O Ressurgir escrita por Kas Blume, Mary SB Ackles


Capítulo 3
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura... :)



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Buttercup Morreu.

Fico em choque. O gato mais feio e preguiçoso que existe, que minha irmã implorou para ficar com ele, estava morto. Tudo bem que Buttercurp já tinha mais de 20 anos, o que não é normal de um gato, mas eu nunca imaginei como seria a morte dele, sempre pensei que ele viveria o bastante para ter o prazer de me ver morrer e ser enterrada em um caixão.

Não sabia o que fazer, se fosse há anos atrás, eu estaria comemorando sua morte, mas agora me bateu uma estranha ardência no peito e uma vontade muito grande de chorar. Por mais que eu xingasse esse miserável gato, ele era o único ser vivo que me lembrasse da Prim, é claro que eu não poderia contar com a minha mãe porque logo depois da morte da minha irmã, nós quase não nos falamos.

Eu me ajoelho ao lado do corpo inerte e frio de Buttercurp e só agora percebo uma lagrima solitária descer pelo meu rosto.

Enquanto analiso a aparência do gato, lembranças e lembranças da minha vida antes da revolução de Panem vêm a minha mente. Eu me lembro como se fosse hoje, o dia em que Prim chegou sorridente em casa com esse gato feio e, naquela época, barriga cheia de lombrigas e pulgas, nos braços.

Flashback on

Um dia como qualquer outro, ensolarado. Um sol que castigava todos os trabalhadores que ia toda manhã pra mina. Pela janela podiam-se ver homens de aparência naturalmente cansada de tanto trabalhar e cheia de rugas.

Tinha acabado de chegar da escola, estava limpando a casa enquanto minha mãe estava em seu habitual estado quase que vegetativo. Mesmo depois de anos da morte do papai ela ainda passa horas quieta sentada em uma cadeira ao lado da janela, com os pensamentos ao longe e uma face cansada e deprimida. Ao menos ela melhorou um pouco, antigamente ela passava o dia deitada na cama sem falar nada, só chorando e chorando, quase não se alimentava. Hoje felizmente ela se alimenta e ao menos é capaz de cuidar da Prim enquanto eu vou buscar algum alimento para comermos.

Estava preparando o almoço, ou pelo menos tentando já que se não tomar cuidado sou capaz de colocar fogo na casa de tão ruim que sou na cozinha. Na tarde de ontem eu tive a sorte de conseguir caçar uma família de esquilos e colher muitas frutas, alguns esquilos eu troquei por pães e algumas frutas por grãos, então temos bastante comida para eu não ter que caçar hoje.

Estava preparando a mesa para almoçarmos, quando ouço o barulho da minha irmã entrando em casa, é normal ela chegar em casa esse horário, depois da escola ela sempre sai pra brincar com suas amigas, e volta na hora do almoço. Mas o que eu vejo em seguida me surpreendeu. Prim entra pela porta de casa com a roupa que usou para ir a escola naquela manhã, com a bolsa toda remendada nas costas e nos braços dela estava o ser mais feio e esquisito que eu já tinha visto na vida.

Prim alisava a cabeça de um gato de coloração amarelada e maltratado, olhos cor de suco de abóbora apodrecido, nariz esmagado e orelha faltando um pedaço. O bicho era magro, a aparência era raquítica, a não ser pela barriga inchada por conta dos vermes e era cheio de pulgas.

Prim me olha com um ar de inocência e aquele olhar como se fosse pedir algo muito importante. Eu já desconfio logo. Prim chega perto de mim e diz:

–Posso ficar com ele?

“Não” eu penso logo, ter mais uma boca pra alimentar era demais pra mim, eu quase não conseguia sustentar minha mãe e irmã, quanto mais um gato maltrapilho. Além de que esse gato parecia que ia cair morto a qualquer momento, custaria muito para cuidar dos vermes e das pulgas dele. Todos esses pensamentos eu expressei em uma única palavra:

–Não!

