tentava entender o que tinha acontecido. Passou por Annie e pelo Winchester, indo em direção ao interior da igreja.

Annie observou a irmã até Marie entrar. Respirou fundo e soltou-se dos braços de Sam devagar, limpando as lágrimas e soluçando baixo.

— Vamos sair daqui?! — o Winchester achou melhor, não ia ser bom para ela ficar no meio daquela agitação em uma situação como aquela.

Annie assentiu. Os dois caminharam até o carro e antes de entrar, Sam voltou a olhar em direção da igreja. Tinha que avisar para Marie que iriam sair, mas a Abancourt não estava por ali. Depois ligaria. Ainda tinha que ligar para Dean e contar o que havia acontecido. Mas não agora. Annie precisava de um tempo e de apoio.


[...]


Marie encontrou o delegado tentando ao máximo manter o controle. Era uma situação difícil, se tratava da sua família. A cena diante dos seus olhos naquele salão da igreja era terrivelmente macabra. Sangue por todos os lados. Era um verdadeiro e atormentador inferno.

— Delegado Dogger. — disse ao encontrar o homem alto que parecia estar um pouco espantado pela sua presença.

— Marie! Sinto muito pelo seu tio.

Marie abriu a boca e fechou, engasgando com a resposta. Depois se recompôs, tinha que saber o que havia acontecido.

— O que houve realmente?

— Eu não sei dizer. — o delegado tinha a voz pesada. — Essa manhã recebemos uma ligação. Alguém que passava pela rua percebeu que a porta foi arrombada e ao entrar aqui, deparou-se com a cena. As famílias e seu tio, o padre Jack, eles foram esquartejados. Seu tio tinha ferimentos graves, queimaduras. Eu não sei quem pode ter feito isso.

— Nenhuma pista?

— Nada. — o homem suspirou.

Marie girou o olhar por todo o lugar. Sentiu um frio na espinha do nada. Algo lhe dizia que estava sendo observada. Podia – embora morreria sem admitir – sentir a estranha vibração naquele lugar. Tentou voltar a se concentrar, mas a circunstância não era fácil. Ela era a melhor legista da região e agora tinha que descobrir quem tinha cometido um crime tão terrível contra seu tio. Não, ela não era obrigada a fazê-lo. Jeferson Dogger jamais a pediria isso, eles tinham uma antiga e grande amizade e ele nunca lhe colocaria em uma situação assim.

Mas agora era pessoal.

Ela estava com a batata quente nas mãos e ia até o fim.


[...]


Não foram muito longe da rua onde tudo havia acontecido. Sam estacionou o carro em frente a uma praça onde algumas crianças – uma dúzia, não mais que isso – brincavam acompanhadas de uma professora. Sabiam que era isso pelo fato de todas as crianças vestirem o mesmo uniforme e a professora vestia um muito parecido, com as mesmas cores, só um corte diferente. Eram pequenas, deveriam ser de alguma escola de educação infantil ali por perto. Era o lugar mais tranquilo que conseguiu encontrar naquela parte da cidade. Annie saiu do velho Chevelle 64 – lataria cinza bastante enferrujada, era bem verdade que o carro não estava em suas melhores condições, mas dava para o gasto – e se escorou na lateral. Suspirou. Sentia seu corpo tremer. Sam parou ao seu lado e ela definitivamente sentiu-se chegar ao seu limite. As lágrimas escaparam dos seus olhos. Antes era diferente – não que não fosse ruim, ver todas aquelas pessoas morrendo – mas agora ela viu seu próprio tio. A angustia, a sensação de inutilidade, tudo lhe dominava. Sam só a observou em silencio. Ela parecia incrivelmente frágil agora. Ele sentiu um impulso enorme de voltar a abraçá-la como antes. Mas não demorou até que uma pergunta lhe fizesse sentir uma familiar sensação de compreensão.

— Porque eu, Sam? O que há de errado comigo? — ela procurou o ar. — Droga! Eu vi meu tio ser morto, ser torturado, eu vi a dor nos olhos dele.

— Eu não sei. — ele disse depois de alguns segundos em silencio, suspirando pesadamente logo em seguida. — Eu gostaria de dizer que sei o que aconteceu, mas não sei. Eu sinto muito.

Ela assentiu resignadamente.

— Eu não via meu tio há muito tempo. — ela comentou. — Ele praticamente foi um pai depois que minha família sumiu das minhas vistas.

