Barnabas saiu do quarto e andou rápido na direção oposta à dos passos. Ele nem se deu ao trabalho de ver quem era, apenas continuou andando até a sala.

Julia permaneceu no quarto, com um sorriso vitorioso nos lábios. Estava conseguindo conquistá-lo. Em meio a devaneios, Elizabeth entrou no quarto.

– O que Barnabas estava fazendo aqui? - ela perguntou

Julia continuava a sorrir e andou pelo quarto se balançando, até cair na cama.

– Elizabeth, eu sou foda.

A matriarca ergueu a sobrancelha.

– Nossa! Quanto amor próprio.

Julia riu e se sentou na cama. A médica lembrou de todas os momentos que passou ao lado de Barnabas e sorriu levemente. Depois, soltou um longo suspiro ao se lembrar que, há pouco minutos, tinha o homem que amava na palma da mão.

– Julia, você está parecendo uma adolescente apaixonada - declarou Elizabeth

A médica se levantou.

– Não sou uma adolescente e muito menos estou apaixonada. Só estou feliz porque...

– Está amando - completou a matriarca

– Caralho, Elizabeth. Dá pra parar de falar isso?

Elizabeth ergueu as mãos.

– Tudo bem, me desculpe. Mas não diga que é mentira.

A médica olhou feio para ela.

– Julia - falou a matriarca - Sou sua amiga. Te conheço faz tempo. Sei que está apaixonada.

Elizabeth se sentou na cama ao lado de Julia.

– Pode me contar.

A médica respirou fundo.

– Eu não vou contar nada. E quero ver você me obrigar.

– Então tem alguma coisa? - provocou Elizabeth

Julia bufou e virou o rosto.

Elizabeth fora sua amiga durante anos. E foi a única pessoa que a viu chorar. Ela merecia saber.

– Mas me prometa que não dirá nenhuma palavra sobre isso fora deste quarto. E que também não vai ficar soltando indiretas por ai.

Elizabeth sorriu.

– Eu prometo Julia. Agora venha, está na hora do seu divã. - a médica quase riu da brincadeira, antes de se levantar e trancar a porta do quarto.

...

Julia e Elizabeth permaneceram na mesma posição durante horas. Julia deitada na cama, enquanto Elizabeth andava pelo quarto ouvindo e fazendo perguntas à ela. Pela primeira vez em anos, os papéis estavam invertidos.

– E quando foi que você sentiu que estava apaixonada de verdade?

Julia disse que não se lembrava. Mas de tanto que Elizabeth insistiu, ela foi obrigada a lembrar...

~Flashback~

Era uma noite. Muito antes da ideia que Barnabas teve. Muito antes da confidencialidade médico/paciente.

Julia estava com o seu habitual drink na mão, e andava pelos corredores da enorme casa atrás de David. Foi quando encontrou Barnabas, andando lentamente por ali.

– Barnabas - chamou ela.O vampirou virou o rosto - Você sabe onde está David?

– Saiu com Victoria e Elizabeth.

Julia bufou. Odiava quando alguém a fazia adiar suas consultas.

– Hm,tudo bem. Obrigada - disse já saindo

– Espere! - ouviu

Quando se virou, Barnabas já estava do seu lado. Ele era visivelmente mais alto que ela. Ela tinha que fazer mais do que erguer os olhos. Tinha que erguer o rosto.

– Sim?

– Não acha que devemos fazer um passeio pelo jardim? Está uma noite linda.

A médica abriu a boca mas tornou a fechá-la. Há anos que alguém não a convidava para um passeio.

– Tudo bem - sussurrou ela

Antes de saírem, ela depositou o copo em algum lugar da sala.

...

No jardim, Barnabas fazia diversas perguntas à ela.

– David sempre disse que sua mãe está viva?

– Sim - respondeu a médica - Sempre disse. Diz até hoje. E uma pequena parte de mim acredita que seja verdade. David nunca foi de mentir.

Barnabas ouvia cada palavra atentamente.

– Hm, compreendo.

– Mas e você, Barnabas? Acredita nele?

– Madame, eu sou um vampiro. Acho que consigo acreditar em fantasmas.