–Mas por quê? – Prim disse com a carinha triste já podia ver uma lagrima se formando em seu rosto.

Eu não aguentava vê-la assim.

–Prim, não vamos conseguir cuidar desse gato, eu quase não consigo sustentar nós três, um gato só iria dificultar mais as coisas, eu lamento querida.

–Mas... Por favor, Katniss, eu prometo cuidar dele, posso te ajudar cuidando da casa, eu prometo que você nem vai notar que ele existe. Por Favor! – Prim disse pra mim quase implorando.

–Prim, ele está doente, provavelmente mesmo que eu tentasse cuidar dele, ele vai morrer logo.

–Eu posso cuidar dele – A minha mãe diz aparecendo ao lado da mesa.

Isso era meio irônico já que ela não estava em condições de cuidar nem dela mesma, quanto mais de um gato doente.

–Viu, a mamãe vai cuidar dele, ai o Buttercup vai ficar bem logo. Por Favor, me deixa ficar com ele Katniss. Por Favor! – Prim disse quase implorando. Ela estava quase chorando.

–Buttercup? – Eu pergunto.

–Sim, Buttercup, eu me inspirei nessa flor que tem a mesma cor que ele para colocar esse nome, combina com ele.

Prim já tinha se apegado a ele e eu não queria ver minha irmã triste então eu disse que ela podia ficar com o gato se ela prometesse cuidar dele, no mesmo instante ela sorriu animada e veio me abraçar com o gato nos braços enquanto a minha mãe abria um pequeno sorriso. O gato olhou com cara de desagrado pra mim e naquele instante percebi que odiaria aquele gato.

Flashback off

Continuei odiando aquele gato ao ponto de tentar afoga-lo em um balde, mas o maldito deu um jeito de fugir. Dias depois percebi que ele era ótimo em caçar ratos e passei a dar as entranhas dos animais que caço, pra ele. Isso diminuiu a cara de desagrado que ele fazia pra mim.

Depois de me lembrar daquele dia, percebi que estava fazendo carinho na cabeça do gato morto e que lagrimas estavam começando a banhar o meu rosto e logo eu estava chorando.

Ouço passos na escada e quando me viro, vejo Peeta olhando pra mim preocupado, ele deve ter acordado e sentido minha falta na cama. Peeta se aproxima e me vê chorando e fazendo carinho em Buttercup.

– Katniss, o que aconteceu, porque está chorando? – Peeta pergunta olhando abismado pra mim e para o gato. Eu sabia que ele queria perguntar o porquê de eu estar fazendo carinho em Buttercup, na verdade nem eu sabia direito porque eu estava fazendo isso.

Eu não conseguia responder a ele, palavras não me vinham à boca para que eu pudesse expressar em palavras algo que nem eu podia acreditar. Quando finalmente consegui falar algo, eu disse:

–Ele morreu! – Eu disse em um fio de voz.

Peeta olha pra mim confuso, mas logo em seguida olha para Buttercup chocado.

–O que? – Peeta diz ainda olhando sem acreditar.

–Buttercup morreu, Peeta. Ele morreu! – Eu disse triste e minha voz saiu rouca e fraca

Peeta vem até mim e me abraça. E me encolho nos braços dele e me deixo ser consolada por ele.

–Calma, vai ficar tudo bem – Peeta diz no meu ouvido enquanto acaricia o meu cabelo.

Depois de um tempo eu já estava melhor, Peeta me guiou até o quarto, me deixou deitada na cama e logo saí do quarto, eu ainda fiquei parada um tempo olhando para o exterior da porta que dava para ver o corredor até que ele volta e se deita ao meu lado, eu lhe pergunto o que ele foi fazer e ele me diz que foi guardar o corpo do gato.