— Como assim? — ele não pode evitar fazer tal pergunta, Annie abriu a boca e fechou como se não soubesse como falar, então ele percebeu sua intromissão e voltou atrás. — Desculpe, não é da minha conta.

— Tudo bem. — ela deu de ombros. — Meus pais sumiram.

— Sumiram como?

Ela respirou fundo, estreitou o olhar para o chão como se lembrasse de algo muito distante.

— Eu não sei, eu tinha seis... Quase sete anos. E minha mãe foi diagnosticada com câncer. Eles não falavam nada na minha frente. Eu também não me dava conta do que realmente estava acontecendo. Eu era uma criança. Só via minha mãe fraca sobre a cama e queria que ela melhorasse logo para que voltasse a ler histórias e fazer bolinhos de mel aos domingos. Essas coisas. Você entende o que eu quero dizer?! — e agora foi a vez de Sam engolir a seco, não, ele não entendia o que era isso, nunca chegou nem perto de ter lembranças assim de sua mãe, mas assentiu de leve e então Annie prosseguiu. — Meu pai, os amigos que nos visitavam, todos tinham aquele olhar triste. Nesse tempo Marie meio que se tornou responsável por nós duas. Cozinhava, cuidava de mim, ia para a escola, me deixava na escolinha. Meu pai se fechou naquela tristeza, não teve força para mais nada.

Sam franziu a testa.

— É, eu entendo isso.

— Mas um dia, sem mais nem menos, minha mãe se curou. Todos ficaram meio pasmos. Todos diziam que meu pai não ia acreditar ao ver minha mãe de pé, corada, comendo, disposta... Ele nunca viu. Desde aquele dia ele nunca mais voltou para casa.

Aquilo sim era estranho.

— Nenhuma notícia?

— Nada. — Annie negou com a cabeça. — Mas daí em diante minha mãe mudou drasticamente. Ela ficou distante. Até que um dia também sumiu, deixando só uma carta na qual pedia que o tio Jack ficasse com a gente. Viemos de Portland para cá.

— E desde de então nunca mais souberam nada deles?

— Não. O tio Jack até tentou, insistiu muito tempo na investigação dos sumiços, mas não deu resultado. — ela disse, lembrava-se disso muito bem. — Marie e eu crescemos bem por aqui, com o tio Jack, mas ela sempre meio que culpou ele pelo que aconteceu comigo. — pausou, notando que Sam não entendeu do que ela se referia exatamente. — Os sonhos. Eles começaram quando eu fiz os meus sete anos. Meses depois que eu vim morar aqui, meses depois do sumiço dos meus pais.

— E do que se lembra desses primeiros sonhos? Como eram? — tais perguntas Sam queria fazer desde o dia anterior, mas com a reação de Marie foi meio que impossível saber mais sobre o terreno em que estavam pisando.

— Eram assustadores para uma criança de sete anos, acredite. — o olhar de Annie parou nos pequenos seres que gargalhavam e corriam pelo parquinho, eles deveriam ter mais ou menos essa idade. — Como eu disse, anjos podem ser bem violentos quando se trata de justiça divina. Eu os vi matar gente e eu não entendia o motivo até então. Mais tarde descobri que a maior parte deles eram o que as escrituras chamam de falsos profetas. Tudo caminhava direto a um mesmo fim. Era o início do fim dos tempos. Os anjos matando aqueles que usavam o nome de Deus para enganar almas e levá-las ao inferno.

O olhar espantado de Sam deixou a garota um pouco sem graça. Talvez ele não acreditasse nela, era isso. Pelo menos era isso que ela pensava. Mas Sam não duvidava. Só se perguntava como a garota não havia aparecido antes?!

— Então você viu o início do apocalipse em sonhos?

— Como você sabe sobre isso? — ela rebateu arqueando a sobrancelha.

Ela não sabia de tudo então.

— A gente ouve coisas estando nessa vida. — ele se limitou em dizer por hora.