Julia sorriu. Sorriu de uma forma que não sorri há muito tempo. Não era um riso sarcástico ou debochado. Era verdadeiro. E, pelo que parece, Barnabas gostava disso.

– Madame, devo admitir que sorrisos lhe caem muito bem. Poderia sorrir mais vezes.

A ruiva ficou sem graça.

– Essa família é cheia de problemas. Sorrir é uma das coisas menos importantes em alguns momentos.

– E este seria um momento apropriado para sorrir?

Ela o encarou.

– Talvez.

Barnabas sorriu e ela devolveu o sorriso.

Nesse mesmo instante, o Chevrolet apareceu em frente à casa e Julia entrou, sem dizer mais nada.

~Flashback~

– Julia! - exclamou Elizabeth - Você tem que falar com Barnabas. Aposto que você o ama mais do que a outra.

– Tá bom, mas Barnabas gosta daquela sem-sal da Vicky, Jossete, seja lá qual for o nome daquela criatura.

Elizabeth se sentou ao lado dela.

– Julia, eu tenho um plano.

...

No dia seguinte, Julia estava evitando Elizabeth. Depois de ouvir aquele plano maluco, ela recusou. Mas, mal sabia ela, que essa era a intenção de Elizabeth.

Pegou um livro qualquer, que provavelmente já tinha lido, deitou na maca de seu consultório de barriga para baixo, e começou a ler.

Do outro lado da casa, Elizabeth chamava por Barnabas.

– Estou aqui - disse o vampiro

– Vá até o consultório da Dra. Hoffman e peça para ela vir aqui, por favor?

– Claro - disse ele, saindo da sala

Chegando lá, Barnabas abriu lentamente a porta, sem fazer barulho. Foi quando ficou hipnotizado pela imagem da vampira. Os cabelos cor-de-fogo soltos e delicadamente bagunçados jaziam em suas costas. As pernas desbobertas por causa do vestido, o fato de ela estar descalça e deitada na maca numa posição um tanto quanto tentadora.

Ele ficou ali, apenas observando a ruiva enquanto ela avançava pelas páginas do livro.

"Uma mulher culta" era a primeira coisa que dizia quando perguntavam de Julia Hoffman. E isso era a mais pura verdade.

Ele, perdido em pensamentos, bateu sem querer na porta e Julia finalmente percebeu sua presença.

– Barnabas - disse ela, virando apenas o rosto - Há quanto tempo, exatamente, está ai?

O vampiro nada disse, apenas se aproximou de onde a mulher estava. Ela se sentou na maca.

– Elizabeth mandou chamá-la - disse, parando bem na frente da médica

Ela olhou para cima, bem na direção dos olhos dele. Se tinha vontade de beijá-lo? Era a única coisa que tinha em mente.

"Mas ele ama aquelazinha da Jossete" gritava sua mente

– Obrigada, já estou indo - e fez menção de se levantar. Mas Barnabas segurou sua mão, impedindo-a de sair.

Eles retomaram a posição que estavam, mas desta vez Barnabas estava muito mais perto. Ele acariciou o rosto da médica e ela não desviou o olhar dele um segundo sequer. Se tivesse que acontecer, aconteceria. E ela queria ter gravado tudo.

Ele posou a mão na nuca de Julia e aproximou o rosto do dela. Julia apenas fechou os olhos quando os lábios de Barnabas encontraram os seus. Ela segurou o rosto dele levemente enquanto o beijava. Parecia um sonho, mas não era. Estava beijando Barnabas. Estava beijando Barnabas Collins.

Com as pernas, ela enlaçou a cintura dele, trazendo-o para mais perto.

As bocas ansiavam por mais beijos e os corpos necessitavam um do outro. Julia não queria que esse momento morresse, mas Barnabas finalmente finalizou o beijo e se soltou de Julia.

– Barnabas - chamou Jossete lá fora

Eles se encararam pela última vez antes de Barnabas se virar para sair.

– Barnabas, espere! - chamou ela. O vampiro olhou.

Ela pulou da maca e foi em direção à ele.

– Está sujo de batom - disse ela, sorrindo

Com os dedos, ela limpou suavemente a pele dele. Quando terminou, ela lhe sorriu.

– Vai - sussurrou ela

Ele nem pensou duas vezes e saiu do consultório.