Eu me arrasto pela cama para me aconchegar mais ao corpo de Peeta, coloco a cabeça no peito dele enquanto ele me abraça. Ficamos os dois deitados na cama sem dizer nada até que eu me lembro de algo muito importante.

–Nossos filhos! Peeta como vamos explicar a eles, eu não quero que eles sofram... – Eu digo desesperada, mas Peeta coloca um dedo em meus lábios em sinal de silencio.

–Shiii, descanse, amanhã pensamos nisso!

Eu ainda estava muito abalada pelo que aconteceu, eu queria descobrir uma forma de contar aos meus filhos sobre o que aconteceu sem machucá-los e eu me perguntava se Buttercup se juntaria as outras pessoas que deixei para trás em meu sonho, porém eu estava muito cansada e então logo me rendi ao sono.

–*-

Quando acordo, percebo que um braço de Peeta me rodeava enquanto eu estava apoiada no seu outro braço, olho para o seu rosto e percebo que ele estava acordado olhando pra mim, provavelmente me vendo dormir. Era um costume que tínhamos.

–Teve algum pesadelo? – Ele pergunta.

Por mais incrível que pareça hoje eu não tive nenhum pesadelo, o que eu agradecia muito, parecia que minha mente queria dar um desconto pra mim pelo que aconteceu nessa madrugada.

–Não – Eu digo em um tom um pouco alegre.

Peeta sorri e beija minha testa. Levantamos e enquanto eu vou lavar meu rosto por conta da choradeira da madrugada, Peeta coloca seu penhoar e fala que vai preparar o café da manhã. Logo depois eu saio do quarto, vestida no meu penhoar e quando passo pela porta do quarto da minha filha, me lembrei que teria que achar uma forma de contar o que aconteceu a eles, meus filhos cresceram ao lado de Buttercup, com certeza eles vão sofrer.

Desço as escadas e vou até a cozinha, encontro Peeta fazendo o café da manhã (Panquecas e suco de laranja). Eu sento na cadeira em frente à mesa e digo:

–Como vamos dizer a eles o que aconteceu?

Peeta para o que está fazendo me olha com um olhar tênue.

–Vamos ser sinceros com eles, com certeza é melhor do que mentir ou enrolar.

Eu assenti com a cabeça, e ele continua a preparar as panquecas.

Alguns minutos depois a minha filha mais velha aparece na cozinha segurando a mão do irmão que estava com sua fronha de sempre na mão. Eu fico tensa.

–Mãe você sabe onde está o Buttercup, eu não o vi comendo no potinho dele – A minha filha mais velha diz.

Eu não sei o que responder. Parece que o Peeta percebe isso porque ele senta ao meu lado na mesa e diz:

–Filha, hoje de madrugada aconteceu uma coisa muito ruim, mas que acontece com todo mundo um dia.

Ela faz cara de curiosa. Eu não suporto mais esconder isso deles, digo:

–Buttercup morreu, filha - Indago rápido demais.

Eu consigo a ver ficar em choque, para logo depois escorrer uma única lagrima pelo seu rosto, enquanto isso meu filho pequeno começa a chorar muito. Sua irmã mais velha percebe isso e logo seca a lagrima de seu rosto e abraça seu irmão o consolando. Ela sabia que era como dever de irmã mais velha cuidar dele e isso me surpreendeu.

–Como? Por quê? – O meu pequeno príncipe pergunta chorando.

–Ele morreu de velhice filho, todos um dia morrem – Peeta diz.

Eu e Peeta nos juntamos a eles e nos abraçamos.

Logo depois da notícia, nós tomamos nosso café da manhã em silencio, cada um com seus pensamentos.

Depois de comermos, Peeta trás para a cozinha uma caixa.

–Devemos enterrar ele – Ele diz em um tom de voz triste.

–Vamos enterra-lo no nosso jardim – Eu digo. Buttercup deve ter um enterro digno, afinal ele esteve sempre ao nosso lado, foi a melhor companhia que se podia ter nos tempos difíceis.