— Depois nós vamos conversar sobre essa vida e o que você e seu irmão fazem de verdade, Sam. — o seu tom era decidido, como uma mãe que diz ao filho nós vamos conversar sobre isso mais tarde, mocinho, depois que o filho fez alguma bagunça. — Mas é isso sim. Convivi com esses sonhos por muito tempo, até que Marie me internou em uma clínica. Eu não a culpo por isso. Ela precisava ter a vida normal dela, não podia ser minha babá todo o tempo. Eu estava meio que surtando. Estava cansada demais. Mas o tempo ali, sozinha, me fez aprender a controlar minhas emoções e o que os sonhos me causavam. Eles diminuíram por um tempo. Enquanto isso Marie se formou e eu voltei a morar com ela. As coisas iam bem e.... — se deteve mordendo a língua.

— E?

— E ai veio o apocalipse. — disse suspirando. — E toda a maldita confusão na minha cabeça voltou. Voltei para a clínica e sai de lá há poucos dias. — ela riu sem vontade. — Isso soa ridículo, eu sei. Como você não me acha maluca?

— Eu já vi coisas demais para te achar maluca. — Sam disse com sinceridade, e embora ainda tivesse coisas a perguntar, decidiu que não era o momento.

— E quem é você, Sam Winchester? — ela o encarou nos olhos pela primeira vez desde o início da conversa. — Você e seu irmão surgem do nada e pelo que dizem, investigam essas mortes?! Nomes falsos, distintivos falsos... Quando a Marie disse que havia ligado para vocês, achei que fossem paranormais?!

— Não. — riu sem vontade. — Nem tanto. Eu e meu irmão, nós caçamos certas coisas. — respondeu incerto.

— Que coisas?

— Coisas que a maioria das pessoas acha que não existe. — definitivamente o Winchester não estava disposto a explicar o que era ser caçador, não era um bom momento e poderia assustá-la mais ainda.

— E isso é um bom trabalho? — ela indagou.

Ele franziu e relaxou a testa.

— Depende do ponto de vista.

Annie baixou o olhar, pensativa. Segundos depois ela voltou a encará-lo e com o olhar de uma criança curiosa, voltou a indagar sobre o negócio da família:

— E desde quando você trabalha nisso?

— Desde sempre, eu acho. Meu pai virou caçador depois que a minha mãe foi morta e.... — pausou, tanta coisa passava em sua mente agora. — E é isso.

O telefone de Sam chamou naquele momento. Ele encarou a tela onde “Dean” piscava.

— Dean! — ele atendeu se afastando um pouco de Annie que voltou seu olhar ao parquinho, embora permanecesse atenta. — Eu precisava mesmo te ligar...

— Como estão as coisas ai com a Miss Simpatia e a nossa Bless The Child? — O mais velho cortou-o apressadamente.

— Nada bem. — Sam baixou um pouco o tom de voz. — Annie sonhou de novo e dessa vez foi com o tio delas, padre Jack Abancourt. Cara, os anjos fatiaram ele.

— Droga! — Dean resmungou. — Sam, você precisa ficar de olho nelas.

— O que foi?

— Eu acho que eu sei o que está acontecendo. E se estou certo os anjinhos do mal não podem chegar até a garota. — seu tom era preocupado, o que deixou Sam apreensivo. — Nós estamos a caminho. Chegamos ai de noite. Sam, fica de olho em tudo.

— Claro, mas...

— Depois eu explico. — foi a última coisa que Dean disse antes de desligar.

Sam estreitou o olhar.

Algo estava acontecendo e era mais grave do que ele imaginava.


[...]


Marie encarou os rastros. Sangue e barro. Vários rastros diferentes. E pelo que os policiais que analisavam o local estavam comentando, só alguém com muita força arrombaria uma porta como aquela. Fazia sentido comparar o crime e o outro corpo encontrado no rodovia de Eugene. A circunstancia era a mesma. Na noite anterior ela havia terminado o primeiro laudo depois de analisar com cuidado as fotos e a profundidade de cada ferimento. O corpo definitivamente havia sido jogado contra o asfalto e espancado por alguém muito forte. Chutes, socos. Sobre os cortes, a lamina que os causou era bem mais grossa do que uma faca de cozinha com toda a certeza. Os crimes tinham muito em comum, só que isso não significava que foram causados por anjos.

Havia toda uma equipe trabalhando no local atrás de provas. Todos amigos, colegas de trabalho. Marie estava mais tranquila por saber que Annie estava a caminho de casa. Sam mandou-lhe uma mensagem avisando e embora toda a razão que lhe restava dizia que não deveria confiar naquele garoto, ela sentia que Annie estava protegida. Então Marie buscou a concentração e toda a sua força para trabalhar. Andou até um dos corpos que pertencia a uma dos que o seu tio acolheu em casa, os mesmos cortes e os símbolos. Aquilo se repetia em todos os outros corpos, que ela olhou de um em um, restando apenas o do seu tio.

— Marie, você não precisa fazer isso. — a voz cheia de compaixão de Jeferson Dogger, o delegado, surgiu logo atrás da legista.

— Eu tenho. — ela disse controlando seu tom de voz.

Os outros policiais da equipe encararam Dogger um pouco apreensivos, mas o delegado assentiu a cabeça, sendo assim destaparam o corpo que jazia ao lado do altar – que estava ensanguentado, por sinal – e o olhar de Marie encontrou o rosto de ser velho tio sem vida, sem cor. Ao redor dos olhos do padre havia cera de vela. Queimaduras feias. Vários cortes, mas nenhum que pudesse levar o padre a óbito. Quem fez aquilo – diferente do que fez com os outros – não fez para matá-lo, sim para causar-lhe dor. E conseguiram. Provavelmente ele não aguentou a tortura e sucumbiu à morte. Fora isso o habitual símbolo que todos os outros corpos traziam não se encontrava em nenhuma parte do seu corpo.

— Há uma diferença aqui. — comentou Dogger.

— Eu tenho medo do que isso possa significar. — Marie disse.

— Como assim? — ele franziu a testa.

— Nada. — ela desconversou.

Voltou a encará-lo, seu olhar pairou pelo corpo até Marie fechar os olhos com força. Deu alguns passos distanciando-se do cadáver. O que diabos significava aquilo? Seu ceticismo lhe impedia de cogitar aquela ideia absurda de que anjos estavam matando gente, desejava uma resposta logo. E não esperava que a tal resposta viesse tão depressa.

— Delegado Dogger? — chamou um dos policiais minutos depois.

Agora os corpos já haviam sido levados para as ambulâncias e Marie esperava em uma das cadeiras até decidir o que ia fazer a seguir. O delegado apressou-se para ver o que o policial queria.

— O que foi?

— A residência ao lado tinha um sistema de câmeras. — disse entrando com o laptop em mãos. — Nos cederam imagens estranhas do que aconteceu ontem à noite.

Marie se levantou ao ouvi-lo dizer isso.

— O que aparece nas imagens? — perguntou a legista.

Ele a encarou, juntando os lábios e balançando a cabeça.

— É melhor que vocês vejam.

O policial deu play no vídeo. A câmera do vizinho ficava de lado na calçada e o que ela filmava era a entrada da paroquia. Puderam ver alguns homens que se aproximaram. Um estranho e falso alivio surgiu em Marie. Nem de perto eles pareciam anjos e sim lutadores de Boxe ou UFC. Eles forçaram um pouco até a porta se abrir. Então o vídeo ficou escuro e silencioso.

— Já é um começo. — disse o delegado. — Vamos começar a procurar a partir dos rostos.

Alguns dos rostos apareceram bem claramente no vídeo.

— Não acabou. — o policial tratou em dizer adiantando o vídeo que continuava escuro como se tivessem tapado a câmera. — Na maioria do vídeo não ouvimos nada, menos aqui.

E o vídeo seguiu na escuridão, mas desta vez ouvimos choros que aos poucos iam se acalmando. Uma voz grave surgiu em tom exigente:

— Onde está a garota?

— Eu nuca vou dizer a vocês!

E o grito de Jack foi agonizante, fez os olhos de Marie se encherem de lágrimas enquanto sua mente assimilava o que havia acontecido.

— Marie... — a voz do delegado soou incerta. — Sabe o que isso significa?

— Eu... — gaguejou perplexa. — Eu não sei.

Não era verdade. Não inteiramente verdade. Por impulso a primeira coisa que lhe veio à cabeça foi Annie. Será que...?

— Marie! Marie! — chamava o delegado ao seu lado tocando em seu ombro.

— O que foi?

— Você ficou pálida, parecia a ponto de desmaiar. — ele disse. — O dia não foi fácil hoje, é melhor que vá descansar.

Ela assentiu.

— Quer carona?

— Não, meu carro está ai.

— Então eu te levo?! — insistiu o delegado. — Você não está em situação de ir para a casa dirigindo.

— Eu estou bem, Jeferson. Não se preocupe.