Nós dirigimos ao jardim e Peeta cava um buraco, coloca a caixa dentro e cobre o buraco novamente. Nenhuma palavra foi dita, todos ficamos parados durante um tempo em frente ao tumulo com seus pensamentos apenas alguns soluços de choro são ouvidos casualmente.

Mais tarde eu arrumo meus pequenos e os levo para a escola. Depois disso eu vou para padaria, como sempre e fico sentada atrás do balcão atendendo os clientes que chegavam.

Assim que Chloe chega, me despeço de Peeta com um beijo e vou com ela buscar meus filhos na escola. Durante o trajeto converso com ela sobre amenidades. Logo que chegamos vejo meus filhos correndo em minha direção com algo na mão, quando chegam perto eu vejo um pequeno buquê de rosas.

–Olha mamãe o que nós colhemos no jardim da escola, é pra colocar no túmulo do Buttercup, a professora cortou os espinhos – A minha filha mais velha diz isso e aproxima o buquê do meu rosto. Ao fazer isso eu sinto um cheiro familiar, doce e muito enjoativo misturado com um cheiro muito forte de ferrugem, cheiro de sangue. Eu sabia muito bem de onde eu conhecia esse cheiro, que me atormentou durante anos. Lembro-me muito bem do ex-presidente Snow, ele cheirava a sangue, por causa de uma atitude covarde de chegar ao poder. Ao lembrar disso sinto uma pequena tontura e fecho os olhos rapidamente tentando me restabelecer.

–Katniss, você está bem? – Chloe pergunta com uma expressão preocupada.

–Sim, foi só uma tontura, mas já estou bem – Eu digo, a expressão de Chloe suaviza, mas ainda consigo ver um “quê” de preocupação em seu rosto.

Despeço-me da Chloe e sua filha, e nós vamos pra casa. Assim que chegamos, minha princesa corre para o tumulo do gato e deposita as rosas cuidadosamente lá, depois de ver isso chamo meus filhos para tomar banho e em seguida os ajudei nas lições e arrumei a casa. Peeta como sempre chega e vai logo fazer o jantar. Era nessas horas que eu costumava dar comida a Buttercup.

Nós jantamos, e antes de dormir Peeta brinca um pouco com eles enquanto eu lavo a louça. Logo depois eu coloco minha filha para dormir, não precisei cantar nada pra ela, ela logo dormiu, devia estar muito cansada. Eu desço e não acho o Peeta, ele deve de estar tendo dificuldade em por meu caçula pra dormir. Vou para o sofá e ligo a televisão vou passando os canais, porém não acho nada de legal, eu paro em um canal que esta passando o novo programa do Caesar Flickerman, além da aparência idosa e cheia de rugas, agora estava com a aparência de um tigre, com um ar felino devido às diversas plásticas que ele deve ter feito, tirando isso ele continua o mesmo de anos atrás, agora seu cabelo esta num tom verde e dessa vez com um traje cerimonial azul claro.

–Hoje vamos entrevistar um dos maiores responsáveis da revolução de Panem. - Ele ainda tem aquele engraçado sotaque da Capital, só que agora é ainda mais fingido.

Mas algo me fez pensar, quem seria esse outro responsável pela revolução. Eu fico em choque, outra vez no dia. Lá estava ele, cabelo escuro e liso, olhos acinzentados com um olhar cansado e pele cor de oliva agora mais flácida e com rugas. Há anos eu não o vejo.

–Gale Hawthorne! – Caesar anuncia.

Ouço um leve barulho atrás de mim e quando me viro, vejo Peeta olhando para e televisão e logo depois para mim com uma expressão preocupada e ate um pouco fria no rosto.


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Notas finais do capítulo

Lembre-se: +Comentários = + Capítulos ( e de quebra ainda fazem uma autora feliz)
Até a Próxima...
E que a sorte esteja sempre a seu favor!



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