Ela apressou-se em sair da igreja, mas aquela sensação de estar sendo vigiada lhe acompanhou. Intrigante. Latente. Todo o tempo Marie levantava o olhar ao espelho retrovisor. Começava a se irritar com a própria desconfiança. A única coisa que lhe vinha ao pensamento era que não podia ir para casa. Por impulso virou várias esquinas mudando o trajeto. Foi indo por ruas desconhecidas até passar em frente a um grande terreno baldio. As casas mais próximas ficavam nas ruas ao lado, uma sensação de angustia lhe tomou. Tinha que sair logo dali e se acalmar. Virou em direção a próxima rua e o compacto carro foi exato ao encontro de um poste. Marie não pode frear ou sair do caminho. O choque e a terrível dor vieram em seguida. A cabeça de Marie bateu fortemente contra o volante no impacto. A tontura, o sangue quente escorrendo em seu rosto. Era uma situação já conhecida para ela. Segundos depois Marie Abancourt não viu mais nada.


[...]


O sol já se escondia no horizonte quando o Impala adentrou Salem. Na direção Dean – não podia ser diferente – e no carona Castiel, com o olhar totalmente avulso, perdido no caminho pelo qual Dean guiava o carro. Castiel estava meio tonto com a medicação, o que era normal, e aquele incomodo gesso coçava. O “anjo” não usava o costumeiro sobretudo – que depois de quatro anos de uso precisava de um descanso – e sim uma calça preta com um blazer azul claro. E era estranho, na opinião de Dean, Castiel parecia um inglês.

Em certo momento o antigo telefone de John voltou a chamar. O Winchester o colocara no porta-luvas antes de ir ao apartamento das irmãs Abancourt, pelo visto o havia esquecido ali. Pegou-o e encarou a tela. Número desconhecido.

— Alô! — atendeu o rapaz.

— A... Alô... — a voz fraca do outro lado era a mesma da outra vez, era a legista, e parecia com dificuldades para falar.

— Doutora? — ele franziu a testa.

— Eu preciso... De... Ajuda... — disse ela.

— O que foi?

— Eu não sei... — pausou. — Meu carro bateu...

— Onde você está?

— Na frente de um terreno abandonado. — ela parecia esforçar-se muito para falar. — Jogam lixo aqui e.... Por favor, não digam nada a Annie. Não a tragam aqui.

— Eu vou te achar, fica tranquila. — Dean disse e finalizou a ligação.

— O que foi, Dean? — Castiel perguntou imediatamente.

— Problemas, Cas. Problemas.

Dean acelerou o Impala.


[...]


A dor era insuportável. Marie até pensou em chamar a polícia, mas quando ela abriu os olhos podia jurar ter visto uma sombra diante do carro. E no segundo seguinte ela não estava mais lá. Droga Marie, ela pensou, você está imaginando coisas. Só podia. Era a única explicação razoável. Tento não se mexer o máximo que pode. Não entendia como havia batido. Esperava pelo socorro...

... De Dean?!

Que droga! O que ela tinha na cabeça para ligar para um desconhecido que era meio esquizofrênico, falava de anjos e acreditava nessa baboseira? Mas sentia que naquele momento as coisas não se encaixavam. E um gélido alivio surgiu quando ouviu a voz do Winchester surgir um bocado de minutos depois de ter ligado.

— Doutora? — chamava a voz masculina preocupada ao ver o estado do carro branco amassado contra uma arvore. — Tudo bem?

Ela focalizou o rosto do Winchester.

— Maravilhosamente bem. — a voz tentou soar irônica, mas estava fraca para isso.

Aquele acidente nem de perto se igualava ao anterior. A situação era diferente agora. Não foi tão grave. Marie tinha machucados na testa, pelos braços e pelas pernas, mas estava bem. Com a ajuda de Dean que a retirou do carro em seus braços, Marie foi se apoiou no Impala. Suas pernas fraquejavam. À princípio nem notou o outro homem dentro do carro.

— O que aconteceu? — indagou Dean.

— O carro perdeu o controle. — ela visualizou o carro que não estava em seu melhor estado. — E eu bati.

— E porque me chamou e não a polícia? — ele voltou a indagar, Marie desviou o olhar. — Doutora?

— Marie.

— O que você viu, Marie? — ele insistiu, ela engoliu a seco.

— Eu estou enlouquecendo. Eu não vi. Eu não posso ter visto. — Marie falava e gesticulava com pressa.

De repente parou. Seu olhar fixou-se em qualquer ponto atrás de Dean e ele a viu prender a respiração.

— Dean! — exclamou Castiel de dentro do carro em tom de aviso.

Ele virou-se e encontrou dos homens.

Um era alto, loiro, corpulento, de olhos azuis e barba cerrada. Já o outro era poucos centímetros mais baixo, olhos verdes e cabelos escuros, não tão forte e musculoso quanto o outro.

— Ora se não é Dean Winchester?! — sibilou o mais baixo.

— Se quiser eu te dou um autografo depois! — debochou o caçador.

— Na verdade temos que agradecer por facilitar as coisas. — disse o mais alto sorrindo cinicamente. — Eis que pegamos dois coelhos com uma cajadada só.

O olhar dos dois foram diretamente a Castiel dentro do Impala.

— Sinto muito rapazes, mas não temos tempo para brincar agora. — Dean deu um passo à frente protegendo Marie, deixando o Impala logo atrás.

— Quem disse que estamos brincando? — o mais baixo perguntou com calma e deu um passo à frente também.

— O que vocês querem?

— A paz mundial. — riu-se o mesmo. — Viemos levar a bonitinha. Nós também vamos levar o Castiel.

— Isso não vai acontecer.

— E quem vai impedir? — o mais alto disse com desdém. — Você?

Dean tirou de dentro do casaco uma espada angelical.

— Marie, entra no carro! — ordenou Dean e ela o fez sem questionar, mesmo andando com certa dificuldade.

Os anjos fizeram o mesmo, empunharam a espada.

Dean não esperou mais. Partiu para cima deles, dando um murro no rosto do mais alto, isso doeu mais nele que no grandalhão, o anjo prontamente pegou o Winchester da gola e atirou-lhe contra o capô do Impala. Iria enfiar a espada no estomago de Dean se o Winchester valentemente não apertasse o pulso do anjo. Marie soltou um grito agudo de pânico e desespero. Olhou para o lado, o homem de cabelos negros e olhos azuis observava a briga até o momento de decidir sair do Impala para ajudar o amigo. Péssima ideia! Castiel estava com pé quebrado! O mais baixo logo veio em sua direção e Castiel foi prensado contra o Impala. Soltou um urro de dor. Dean e o grandalhão estavam entre chutes e socos. Marie desesperada tentou encontrar alguma coisa – qualquer coisa – que pudesse ajudá-los. E no interior do porta-luvas, encontrou uma arma. Um revolver 38. Se ela já atirou na vida? De brincadeira, apenas. Não em dois homens que se moviam com tanta agilidade correndo o risco de acertar nos “amigos”. Saiu do Impala e apontou o revolver para um dos homens.

— Nem mais um movimento! — ordenou rispidamente para o grandalhão que segurava a gola de Dean, ele imediatamente parou com os socos e a encarou, sorriu, Marie tremia enquanto apontava a arma. — Eu disse quieto!

— Estupida! — gargalhou o anjo. — Armas não matam anjos!

Essa distração serviu para Dean enfiar a espada angelical no peito do homem que tombou. O outro anjo que já havia deixado Castiel caído com os socos, saiu de perto dele e preparou-se para enfrentar Dean. Sabia que se continuasse na briga com Castiel seria pego de surpresa pelo caçador. E tudo isso diante do olhar arregalado de Marie. Ela apontou a arma para o mais baixo, tremula. Ela não conseguia acreditar no que tinha ouvido. Apertou o gatilho. Um forte e alto som e a bala acertou o tórax do homem. Ele cambaleou. Por um momento até Dean acreditou que o anjo morreria. Mas não aconteceu. E agilmente Dean deu fim nele do velho jeito. Com a espada angelical o anjo finalmente tombou.

— Nada mau. — Dean franziu a testa, ele respirava pesadamente encarando a mulher. — Obrigado. — e em seguida foi ajudar Castiel que tinha o queijo mais que machucado e gemia graças a quebradura que foi forçada durante a briga.

Marie baixou a arma tentando controlar os batimentos cardíacos com os olhos vidrados nos corpos dos homens. Arfou.

— O... — engoliu a seco. — O que foi isso?

— Anjos. — a resposta de Dean já era esperada.

Marie estreitou o olhar e sentiu sua realidade se abalar.

Nada voltaria a ser como antes.


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Notas finais do capítulo

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